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02/05/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa


Evangelho: Jo 15. 26 – 16 4

26 Quando, porém, vier o Paráclito, que Eu vos enviarei do Pai, o Espírito da verdade, que procede do Pai, Ele dará testemunho de Mim.
16, 4 Ora Eu disse-vos estas coisas para que, quando chegar esse tempo, vos lembreis de que vo-las disse. Não vos disse isto, porém, desde o princípio, porque estava convosco.

Comentário:

Este trecho do Evangelho, à primeira vista, termina de forma algo enigmática. Porém, se atentarmos na realidade concreta podemos entender.
Estando Jesus fisicamente presente junto dos Seus discípulos não era necessário mais nada para que acreditassem nele, exactamente porque O viam e viam as Suas obras e ouviam as Suas palavras.
Quando, porém, Cristo Se ausentar fisicamente as coisas serão muito diferentes e todos irão precisar de uma fé forte e inamovível para permanecerem fiéis ao Mestre.
Esta Fé terá de ser alimentada e esclarecida pelo Espírito Santo, o Senhor que dá a Vida em plenitude e confirma a Verdade da Mensagem de Jesus Cristo, o Amor do Pai e a Esperança na Vida Eterna.

(ama, comentário sobre Jo 15, 26; 16, 4, 2013.05.06)



Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES


LIVRO DÉCIMO-TERCEIRO

CAPÍTULO XIV

Esperança

Também eu pergunto: “Onde estás, meu Deus? Onde estás?” – Respiro um pouco de ti quando a minha alma se expande dentro de mim mesmo em gritos de exaltação e de louvor, verdadeiro canto de festa. – Mas ela ainda está triste, porque torna a cair e a ser abismo, ou melhor, porque sente que ainda é abismo.

A minha fé, que tu acendeste à noite para conduzir os meus passos, diz-lhe: “Por que estás triste, ò minha alma, e por que me perturbas? Espera no Senhor. O Seu Verbo é uma lâmpada para os teus passos. Espera, persevera, até que a noite passe, a noite, mãe dos iníquos, até que passe a ira do Senhor, ira da qual outrora fomos filhos quando éramos trevas”. – Dessas trevas ainda arrastamos os restos neste corpo morto pelo pecado, até que alvoreça o dia e se dissipem as sombras. Espera no Senhor. Desde a manhã estarei diante deles, e o contemplarei, e o louvarei eternamente. Desde a manhã estarei diante dele e verei a salvação da minha face, meu Deus, que vivificará os nossos corpos mortais pelo seu Espírito que habita em nós, misericordiosamente levado por sobre as águas tenebrosas das nossas almas.

Por isso, na nossa peregrinação, recebemos dele o penhor de já sermos luz; ele já nos salvou pela esperança e, de filhos da noite e das trevas que éramos, ele fez filhos da luz e do dia.

Na incerteza da ciência humana, só tu és capaz de distinguir entre uns e outros, porque pões os nossos corações à prova e chamas à luz dia e às trevas noite. Quem, senão tu, sabe distinguir-nos? E que temos nós que não o tenhamos recebido de ti? Nós, feitos vasos de honra, fomos feitos da mesma argila que serviu para fazer os vasos de ignomínia.

CAPÍTULO XV

Símbolos

E quem, senão tu, nosso Deus, estendeu sobre nós um firmamento de autoridade, da tua divina Escritura? O céu se dobrará como um livro, e agora estende-se sobre nós como um pergaminho. Mais sublime é a autoridade de que goza a tua divina Escritura depois que morreram aqueles por cujo intermédio no-las comunicaste. E sabes, Senhor, sabes como cobriste de peles os homens, quando o pecado os tornou mortais. Por isso estendeste como um pergaminho o firmamento do teu Livro, e as tuas palavras em tudo concordes, que dispuseste sobre nós pelo ministério de homens mortais. Pela sua morte, a autoridade das tuas palavras, por eles divulgadas, desdobra a sua força sobre tudo o que existe em baixo; ela não se erguia tão alto enquanto eles viviam. É que ainda não tinhas desenrolado o céu como um pergaminho, nem tinhas ainda difundido a glória da sua morte por toda parte.

Senhor, faz com que contemplemos os céus, obra das tuas mãos! Dissipa dos e nossos olhares as nuvens com que os tens velado. Neles está o teu testemunho, dando sabedoria aos humildes. Meu Deus completa o teu louvor pela boca dos meninos que ainda mamam! Não conhecemos outros livros que assim destruam a soberba, e que abatam tão bem o inimigo que resiste a toda a reconciliação contigo, e defende os seus pecados. Não, Senhor, não conheci outras palavras tão puras, que tantos me persuadissem à confissão, e sujeitassem a minha mente ao teu jugo, convidando-me a servir-te tão desinteressadamente. Oxalá eu as compreenda, bondoso Pai!

Concede esta graça à minha submissão, pois firmaste-as para os corações submissos.

Há outras águas, creio eu, sobre esse firmamento: águas imortais e isentas da corrupção terrena. Que elas louvem o teu nome! Que os povos celestes dos teus anjos te bendigam, pois não têm necessidade de olhar esse firmamento, nem de ler para aprenderem a conhecer a tua palavra!

Eles veem sempre a tua face, e ali leem, sem as sílabas transitórias, o objecto da tua vontade eterna.

Leem, escolhem, amam. Leem perpetuamente, e o que eles leem jamais fenece; escolhendo e amando, leem a tua imutável vontade. O teu códice jamais se fecha, jamais se enrola, porque tu mesmo és eternamente esse livro; tu os estabeleceste acima deste firmamento, levantado por ti acima da fraqueza dos povos da terra, para que estes, olhando-o, reconheçam a tua misericórdia, que te anuncia no tempo, tu criador do tempo. A tua misericórdia está no céu, e a tua verdade eleva-se até às nuvens. As nuvens passam, mas o céu permanece. Os que pregam a tua palavra passam para uma outra vida, mas a tua Escritura estende-se sobre os povos até o fim dos séculos.

O céu e a terra passarão, mas as tuas palavras não passarão. O pergaminho será enrolado, e a erva sobre o qual se estendia passará com o seu esplendor, mas a tua palavra permanecerá eternamente. Agora ela aparece-nos no enigma das nuvens e através do espelho dos céus, e não como é na realidade, porque ainda não se manifestou o que havemos de ser, apesar de amados pelo teu filho. Ele olhou-nos através da teia da sua carne e acariciou-nos, e inflamou-nos de amor, e corremos atrás da sua fragrância. Mas quando ele aparecer seremos semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é. Vê-lo tal qual é será a nossa felicidade, mas nós ainda não o podemos contemplar.

CAPÍTULO XVI

Deus, fonte de luz

Assim como só tu existes plenamente, só tu possuis o conhecimento absoluto: imutável, com efeito, és no teu ser, imutável no teu saber, imutável na tua vontade. A tua essência sabe e quer imutavelmente, a tua ciência é e quer imutavelmente, a tua vontade é e sabe imutavelmente.

Não é justo a teus olhos que a luz imutável seja conhecida pelo ser mutável, que ela ilumina, como ela se conhece a si própria. Por isso, a minha alma é para ti como terra sem água, porque assim como não se pode iluminar a si mesma, não se pode saciar por seus próprios meios. Porque em ti está a fonte da vida, e graças à tua luz é que veremos a luz.

CAPÍTULO XVII

As águas amargas

Quem reuniu num só mar as águas amargas? O seu objectivo é o mesmo: uma felicidade temporal, terrena, alvo de todas as suas acções a despeito da grande diversidade de cuidados que as agitam. Quem, senão tu, Senhor, poderia dizer a essas águas que se reunissem num só lugar, e à terra enxuta que aparecesse, sedenta de ti? O mar é teu, pois tu o fizeste, e as tuas mãos formaram a terra enxuta. Não é à amargura das vontades mas à reunião das águas que chamamos mar. Também refreias as paixões más das almas e fixas os limites até onde permites que avancem as águas, para que as suas ondas se quebrem sobre si mesmas; e assim, crias o mar, submetido ao teu poder universal.

As almas sedentas de ti, que aparecem aos teus olhos separadas do mar com outra finalidade, tu as regas com um orvalho vivo, misterioso e doce, para que a terra produza seu fruto.

E a terra o produz; ao teu comando, ó Senhor que és seu Deus, nossa alma germina obras de misericórdia, de acordo com a sua condição: ela ama o próximo e vai em auxílio das suas necessidades materiais. Carrega em si a semente da compaixão, por uma semelhança de natureza, porque é o sentimento da nossa fraqueza que nos leva a compadecer das misérias dos que são necessitados, a socorrê-los, como desejaríamos que nos socorressem se tivéssemos as mesmas necessidades. E não se trata só de dar apoio fácil, como ervas nascidas de sementes, mas de protecção enérgica, vigorosa como a árvore que carrega frutos, símbolos das obras que arrebatam à mão do poderoso a vítima da injustiça, dando-lhe um abrigo à sombra protetora de um julgamento justo.

CAPÍTULO XVIII

Meditação

Senhor, assim como crias e concedes alegria e força, assim te peço que nasça da terra a vontade, e que a justiça lance os olhos sobre nós do alto dos céus, e que no firmamento brilhem os astros! Dividamos o nosso pão com quem tem fome, acolhamos em nossa casa o pobre sem teto, vistamos quem está nu, e não desprezemos os nossos semelhantes! Quando tais frutos nascem da nossa terra, olha, Senhor, e diz: Isso é bom; faz com que a tua luz brilho no momento oportuno. Por esta humilde messe de boas obras, faz que nos possamos elevar a uma contemplação deliciosa do Verbo da Vida, e que brilhemos no mundo como astros, fixados no firmamento da tua Escritura.

E aí, de facto, que nos ensinas a distinguir entre as realidades inteligíveis e as sensíveis, entre as almas espirituais e as almas que se entregam aos sentidos, como entre o dia e a noite.

Deste modo já não és mais o único, no segredo do teu discernimento, como eras antes da criação do firmamento, a distinguir entre a luz e as trevas. Também as tuas criaturas espirituais, dispostas e ordenadas nesse mesmo firmamento, depois que a tua graça se manifestou através do mundo, brilham sobre a terra, separam o dia da noite e marcam as diferenças dos tempos. De facto, as coisas antigas passaram, e eis que se fizeram novas, a nossa salvação está mais próxima do que quando começamos a crer, a noite avançou e aproximou-se o dia, coroas o ano com tua bênção, envias os teus operários à tua messe, semeada pelo trabalho de outros operários, enviando-os também para outra sementeira, cuja messe será colhida no fim dos séculos.

Assim ouves as preces do justo e abençoas os seus anos. Mas continuas eternamente o mesmo, e nos teus anos, que não terão fim, preparas um celeiro para os anos que passam.

Por desígnio eterno, lanças sobre a terra os bens do céu no tempo oportuno; a um, teu Espírito dá a palavra de sabedoria, luminar maior para os que encontram o seu deleite na luz de uma verdade clara como o raiar do dia; a outro dás, pelo mesmo Espírito, a palavra de ciência, luminar menor; a outro a fé; a outro o poder de curar; a outro o dom dos milagres; a outro a graça da profecia; a este o discernimento dos espíritos, àquele o dom de línguas. E todos esses dons são como estrelas, são obra de um só e mesmo Espírito, que reparte a cada um os seus dons como lhe agrada, e que faz aparecer tais astros para o bem comum.

Mas a palavra de ciência em que estão encerrados todos os mistérios, que variam com o tempo, como varia a lua, e os outros dons que mencionei ao compará-los com as estrelas, diferem a tal ponto desse brilho de sabedoria de que goza o raiar do dia, que não passam de crepúsculo.

Contudo, os teus dons são necessários àqueles homens, a quem o teu prudente servidor não pôde dirigir como a espirituais, mas como a carnais, ele que pregou a Sabedoria entre os perfeitos.

Quanto ao homem carnal, semelhante a um menino em Cristo, que só se alimenta de leite, que não se julgue abandonado na sua noite, que saiba contentar-se com a luz da lua e das estrelas, até que possa tomar alimento sólido e olhar para o sol. Eis o que nos ensinas na tua sabedoria, nosso Deus, no teu livro, que é o teu firmamento, para que distingamos todas as coisas em contemplação admirável, embora ainda estejamos sob a lei dos sinais, dos tempos, dos dias e dos anos.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


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