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14/02/2016

Temas para meditar - 581

Riqueza


Esta manhã visitei a diocese de Velletri, da qual fui cardeal titular durante vários anos. Foi um encontro familiar que me permitiu reviver momentos do passado, ricos de experiências espirituais e pastorais.
No curso da solene celebração eucarística, comentando os textos litúrgicos, detive-me a reflectir sobre o recto uso dos bens terrenos, um tema que este domingo o evangelista Lucas, de vários modos, volta a propor à nossa atenção.
Contando a parábola de um administrador desonesto, e também astuto, Cristo ensina a seus discípulos qual é a melhor maneira de utilizar o dinheiro e as riquezas materiais, isto é, compartilhá-las com os pobres, procurando assim sua amizade, em vista do Reino dos Céus. «Usem as riquezas deste mundo – afirma Jesus – para conseguir amigos a fim de que, quando as riquezas faltarem, eles recebam vocês no lar eterno» (Lc 16, 9).
O dinheiro não é «desonesto» em si mesmo, mas, mais que qualquer outra coisa, pode fechar o homem em um cego egoísmo. Trata-se portanto de realizar uma espécie de «conversão» dos bens económicos: em lugar de usá-los só por interesse próprio, há que pensar também na necessidade dos pobres, imitando o próprio Cristo, o qual – escreve Paulo – «sendo rico se fez pobre para enriquecer a nós com sua pobreza» (2 Co 8, 9).
Parece um paradoxo: Cristo não nos enriqueceu com sua riqueza, mas com sua pobreza, isto é, com seu amor que o impulsionou a dar-se totalmente a nós.
Aqui poderia abrir-se um vasto e complexo campo de reflexão sobre o tema da riqueza e da pobreza, também no âmbito mundial, onde se confrontam duas lógicas económicas: a lógica do lucro e a da equitativa distribuição dos bens, que não estão em contradição uma com a outra, com tal que sua relação esteja bem ordenada.
A doutrina social católica sempre sustentou que a distribuição equitativa dos bens é prioritária.
O lucro é naturalmente legítimo e, na justa medida, necessário para o desenvolvimento económico.
São João Paulo II escreveu na Encíclica Centesimus annus: «A moderna economia de empresa comporta aspectos positivos, cuja raiz é a liberdade da pessoa, que se expressa no campo económico e em outros campos» (n. 32). Contudo, acrescenta, o capitalismo não deve ser considerado como o único modelo válido de organização económica (n. 35).
A emergência da fome e a ecologia denunciam, com crescente evidência, que a lógica do lucro, se é predominante, quando aumenta a desproporção entre ricos e pobres de compartilhar e da solidariedade, é possível endereçar a rota e orientá-la para um desenvolvimento equitativo e sustentável.
Que Maria Santíssima, que no Magnificat proclama: o Senhor «aos famintos cumula de bens, aos ricos os despede vazios» (Lc 1, 53), ajude os cristãos a usar com sabedoria evangélica, isto é, com generosa solidariedade, os bens terrenos, e inspire aos governos e aos economistas estratégias de vistas amplas que favoreçam o autêntico progresso dos povos.

(bento xvi, Angelus, Castel Gandolfo,23.09.2007)


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