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06/01/2016

Tratado da vida de Cristo 65

Questão 39: Do baptizado de Cristo

Art. 3 — Se Cristo foi baptizado no tempo conveniente.

 O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo não foi baptizado no tempo conveniente.


1. — Pois, Cristo foi baptizado para levar os outros a imitarem o seu exemplo. Ora, é louvável que os fiéis de Cristo sejam baptizados não só antes dos trinta anos, mas mesmo em idade infantil. Logo, parece que Cristo não devia ter sido baptizado na idade de trinta anos.

2. Demais. — Não lemos no Evangelho que Cristo ensinasse ou fizesse milagres antes do baptismo. Ora, teria sido mais útil ao mundo se tivesse ensinado antes, começando aos vinte anos ou ainda antes. Logo, parece que Cristo, que veio ao mundo para bem dos homens, devia ter sido baptizado antes dos trinta anos.

3. Demais. — O sinal da sabedoria infundida por Deus devia manifestar-se sobretudo em Cristo. Ora, manifestou-se em Daniel no tempo da sua puerícia, segundo o diz a Escritura: Suscitou o Senhor o santo espírito de um moço ainda menino, cujo nome era Daniel. Logo, com maioria de razão, Cristo devia ter sido baptizado e ter começado a ensinar, na sua puerícia.

4. Demais. — O baptismo de João ordenava-se ao de Cristo como ao fim. Ora, o fim, primeiro na intenção, é último na execução. Logo, Cristo ou devia ser o primeiro ou o último a ser baptizado por João.

Mas, em contrário, o Evangelho: E aconteceu que como recebesse o baptismo todo o povo depois de baptizado também Jesus e estando em oração. E mais adiante: E o mesmo Jesus começava a ter quase de trinta anos.

Cristo foi convenientemente baptizado no seu trigésimo ano de idade. - Primeiro, porque desde o seu baptismo é que Cristo começou, por assim dizer, a ensinar e a pregar; o que exige uma idade perfeita, qual é a dos trinta anos. Por isso, como lemos na Escritura, José tinha trinta anos quando assumiu o governo do Egipto. E também ela refere que David tinha trinta anos quando começou a reinar. E ainda, que Ezequiel começou a profetizar aos trinta anos. - Segundo, porque, como diz Crisóstomo, depois do baptismo de Cristo a lei antiga começava a deixar de vigorar. Por isso, Cristo recebeu o baptismo numa idade em que podia assumir todos os pecados de modo que ninguém pudesse dizer que ele abrogou a lei por não a poder observar. - Terceiro, porque o ter Cristo recebido o baptismo numa idade perfeita significa que o baptismo gera os varões perfeitos, segundo o Apóstolo: Até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a estado de varão perfeito, segundo a medida da idade completa de Cristo. Pois, o demonstram até as propriedades do número trinta resultante da combinação de três e de dez: o número três significa a fé na Trindade; dez é o número dos mandamentos da lei a serem cumpridos; e nessas duas coisas consiste a perfeição da vida cristã.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Como diz Gregório Nazianzeno, Cristo não foi baptizado porque precisasse de purificação, não havendo por isso nenhum perigo de lhe diferir o baptismo. Mas para qualquer outro redundará em perigo não pequeno partir desta vida sem estar revestido das vestes da incorrupção, isto é, da graça. E embora seja bom conservar, depois do baptismo, a pureza baptismal, contudo, como também o diz Agostinho, é às vezes melhor ficarmos expostos a pequenas máculas, do que carecermos de todo da graça.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo é uma fonte de bens para os homens, que sobretudo obtemos pela fé e pela humildade. E ensinou-nos fortemente essas virtudes, não começando a ensinar senão depois que saiu da puerícia e da adolescência e atingiu a idade perfeita. Ensinou-nos a fé, tornando evidente por meio dela a verdade da sua natureza humana; pois, essa verdade mostra-se no desenvolvimento do seu corpo, relativamente aos anos. E para que não se pudesse dizer que esse desenvolvimento era fantástico, não quis manifestar a sua sabedoria e a sua virtude senão quando atingiu a idade do seu pleno desenvolvimento. Ensinou-nos ainda a humildade, a fim de que ninguém tenha a presunção de subir às honras, antes da idade, nem a de assumir o ofício de ensinar.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo foi proposto como exemplo para todos os homens. Por isso devia mostrar em si o que a lei comum exige de todos; donde o não ter ensinado senão quando atingiu a idade perfeita. Mas, como diz Gregório Nazianzeno, não é lei da Igreja o que raramente se dá, assim como uma andorinha não faz primavera. Embora a alguns, por uma dispensa especial fosse concedido, por determinadas razões da sabedoria divina, o poder de governar ou de ensinar, antes de terem atingido a idade perfeita; tal como que se deu com Salomão, Daniel e Jeremias.

RESPOSTA À QUARTA. — Cristo nem foi o primeiro nem o último que devesse ser baptizado por João. Porque, como diz Crisóstomo, Cristo foi baptizado para confirmar a pregação e o baptismo de João, e para que recebesse o testemunho deste. Pois, não haveriam de crer no testemunho de João senão depois que muitos foram baptizados por ele. Por isso não devia ter sido o primeiro que João baptizasse. - Semelhantemente, nem o último. Porque, como Crisóstomo acrescenta no mesmo lugar, assim como a luz do sol não espera o ocaso da estrela da manhã, mas a precede para em breve obscurecê-la com o esplendor do seu lume, assim também Cristo não esperou que João terminasse o curso da sua vida, mas apareceu quando ainda ele ensinava e baptizava.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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