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18/07/2016

Leitura espiritual

Leitura Espiritual

Temas actuais do cristianismo 



São Josemaria Escrivá
51
                
pergunta:

Pensa-se geralmente que o Opus Dei, como organização, maneja uma considerável força económica.
Uma vez que o Opus Dei dirige de facto actividades de tipo educativo, beneficente, etc., poderia explicar-nos como administra o Opus Dei essas actividades, isto é, como obtém os meios económicos, como os coordena e distribui?

resposta:

Efectivamente, em todos os países onde trabalha, o Opus Dei dirige actividades sociais, educativas e beneficentes.
Não é este, porém, o principal trabalho da Obra; aquilo que o Opus Dei pretende é que haja muitos homens e mulheres que procurem ser bons cristãos e, portanto, testemunhas de Cristo no meio das suas ocupações habituais.
Os centros a que se refere têm precisamente esta finalidade.
Por isso a eficácia de todo o nosso trabalho fundamenta-se na graça de Deus e numa vida de oração, trabalho e sacrifício.
Mas não há dúvida que qualquer actividade educativa, social ou de beneficência tem de servir-se de meios económicos.

Cada centro se financia do mesmo modo que qualquer outro da sua espécie.
As residências de estudantes, por exemplo, contam com as mensalidades que pagam os residentes; os colégios, com as propinas dos alunos; as escolas agrícolas, com a venda dos seus produtos, etc.
É evidente, contudo, que estas receitas quase nunca são suficientes para cobrir todas as despesas de um centro, e menos ainda tendo em conta que todas as iniciativas do Opus Dei são pensadas com um critério apostólico e que a maioria delas se dirige a pessoas de escassos recursos económicos, que, muitas vezes, pagam pela formação que se lhes proporciona quantias meramente simbólicas.

Para tornar possíveis essas actividades conta-se também com o contributo dos sócios da Obra, que a elas destinam parte do dinheiro que ganham com o seu trabalho profissional, mas sobretudo com a ajuda de muitas pessoas que, embora sem pertencerem ao Opus Dei, estão dispostas a colaborar em tarefas de transcendência social e educativa.
Os que trabalham em cada centro procuram fomentar em cada uma das pessoas o zelo apostólico, a preocupação social, o sentido comunitário que os levam a colaborar activamente na realização desses empreendimentos.
Como se trata de trabalhos feitos com seriedade profissional, que correspondem a necessidades reais da sociedade, na maioria dos casos a resposta tem sido generosa.
A Universidade de Navarra, por exemplo, tem uma Associação de Amigos com cerca de 12.000 membros.

O financiamento de cada centro é autónomo.
Cada um funciona com independência e procura encontrar os fundos necessários entre pessoas interessadas naquele actividade concreta.

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pergunta:

Aceitaria a afirmação de que o Opus Dei "controla" de facto determinados bancos, empresas, jornais, etc.?
Se assim é, que significa "controle" neste caso?

resposta:

Há alguns sócios do Opus Dei - bastante menos do que alguma vez se terá dito - que exercem o seu trabalho profissional na direcção de empresas de diverso tipo.
Uns dirigem empresas familiares que herdaram dos seus pais.
Outros estão à frente de sociedades que fundaram, sós ou unidos a outras pessoas da mesma profissão.
Outros, pelo contrário, foram nomeados gerentes de alguma empresa pelos respectivos donos, que confiaram na sua capacidade e conhecimentos.
Podem ter alcançado os cargos que ocupam por qualquer dos caminhos honestos que uma pessoa costuma percorrer para chegar a uma posição desse tipo.
Quer dizer: isto nada tem a ver com o facto de pertencerem à Obra.

Os directores de empresa que fazem parte do Opus Dei procuram, como todos os sócios, viver o espírito evangélico no exercício da sua profissão.
Isto exige-lhes, em primeiro lugar, que vivam escrupulosamente a justiça e a honestidade.
Procurarão, portanto, fazer o seu trabalho honradamente: pagar um salário justo aos seus empregados, respeitar os direitos dos acionistas ou proprietários e da sociedade, e cumprir todas as leis do país. Evitarão qualquer espécie de partidarismos ou favoritismos em relação a outras pessoas, sejam elas ou não sócios do Opus Dei.
Entendo que o favoritismo seria contrário, não já à busca de plenitude de vida cristã - que é o motivo por que se ingressa na Obra, mas às exigências mais elementares da moral evangélica.

Já se falou atrás da liberdade absoluta de que gozam todos os sócios da Obra no seu trabalho profissional.
Isto quer dizer que os sócios da Obra que dirigem empresas de qualquer tipo fazem-no de acordo com o seu critério pessoal, sem receber nenhuma orientação dos directores sobre o modo de realizar o seu trabalho.
Tanto a política económica e financeira que seguem na gestão da empresa, como a orientação ideológica, no caso de uma empresa ligada à opinião pública, é da sua exclusiva responsabilidade.

Toda a apresentação do Opus Dei como uma central de directrizes e orientações temporais ou económicas carece de fundamento.

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pergunta:

Como está organizado o Opus Dei [i] em Espanha?
Como está estruturado o seu governo e como funciona?
Intervém V. Rev.ª pessoalmente nas actividades do Opus Dei em Espanha?

resposta:

O trabalho de direcção no Opus Dei é sempre colegial, nunca pessoal. Detestamos a tirania, que é contrária à dignidade humana.
Em cada país a direcção do nosso trabalho é da competência de uma comissão, composta na sua maior parte por leigos de diversas profissões, e presidida pelo Conselheiro do Opus Dei no país.
Em Espanha o Conselheiro é o Rev.º P.e Dr. Florencio Sánchez Bella.

Como o Opus Dei é uma organização sobrenatural e espiritual, o seu governo limita-se a dirigir e a orientar o trabalho apostólico, com exclusão de qualquer tipo de finalidade temporal.
A direcção da Obra, não só respeita a liberdade dos seus membros, como lhes faz tomar viva consciência dela.
Para conseguir a perfeição cristã na profissão ou no ofício que cada um exerce, os membros da Obra necessitam de estar formados de modo que saibam administrar a sua liberdade: com presença de Deus, com piedade sincera, com doutrina.
Esta é a missão fundamental dos directores da nossa Obra: tornar acessível a todos os sócios o conhecimento e a prática da fé cristã, para que a tornem realidade na sua vida, cada um com plena autonomia. Sem dúvida que é necessária, pelo que se refere ao terreno estritamente apostólico, uma certa coordenação mas ainda aqui a coordenação se limita ao mínimo indispensável para facilitar a criação de centros educativos, sociais ou de beneficência, que realizam um eficaz serviço cristão.

Os mesmos princípios que acabo de expor se aplicam ao governo central da Obra.
Eu não governo sozinho.
As decisões são tomadas no Conselho Geral do Opus Dei, que tem a sua sede em Roma e é composto actualmente por pessoas de catorze países.
O Conselho Geral limita-se por seu lado a dirigir, em linhas fundamentais, o apostolado da Obra em todo o mundo, deixando uma amplíssima margem de iniciativa aos Directores de cada país.
Na Secção Feminina existe um regime análogo.
Do seu Conselho Central fazem parte associadas de doze nacionalidades.

54
                
pergunta:

Em sua opinião, porque estão em más relações com o Opus Dei numerosas Ordens religiosas, tais como a Companhia de Jesus?

resposta:

Conheço muitíssimos religiosos que sabem que nós não somos religiosos, mas que nos retribuem o afecto que lhes temos e oferecem orações e sacrifícios a Deus pelos apostolados do Opus Dei.
Quanto à Companhia de Jesus, conheço e mantenho relações com o seu Geral, o Padre Arrupe.
Posso assegurar-lhe que as nossas relações são de estima e afecto mútuo.

Talvez Você tenha encontrado algum religioso que não compreenda a nossa Obra; se assim é, o facto dever-se-á a um equívoco ou a uma falta de conhecimento da realidade do nosso trabalho, que é especialmente laical e secular e em nada interfere com o terreno próprio dos religiosos.
Por todos os religiosos não temos senão veneração e carinho e pedimos ao Senhor que cada dia torne mais eficaz o seu serviço à Igreja e à humanidade inteira.
Não haverá nunca luta entre o Opus Dei e um religioso, porque para lutar são precisos dois e nós não queremos lutar com ninguém.

Entrevista realizada por Tad Szulc, correspondente do New York Times, em 7 de Outubro de 1966.

(cont)





[i] Cfr. a nota do n.º 35

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