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24/04/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 13, 31-33. 34-35

21 Tendo Jesus dito estas coisas, perturbou-Se em Seu espírito e declarou abertamente: «Em verdade, em verdade vos digo que um de vós Me há-de entregar». 22 Olhavam, pois, os discípulos uns para os outros, não sabendo de quem falava. 23 Ora um dos Seus discípulos, aquele que Jesus amava, estava recostado sobre o peito de Jesus. 24 A este, Simão Pedro fez sinal, para lhe dizer: «De quem fala Ele?». 25 Aquele discípulo, pois, tendo-se reclinado sobre o peito de Jesus, disse-Lhe: «Quem é, Senhor?». 26 Jesus respondeu: «É aquele a quem Eu der o bocado que vou molhar». Molhando, pois, o bocado, deu-o a Judas Iscariotes, filho de Simão. 27 Atrás do bocado, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe então: «O que tens a fazer, fá-lo depressa». 28 Nenhum, porém, dos que estavam à mesa percebeu por que lhe dizia isto. 29 Alguns, como Judas era o que tinha a bolsa, julgavam que Jesus lhe dissera: «Compra as coisas que nos são precisas para o dia da festa», ou: «Dá alguma coisa aos pobres». 30 Ele, pois, tendo recebido o bocado, saiu imediatamente; era noite. 31 Depois que ele saiu, Jesus disse: «Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado n'Ele. 32 Se Deus foi glorificado n'Ele, também Deus O glorificará em Si mesmo; e glorificá-l'O-á sem demora. 33 Filhinhos, já pouco tempo estou convosco. Buscar-Me-eis, mas, assim como disse aos judeus: Para onde Eu vou, vós não podeis vir, também vos digo agora.».

Comentário:

Na economia da Salvação humana há um tempo para tudo, mesmo para seguir Jesus Cristo.

Mas não devemos segui-lo sempre?

Claro que sim mas seguir o Senhor implica muito mais que um simples acto da vontade; requer todo um verdadeiro empenho e perseverança mesmo quando as circunstâncias parecem ser absolutamente adversas.

Assim, seguir Jesus, obriga realmente a ter absoluta confiança nele e que tudo, absolutamente, que Ele possa pedir-nos é para bem.

(ama, Comentário a Jo 13, 21-33; 36-38, 2015.04.01)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

LIVRO DÉCIMO-SEGUNDO

CAPÍTULO I

Prece

Inquieto está o meu coração, Senhor, quando, na miséria da minha vida é atingido pelas palavras da tua Escritura Sagrada. Por isso, geralmente, a abundância de palavras é testemunho da pobreza da inteligência humana. A busca usa mais palavras que a descoberta; é maior o pedir que o obter; a mão que bate cansa-se mais do que a mão que recebe. Mas nós temos a tua promessa: quem a destruirá? Se Deus está connosco, quem será contra nós? Pedi, e recebereis; procurai e encontrareis; batei, e abrir-se-vos-á. Porque todo o que pede recebe, todo o que procura encontra, e a todo o que bate se lhe abrirá.

São promessas tuas. E quem temerá ser enganado, quando a promessa vem da Verdade?

CAPÍTULO II

O céu do céu

Que a humildade da minha língua confesse à tua grandeza que criaste o céu e a terra; este céu que vejo, esta terra que piso, e de onde tiraste a terra que trago em mim. Sim, criaste tudo isto.

Mas, Senhor, onde está o céu de que nos falou a voz do salmista: “O céu do céu pertence ao Senhor, mas ele deu a terra aos filhos dos homens?” – Onde está esse céu que não vemos, e diante do qual tudo o que vemos é apenas terra?

De facto, todo este mundo material, cuja base é a terra, embora não seja inteiramente belo em toda parte, recebeu até nos seus últimos elementos, uma aparência atraente. Mas, comparado com esse céu do céu, o céu da nossa terra também não passa de terra. Por isso, não é absurdo chamar terra esses dois grandes corpos visíveis, se os compararmos a esse céu misterioso que pertence ao Senhor, e não aos filhos dos homens.

CAPÍTULO III

As trevas sobre o abismo

Mas esta terra era invisível e informe, era um profundo abismo acima do qual não pairava nenhuma luz, pois não tinha nenhuma forma. Por isso inspiraste estas palavras: “As trevas cobriam o abismo”. – Mas que são trevas, senão ausência da luz? De facto, se então existisse, onde estaria a luz senão sobre a terra, para iluminá-la? Mas como a luz ainda não existia, o que era a presença das trevas, senão a ausência da luz? As trevas reinavam sobre o abismo porque a luz não existia, do mesmo modo que onde não há ruído reina o silêncio. E que significa reinar o silêncio, senão falta de som?

Não ensinaste, Senhor, à alma que a ti se confessa? Não me ensinaste, Senhor, que antes de receber de ti forma e figura esta matéria informe, não existia nada, nem cor, nem figura, nem corpo, nem espírito? Não era um nada absoluto, mas massa informe, sem figura alguma.

CAPÍTULO IV

A matéria informe

Que nome darei a esta matéria, como sugerir a sua ideia às inteligências mais curtas, senão usando um termo de uso corrente? O que se pode encontrar no mundo que seja mais parecido com essa ausência total de forma, que a terra e o abismo? Colocados no mais baixo grau da criação, não têm a beleza dos corpos que no alto brilham de luz fulgurante.

Por que, então, não aceitar que essa matéria informe, que criaste sem beleza para com ela moldar um mundo cheio de beleza, fosse comodamente designada aos homens pelos termos de terra invisível e informe?

CAPÍTULO V

A sua natureza

Assim, quando o pensamento indaga o que nossos sentidos podem colher a respeito dessa matéria, responde a si mesmo: “Não é nem forma inteligível, como a vida, como a justiça, porque é a matéria corpórea, nem uma forma sensível, porque nada há que se possa ver ou perceber no que é invisível e sem forma”. – Quando o pensamento humano fala desse modo, procura conhecê-la ignorando-a, ou ignorá-la conhecendo-a?

CAPÍTULO VI

Em que consiste

Senhor, se pela boca e pela pena devo confessar-te o que me ensinaste sobre essa matéria, eu direi que outrora ouvi falar, sem nada compreender, a respeito desse nome por pessoas que também não entendiam. Tentei imaginá-la sob as formas mais diversas, e não o consegui. O meu espírito revolvia confusamente formas feias e horríveis, mas enfim sempre formas.

Chamava informe essa matéria, não porque a imaginasse sem forma, mas por tê-las tão estranhas e bizarras que, se a visse, afastaria os meus sentidos e confundiria a minha fraqueza de homem.

Por isso, o que eu concebia era informe, não por ausência de qualquer forma, mas por comparação com formas mais belas. A recta razão persuadia-me; se eu quisesse conceber algo absolutamente informe, a suprimir nele todo resquício de forma, mas eu não conseguia; parecia-me bem mais fácil negar a existência do que estava privado de toda forma, do que conceber um ser a meio termo entre a forma e o nada, e que não fosse nem forma, nem nada, um ser informe, um quase nada.

Então, a minha inteligência deixou de inquirir a minha imaginação, cheia de imagens de formas corpóreas, que ela variava e mudava a seu talante. Fixei a atenção nos próprios corpos, analisei mais profundamente essa mutabilidade pela qual eles cessam de ser o que eram e começam a ser o que não eram. Suspeitei que essa transição de uma forma para outra se fazia por meio de algo informe, e não do nada absoluto.

Mas o meu interesse era saber, e não apenas supor; e se a minha voz e minha pena que te confessassem em detalhes as soluções deste problema que me inspiraste, qual dos meus leitores teria paciência para me entender? Contudo, o meu coração não deixará de te honrar com cânticos de louvor por essas inspirações, por aquilo que não tem palavras capazes de exprimir.

É a própria mutabilidade das coisas que é susceptível de assumir todas as formas em que se transfiguram as coisas mutáveis. E o que é essa mutabilidade? É espírito? Será talvez corpo?

Seria uma espécie de espírito ou de corpo? Se pudéssemos dizer: um nada que é algo, ou o que é e não é, eu a chamaria assim. No entanto, era necessário que ela existisse de alguma maneira, para tomar essas formas visíveis e complexas.

CAPÍTULO VII

A criação do nada

Mas de onde essa matéria tirava o seu ser, senão de ti, por quem existe toda e qualquer coisa? Quanto mais difere de ti uma coisa, mais longe de ti está – e não se trata de distância espacial.

Portanto, és tu, Senhor que não mudas ao sabor das circunstâncias, mas que és sempre o mesmo, o mesmo e o mesmo, santo e santo e santo, Senhor, Deus Todo-Poderoso, és tu, Senhor, que no princípio, que vem de ti, na tua Sabedoria, nascida da tua substância, fizeste algo do nada. Criaste o céu e a terra, e isso não com a tua substância, pois nesse caso, a tua criação seria igual ao teu Filho unigénito e, por isso, iguais a ti mesmo. E não seria justo que o que não é da tua substância, fosse igual a ti.

Mas fora de ti nada existia com que pudesses fazer o céu e a terra, ó Trindade una, Unidade trina. Por isso criaste do nada o céu e a terra; duas realidades, uma imensa e outra pequena. Porque és Todo-Poderoso e bom, e só podes criar coisas boas: o grande céu e a pequena terra.

Fora de ti nada havia, e desse nada fizeste o céu e a terra, as tuas duas obras: uma próxima de ti, a outra próxima do nada. Uma que tem acima de si apenas Tu próprio, e outra que nada tem inferior a ela.

(Revisão de versão portuguesa por ama)


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