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09/04/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 6, 16-21

16 Quando chegou a tarde, os Seus discípulos desceram para junto do mar 17 e, tendo subido para uma barca, atravessaram o mar em direcção a Cafarnaum. Era já escuro, e Jesus ainda não tinha ido ter com eles. 18 Entretanto, o mar começava a encrespar-se, por causa do vento forte que soprava. 19 Tendo remado cerca de vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus caminhando sobre o mar, em direcção à barca, e ficaram atemorizados. 20 Mas Ele disse-lhes: «Sou Eu, não temais». 21 Quiseram então recebê-l'O na barca e logo a barca chegou à terra para onde iam.

Comentário:

A tempestade aparece quando menos esperamos.

Não interessa nem a idade nem a experiência que possamos ter quando a tempestade ultrapassa as nossas forças e capacidade de resistência.

É então que devemos contar com Cristo que não se poupa nem a trabalhos nem obstáculos para vir em nosso auxílio.

Deixemos que entre na barca da nossa vida e tudo ficará tranquilo e a segura confiança voltará.

(ama, comentário sobre Jo 6 16-21 2015.04.18)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO DÉCIMO

CAPÍTULO V

A ignorância do homem

És tu, Senhor, quem me julga, porque ninguém conhece o que se passa no homem, a não ser o seu espírito que nele está, todavia há no homem coisas que até o espírito que nele habita ignora. Mas tu, Senhor, que o criaste, conheces todas as coisas. E eu, embora diante de ti me despreze e me considere como terra e cinza, sei algo de ti que ignoro de mim mesmo. É certo que agora vemos por espelho, em enigmas, e não face a face. Por isso, enquanto peregrino longe de ti, estou mais presente a mim do que a ti. Sei que em nada podes ser prejudicado, mas ignoro a que tentações posso resistir e a quais não posso. Todavia há esperança, pois és fiel, e não permites que sejamos tentados além de nossas forças; com a tentação, dás também meios para suportar, para que possamos resistir.

Confessarei, portanto, o que sei de mim, e também o que de mim ignoro, porque o que sei de mim só o sei porque me iluminas, e o que de mim ignoro continuarei ignorando até que as minhas trevas se transformem em meio-dia, na tua presença.

CAPÍTULO VI

Quem é Deus?

O que sei, Senhor, sem sombra de dúvida, é que te amo. Feriste o meu coração com a tua palavra, e amei-te. O céu, a terra e tudo quanto neles existe, de todas as partes me dizem que te ame; nem cessam de repeti-lo a todos os homens, para que não tenham desculpas. Terás compaixão mais profunda de quem já te compadeceste; e usarás de misericórdia com quem já foste misericordioso. De outro modo, o céu e a terra cantariam os teus louvores a surdos.

Mas, que amo eu, quando te amo? Não amo a beleza do corpo, nem o esplendor fugaz, nem a claridade da luz, tão cara a estes meus olhos, nem as doces melodias das mais diversas canções, nem a fragrância de flores, de unguentos e de aromas, nem o maná, nem o mel, nem os membros tão afeitos aos amplexos da carne. Nada disto amo quando amo o meu Deus. E, contudo, amo uma luz, uma voz, um perfume, um alimento, um abraço do meu homem interior, onde brilha para a minha alma uma luz sem limites, onde ressoam melodias que o tempo não arrebata, onde exalam perfumes que o vento não dissipa, onde se provam iguarias que o apetite não diminui, onde se sentem abraços que a saciedade não desfaz. Eis o que amo quando amo o meu Deus!

Então, o que é Deus? Perguntei à terra, e ela disse-me: “Eu não sou Deus”. E tudo o que nela existe me respondeu o mesmo. Perguntei ao mar, aos abismos e aos répteis viventes, e eles responderam-me: “Não somos o teu Deus; busca-o acima de nós”. Perguntei aos ventos que sopram; e todo o ar, com os seus habitantes, disse-me: “Anaxímenes está enganado eu não sou Deus”. Perguntei ao céu, ao sol, à luz e às estrelas. “Tampouco somos o Deus a quem procuras” –responderam-me.

Disse então a todas as coisas que meu corpo percebe: “Dizei-me algo do meu Deus, já que não sois Deus; dizei-me alguma coisa dele” – e todas exclamaram em coro: “Ele nos criou”.

A minha pergunta era o meu olhar, e a sua resposta a sua beleza.

Dirigi-me, então, a mim mesmo, e perguntei: “E tu, quem és?” – e respondi: “Um homem”.

Para me servirem, tenho um corpo e uma alma: aquele exterior, esta interior. A qual deles deverei perguntar pelo meu Deus, a quem já havia procurado com o corpo desde a terra até ao céu, até onde pude enviar os raios do meu olhar como mensageiros? Melhor, sem dúvida, é a parte interior de mim mesmo. É a ela que dirigem as suas respostas todos os mensageiros do meu corpo, como a um presidente ou juiz, respostas do céu, da terra, e de tudo o que existe, e que proclamam: “Não somos Deus” – e ainda – “Ele nos criou”. O homem interior conhece essas coisas por meio do homem exterior; mas o homem interior, que é a alma, também conhece essas coisas por meio dos sentidos do corpo.

Interroguei a imensidão do universo acerca do meu Deus, e ele respondeu-me: “Não sou eu, mas foi ele quem me criou”.

Mas essa beleza não se manifesta a quantos têm sentidos perfeitos? E por que não fala a todos a mesma linguagem?

Os animais, pequenos ou grandes, veem-na; mas não podem interrogá-la, porque não receberam a razão que, como juiz, interprete as mensagens dos sentidos. Os homens, porém, podem interrogá-la, para que as perfeições invisíveis de Deus se manifestem pelas suas obras.

Mas o amor às coisas criadas escraviza-os, e assim os torna incapazes de julga-las. Ora, elas só respondem aos que podem julgar-lhes as respostas. Elas não mudam a sua linguagem, isto é, a sua beleza, quando um só as vê, e outro as interroga; elas não lhes aparecem diferentes mas, para uns ficam mudas, enquanto falam a outros. Ou melhor: eles falam a todos, mas apenas se entendem os que comparam a sua expressão exterior com a verdade interior. De facto a verdade diz-me: “O teu Deus não é nem o céu, nem a terra, nem corpo algum. A natureza das coisas o diz para quem sabe ver; a matéria é menor em seus elementos que em seu todo. Por isso, minha alma, digo-te que és superior ao corpo, pois vivificas a sua matéria, dando-lhe vida, como nenhum corpo pode dar a outro corpo. Mas o teu Deus é também para ti a vida de tua vida.

CAPÍTULO VII

Deus e os sentidos

Que amo, então, quando amo o meu Deus? Quem é aquele que está acima da minha alma? É por minha alma; portanto, que subirei até ele. Hei-de sobrepujar a força que me ata ao corpo, e que enche o meu organismo de vida, pois não encontro nela o meu Deus. Se assim fosse, o cavalo e a mula, que não têm inteligência, também o encontrariam, porque essa mesma força vivifica os seus corpos.

E existe outra força, que não só vivifica, mas que também torna sensível a minha carne que o Senhor me deu, ordenando ao olho que não ouça, e ao ouvido que não veja, mas àquele que sirva para ver, e a este para ouvir; e que determinou a cada um dos outros sentidos o respectivo lugar e ofício. É deles que se serve a minha alma para exercer as suas diversas funções, permanecendo, contudo, uma só.

Vencerei também essa força, que também o cavalo e a mula possuem, pois também eles sentem por meio do corpo.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


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