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31/10/2016

Reflexão no Ano Jubilar da Misericórdia – 8

Próximos do próximo

Há muitos anos que sirvo em casa de Zaqueu. Confesso que não é um trabalho muito agradável e não fora o excelente salário há muito teria procurado outro.
Mas não só… também tenho de reconhecer que me afeiçoei ao meu amo não só porque me trata bem, mas principalmente porque tenho a noção que sou o único amigo – e, às vezes, confidente – que tem.

O meu amo é «chefe dos publicanos [ii] o que não lhe granjeia grandes simpatias junto do povo pelo que tem muito poucos amigos.
Não obstante ser «um homem rico»[iii] e possuir uma excelente casa, onde nada falta, e uma mesa farta, vive de facto quase isolado e só.

Claro que eu sei muito bem que todos suspeitam que os meios de fortuna lhe vêm directamente do exercício da sua profissão de cobrador de impostos e não só das “comissões” que os romanos lhe pagam para os cobrar, mas também porque muitas vezes se “aproveita” de algumas situações cobrando mais do que o devido, arrecadando para si esses dinheiros. Talvez, até, os seus colegas lhe entreguem parte do que eles próprios também cobram a mais.

Aconteceu, porém, que um dos seus subordinados – um tal conhecido por Mateus – tinha subitamente abandonado a profissão e, isto, em circunstâncias relatadas por muita gente do povo.

Claro que Mateus veio ter com o seu chefe – o meu amo – e lhe contou o que sucedera e o levara a tal decisão de mudar de vida.

Desde então, o meu amo nunca mais teve sossego por causa de uma ideia fixa que se lhe instalara no espírito: tinha de conhecer esse homem a que chamavam Jesus o Nazareno, esse mesmo que fora ”o responsável” pela mudança de vida de Mateus que agora o seguia para onde quer que fosse.

De facto, «procurava conhecer de vista Jesus» [iv] porque, julgava ele, um contacto pessoal não seria possível: um judeu falar com um publicano!!!

Um dia, no mercado da cidade próxima, Jericó, deparei-me com uma agitação fora do comum e informaram-me que esse Jesus ia passar por ali pelo que toda a gente se juntava no caminho à saída da cidade para O ver e, se possível, fazer-lhe algum pedido.

Voltei a toda a pressa para casa e informei o meu amo dizendo-lhe que ali estava a oportunidade porque tanto ansiava.

Ele não hesitou um minuto sequer e «Correndo adiante, subiu a um sicómoro para O ver» [v] quando passasse por ali.

Confesso que fiquei espantado com tal atitude e percebi-me que o seu desejo de ver Jesus era de tal forma genuíno que não se importou com o que outros pudessem dizer por se colocar, assim, empoleirado numa árvore, algo inesperado por parte de uma pessoa tão importante.

O cortejo que seguia Jesus aproximava-se e, então, aconteceu uma coisa extraordinária:

Jesus parou mesmo debaixo do sicómoro onde o meu amo se empoleirara e «levantando os olhos disse-lhe:
«Zaqueu, desce depressa, porque convém que Eu fique hoje em tua casa» [vi].

O meu amo, radiante «desceu a toda a pressa, e recebeu-O alegremente» [vii]

Foi um dia memorável que jamais esquecerei.

Os dois, Jesus e Zaqueu conversaram longamente como se fossem “velhos amigos” e era bem notória a alegria e, ao mesmo tempo, a serenidade que o meu amo ostentava.

Não lhe importando os murmúrios que os circunstantes deixavam escapar, as críticas e os “remoques”, pondo-se subitamente «pé diante do Senhor, disse-Lhe: «Eis, Senhor, que dou aos pobres metade dos meus bens e, naquilo em que tiver defraudado alguém, restituir-lhe-ei o quádruplo». [viii]

Os murmúrios cessaram de repente e as pessoas comentavam admiradas e algo incrédulas o que acabavam de ouvir.

Mas, a verdade, é que logo que Jesus se afastou o meu amo começou a tratar das coisas tal como tinha dito e prometido.

O que posso dizer é que o meu amo nunca mais foi o mesmo homem; a mudança na sua vida, no seu modo de proceder foi tal que, aos poucos muitas pessoas que – como atrás disse – evitavam qualquer contacto, passaram a ser visitas de sua casa e, muitas vezes assisti, com pedidos de auxílio e assistência que nunca lhes negava.

(ama, reflexões no Ano Jubilar da Misericórdia)




[i] Lc 19 1 Tendo entrado em Jericó, atravessava a cidade. 2 Eis que um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e rico, 3 procurava conhecer de vista Jesus, mas não podia por causa da multidão, porque era pequeno de estatura. 4 Correndo adiante, subiu a um sicómoro para O ver, porque havia de passar por ali. 5 Quando chegou Jesus àquele lugar, levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, porque convém que Eu fique hoje em tua casa». 6 Ele desceu a toda a pressa, e recebeu-O alegremente. 7 Vendo isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa de um homem pecador». 8 Entretanto, Zaqueu, de pé diante do Senhor, disse-Lhe: «Eis, Senhor, que dou aos pobres metade dos meus bens e, naquilo em que tiver defraudado alguém, restituir-lhe-ei o quádruplo». 9 Jesus disse-lhe: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão. 10 Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido».

Nota: Este trecho do Evangelho escrito por São Lucas poderia ser um dos Evangelhos “oficiais” do Ano Jubilar da Misericórdia.

De facto, aparte a magistral descrição de um acontecimento real e conctreto na que se verificou com Jesus Cristo no Seu incessante caminhar por terras de Israel anunciando o Reino de Deus, a beleza do texto, a economia das palavras, o ritmo da descrição – características deste Evangelista – põem-nos perante um autêntico quadro ou, melhor, perante um filme que se desenrola aos nossos olhos prendendo-nos a atenção e excitando os nossos sentidos.

São Josemaria recomendou: aconselho-te a que, na tua oração, intervenhas nas passagens do Evangelho, como um personagem mais. [i]

É isso mesmo que me proponho fazer.

Sob o Título: “Próximos do próximo (sugerido por um bom amigo) vou tentar personificar alguns dos personagens da parábola e, também, introduzir-me nela como observador directo.

[ii] Cfr. Lc 19, 1
[iii] Cfr. Lc 19, 1
[iv][iv] Cfr. Lc 19, 3
[v] Cfr. Lc 19, 4
[vi] Cfr. Lc 19, 5
[vii] Cfr. Lc 19, 6
[viii] Cfr. Lc 19, 8

Santificar o nosso trabalho não é uma quimera

Santificar o nosso trabalho não é uma quimera; é missão de todos os cristãos... – tua e minha. Foi o que descobriu aquele torneiro, que comentava: – "Põe-me louco de contente essa certeza de que eu, manejando o torno e cantando, cantando muito – por dentro e por fora –, posso fazer-me santo... Que bondade a do nosso Deus!". (Sulco, 517)

Nesta hora de Deus, a da tua passagem por este mundo, decide-te a sério a realizar alguma coisa que valha a pena. O tempo urge, e é tão nobre, tão heróica, tão gloriosa a missão do homem e da mulher sobre a Terra quando abrasa no fogo de Cristo os corações murchos e apodrecidos!

Vale a pena levar aos outros a paz e a felicidade de uma corajosa e alegre cruzada! (Sulco, 613)

Umas vezes deixas explodir o teu mau génio, que em mais de uma ocasião aflora com uma dureza disparatada. Outras, não preparas o teu coração e a tua cabeça para servirem de aposento confortável à Santíssima Trindade... E acabas sempre por ficar um tanto afastado de Jesus, que conheces pouco.

Assim nunca terás vida interior. (Sulco, 651)


Remédio para tudo: santidade pessoal! Por isso, os Santos estavam cheios de paz, de fortaleza, de alegria, de segurança. (Sulco, 653)

Evangelho e comentário


Tempo Comum

Evangelho: Lc 14, 12-14

12 Dizia mais àquele que O tinha convidado: «Quando deres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem os vizinhos ricos; para que não aconteça que também eles te convidem e te paguem com isso. 13 Mas, quando deres algum banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos; 14 e serás bem-aventurado, porque esses não têm com que retribuir-te; mas ser-te-á isso retribuído na ressurreição dos justos».

Comentário:

Não saber a mão direita o que faz a esquerda. Eis um princípio, uma regra a seguir quando se pretende fazer p bem seja a quem for.
O calculismo, a reserva de intenção fazem perde a genuinidade do acto por mais  meritório que possa ser.

Não esperar nem paga nem retorno por parte dos outros mas ter a confiança que ela virá da parte de Deus que é o que, no fundo nos deve interessar.

(ama, comentário sobre LC 14 12-14 2014.11.03)








Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Amigos de Deus



São Josemaria Escrivá

217
         
A importância da luta

Devo prevenir-vos contra uma artimanha de que Satanás - ele nunca tira férias! - não desdenha servir-se para nos arrancar a paz.
Talvez em algum instante se insinue a dúvida, a tentação de pensar que se retrocede lamentavelmente ou de que mal se avança; até ganha força a convicção de que, apesar do empenho por melhorar, se piora.
Garanto-vos que, em regra, esse juízo pessimista só reflecte uma falsa ilusão, um engano que convém repelir.
Costuma suceder, nesses casos, que a alma se torna mais atenta, a consciência mais delicada, o amor mais exigente; ou, então, acontece que a acção da graça ilumina com mais intensidade e saltam aos olhos muitos pormenores que passariam inadvertidos na penumbra. Seja o que for, temos de examinar atentamente essas inquietações, porque o Senhor, com a sua luz, pede-nos mais humildade ou mais generosidade.
Lembrai-vos de que a Providência de Deus nos conduz sem pausas e não regateia o seu auxílio - com milagres portentosos e com milagres pequenos - para fazer progredir os seus filhos.

Militia est vita hominis super terram, et sicut dies mercenarii, dies eius, a vida do homem sobre a terra é milícia e os seus dias decorrem com o peso do trabalho.
Ninguém escapa a este imperativo; nem os comodistas que põem resistência em aceitá-lo: desertam das fileiras de Cristo e afadigam-se noutras contendas para satisfazerem a sua preguiça, a sua vaidade, as suas ambições mesquinhas; são escravos dos seus caprichos.

Se a situação de luta é conatural à criatura humana, procuremos cumprir as nossas obrigações com tenacidade, rezando e trabalhando com boa vontade, com rectidão de intenção, com o olhar posto no que Deus quer.
Assim ficarão saciadas as nossas ânsias de Amor e progrediremos no caminho para a santidade, embora, ao terminar a jornada, comprovemos que ainda falta percorrer muita distância.

Renovai todas as manhãs com um serviam decidido - servir-te-ei, Senhor! - o propósito de não ceder, de não cair na preguiça ou na apatia, de enfrentar as tarefas com mais esperança, com mais optimismo, persuadidos de que, se sairmos vencidos em alguma escaramuça, poderemos superar esse desaire com um acto de amor sincero.

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A virtude da esperança - certeza de que Deus nos governa com a sua providente omnipotência, de que nos dá os meios necessários - fala-nos da contínua bondade do Senhor para com os homens, para contigo, para comigo, sempre disposto a ouvir-nos, porque jamais se cansa de escutar.
Interessam-lhe as tuas alegrias, os teus êxitos, o teu amor e também as tuas dificuldades, a tua dor, os teus fracassos.
Por isso, não esperes n'Ele somente quando tropeçares por causa da tua debilidade; dirige-te ao teu Pai do Céu nas circunstâncias favoráveis e nas adversas, acolhendo-te à sua misericordiosa protecção.
E a certeza da nossa nulidade pessoal - não é necessária grande humildade para reconhecer esta realidade, pois somos uma autêntica multidão de zeros - converter-se-á em fortaleza irresistível, porque à esquerda do nosso eu estará Cristo, e que cifra incomensurável assim resulta!
O Senhor é a minha fortaleza e o meu refúgio, quem temerei?

Acostumai-vos a ver Deus por trás de tudo, a saber que Ele nos aguarda sempre, que nos contempla e nos pede justamente que o sigamos com lealdade, sem abandonarmos o lugar que nos corresponde neste mundo.
Temos de caminhar com afectuosa vigilância, com uma sincera preocupação de lutar, para não perder a sua divina companhia.

219
         
Esta luta de um filho de Deus não implica tristes renúncias, obscuras resignações, privações de alegria; é a reacção do enamorado que, enquanto trabalha e enquanto descansa, enquanto se alegra e enquanto padece, põe o seu pensamento na pessoa amada e por ela enfrenta gostosamente os diferentes problemas.
No nosso caso, além disso, como Deus - insisto - não perde batalhas, nós, com Ele, seremos vencedores.
Tenho a experiência de que, se me ajusto fielmente ao que quer de mim, Ele me faz descansar em verdes prados e me conduz a águas refrescantes. Reconforta a minha alma e guia-me pelo amor do seu nome.
Mesmo que atravesse um vale tenebroso, não temo nenhum mal, porque Tu estás comigo.
A tua clava e o teu cajado são o meu consolo.

Nas batalhas da alma, a estratégia muitas vezes é questão de tempo, de aplicar o remédio conveniente, com paciência, com pertinácia. Aumentai os actos de esperança.
Recordo-vos que sofrereis derrotas, ou que passareis por altos e baixos - Deus permita que sejam imperceptíveis - na vossa vida interior, porque ninguém está livre desses percalços.
Mas o Senhor, que é omnipotente e misericordioso, concedeu-nos os meios idóneos para vencer.
Basta que os empreguemos, como comentava antes, com a resolução de começar e recomeçar em cada momento, se for preciso.

Recorrei semanalmente - e sempre que o necessiteis, sem dar lugar aos escrúpulos - ao santo Sacramento da Penitência, ao sacramento do perdão divino.
Revestidos da graça, caminharemos por entre os montes e subiremos a encosta do cumprimento do dever cristão, sem nos determos.
Utilizando estes recursos com boa vontade e rogando ao Senhor que nos conceda uma esperança cada dia maior, possuiremos a alegria contagiosa dos que se sabem filhos de Deus: Se Deus está connosco, quem nos poderá derrotar?
Optimismo, portanto.
Incitados pela força da esperança, lutaremos para apagar a mancha viscosa que espalham os semeadores do ódio e redescobriremos o mundo com uma perspectiva jubilosa, porque saiu formoso e limpo das mãos de Deus, e restituir-lho-emos assim belo, se aprendermos a arrepender-nos.

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Com o olhar no Céu

Cresçamos na esperança, que deste modo nos consolidaremos na fé, verdadeiro fundamento das coisas que se esperam e prova das que não se vêem.
Cresçamos nesta virtude, que é suplicar ao Senhor que aumente a sua caridade em nós, porque só se confia verdadeiramente no que se ama com todas as forças.
E vale a pena amar o Senhor.
Vós haveis experimentado, como eu, que a pessoa enamorada se entrega confiante, com uma sintonia maravilhosa, em que os corações batem num mesmo querer.
E que será o Amor de Deus?
Não sabeis que Cristo morreu por cada um de nós?
Sim, por este nosso coração pobre, pequeno, se consumou o sacrifício redentor de Jesus.

Frequentemente, o Senhor fala-nos do prémio que nos ganhou com a sua Morte e Ressurreição.
Vou preparar um lugar para vós.
Depois que eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo para que, onde eu estou, estejais Vós também.
O Céu é a meta do nosso caminho terreno. Jesus Cristo precedeu-nos e ali, na companhia da Virgem e de S. José - a quem tanto venero - dos Anjos e dos Santos, aguarda a nossa chegada.

221
         
Nunca faltaram os hereges - mesmo na época apostólica - que pretenderam arrancar a esperança aos cristãos.
Se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como dizem alguns de entre vós que não há ressurreição dos mortos?
Pois, se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou.
E, se Cristo não ressuscitou, é pois vã a nossa pregação, e é também vã a nossa fé....
A divindade do nosso caminho - Jesus, caminho, verdade e vida - é penhor seguro de que leva à felicidade eterna, se não nos afastarmos d'Ele.

Como será maravilhoso quando o nosso Pai nos disser: servo bom e fiel, porque foste fiel nas coisas pequenas, eu te confiarei as grandes: entra no gozo do teu Senhor!
Esperançados!
Esse é o prodígio da alma contemplativa.
Vivemos de Fé, de Esperança e de Amor; e a Esperança torna-nos poderosos.
Recordais-vos de S. João?
Eu vos escrevo, jovens, porque sois valentes e a palavra de Deus permanece em vós e vencestes o maligno.
Deus urge-nos, para a juventude eterna da Igreja e de toda a humanidade.
Podeis transformar em divino todo o humano, como o rei Midas convertia em ouro tudo o que tocava!

Nunca esqueçais que depois da morte vos receberá o Amor.
E no amor de Deus encontrareis, além do mais, todos os amores limpos que tenhais tido na terra.
O Senhor dispôs que passemos esta breve jornada da nossa existência, trabalhando e, como o seu Unigénito, fazendo o bem.
Entretanto, temos de estar alerta, à escuta daquelas chamadas que Santo Inácio de Antioquia notava na sua alma, ao aproximar-se a hora do martírio: vem para junto do Pai, vem para o teu Pai que te espera ansioso.

Peçamos a Santa Maria, Spes nostra, que nos inflame no santo empenho de habitarmos todos juntos na casa do Pai.
Nada nos poderá preocupar, se decidirmos firmar o coração no desejo da verdadeira Pátria: o Senhor nos conduzirá com a sua graça e impelirá a barca com bom vento para tão claras margens.

(cont)


Diálogos apostólicos

Diálogos apostólicos II Parte
19 - [1]

Pode ser um tema recorrente mas peço-te que me fales sobre o amor porque, na verdade, me parece um pouco complicado.

Respondo:

O amor é simples?
Não!
O amor não pode nunca ser simples porque congrega em si um tal conjunto de emoções, qualidades e defeitos, virtudes e malformações, sentimentos muitas vezes contraditórios, ilusão misturada com a realidade, imprevistos e certezas.
O amor, enfim, é algo belo e maravilhoso que só a criatura humana é capaz de sentir.
A imagem de Deus na criatura é, exactamente, o amor porque Deus é o próprio e definitivo Amor.
Assim, quando ama, o homem assemelha-se mais a Deus, como que participando nessa grande aventura divina do amor aos homens.
Por isso mesmo, o amor só e possível com o concurso divino e tal obriga a como que um amor duplo e à ausência absoluta de um terceiro amor.
Os dois primeiros são o amor a Deus e o amor ao próximo que não podem existir, em separado.
O terceiro é o amor-próprio cuja ausência é imprescindível para que os outros dois possam existir. 
Muita gente não tem uma ideia correcta do amor.
Vêm o sentimento, a vibração, o entusiasmo nos outros, mas não sentem o mesmo e isso coloca-os do lado oposto do verdadeiro amor.
Porquê?
Porque só existe amor se houver reciprocidade.
O amor é sempre doação, entrega, partilha.
Nunca um sentimento isolado, por mais profundo e até elevado, pode ser considerado amor. [i]



[1] Nota: Normalmente, estes “Diálogos apostólicos”, são publicados sob a forma de resumos e excertos de conversas semanais. Hoje, porém, dado o assunto, pareceu-me de interesse publicar quase na íntegra.




[i] (Cfr. ama, in Migalhas para o Caminho I, pg. 273)

Satanismo - 7

Satanismo

O Demónio e a Eucaristia

…/7

Consciência:

Eu não podia virar-me para olhar porque estava levantando o cálice da consagração.

Mas entendi no mesmo instante que alguma pobre alma atormentada pelo demónio se tinha visto diante de Cristo na Eucaristia e não tinha conseguido suportar a sua presença real, exibida perante todos. Ocorreram-me as palavras da escritura:

«Até os demónios creem e estremecem»[i].

(cont)

p. charles pope

Revisão da versão portuguesa por ama.




[i] Tg 2,19

Pequena agenda do cristão


SeGUNDa-Feira



(Coisas muito simples, curtas, objectivas)


Propósito:
Sorrir; ser amável; prestar serviço.

Senhor que eu faça ‘boa cara’, que seja alegre e transmita aos outros, principalmente em minha casa, boa disposição.

Senhor que eu sirva sem reserva de intenção de ser recompensado; servir com naturalidade; prestar pequenos ou grandes serviços a todos mesmo àqueles que nada me são. Servir fazendo o que devo sem olhar à minha pretensa “dignidade” ou “importância” “feridas” em serviço discreto ou desprovido de relevo, dando graças pela oportunidade de ser útil.

Lembrar-me:
Papa, Bispos, Sacerdotes.

Que o Senhor assista e vivifique o Papa, santificando-o na terra e não consinta que seja vencido pelos seus inimigos.

Que os Bispos se mantenham firmes na Fé, apascentando a Igreja na fortaleza do Senhor.

Que os Sacerdotes sejam fiéis à sua vocação e guias seguros do Povo de Deus.

Pequeno exame:

Cumpri o propósito que me propus ontem?




30/10/2016

Ajuda-os sem que o notem

O pensamento da morte ajudar-te-á a cultivar a virtude da caridade, porque talvez esse instante concreto de convivência seja o último em que estás com este ou com aquele... Eles, ou tu, ou eu, podemos faltar em qualquer momento. (Sulco, 895)

Dir-me-ás talvez: e porque havia eu de me esforçar? Não sou eu quem te responde, mas S. Paulo: o amor de Cristo urge-nos. Todo o espaço de uma existência é pouco para alargar as fronteiras da tua caridade. Desde os primeiríssimos começos do Opus Dei, manifestei o meu grande empenho em repetir sem cessar, para as almas generosas que se decidam a traduzi-lo em obras, aquele grito de Cristo: nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros. Conhecer-nos-ão precisamente por isso, porque a caridade é o ponto de arranque de qualquer actividade de um cristão. (…)


Queria fazer-vos notar que, após vinte séculos, ainda aparece com toda a pujança de novidade o Mandato do Mestre, que é uma espécie de carta de apresentação do verdadeiro filho de Deus. Ao longo da minha vida sacerdotal, tenho pregado com muitíssima frequência que, desgraçadamente para muitos, continua a ser novo, porque nunca ou quase nunca se esforçaram por praticá-lo. É triste, mas é assim. E não há dúvida nenhuma de que a afirmação do Messias ressalta de modo terminante: nisto vos conhecerão, que vos amais uns aos outros! Por isso, sinto a necessidade de recordar constantemente essas palavras do Senhor. S. Paulo acrescenta: levai os fardos uns dos outros e, desta maneira, cumprireis a lei de Cristo. Momentos perdidos, talvez com a falsa desculpa de que te sobra tempo... Se há tantos irmãos, amigos teus, sobrecarregados de trabalho! Com delicadeza, com cortesia, com um sorriso nos lábios, ajuda-os, de tal maneira que se torne quase impossível que o notem; e que nem se possam mostrar agradecidos, porque a discreta finura da tua caridade fez com que ela passasse inadvertida. (Amigos de Deus, 43–44)

Temas para meditar - 666

Amizade

Cremos que os encontros (...) dão a almas nobres e virtuosas para gozar desta relação humana e cristã que se chama amizade.

O que supõe e desenvolve e a generosidade, o desinteresse, a simpatia, a solidariedade e, especialmente, a possibilidade de sacrifícios mútuos. 


(beato paulo vi, Aloc.1978.07.26)

Evangelho e comentário


Tempo Comum


Evangelho: Lc 19, 1-10

1 Tendo entrado em Jericó, atravessava a cidade. 2 Eis que um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e rico, 3 procurava conhecer de vista Jesus, mas não podia por causa da multidão, porque era pequeno de estatura. 4 Correndo adiante, subiu a um sicómoro para O ver, porque havia de passar por ali. 5 Quando chegou Jesus àquele lugar, levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, porque convém que Eu fique hoje em tua casa». 6 Ele desceu a toda a pressa, e recebeu-O alegremente. 7 Vendo isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa de um homem pecador». 8 Entretanto, Zaqueu, de pé diante do Senhor, disse-Lhe: «Eis, Senhor, que dou aos pobres metade dos meus bens e, naquilo em que tiver defraudado alguém, restituir-lhe-ei o quádruplo». 9 Jesus disse-lhe: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão. 10 Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido».

Comentário:

Quantos – infelizmente, muitos – nos dias que correm necessitariam de um “rebate de consciência” como Zaqueu e apressar-se a devolver aos legítimos proprietários o que se indevidamente se apropriaram.

Actuar com justiça verdadeira com vontade expressa de reparar o mal feito ou, pelo menos, tentar restituir o bem que se apoderou.

E não falemos apenas de bens materiais – não obstante o seu volume e grandeza – mas também corrigir a mentira, o mal-dizer, o boato, a notícia falsa, o bom nome.


(ama, comentário sobre Lc 19, 1-10, 2014.11.18) 

Leitura espiritual

Leitura Espiritual


Amigos de Deus



São Josemaria Escrivá

213
        
Às vezes, quando tudo nos acontece ao contrário do que imaginávamos, vem-nos espontaneamente à boca: Senhor, olha que se afunda tudo, tudo, tudo...!
Chegou a hora de rectificar: contigo, avançarei seguro, porque Tu és a própria fortaleza: quia tu es, Deus, fortitudo mea.

Roguei-te que, no meio das ocupações, procures levantar os teus olhos ao Céu perseverantemente, porque a esperança nos impele a agarrar-nos a essa mão forte que Deus nos estende sem cessar, com o fim de não perdermos o ponto de mira sobrenatural; isto também quando as paixões se levantam e nos acometem para nos aferrolharem no reduto mesquinho do nosso eu, ou quando - com pueril vaidade - nos sentimos o centro do universo.
Eu vivo persuadido de que, sem olhar para o alto, sem Jesus, jamais conseguirei nada; e sei que a minha fortaleza, para me vencer e para vencer, nasce de repetir aquele brado: tudo posso n'Aquele que me conforta, que contém a segura promessa de Deus de não abandonar os seus filhos, se os seus filhos não o abandonarem.

214
        
A miséria e o perdão

Tanto se aproximou o senhor das criaturas, que todos guardamos no coração fome de altura, ânsias de subir muito alto, de fazer o bem.
Se agora renovo em ti essas aspirações, é porque quero que te convenças da segurança que Ele pôs na tua alma: se o deixares actuar, servirás - onde estás - como instrumento útil, com uma eficácia insuspeitada.
Para que não te afastes por cobardia da confiança que Deus deposita em ti, evita a presunção de menosprezar ingenuamente as dificuldades que aparecerão no teu caminho de cristão.

Não temos de estranhar.
Trazemos em nós mesmos - consequência da natureza decaída - um princípio de oposição, de resistência à graça: são as feridas do pecado original, agravadas pelos nossos pecados pessoais.
Portanto, temos de empreender as ascensões, as tarefas divinas e humanas - as de cada dia - que sempre desembocam no Amor de Deus, com humildade, com coração contrito, fiados na assistência divina e dedicando os nossos melhores esforços, como se tudo dependesse de nós mesmos.

Enquanto pelejamos - uma peleja que durará até à morte - não excluas a possibilidade de que se levantem, violentos, os inimigos de fora e de dentro.
E, como se fosse pequeno o lastro, às vezes, acumular-se-ão na tua mente os erros cometidos, talvez abundantes.
Em nome de Deus te digo: não desesperes.
Quando isso suceder - não tem necessariamente que suceder, nem será o habitual - converte essa ocasião num motivo para te unires mais com o Senhor; porque Ele, que te escolheu como filho, não te abandonará.
Permite a prova, para que ames mais e descubras com mais clareza a sua contínua protecção, o seu Amor.

Insisto, tem ânimo, porque Cristo, que nos perdoou na Cruz, continua a oferecer o seu perdão no Sacramento da Penitência e sempre temos um advogado junto do Pai, Jesus Cristo, o Justo.
Ele mesmo é a vítima de propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos mas também pelos de todo o mundo, para que alcancemos a Vitória.

Para a frente, aconteça o que acontecer!
Bem agarrado ao braço do Senhor, considera que Deus não perde batalhas.
Se, por qualquer motivo, te afastas d'Ele, reage com a humildade de começar e de recomeçar; de fazer de filho pródigo todos os dias, inclusive repetidamente nas vinte e quatro horas do dia; de reconciliar o teu coração contrito na Confissão, verdadeiro milagre do Amor de Deus.
Neste Sacramento maravilhoso, o Senhor limpa a tua alma e inunda-te de alegria e de força para não desanimares na tua luta e para voltares de novo sem cansaço a Deus, mesmo quando tudo te pareça obscuro.
Além disso, a Mãe de Deus, que é também nossa Mãe, protege-te com a sua solicitude maternal e dá-te confiança no teu caminhar.

215
        
Deus não se cansa de perdoar

A sagrada Escritura adverte que até o justo cai sete vezes. Sempre que leio estas palavras, a minha alma estremece com um forte abalo de amor e de dor.
Uma vez mais, vem o Senhor ao nosso encontro, com essa advertência divina, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca acabam.
Estai seguros: Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece e conta precisamente com essas debilidades para que nos façamos santos.

Um abalo de amor, dizia-vos.
Considero a minha vida e, com sinceridade, vejo que não sou nada, que não valho nada, que não tenho nada, que não posso nada; mais: que sou o nada!
Mas Ele é o tudo e, ao mesmo tempo, é meu, e eu sou d'Ele, porque não me repele, porque se entregou por mim.
Contemplastes amor maior?

E um abalo de dor, pois examino a minha conduta e assombro-me perante o conjunto das minhas negligências.
Basta-me examinar as poucas horas decorridas desde que me levantei hoje, para descobrir tanta falta de amor, de correspondência fiel. Penaliza-me deveras este meu comportamento, mas não me tira a paz.
Prostro-me diante de Deus e exponho-lhe claramente a minha situação.
Logo tenho a segurança da sua assistência e oiço no fundo do meu coração o que ele me repete devagar: meus es tu!
Sabia - e sei - como és; para a frente!

Não pode ser de outra maneira.
Se acorrermos continuamente a pôr-nos na presença do Senhor, aumentará a nossa confiança, ao comprovarmos que o seu Amor e o seu chamamento permanecem actuais: Deus não se cansa de nos amar.
A esperança demonstra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem o mais pequeno dever; e com ele, com a sua graça, cicatrizarão as nossas feridas; revestir-nos-emos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo e melhoraremos.
Em resumo: a consciência de que somos feitos de barro ordinário há-de servir-nos, sobretudo, para afirmarmos a nossa esperança em Cristo Jesus.

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Misturai-vos com frequência entre os personagens do Novo Testamento.
Saboreai aquelas cenas comovedoras em que o Mestre actua com gestos divinos e humanos ou relata, com frases humanas e divinas, a história sublime do perdão e do seu contínuo Amor pelos seus filhos. Esses reflexos do Céu renovam-se também agora na perenidade actual do Evangelho: palpa-se, nota-se, pode-se afirmar que se toca com as mãos a protecção divina; um amparo que adquire vigor, quando prosseguimos apesar dos tropeções, quando começamos e recomeçamos, pois isto é a vida interior vivida com a esperança em Deus.

Sem este empenho em superar os obstáculos de dentro e de fora, não nos será concedido o prémio.
Nenhum atleta será premiado, se não lutar verdadeiramente, e não seria autêntico o combate se faltasse o adversário com quem pelejar. Portanto, se não houver adversário, não haverá coroa; pois não pode haver vencedor, onde não há vencido.

Longe de nos desalentarem, as contrariedades hão-de ser um acicate para crescermos como cristãos; nessa luta nos santificamos e o nosso trabalho apostólico adquire maior eficácia.
Ao meditar nos momentos em que Jesus Cristo - no Horto das Oliveiras e, mais tarde, no abandono e ludíbrio da Cruz - aceita e ama a Vontade do Pai, enquanto sente o peso gigantesco da Paixão, temos de nos persuadir de que para imitar Cristo, para ser bons discípulos d'Ele, é preciso que sigamos o seu conselho: se alguém quer vir atrás de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me.
Por isso, gosto de pedir a Jesus para mim: Senhor, nenhum dia sem cruz!
Assim, com a graça divina, se reforçará o nosso carácter e serviremos de apoio ao nosso Deus, superando as nossas misérias pessoais.

Compreende bem isto: se ao cravar um prego na parede, não encontrasses resistência, que poderias pendurar dele?
Se não nos robustecermos, com o auxílio divino, por meio do sacrifício, não alcançaremos a condição de instrumentos do Senhor.
Pelo contrário, se nos decidirmos a aproveitar com alegria as contrariedades, por amor de Deus, ao enfrentar o que é difícil e desagradável, o que é duro e incómodo, não nos custará exclamar com os Apóstolos Tiago e João: Podemos!

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