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22/04/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Páscoa

Evangelho: Jo 14, 1-6

1 «Não se perturbe o vosso coração. Acreditais em Deus, acreditai também em Mim. 2 Na casa de Meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, Eu vo-lo teria dito. Vou preparar um lugar para vós. 3 Depois que Eu tiver ido e vos tiver preparado um lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo, para que, onde estou, estejais vós também. 4 E vós conheceis o caminho para ir onde Eu vou». 5 Tomé disse-Lhe: «Senhor, nós não sabemos para onde vais; como podemos saber o caminho?». 6 Jesus disse-lhe: «Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim.

Comentário:

Tomé, o mesmo que haveria de ter “explosões” de fé e amor a Jesus usa, uma vez mais a sua sinceridade quase “selvagem”.

Parece até que “provoca” directamente o Senhor a responder-lhe de forma mais concreta e simples para que possa compreender melhor e, assim, acreditar mais perfeitamente.

E, o Senhor, de facto, responde com uma clareza impressionante:

«Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por Mim», ou, mais tarde: «Porque Me viste acreditaste. Não sejas incrédulo mas crente

E, nós, não podemos mais que agradecer ao Apóstolo a oportunidade que nos deu de obter de Jesus Cristo as declarações mais importantes para a nossa Fé.

(ama, comentário sobre Jo 14, 1-6, 2014.05.16)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO – CONFISSÕES

CAPÍTULO XXIII

O tempo e o movimento

Ouvi um homem instruído dizer que o tempo é nada mais do que o movimento do sol, da lua e dos astros. Não concordo. Por que não seria então o tempo o movimento de todos os corpos? Se os astros passassem, e a roda de um oleiro continuasse a rodar, deixaria acaso de existir tempo para medir as suas voltas? Como poderíamos dizer que elas se davam a intervalos iguais, ou ora mais rápida, ora mais lentamente, e que umas demoravam mais e outras menos? E, dizendo isto, não estaríamos falando do tempo? Não haveria mais nas nossas palavras sílabas longas e breves, porque umas ressoam por mais tempo e outras por menos tempo?

E tu, Deus, concede aos homens que percebam, que reconheçam neste modesto exemplo, o que as coisas grandes e pequenas têm em comum. Há astros e luminares celestes que nos servem de sinais e marcam as estações, os dias e os anos. Isso é verdade; todavia, como eu jamais diria que a volta realizada por aquela roda de madeira representa o dia, nem o sábio cuja opinião transcrevo poderia afirmar que a volta da roda não representa o tempo.

O meu desejo é conhecer a natureza e a essência do tempo, com que medimos os movimentos dos corpos, e nos autoriza a dizer, por exemplo, que um movimento dura duas vezes mais que outro. O que chamamos dia não é apenas o tempo todo o percurso de oriente a oriente, e que nos faz dizer: “Passaram-se tantos dias” – entendendo por isso também as noites, que não são enumeradas separadamente. Portanto, já que o dia se completa pelo movimento do sol e o círculo que ele cumpre a partir do oriente, pergunto eu se o dia é o próprio movimento ou se é o tempo que dura esses movimentos, ou ambas as coisas.

Na primeira hipótese, teríamos um dia mesmo se o sol fizesse o seu percurso no intervalo de uma hora. Na hipótese da duração, não haveria dia se o sol fizesse o seu percurso no breve espaço de uma hora; e o sol deveria cumprir vinte e quatro vezes o seu percurso para formar um dia.

Diremos então que o movimento do sol, e a duração desse movimento, é que fazem o dia? Mas então não se poderia chamar dia se o sol efectuasse seu percurso no lapso de uma hora, mais do que se, parando o sol o seu percurso, passasse o mesmo tempo que é necessário habitualmente ao sol para completar a sua revolução de uma manhã a outra.

Portanto, não mais buscarei conhecer em que consiste o dia, mas em que consiste o tempo, que usamos para medir o percurso do sol. Usando tal medida, diríamos que o sol gastara no seu giro a metade do tempo habitual, se o tivesse completado num lapso de doze horas. E, comparando essas duas durações, diríamos que uma é o dobro da outra, mesmo que o sol demorasse umas vezes o tempo simples, outras o tempo duplo para ir de oriente para oriente.

Ninguém, portanto, me diga que o tempo é o movimento dos corpos celestes. Quando a oração de um homem fez parar o sol para concluir vitoriosamente a batalha, o sol estava imóvel, mas o tempo caminhava; e a batalha terminou no espaço de tempo que lhe era necessário.

Veja, pois, que o tempo é uma espécie de extensão. Mas eu vejo-o, ou apenas tenho a impressão de vê-lo? Só tu mo demonstrarás, ó Luz, ó Verdade!

CAPÍTULO XXIV

O tempo, medida do movimento

Queres que eu aprove quem diz que o tempo é o movimento de um corpo? Não, não aprovo. Sei que não há corpo que não se mova no tempo: tu mesmo o afirmas. Mas não acredito que o movimento de um corpo seja o tempo; nunca ouvi isso, e nem tu o dizes. Quando um corpo se move, sirvo-me do tempo para medir a duração do seu movimento do começo ao fim. Se não vejo o começo, e percebo o seu movimento sem ver o seu fim, só posso medi-lo do momento em que observo o corpo mover-se até o momento em que já não o vejo. Se o vejo por muito tempo, apenas posso afirmar que a duração do seu movimento é longa, mas não posso dizer quanto é longa, porque só determinamos o valor de uma duração comparando-a. Dizemos, por exemplo:
“isso durou tanto quanto aquilo, ou essa duração é o dobro daquela”, semelhantes. Se podemos notar o ponto do espaço onde se inicia um movimento, e o ponto de chegada, ou as suas partes, se ele se movesse em círculo, poderíamos dizer quanto tempo levou para ir de um ponto a outro o movimento do corpo ou dessas partes.

Assim, o movimento de um corpo é diferente da medida da sua duração; que não vê, pois, a qual dessas coisas se deve chamar tempo? Se um corpo se move de forma irregular, e outras vezes se detém, ora, é o tempo que nos permite medir, não apenas o seu movimento, mas também o seu repouso, e afirmar: “Ficou em repouso por tanto tempo quanto em movimento – ou qualquer outro intervalo que tenhamos calculado ou estimado aproximadamente”. O tempo não é pois a mesma coisa que o movimento.

CAPÍTULO XXV

Prece

Confesso-te, Senhor, que ainda não sei o que é tempo. E torno a confessar, Senhor, eu o sei, que digo estas coisas no tempo, e que de há muito estou falando do tempo, e que esse muito também não seria o que é senão pela duração do tempo. Mas como posso saber isto, se desconheço o que é o tempo? Talvez eu ignore a arte de exprimir o que sei. Ai de mim, que não sei nem mesmo o que ignoro! Eis-me diante de ti, meu Deus, tu vês que não minto e que falo de coração. Acenderás a minha candeia, Senhor meu Deus, e iluminarás as minhas trevas.

CAPÍTULO XXVI

O tempo, distensão da alma

Acaso a minha alma não foi sincera confessando-te que posso medir o tempo? De facto, meu Deus, eu meço-o, e não sei o que meço. Meço o movimento dos corpos com o auxílio do tempo, e não poderei medir o tempo do mesmo modo? E poderia eu medir o movimento de um corpo, a sua duração, o tempo que gasta para ir de um lugar a outro, sem medir o tempo em que se move?

Mas o tempo em si, com que o poderei medir? É com um tempo mais curto que medimos um mais longo, como medimos uma viga com o côvado? Do mesmo modo medimos a duração de uma sílaba longa com a duração de uma sílaba breve, dizendo que uma é o dobro da outra. Do mesmo modo medimos a extensão de um poema pelo número de versos, a extensão dos versos pelo número de pés, a extensão dos pés pelo número de sílabas, a duração das sílabas longas pela duração das breves. Não é pelas páginas dos livros que fazemos esse cálculo, o que seria medir o espaço e não o tempo. Conforme as palavras passam e as pronunciamos, dizemos: “Eis um poema longo, porque se compõe de tantos versos; esses versos são longos, porque são formados de tantos pés; esses pés são longos, porque se estendem por tantas sílabas; esta sílaba é longa, porque é o dobro de uma breve”.

Todavia, não conseguimos uma medida exacta do tempo; pode acontecer que um verso mais curto, se pronunciado mais lentamente, se estenda por mais tempo que um verso mais longo, recitado depressa. O mesmo acontece com um poema, um pé, uma sílaba.

Por esse motivo é que o tempo me pareceu não ser nada mais que uma extensão. Mas extensão de quê? Não saberia di-lo ao certo; seria de admirar que não fosse extensão da própria alma. Portanto, diz-me, meu Deus, que é o que meço quando digo um tanto vagamente:
“Este tempo é mais longo do que aquele” – ou mais exactamente: “Este tempo é o dobro daquele?

– Meço o tempo, eu sei; mas não o futuro, que ainda não existe, nem o presente, porque não tem duração, nem o passado, porque não existe mais. Que meço eu então? Acaso o tempo que passa, e não o tempo passado, como disse acima?

(Revisão de versão portuguesa por ama)



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