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05/07/2016

Tratado da vida de Cristo 114

Questão 48: Do modo da paixão de Cristo

Em seguida devemos tratar do efeito da paixão de Cristo. E, primeiro do modo pelo qual o produziu. Segundo, do efeito em si. Na primeira questão discutem-se seis artigos:

Art. 1 — Se a Paixão de Cristo causou a nossa salvação a modo de mérito.
Art. 2 — Se a Paixão de Cristo causou a nossa salvação a modo de satisfação.
Art. 3 — Se a Paixão de Cristo se realizou de modo de sacrifício.
Art. 4 — Se a Paixão de Cristo obrou a nossa salvação a modo de redenção.
Art. 5 — Se ser Redentor é próprio de Cristo.
Art. 6 — Se a Paixão de Cristo obrou a nossa salvação a modo de eficiência.

Art. 1 — Se a Paixão de Cristo causou a nossa salvação a modo de mérito.

 O primeiro discute-se assim. — Parece que a Paixão de Cristo não causou a nossa salvação a modo de mérito.

1. — Pois, os princípios das paixões não estão em nós. Ora, ninguém merece nem é louvado senão em virtude de um princípio em si existente. Logo, a Paixão de Cristo nada operou em nós a modo de mérito.

2. Demais. — Cristo desde o princípio da sua concepção mereceu tanto para si como para nós, segundo se disse. Ora, é supérfluo merecer alguém de novo o que já antes merecera. Logo, Cristo pela sua Paixão não mereceu a nossa salvação.

3. Demais. — A raiz do mérito é a caridade. Ora, a caridade de Cristo não aumentou mais na Paixão, que antes. Logo, não mereceu a nossa salvação mais, sofrendo, que antes.

Mas, em contrário, segundo o Apóstolo — Pelo que Deus o exaltou - diz Agostinho: A humildade da paixão é o mérito da glória; a glória é o prémio da humildade. Ora, Cristo foi o glorificado, não só em si mesmo, mas também nos seus fiéis, como ele próprio o disse. Logo, parece que Cristo mereceu a salvação dos seus fiéis.

Como dissemos, a Cristo foi dada a graça, não só como a uma pessoa singular, mas enquanto cabeça da Igreja, de modo que dele redundasse para os membros dela. Por isso as obras de Cristo estão para o mesmo e para as suas obras, assim como estão as obras de um homem constituído em graça para com ele próprio. Ora, é manifesto que quem, constituído em graça, sofre pela justiça, por isso mesmo merece para si a salvação, segundo o Apóstolo: Bem-aventurados os que padecem perseguição por amor da justiça. Donde, Cristo, pela sua paixão, merecem a salvação não somente para si mas também para todos os seus membros.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A paixão, como tal, procede de um princípio exterior. Mas, enquanto sofrida por um paciente voluntariamente, procede de um princípio interno.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo, desde o princípio da sua concepção, mereceu-nos a salvação eterna. Mas, do nosso lado, alguns impedimentos constituíam um obstáculo a conseguirmos o efeito dos méritos precedentes. Por isso, a fim de remover esses impedimentos é que Cristo teve de sofrer, como dissemos.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A Paixão de Cristo teve certo efeito que não tiveram os méritos precedentes; não por causa de uma caridade maior, mas pelo género da obra, que era concordante com esse efeito, como ficou claro pelas razões supra - aduzidas referentes à conveniência da Paixão de Cristo.


Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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