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25/11/2016

Leitura espiritual


DE MAGISTRO

(DO MESTRE)

CAPÍTULO VII

RESUMO DOS CAPÍTULOS ANTERIORES

000/2

– Com isso ficou estabelecido que: ou se mostram sinais com sinais ou, com sinais, indicam-se coisas que o não são; ou então, sem sinais podemos mostrar as coisas que podemos fazer depois de interrogados. Desses três casos, consideramos e discutimos com mais detalhes o primeiro. Por esta discussão, ficou esclarecido que existem sinais que não podem, por seu turno, receber significado pelos sinais que eles significam, como ocorre no caso do quadrissílabo “coniunctio” (conjunção); ao passo que existem outros que o podem, como no caso de “sinal”, e entendemos que significa também “palavra”, pois sinal e palavra são dois sinais e duas palavras (sinal-palavra, palavra-sinal). Neste caso em que os sinais têm significado mútuo, demonstramos também que uns não têm o mesmo valor, outros o têm igual, e outros finalmente são idênticos.

Assim, quando pronunciamos o dissílabo “sinal”, certamente nos referimos a todos os sinais que podem indicar ou significar uma coisa; mas, se dizemos “palavra”, esta não se refere a todos os sinais, mas apenas aos que se pronunciam articulando a voz. Donde ficou claro que embora “palavra” seja indicada com um sinal, e “sinal” (signun) com “palavra” (verbum); isto é; estas duas sílabas por aquelas e aquelas por estas – todavia, “sinal” vale mais que “palavra”, porque aquelas duas sílabas (sinal) têm sentido mais amplo que estas (palavras). Porém “palavra” em geral e “nome” em geral, têm o mesmo valor. Pelo raciocínio, vimos que todas as partes da oração também são nomes, sendo que a todas podemos substituir pelo pronome e de todas podemos dizer que “nomeiam” algo, e todas elas formam, se lhe acrescentarmos o verbo, uma proposição ou um enunciado completo. Mas, apesar de “nome” e “palavra” terem o mesmo valor, pois tudo o que é “palavra” é “nome”, entretanto não são idênticos.
Observamos, na nossa discussão, com muita probabilidade, que a razão por que se diz “verba” (palavras) difere da outra por que se diz “nomina” (nomes). “Verba” diz respeito à percussão (verberatio) do ouvido, e “nomina” ao conhecimento (commemoratio: notio, noscere) do espírito; por isso, é correcto dizer qual é o “nome” desta coisa desejando gravá-la na memória, e não usamos, ao contrário, “palavra”.
Entre os sinais que não têm o mesmo valor, mas são completamente idênticos, diferenciando-se só pelo som das letras, encontramos “nomen” (nome) e ónoma (nome).

Quanto a esse género de sinais com significado recíproco, entendi que não encontramos nenhum sinal que, além de significar os outros, não significasse também a si mesmo.

Eis tudo o que pude recordar. Tu, que, nesta discussão, apenas falaste sabendo e tendo a certeza, poderás avaliar se meu resumo está correcto e ordenado.

CAPÍTULO VIII

NÃO SE DISCUTEM INUTILMENTE ESTAS QUESTÕES.
ASSIM, PARA RESPONDER ÀQUELE QUE INTERROGA,
DEVEMOS DIRIGIR A MENTE,
DEPOIS DE PERCEBER OS SINAIS,
ÀS COISAS QUE ESTES SIGNIFICAM

AGOSTINHO

– Certamente resumiste com acerto tudo o que eu queria, e devo admitir que estas argumentações me parecem mais claras agora do que quando, disputando nas nossas indagações, as tirávamos de não sei que esconderijos. Contudo, aonde quero levar-te por meio de tantas voltas e rodeios é difícil dizer neste momento. Talvez julgues que foi mero divertimento, ou que nos afastamos das coisas sérias com questões menores, buscando nisso, quando muito, uma utilidade por pequena e medíocre que seja; ora, se estas discussões tivessem que gerar algo de grande ou importante, seria bom que o soubesses agora, ou, ao menos, ter disto um vislumbre.
Todavia, eu gostaria que, antes de mais nada, não julgasses eu ter feito contigo uma brincadeira inoportuna; embora às vezes usando de tom jocoso, a minha brincadeira jamais deverá ser tida como infantil, pois eu nunca visei bens pequenos ou medíocres. No entanto, se te dissesse que era precisamente a eterna bem-aventurança para onde, com a ajuda de Deus, isto é, da própria verdade, pretendia conduzir-te com passos pequenos, ajustados ao nosso pé vacilante, recearia parecer ridículo por ter começado com um caminho tão longo, não em consideração às próprias coisas que são significativas, mas aos sinais. Espero que me perdoes, portanto, se quis fazer contigo uma espécie de prelúdio, não para brincar, e sim para treinar a agilidade e a agudeza da mente, que nos facultarão mais tarde não só suportar, mas também amar a luz e o calor daquela região da vida bem-aventurada.

ADEODATO

– Continua por esta senda, pois eu não julgaria desprezível ou de pouco valor qualquer coisa que digas ou faças.

AGOSTINHO

– Então, continuemos!
Retomemos aquela parte da nossa discussão sobre os sinais que não significam outros sinais, aquelas coisas que chamamos “significáveis”.
 Em primeiro lugar, diz-me se “homem é homem”.

ADEODATO

– Agora, na verdade, não sei se estás brincando.

AGOSTINHO

– Porquê?

ADEODATO

– Porque me estás perguntando se o “homem” é diferente de “homem”.

AGOSTINHO

– E julgarias também que estou a zombar de ti se te perguntasse se a primeira sílaba deste nome é mesmo “ho” e a segunda “mem”?

ADEODATO

– Certamente.

AGOSTINHO

– Mas negarás que estas duas sílabas dêem “homem”?

ADEODATO

– E como negar?

AGOSTINHO

– Pergunto, pois, se és o mesmo que estas duas sílabas unidas.

ADEODATO

– De maneira alguma. Porém percebo agora onde queres chegar.

AGOSTINHO

– Fala, então, uma vez que não crês tratar-se de zombaria.

ADEODATO

– Julgas, talvez, que se possa concluir que não sou “homem”?

AGOSTINHO

– Mas diz-me, não pensas o mesmo, já que concordaste ser verdade tudo o que foi dito e de onde se tira essa conclusão?

ADEODATO

– Não vou manifestar o meu pensamento antes de ouvir de ti qual a intenção da pergunta “se é homem é homem”; te referias às duas sílabas ou ao seu significado?

AGOSTINHO

– Antes, responde-me qual o sentido em que tomaste a minha pergunta: pois, se é ambígua, devias precaver-te e não responder antes de ter certeza quanto ao sentido da minha pergunta.

ADEODATO

– E porque me seria obstáculo esta ambiguidade, uma vez que respondi num sentindo e no outro? Naturalmente que homem é homem, e estas duas sílabas nada mais são do que duas sílabas, e o que elas significam nada mais é do que é (homem).

AGOSTINHO

– Brilhante a tua resposta: mas por que tomaste nos dois sentidos apenas (o que se diz) “homem” e não as demais coisas de que falamos?

ADEODATO

– E de que modo poderia me persuadir de que não tomei assim das outras?

AGOSTINHO

– Se tivesses tomado apenas a minha primeira pergunta só no aspecto do som das sílabas, não me terias respondido nada, pois até poderia parecer-te que nada houvesse indagado; mas, como fiz repercutir no teu ouvido três palavras, uma das quais repeti no meio, dizendo:
utrum homo homo sit” (se homem é homem), tu tomaste a primeira e a segunda palavra não conforme os mesmos sinais, mas pelo que elas significam, coisa evidenciada pelo simples facto de que te ocorreu de imediato dever responder à minha pergunta com rapidez e desembaraço.

ADEODATO

– Dizes a verdade.


(Revisão de versão portuguesa por ama

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