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08/02/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum
Semana V

Evangelho: Mc 6, 53-56


53 Tendo passado à outra margem, foram à região de Genesaré, e lá atracaram. 54 Tendo desembarcado, logo O conheceram 55 e, percorrendo toda aquela região, começaram a trazer-Lhe todos os doentes em macas, para onde sabiam que Ele estava. 56 Em qualquer lugar a que chegava, nas aldeias, nas cidades ou nas herdades, punham os enfermos no meio das praças, e pediam-Lhe que, ao menos, os deixasse tocar a orla do Seu vestido. E todos os que O tocavam ficavam curados.

Comentário:

As curas operadas por Jesus Cristo são sempre consequência da Fé.

Assim o relatam repetidas vezes os Evangelhos acrescentando com frequência as palavras do Senhor:

«Vai... a tua Fé te salvou

Aqui sucede o mesmo.
O Senhor constata a Fé dos enfermos que queriam tocar-lhe ao menos nos vestidos e a Fé dos que os traziam para as praças para que, ao passar, os curasse.


(ama, comentário sobre Mc 6, 53-56, 2015.02.9)


Leitura espiritual



Para a liberdade - 2


Voltar para Cristo - 2

A falta de alegria é um desses indicadores que permitem descobrir quando a vontade está a perder a orientação para Deus.
Com a luz do Espírito Santo poderemos ver onde está posto o coração, para retificar o que seja necessário. 

A parábola do filho pródigo é o guia autêntico no itinerário para a conversão.
O ponto de partida é o momento em que o filho se apercebe da sua indigência material e sobretudo espiritual – a falta de alegria – pois toma consciência de ter abusado da sua liberdade filial. 

Começa então a examinar a sua situação com objetividade. Olha para dentro de si, in se autem reversus [i], sem medo a reconhecer a dura verdade dos factos. O panorama é de fome, solidão, tristeza, falta de carinho...
Como cheguei a esta situação? perguntar-se-ia.
Poderia ter atirado a culpa à má fortuna ou ao período de carestia que a região atravessava.
No entanto, atreve-se a assumir as suas decisões anteriores sem se esquivar da responsabilidade. 

Foi ele próprio, livremente, quem trocou a fidelidade ao seu pai pela ilusão de uma felicidade irreal.
Foi amadurecendo nele a ideia de que os bens que lhe cabiam, neste caso a herança paterna, teriam a capacidade de saciar as suas ânsias de bem-estar, de realização pessoal.
A sua vontade tinha-se ido fechando no seu pequeno tesouro: as suas ambições, a sua diversão, o seu tempo, a sua sensualidade, a sua preguiça. 

Foi a viva perceção da sua penúria que o fez reagir e aperceber-se do pouco que valia por si só, das cruéis servidões a que se tinha visto sujeito sem o seu pai:

quantos jornaleiros lá em casa do meu pai têm pão em abundância e eu aqui morro de fome! [ii]

A casa do Pai: a Igreja Santa de Deus, esta porçãozinha da Igreja que é a Obra... perdeu o medo a chamar as coisas pelo seu nome, e o contacto com a verdade sobre si próprio encaminha-o para a liberdade: a verdade vos fará livres. [iii]
Perante a realidade das coisas toma corpo a nostalgia do amor do Pai; é a viagem de regresso a casa. 

Deve regressar-se ao lar muitas vezes na vida porque é o lugar do reencontro connosco mesmos, onde redescobrimos o que somos: filhos de Deus.
A casa é também a consciência, sacrário íntimo da pessoa.
 E o filho pródigo, que com tanta determinação tinha exigido os seus direitos, à vista da verdade nua e crua sobre si mesmo, renuncia agora a todo o direito.

Levantar-me-ei, irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: “pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; trata-me como a uno dos teus jornaleiros”. Levantou-se e foi ter com o pai [iv].

No regresso já principia a alegria da conversão.
O arrependimento abriu a porta à esperança e, na decisão de regressar, a liberdade recuperou a sua disposição para o amor.
Mas além disso, o encontro com o pai supera as melhores expectativas.

O pobre coração humano, humilhado pelas suas faltas, ver-se-á inundado pela infinita misericórdia do Amor: quando ele ainda estava longe, o pai viu-o, ficou movido de compaixão e, correndo, lançou-se-lhe aos braços e beijou-o [v]

A liberdade amadurece no amor a Deus; a liberdade filial não se contabiliza num balanço de acertos e de erros; os erros convertem-se em acertos, em ocasiões de amar mais, quando sabemos rectificar e pedir perdão, com plena confiança na misericórdia de Deus.

Aprendamos a recomeçar pela mão do nosso Pai: Terão observado no vosso exame – a mim acontece-me o mesmo: desculpem que faça referências a mim próprio, mas enquanto falo convosco vou pensando com Nosso Senhor nas necessidades da minha alma – que sofrem repetidamente pequenos reveses, que às vezes parecem descomunais, porque revelam uma evidente falta de amor, de entrega, de espírito de sacrifício, de delicadeza. Fomentem as ânsias de reparação, com uma contrição sincera, mas não percam a paz. [vi].

Não percam a paz: este comovedor pedido paterno vai unido a uma chamada à contrição, que é o mais importante do exame de consciência. São Josemaria abria a sua alma para nos dar o alimento da sua experiência de convívio com Deus.

Agora a sua experiência é a bem-aventurança, e a sua participação na paternidade de Deus é mais intensa. Recorramos à sua intercessão para alcançar uma contrição serena e filial; para que nos ensine a fazer um exame contrito, que não tire a paz mas que a dê. Cada acto de contrição é um recomeçar.
Que paz dá saber que, enquanto há vida, não há fracassos definitivos! 

Viver em Cristo

São João descreve no Apocalipse uma multidão incontável diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de branco e com palmas nas mãos [vii].

A palma é símbolo da alegria e do triunfo, da alegria de honrar a Deus e da vitória dos que Lhe dão glória para sempre.
Poderíamos dizer, seguindo esta imagem, que a palma da liberdade está na sua orientação para Deus até chegar ao triunfo definitivo da santidade alcançada.

Como conseguiremos tão preciosa conquista? O Concílio Vaticano II ensina que «a liberdade do homem, ferida pelo pecado, não pode conseguir esta orientação para Deus com plena eficácia se não for com a ajuda da graça» [viii].

Por isso Deus enviou o seu Filho, que veio em nossa ajuda para nos fazer participantes da Sua vitória na Cruz e para que recebamos o dom do Espírito Santo.
A nossa liberdade foi liberta no Calvário: «para sermos livres Cristo libertou-nos.
N’Ele participamos da verdade que nos faz livres.
O Espírito Santo foi-nos dado e, como ensina o Apóstolo, onde está o Espírito, aí está a liberdade. Já a partir de agora nos gloriamos da liberdade dos filhos de Deus» [ix].

Deus tinha prometido ao Seu Povo um princípio novo de vida, uma lei escrita no coração que não só indicasse a direção, mas que desse também forças para caminhar pela senda do amor a Deus: dar-vos-ei um coração novo e porei no vosso interior um espírito novo. Arrancarei da vossa carne o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Porei o Meu espírito no vosso interior e farei com que caminheis de acordo com os Meus preceitos e guardareis e cumprireis as Minhas normas [x]

Esta promessa fez-se realidade com o envio do Espírito Santo, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações por meio do Espírito Santo que nos foi dado [xi].

Só sobre este princípio novo poderemos construir uma vida liberta da escravidão do egoísmo, uma vida de filhos livres. Porque os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus [xii]

Que a vontade se apoie sobre a rocha sobrenatural da filiação divina, e não sobre a areia das próprias forças.
Então podem vencer-se as próprias limitações, superando os obstáculos a partir da humildade, com a força de Deus. 

A vontade, sobrenaturalmente boa, vive assim endeusada, procurando fazer em tudo a Vontade de Deus.
Como?
Mediante o esquecimento de si, com a fortaleza de Cristo.

Portanto – diz São Paulo – de boa vontade me gloriarei nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso, alegro-me nas minhas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por Cristo, porque quando sou fraco, então é que sou forte [xiii]

O sentido da filiação divina é um fundamento realista para a liberdade; ensina a recomeçar a partir da verdade da própria pequenez, que é ao mesmo tempo grandeza de ser filho amadíssimo de Deus; é fonte de serenidade e de otimismo para a luta. 

O filho de Deus sente-se apoiado pela omnipotência de um Pai que o ama com os seus defeitos, ao mesmo tempo que o ajuda a lutar contra eles e o impulsiona para a liberdade.

c. ruiz

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Lc 15, 17.
[ii] Ibid., 15, 17.
[iii] Jo 8, 32
[iv] Lc 15, 18-20.
[v] Ibid., 15, 20.
[vi] Amigos de Deus, n. 13.
[vii] Cfr. Ap 7, 9-10.
[viii] Concílio Vaticano II, Const. past. Gaudium et spes, n. 17.
[ix] Catecismo da Igreja Católica, n. 1741; Ga 5, 1; cfr. Jn 8, 32; cfr. 2 Co 3, 17; cfr. Rm 8, 21.
[x] Ez 36, 26-27.
[xi] Ro 5, 5.
[xii] Ro 5, 5.
[xiii] 2 Co 12, 9-10.

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