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30/04/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 15, 18-21

18 «Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. 19 Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. 20 Lembrai-vos da palavra que Eu vos disse: Não é o servo maior do que o senhor. Se eles Me perseguiram a Mim, também vos hão-de perseguir a vós; se guardaram a Minha palavra, também hão-de guardar a vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome, porque não conhecem Aquele que Me enviou.

Comentário:

As palavras de Cristo cumprem-se sempre.

Através dos tempos o ódio, a rejeição de Deus e do Seu Reino têm estado presentes um pouco por todo o mundo.
Por vezes de forma larvar, encapotada, escondida atrás de leis restritivas, algumas iníquas;
Outras sem qualquer disfarce atingem o paroxismo, a violência mais extrema.

Mas, a verdade é que o Reino não cessa de aumentar e expandir-se.

Não podemos estranhar já que nós, os cristãos, sabemos e acreditamos que a Santa Igreja fundada por Jesus Cristo é eterna e que as forças do mal não prevalecerão contra ela.

(ama, comentário sobre Jo 15 18-21, 2015.05.09)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO DÉCIMO-TERCEIRO

CAPÍTULO I

Invocação

Eu te invoco, ó meu Deus, minha misericórdia, que me criaste, e que não olvidaste aquele que te esqueceu. Chamo-te à minha alma, que preparas para te receber fazendo-te desejar por ela.

Não abandones o que te invoca. Antes mesmo que eu te invocasse, já o tinhas prevenido.

Muitas vezes me instaste, falando de mil modos diversos para que te ouvisse de longe, para que me convertesse e te invocasse que me chamavas.
Senhor, apagaste todos os meus delitos para não ter de punir o que fizeram as minhas mãos iníquas, e te antecipaste a meus actos meritórios para me recompensar do que fizeram as tuas mãos, que me criaram; de facto, existias antes de mim, e eu não era digno de receber de ti o ser.

Contudo, eis que existo, graças à tua bondade que precedeu tudo o que sou e do que me fizeste. Não tinhas necessidade de mim, eu não sou um bem que te possa ser útil, meu Senhor e meu Deus. Se estou ao teu serviço, não é porque a acção te cansa ou porque o teu poder, privado dos meus serviços, diminua; nem porque o meu culto seja para ti o que é a cultura para a terra, que sem ela ficaria estéril. Eu devo honrar-te para ser feliz em ti, a quem devo o meu ser, capaz de felicidade.

CAPÍTULO II

A criação e a bondade de Deus

É pela plenitude da tua bondade que as criaturas subsistem, para que um bem, para ti de todo inútil, ou de nenhum modo igualável a ti, embora saído de ti, continuasse a existir, pois tu o criaste. Com efeito, que poderiam merecer de ti o céu e a terra, que criaste no princípio? E digam, as naturezas espirituais e corpóreas, que méritos tinham a teus olhos, que as criaste na tua Sabedoria? Que méritos, para receber de ti o ser, que mostram inacabado e informe, quando tendem à desordem e se afastam da tua semelhança? O que é de natureza espiritual, mesmo informe, é ainda superior a um corpo que recebeu forma; um corpo sem forma é superior ao puro nada; ora, todas essas coisas continuariam informes no teu Verbo, se essa mesma palavra não as recolhesse à tua Unidade, comunicando-lhes a forma e a excelência graças apenas a ti, soberano Bem. Mas que merecimentos antecipados apresentaram aos teus olhos, para existir mesmo informes essas criaturas que, sem que as criasses nem teriam existido?

E o que a matéria corporal merecera de ti para existir, mesmo invisível e caótica? Nem mesmo essa existência teria, se não as tivesses criado. Não existindo ainda, não podia ter merecimento algum para existir. E a criatura espiritual, ainda no estado embrionário, que títulos teria, mesmo para ser essa coisa vagante e tenebrosa, semelhante ao abismo, diferente de ti, se pelo teu Verbo não fosse conduzida ao mesmo Verbo que a criou e se, iluminada por ele, também não se transformasse em luz, não igual, mas análoga à tua imagem? Para um corpo, não é a mesma coisa existir e ser belo, pois de outro modo não poderia viver e viver sabiamente não são a mesma coisa, porque, se fosse, todo espírito seria imutável na sua sabedoria.

Mas o seu bem reside em se manter unido a ti, para não perder, afastando-se, a luz que adquiriu com a tua proximidade, tornando a cair numa vida semelhante a um abismo de trevas.

E também nós, que por nossa alma somos criaturas espirituais, nós nos afastamos de ti, nossa luz, nós fomos outrora trevas nesta vida e ainda padecemos por entre os restos das nossas trevas, até que nos tornamos a tua justiça no teu Filho único, como as montanhas de Deus. Pois fomos objecto do teus juízos, que são profundos como abismos.

CAPÍTULO III

A luz

Sobre as palavras que proferiste no começo da criação: “Faça-se a luz, e a luz foi feita” – eu entendo que se adaptam com propriedade à criatura espiritual, que já era uma espécie de via apta a receber a tua luz. Mas assim como ela não tinha merecido de ti ser essa espécie de vida apta a receber a luz, do mesmo modo, uma vez criada, ela como as demais formas não mereceu de ti essa iluminação. Porque a sua informidade não te agradaria se não tivesse tornado luz, e isso não se contentando com existir, mas contemplando a luz que a iluminava, unindo-se intimamente a ela. Assim, ela devia a existência e o viver feliz apenas à tua graça; voltada, por uma escolha feliz, para o que não pode mudar nem para melhor, nem para pior. Voltou-se para ti, que és o único que existes, e só o teu ser é simples, pois o viver e a felicidade são para ti a mesma coisa, porque és tua própria felicidade.

CAPÍTULO IV

A bondade criadora

Que faltaria, pois, a esse bem, que és tu mesmo, se nenhuma dessas criaturas existisse, ou se tivessem permanecido informes? Tu as criaste, não por ter necessidade delas, nem para aumentar a tua felicidade, mas levado pela plenitude da tua bondade, comunicando-lhes uma forma.

Na tua perfeição, desagrada-te a sua imperfeição; tu as aperfeiçoas para que elas te agradem, e não, com isso, aperfeiçoar-te a ti mesmo.

Com efeito, o teu Espírito bom pairava sobre as águas, e não era por elas levado como se nelas descansasse. Diz-se que o teu Espírito nelas repousava; mas era ele que as fazia em si.

Incorruptível, imutável, bastando-se a si mesma, a tua vontade era suspensa acima da vida que tinhas criado, para a qual viver não é o mesmo que viver feliz, porque ela vive, mesmo quando flutua sobre as trevas. Esta vida carece ainda de se voltar para o seu Criador, para viver cada vez mais próxima da fonte da vida, para ver a luz na Luz divina, e nela haurir perfeição, brilho e felicidade.

CAPÍTULO V

A trindade

Mas eis que me aparece o enigma da Trindade que és, meu Deus. Porque tu, Pai, criaste o céu e a terra no princípio da nossa Sabedoria, que é a tua Sabedoria, nascida de ti, igual e co-eterna, a ti, isto é, no teu Filho.

Já falei longamente do céu, da terra invisível e informe e do abismo das trevas, onde a natureza espiritual errante e fluida permaneceria tal se não se voltasse para Aquele de quem toda vida procede, para que, por meio da sua luz, se tornasse viva e bela, o céu do céu, criado mais tarde entre a água superior e a água inferior.

Pelo vocábulo “Deus” eu já entendia o Pai, que criou essas coisas; na palavra “princípio” eu entendia o Filho, em quem ele as criou. E, como eu acreditava na Trindade do meu Deus, eu procurava-a nas tuas santas palavras. E vi nas tuas Escrituras que o teu Espírito pairava sobre as águas. Eis a tua Trindade, meu Deus, Pai, Filho, Espírito Santo, Criador de toda criatura!

CAPÍTULO VI

O espírito sobre as águas

Mas, ó luz da verdade, aproximo de ti o meu coração para que ele não me ensine falsidades; dissipa-lhe as trevas e diz-me, eu to suplico por nossa mãe, a caridade, diz-me, por que só depois de ter nomeado o céu, a terra invisível e informe e as trevas sobre o abismo, por que só então é que as Escrituras falam do teu Espírito? Será porque convinha apresentá-lo assim pairando sobre alguma coisa? E seria isso possível se não mencionasse primeiro sobre o que pairava? De facto, não era sobre o Pai nem sobre o Filho que ele pairava, e seria impróprio falar assim se não pairasse sobre alguma coisa.

Era pois, necessário, mencionar primeiro o elemento sobre o qual ele pairava, já que convinha falar dele apenas dizendo que pairava. Mas por que não convinha apresentá-lo senão dizendo que pairava?

CAPÍTULO VII

As águas sem substância

Agora, quem o puder com a inteligência, siga ao teu Apostolo, quando ele diz que a tua caridade se difundiu nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado, quando nos instrui sobre as coisas espirituais e nos indica o caminho excelso da caridade, e dobra o joelho diante de ti por nossa causa, para que conheçamos a ciência altíssima da caridade de Cristo. E é porque era super eminente desde o princípio que pairava sobre as águas.

A quem e como falarei do peso da concupiscência, que nos arrasta para um abismo profundo, e da caridade que nos eleva, com a ajuda do teu Espírito, que pairava sobre as águas?

A quem falar, como falar? Nós submergimos e emergimos, mas não em abismos materiais. A metáfora é a um tempo correcta e muito inexacta. São as nossas paixões, os nossos amores, a impureza do nosso espírito que nos arrasta para baixo sob o peso das preocupações. E é a tua santidade que nos eleva pelo amor da tua paz, para que levantemos os nossos corações para junto de ti, onde o teu Espírito paira sobre as águas, e alcancemos o sublime repouso, quando a nossa alma tiver atravessado essas águas que são sem substância.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


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