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11/03/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Quaresma

Semana IV

Evangelho: Jo 7, 1-2. 10. 25-30

1 Depois disto, andava Jesus pela Galileia; não queria andar pela Judeia, visto que os judeus O queriam matar. 2 Estava próxima a festa dos judeus chamada dos Tabernáculos.
10 Mas, quando Seus irmãos já tinham partido, então foi Ele também à festa, não publicamente, mas como que em segredo.
25 Diziam então alguns de Jerusalém: «Não é Este Aquele que procuram matar? 26 Eis que fala com toda a liberdade e não Lhe dizem nada. Terão os chefes do povo verdadeiramente reconhecido que Este é o Messias? 27 Nós, porém, sabemos donde Este é; e o Messias, quando vier, ninguém saberá donde Ele seja». 28 Jesus, que ensinava no templo, exclamou: «Vós Me conheceis, e sabeis donde Eu sou. Eu não vim de Mim mesmo, mas é verdadeiro Aquele que Me enviou, a Quem vós não conheceis. 29 Mas Eu conheço-O, porque procedo d'Ele, e Ele Me enviou». 30 Procuraram então prendê-l'O; mas ninguém Lhe lançou as mãos, porque não tinha ainda chegado a Sua hora.

Comentário:

Logo no início deste trecho do Evangelho São João comunica-nos algo muito importante: a exemplo de Jesus devemos evitar correr riscos  desnecessários que ponham em causa a nossa vida, segurança e integridade.

Não se trata de cobardia mas de usar  são critério.

(ama, comentário sobre Jo 7 1-2 10 25-30 1, Carvide 2015.03.20)


Leitura espiritual



SANTO AGOSTINHO - CONFISSÕES

LIVRO QUATRO

CAPÍTULO V

O conforto das lágrimas

E agora, Senhor, que essas coisas já passaram, agora que o tempo sarou minha ferida, poderei ouvir de ti, que és a própria verdade, aproximando o ouvido do meu coração da tua boca, o motivo por que o pranto é doce aos desgraçados? Acaso, mesmo presente em toda parte, repeliste para longe de ti a nossa miséria, permanecendo imutável em ti, enquanto deixas que nos envolvamos nas nossas provações? E, contudo, se os nossos lamentos não chegarem aos teus ouvidos, não haverá para nós esperança alguma.

Mas, por que motivo dos gemidos, do choro, dos suspiros e das queixas se colhe como fruto doce do amargor da vida? Esperamos que nos ouça? Virá daí a doçura? Isso acontece na oração que leva em si o desejo de chegar a ti; porém, poder-se-á dizer o mesmo da dor da perda ou do pranto que então me avassalavam?

Eu não esperava ressuscitar o meu amigo com as minhas lágrimas, mas limitava-me a condoer-me e a chorar a minha miséria, pois eu havia perdido a minha alegria.

Ou será que o pranto, que é amargo em si mesmo, se torna um deleite quando, pelo fastio, aborrecemos os prazeres que antes nos eram gratos?

CAPÍTULO VI

Inconsolável

Mas para que falar dessas coisas, se agora não é tempo de investigar, mas de me confessar a ti? Eu era miserável, como o é toda alma prisioneira do amor pelas coisas temporais; sente-se despedaçar quando as perde, sentindo então a sua miséria, que a torna miserável antes mesmo de as perder. Assim é como eu era então e, chorando muito amargamente, descansava na amargura. E como era miserável! Contudo, mais que o amigo caríssimo, eu amava a minha vida miserável, porque embora desejasse mudá-la, não queria perdê-la como ao amigo, não sei se gostaria de perdê-la por ele, como se conta de Orestes e Pílades – se não é ficção – que queriam morrer um pelo outro, porque para eles viver separados era pior que a morte. Mas não sei que novo sentimento nascera em mim, muito contrário a este: sentia pesado tédio de viver, e ao mesmo tempo tinha medo de morrer. Creio que quanto mais amava o amigo tanto mais odiava e temia a morte, como inimigo feroz que mo havia arrebatado; pensava que ela acabaria de repente com todos os homens, como o fizera com ele. Este era meu estado de espírito, pelo que me lembro.

Meu Deus, eis aqui o meu coração, eis seu conteúdo! Olha para o meu passado, porque sei, esperança minha, que me purificas da impureza desses afectos, atraindo para ti os meus olhos, e libertando os meus pés dos laços que me aprisionavam. Maravilhava-me de que sobrevivessem os outros mortais aos seus amados se nunca houvessem de morrer; e mais me maravilhava ainda de que, morto ele, eu continuasse a viver, porque eu era outro ele. Bem disse um poeta quando chamou ao amigo “metade da sua alma”. E eu senti que a minha alma e a sua não eram mais que uma em dois corpos, e por isso causava-me horror a vida, porque não queria viver pela metade; e ao mesmo tempo tinha muito medo de morrer, para que não morresse de todo aquele a quem eu tanto amara.

CAPÍTULO VII

De Tagaste para Cartago

Ó loucura, que não sabe amar os homens humanamente! Ó homem insensato, que sofre desmedidamente os reveses humanos! Assim era eu então, e assim me agitava, suspirava, chorava, perturbava-me, e não encontrava descanso nem conselho. Trazia a alma em farrapos e ensanguentada, indócil ao meu governo, e eu não encontrava lugar onde a pudesse depor. Nem os bosques amenos, nem os jogos e cantos, nem os lugares suavemente perfumados, nem os banquetes sumptuosos, nem os prazeres da alcova e do leito, nem, finalmente, os livros e os versos podiam dar-lhe descanso. Tudo me causava horror, até a própria luz. Tudo o que não era o que ele era, era-me insuportável e odioso, excepto gemer e chorar, pois, somente nisto achava algum repouso. E se a minha alma deixava de chorar, logo pesava sobre mim o grande fardo da desgraça.

A ti, Senhor, deveria ser elevada, para ter cura. Eu sabia-o, mas não o queria nem podia.

Tanto mais que, ao pensar em ti, não tinha em mente algo sólido e firme, mas um fantasma, o meu erro. Se nele tentava descansar a minha alma, logo deslizava como quem pisa em falso, e caía de novo sobre mim. Eu era para mim mesmo uma infeliz morada, na qual era ruim e da qual não podia sair. E para onde iria o meu coração, fugindo de si mesmo? Para onde fugir de mim mesmo? Para onde não me seguiria?

Por isso fugi da minha pátria, porque os meus olhos buscariam menos o meu amigo onde não estavam acostumados a vê-lo. E assim me fui de Tagaste para Cartago.

(cont)

(Revisão de versão portuguesa por ama)


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