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10/02/2016

Evangelho, comentário, L. espiritual


Tempo Comum
Semana V
Cinzas

Evangelho: Mt 6, 1-6. 16-2-18

1 «Guardai-vos de fazer as boas obras diante dos homens, com o fim de serdes vistos por eles. De contrário não tereis direito à recompensa do vosso Pai que está nos céus.2 «Quando, pois, dás esmola, não faças tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.3 Mas, quando dás esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita,4 para que a tua esmola fique em segredo, e teu Pai, que vê o que fazes em segredo, te pagará.5 «Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de orar em pé nas sinagogas e nos cantos das praças, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.6
16 «Quando jejuais, não vos mostreis tristes como os hipócritas que desfiguram o rosto para mostrar aos homens que jejuam. Na verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.17 Mas tu, quando jejuares, unge a tua cabeça e lava o teu rosto,18 a fim de que não pareça aos homens que jejuas, mas sim a teu Pai, que está presente no oculto, e teu Pai, que vê no oculto, te dará a recompensa.


Comentário:

A Liturgia escolheu este trecho de São Mateus para Quarta-Feira de Cinzas deste ano de 2016 e, a meu ver, com uma intenção bem clara:

Dar aos cristãos uma “medida” de procedimento durante a Quaresma que hoje começa.

Na verdade tudo se pode resumir a “Rectidão de Intenção”.

(ama, comentário sobre Mt 6, 16-18; 16-18, 2015.02.18)


Leitura espiritual


Teologia da Sacrosanctum Concilium

4 – A liturgia, momento da história da salvação

Depois de ter apresentado no Artigo 5 a história da salvação que culmina na morte e ressurreição de Jesus, assim como o nascimento da Igreja e com ela da liturgia, a “Sacrosanctum Concilium” passa a tratar, no artigo 6, da liturgia como celebração desta história, particularmente da obra salvífica de Jesus Cristo, na liturgia.

Lemos no início deste artigo:

“Assim como Cristo foi enviado pelo Pai, assim também ele enviou os apóstolos, cheios do Espírito Santo, não só para pregarem o evangelho (…) mas ainda para levarem a efeito o que anunciavam: a obra da salvação através do sacrifício e dos sacramentos, sobre os quais gira toda a vida litúrgica”.
A afirmação principal deste texto é retomada no início do artigo 7 de constituição:

“Para levar a efeito obra tão importante Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo na ações litúrgicas”.
Assim se coloca para nós a questão: Se Jesus nos salvou, o que a liturgia acrescenta a esta obra? O que significa que ela deve ser levada a efeito?

Não se trata de completar ou continuar a obra de Cristo, como se ela não tivesse sido perfeita. Deus fez através de Jesus tudo para a nossa salvação. Mas ele nos quer salvar como seres livres.
Livremente colocamo-nos contra Deus pelo pecado, livremente devemos também aceitar a salvação que Deus operou para nós.
Precisamente assim a salvação pode ter efeito, se nós nos voltamos para Deus, se ouvimos sua palavra e a pomos em prática e se acolhemos o presente de uma nova vida, de uma nova história, do Reino que Jesus veio anunciar. Esta acolhida e aceitação acontecem por uma vida em obediência a Deus, mas de modo especialmente consciente e intenso na liturgia.
É como também a constituição sobre a liturgia diz:

“Para levar a efeito obra tão importante (a obra da salvação) Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas” [i].
Portanto, dizendo “sim” a Deus, sua vontade e sua obra, e sobretudo celebrando na liturgia este nosso sim vivido, é que se leva a efeito a salvação. Assim a liturgia cristã, ela mesma um fato histórico, se torna momento privilegiado da história da salvação.

Seria bem compreensível que alguém pergunte:

Como é que na liturgia pode acontecer salvação?

Acabamos de ver que a liturgia não é uma acção meramente humana. Cristo está presente na celebração litúrgica como agente principal. Devemos igualmente lembrar que toda ação litúrgica acontece, como nos diz o Vaticano II, na força do Espírito Santo [ii].

Mas é bom recorrer ainda ao conceito de memória, se queremos entender a eficácia salvífica da liturgia. Memória litúrgica não é um simples lembrar.
Lembramos, sim, a páscoa histórica de Cristo e do seu povo, mas a lembramos na presença de Cristo e na força do Espírito Santo.
 Lembrando a pessoa e a obra de Cristo abrimo-nos para Ele. Como ele diz no livro do Apocalipse, ele está à porta e bate. Se abrimos a porta, ele entra para cear connosco [iii].

Isso quer dizer que ele entra em comunhão íntima connosco, e esta comunhão de vida entre Deus e nós é salvação.

Ninguém pode duvidar que tal liturgia seja um culto agradável a Deus, suposto que celebramos ritualmente aquilo que vivemos.
Não é apenas um fazer externo, mas a expressão de uma atitude interna e da nossa vida do dia-a-dia.
O que assim vale de cada um de nós, vale das nossas famílias, das nossas comunidades eclesiais, vale da Igreja e de certo modo de toda a humanidade e de sua história.
Todas as pessoas de boa vontade que vivem o amor e a solidariedade, que lutam pela justiça e a paz, estão fazendo a vontade de Deus.
Embora muitos não tenham consciência de sua vida pascal em união com Jesus Cristo e não a celebrem na liturgia cristã ou talvez de maneira alguma, também neles é levada a efeito a obra salvífica de Cristo.

Toda a história da humanidade é história da salvação, porque nela se leva a efeito a obra redentora de Cristo até o fim dos tempos.
A liturgia é um momento privilegiado desta história.

Sendo assim, não poderíamos dispensar toda a liturgia e apenas viver um culto espiritual?
Não, porque desde Caim e Abel a humanidade, de modo particular – para não falar em outras religiões – o povo da antiga aliança, celebrava sua vida e história.

Assim fez também Jesus, e ele nos mandou fazer o mesmo em sua memória.

Celebrar é uma dimensão essencial e indispensável de uma vida verdadeira e plenamente humana.
Na festa, celebrando a vida, vivemos mesmo.
Por isso, não há nada mais humano do que celebrar na liturgia a verdadeira vida de cada um de nós e de toda a humanidade que Jesus nos mereceu por sua morte e ressurreição.

(cont)

p. gregório lutz cssp

(Revisão da versão portuguesa por ama)



[i] SC 7
[ii] SC 6
[iii] cf. Ap 3,20

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