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30/06/2016

Leitura espiritual

Leitura EspiritualAmar a Igreja 


São Josemaria Escrivá

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Para começar, gostaria de vos recordar umas palavras de S. Cipriano: A Igreja universal apresenta-se-nos como um povo cuja unidade é obtida a partir da unidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Não estranhem, portanto, que nesta festa da Santíssima Trindade a homilia trate da Igreja, tanto mais que a Igreja tem as suas raízes no mistério fundamental da nossa fé católica: o de Deus uno em essência e trino em pessoas.

A Igreja centrada na Trindade: eis como sempre a consideraram os Padres.
Reparem como são claras as palavras de Santo Agostinho: Deus habita no seu templo; não apenas o Espírito Santo, mas igualmente o Pai e o Filho...
Por isso, a Santa Igreja é o templo de Deus, ou seja, de toda a Trindade.

Ao reunirmo-nos de novo no próximo Domingo, consideraremos outro dos aspectos maravilhosos da Santa Igreja: essas notas que recitaremos dentro de pouco, no Credo, depois de cantar a nossa fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo.
Et in Spiritum Sanctum, dizemos.
E, logo a seguir, et unam, sanctam catholicam et apostolicam Ecclesiam, confessamos que há uma só Igreja, Santa, Católica e Apostólica.

Todos aqueles que amaram verdadeiramente a Igreja souberam relacionar estas quatro notas com o mais inefável mistério da nossa santa religião: a Santíssima Trindade.
Nós cremos na Igreja de Deus, Una, Santa, Católica e Apostólica, na qual recebemos a doutrina; conhecemos o Pai, o Filho e o Espírito Santo e somos baptizados em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

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Momentos difíceis

É necessário meditarmos frequentemente, para não corrermos o risco de nos esquecermos, que a Igreja é um mistério grande, profundo. Nunca poderá ser abarcado nesta terra.
Se a razão tentasse explicá-lo por si só, veria apenas a reunião de pessoas que cumprem certos preceitos, que pensam de forma parecida. Mas isso não seria a Santa Igreja.

Na Santa Igreja os católicos encontramos a nossa fé, as nossas normas de conduta, a nossa oração, o sentido de fraternidade, a comunhão com todos os irmãos que já desapareceram e que estão a purificar-se no Purgatório - Igreja padecente-, ou com os que já gozam da visão beatífica - Igreja triunfante-, amando eternamente Deus, três vezes Santo.
É a Igreja que permanece aqui e, ao mesmo tempo, transcende a história.
A Igreja que nasceu sob o manto de Santa Maria e continua a louvá-la como Mãe na terra e no céu.

Confirmemos em nós mesmos o carácter sobrenatural da Igreja; confessemo-lo aos gritos, se for preciso, porque nestes momentos são muitos aqueles que - embora fisicamente dentro da Igreja, e até em altas posições - se esqueceram destas verdades capitais e pretendem apresentar uma imagem da Igreja que não é Santa, que não é Una, que não pode ser Apostólica porque não se apoia na rocha de Pedro, que não é Católica porque está sulcada por particularismos ilegítimos, por caprichos de homens.

Não é novidade.
Desde que Jesus Cristo fundou a Santa Igreja, esta Mãe, que é nossa Mãe, sofreu uma perseguição constante.
Talvez noutras épocas as agressões se organizassem abertamente; agora, em muitos casos, trata-se de uma perseguição camuflada. Seja como for, hoje, como ontem, há quem continue a combater a Igreja.

Repetirei mais uma vez que não sou pessimista, nem por temperamento nem por hábito.
Como é possível ser pessimista se Nosso Senhor prometeu que estará connosco até ao fim dos séculos?
A efusão do Espírito Santo plasmou, na reunião dos discípulos no Cenáculo, a primeira manifestação pública da Igreja.

O nosso Pai Deus - Pai amoroso que cuida de nós como da menina dos olhos, conforme nos diz a Escritura com uma expressão tão gráfica, para podermos perceber - não cessa de santificar, pelo Espírito Santo, a Igreja fundada pelo seu Filho muito amado.
Mas a Igreja vive actualmente dias difíceis: são anos de grande desconcerto para as almas.
O clamor da confusão levanta-se por toda a parte e renascem com estrondo todos os erros que houve ao longo dos séculos.

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Fé.
Precisamos de fé.
Se olharmos com olhos de fé, descobrimos que a Igreja contém em si mesma e difunde à sua volta a sua própria apologia.
Quem a contempla, quem a estuda com olhos de amor à verdade, deve reconhecer que ela, independentemente dos homens que a compõem, e das modalidades práticas com que se apresenta, leva em si mesma uma mensagem de luz universal e única, libertadora e necessária, divina.

Quando ouvimos vozes de heresia - porque são exactamente isso, nunca me agradaram os eufemismos-, quando observamos que se ataca impunemente a santidade do matrimónio e do sacerdócio; a concepção imaculada da Nossa Mãe Santa Maria e a sua virgindade perpétua, com todos os restantes privilégios e excelências com que Deus a adornou; o milagre perene da presença real de Jesus Cristo na Sagrada Eucaristia, o primado de Pedro, a própria Ressurreição de Nosso Senhor, como não sentir a alma cheia de tristeza?
Mas tenham confiança: a Santa Igreja é incorruptível.
A Igreja vacilará se o seu fundamento vacilar, mas poderá Cristo vacilar?
Enquanto Cristo não vacilar, a Igreja jamais fraquejará até ao fim dos tempos.

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O humano e o divino na Igreja

Assim como em Cristo há duas naturezas - a humana e a divina - também, por analogia, podemos referir-nos à existência na Igreja de um elemento humano e de um elemento divino.
A ninguém passa despercebida a evidência dessa parte humana.
A Igreja, neste mundo, está composta por homens e para homens, e dizer homem é falar da liberdade, da possibilidade de actos grandes e de actos mesquinhos, de heroísmos e de claudicações.

Se só admitíssemos essa parte humana da Igreja nunca conseguiríamos compreendê-la, pois não teríamos chegado à porta do mistério. A Sagrada Escritura utiliza muitos termos - tirados da experiência terrena - para os aplicar ao Reino de Deus e à sua presença entre nós, na Igreja.
Compara-a ao redil, ao rebanho, à casa, à semente, à vinha, ao campo onde Deus planta ou edifica.
Mas destaca uma expressão que compendia tudo: a Igreja é o Corpo de Cristo.

E Ele a uns constituiu Apóstolos, a outros profetas, a outros evangelistas, a outros pastores e doutores, para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do Corpo de Cristo. São Paulo escreve também que somos um só corpo em Cristo, e cada um de nós membros uns dos outros.
Como é luminosa a nossa fé! Todos somos em Cristo, porque Ele é a Cabeça do corpo da Igreja.

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É a fé que os cristãos sempre confessaram.
Ouçam comigo estas palavras de Santo Agostinho: e desde então Cristo está formado pela cabeça e pelo corpo, verdade que, não duvido, conheceis bem.
A cabeça é o nosso próprio Salvador, que padeceu sob Pôncio Pilatos e agora, depois de ressuscitar de entre os mortos, está sentado à direita do Pai.
E o Seu corpo é a Igreja.
Não esta ou aquela igreja, mas a que se encontra espalhada por todo o mundo.
Nem sequer é apenas a que existe entre os homens actuais, uma vez que a ela pertencem também os que viveram antes de nós e os que hão-de existir depois, até ao fim do mundo.
Assim, toda a Igreja, formada pela reunião dos fiéis - e porque todos os fiéis são membros de Cristo-, possui Cristo como Cabeça, que governa do Céu o Seu corpo.
E, embora esta Cabeça se encontre fora da vista do corpo, está unida pelo amor.

(cont)

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Agora compreendem porque não se pode separar a Igreja visível da Igreja invisível.
A Igreja é, simultaneamente, corpo místico e corpo jurídico.
Pelo próprio facto de ser corpo, a Igreja distingue-se com os olhos, ensinou Leão XIII.
No corpo visível da Igreja - no comportamento dos homens que dela fazemos parte aqui na terra - aparecem misérias, vacilações, traições.
Mas a Igreja não se esgota aí, nem se confunde com essas condutas erradas: pelo contrário, não faltam, aqui e agora, generosidades, afirmações heróicas, vidas de santidade que não fazem barulho, que se consomem com alegria no serviço dos irmãos na fé e de todas as almas.

Considerem também que, se as claudicações superassem numericamente as atitudes corajosas ficaria ainda essa realidade mística - clara, inegável, embora a não percebamos com os sentidos - que é o Corpo de Cristo, o próprio Senhor Nosso, a acção do Espírito Santo, a presença amorosa do Pai.

A Igreja é, por conseguinte, inseparavelmente humana e divina. É sociedade divina pela sua origem, sobrenatural pelo seu fim e pelos meios que se ordenam proximamente a esse fim; mas, na medida em que se compõe de homens, é uma comunidade humana.
Vive e actua no mundo, mas o seu fim e a sua força não estão na terra, mas no Céu.

Enganar-se-iam gravemente aqueles que procurassem separar uma Igreja carismática - que seria a verdadeiramente fundada por Cristo-, doutra jurídica ou institucional, que seria obra dos homens e simples efeito de contingências históricas.
Só há uma Igreja.
Cristo fundou uma única Igreja: visível e invisível, com um corpo hierárquico e organizado, com uma estrutura fundamental de direito divino e uma íntima vida sobrenatural que a anima, sus - tenta e vivifica.

E não é possível deixar de recordar que Nosso Senhor, ao instituir a Sua Igreja, não a concebeu nem formou de modo a compreender uma pluralidade de comunidades semelhantes no seu género, embora diferentes, e não ligadas por aqueles vínculos que tornam a Igreja indivisível e única...
Por isso, quando Jesus fala deste místico edifício, refere-se apenas a uma Igreja a que chama Sua: edificarei a Minha Igreja (Mat. XVI, 18). Qualquer outra que se imagine fora desta, em virtude de não ter sido fundada por Ele, não pode ser a Sua verdadeira Igreja.

Fé, repito; aumentemos a nossa Fé; pedindo-a à Santíssima Trindade, cuja festa hoje celebramos.
Poderá acontecer tudo, excepto que o Deus três vezes Santo abandone a Sua Esposa.

(cont)

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