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26/08/2016

Reflectindo - 194

Escrever

Qualquer coisa, escrito, ideia, acto, afirmação... o que for emanado do ser humano tem, pelo menos, duas interpretações, duas reacções, dois impactos.
Evidentemente que se conta com o primeiro, isto é, daquele que pensou, disse, fez ou concluiu.
Depois haverá os outros em que dificilmente se encontrarão coincidentes resultados.
A razão parece simples: não há duas pessoas iguais... absolutamente iguais logo, a sua reacção tende a ser diferente.
Isto que parece óbvio - tanto que dispensaria mais elucubrações - é maior riqueza ou o bem mais notável do ser humano o que no fundo o distingue do irracional.
A idiossincrasia de cada ser está intimamente associada ao progresso da sociedade porque, esta, não é um "bloco" uniforme e indivisível mas sim um conjunto mais ou menos equilibrado de várias idiossincrasias que concorrem para um mesmo resultado: a variedade pluriforme da sociedade humana.
Gregário por natureza o ser humano não se confunde nem se deixa absorver pelo conjunto antes concorre e contribui com o que lhe é próprio para o que é comum.


Tantas vezes se tenta algo diferente do habitual daquilo que ao longo dos dias vamos construindo, às vezes laboriosamente - forçado ou não - e não conseguimos encontrar o "fio condutor" que nos leve onde não programamos ir mas que ambicionados chegar.
E quem tem por hábito, sina ou feitio escrever sente de forma muito radical por vezes um como que bloqueio inexplicável não conseguindo "arrancar" de dentro de si mesmo o que sente necessidade de expor mas, como não sabe bem o que é, está-lhe ausente e foge do seu controlo.
Escrever por escrever pode se bom e até saudável. Sem esforço, deixando as palavras fluírem livremente acaba por se envolver num processo quase automático de escalpelização íntima como que uma catarse que tem de incluir um esforço muito concreto de não se deixar cair na auto-comiseração, no "esmagamento" do "eu" - sempre uma forma fácil de dar guarida ao amor-próprio e orgulho - e tentar manter o pensamento lógico e saudável.
Escrever sobre si mesmo não é nem fácil nem difícil se se segue uma regra simples: escrever para si mesmo sem a preocupação ou desejo que outros venham a ler o escrito.
Aliás, penso que só deste modo a escrita tem autenticidade concreta porque se por detrás dela se encontra algum - por ténue ou indefinido que seja - desejo ou intento de ser lido, é praticamente impossível fugir ao uso da máscara ou disfarce da realidade.
Sem querer, talvez, é-se levado pelo desejo de parecer inteligente, original, interessante mas, depois, ao rever o escrito, fica-se com um sentimento - bem amargo por vezes - de inutilidade.
O "truque" está numa fórmula muito simples: escrevi o que me apeteceu!
Está conclusão que não se pretende transformar em corolário, resolve muitos dilemas futuros, como, por exemplo, concluir: já escrevi isto! Não vale a pena repetir!
E, daqui, pode surgir uma nova ideia que leve a uma elaboração diferente de um tema já rebuscado.

Parece-me aceitável esta conclusão.

(ama, Reflexão, Cascais, 2015.09.15


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