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13/01/2015

Apoiar-vos-eis uns aos outros

Se souberes querer aos outros e difundir, entre todos, esse carinho – caridade de Cristo, fina, delicada –, apoiar-vos-eis uns aos outros, e o que for a cair sentir-se-á amparado – e urgido – com essa fortaleza fraterna, para ser fiel a Deus. (Forja, 148)

Chega a plenitude dos tempos e, para cumprir essa missão, não aparece um génio filosófico, como Sócrates ou Platão; não se instala na terra um conquistador poderoso, como Alexandre Magno. Nasce um Menino em Belém. É o Redentor do mundo; mas, antes de começar a falar, demonstra o seu amor com obras. Não é portador de nenhuma fórmula mágica, porque sabe que a salvação que nos traz há-de passar pelo coração do homem. As suas primeiras acções são risos e choros de criança, o sono inerme de um Deus humanado; para que fiquemos tomados de amor, para que saibamos acolhê-Lo nos nossos braços.

Uma vez mais consciencializamos que isto é que é o Cristianismo. Se o cristão não ama com obras, fracassa como cristão, o que significa fracassar também como pessoa. Não podes pensar nos outros homens como se fossem números, ou degraus para tu subires; como se fossem massa, para ser exaltada ou humilhada, adulada ou desprezada, conforme os casos. Tens de pensar nos outros – antes de mais, nos que estão ao teu lado – vendo neles o que na verdade são: filhos de Deus, com toda a dignidade que esse título maravilhoso lhes confere.

Com os filhos de Deus, temos de comportar-nos como filhos de Deus: o nosso amor há-de ser abnegado, diário, tecido de mil e um pormenores de compreensão, de sacrifício calado, de entrega silenciosa. Este é o bonus odor Christi que arrancava uma exclamação aos que conviviam com os primeiros cristãos: Vede como se amam! (Cristo que passa, 36)

Temas para meditar - 333


Vontade


A fé exige um acto de vontade que determine a razão de a assentir, pois aquilo que se ouve não são, em si mesmas, verdades evidentes. E este acto de vontade, seja positivo ou negativo, pode ser influenciado por motivos alheios a um processo estrita e puramente lógico ou racional.


(santo ambrósio, Comentário sobre o Salmo 18, 12, 13)

Ev. diário L. Esp. (Amar a Igreja)

Tempo Comum

Santo Hilário Doutor da Igreja

Evangelho: Mc 1 21-28

21 Depois foram a Cafarnaum; e Jesus, tendo entrado no sábado na sinagoga, ensinava. 22 Os ouvintes ficavam admirados com a Sua doutrina, porque os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas. 23 Na sinagoga estava um homem possesso dum espírito imundo, que começou a gritar: 24 «Que tens que ver connosco, Jesus de Nazaré? Vieste para nos perder? Sei Quem és, o Santo de Deus». 25 Mas Jesus o ameaçou dizendo: «Cala-te, e sai desse homem!». 26 Então o espírito imundo, agitando-o violentamente e dando um grande grito, saiu dele. 27 Ficaram todos tão admirados, que se interrogavam uns aos outros: «Que é isto? Que nova doutrina é esta? Ele manda com autoridade até nos espíritos imundos, e eles obedecem-Lhe». 28 E divulgou-se logo a Sua fama por toda a região da Galileia.

Comentário

A autoridade de quem ensina não lhe virá de outra coisa senão do conhecimento profundo do que transmite.

Ninguém deve colocar-se numa situação de falar sobre o que não sabe ou conhece deficientemente. Será, com toda a certeza, posto à prova e, mais cedo ou mais tarde, aqueles que o ouviram, duvidarão do que lhes transmitiu.

No apostolado, que se faz sempre e exclusivamente em nome de Jesus Cristo Nosso Senhor o conhecimento da Doutrina, segura, séria, fundamentada, é condição absolutamente imprescindível.

Ah! E depois, praticar o que se diz!

(ama, comentário sobre Mc 1, 21-28, 2014.01.15)


Leitura espiritual


São Josemaria Escrivá

Amar a Igreja 22 a 32

22             
Agora compreendem porque não se pode separar a Igreja visível da Igreja invisível. A Igreja é, simultaneamente, corpo místico e corpo jurídico. Pelo próprio facto de ser corpo, a Igreja distingue-se com os olhos, ensinou Leão XIII. No corpo visível da Igreja - no comportamento dos homens que dela fazemos parte aqui na terra - aparecem misérias, vacilações, traições. Mas a Igreja não se esgota aí, nem se confunde com essas condutas erradas: pelo contrário, não faltam, aqui e agora, generosidades, afirmações heróicas, vidas de santidade que não fazem barulho, que se consomem com alegria no serviço dos irmãos na fé e de todas as almas.

Considerem também que, se as claudicações superassem numericamente as atitudes corajosas, ficaria ainda essa realidade mística - clara, inegável, embora a não percebamos com os sentidos - que é o Corpo de Cristo, o próprio Senhor Nosso, a acção do Espírito Santo, a presença amorosa do Pai.

A Igreja é, por conseguinte, inseparavelmente humana e divina. É sociedade divina pela sua origem, sobrenatural pelo seu fim e pelos meios que se ordenam proximamente a esse fim; mas, na medida em que se compõe de homens, é uma comunidade humana. Vive e actua no mundo, mas o seu fim e a sua força não estão na terra, mas no Céu.

Enganar-se-iam gravemente aqueles que procurassem separar uma Igreja carismática - que seria a verdadeiramente fundada por Cristo-, doutra jurídica ou institucional, que seria obra dos homens e simples efeito de contingências históricas. Só há uma Igreja. Cristo fundou uma única Igreja: visível e invisível, com um corpo hierárquico e organizado, com uma estrutura fundamental de direito divino e uma íntima vida sobrenatural que a anima, sus - tenta e vivifica.

E não é possível deixar de recordar que Nosso Senhor, ao instituir a Sua Igreja, não a concebeu nem formou de modo a compreender uma pluralidade de comunidades semelhantes no seu género, embora diferentes, e não ligadas por aqueles vínculos que tornam a Igreja indivisível e única... Por isso, quando Jesus fala deste místico edifício, refere-se apenas a uma Igreja a que chama Sua: edificarei a Minha Igreja (Mat. XVI, 18). Qualquer outra que se imagine fora desta, em virtude de não ter sido fundada por Ele, não pode ser a Sua verdadeira Igreja.

Fé, repito; aumentemos a nossa Fé; pedindo-a à Santíssima Trindade, cuja festa hoje celebramos. Poderá acontecer tudo, excepto que o Deus três vezes Santo abandone a Sua Esposa.

23             
O fim da Igreja

São Paulo, no primeiro capítulo da Epístola aos Efésios, afirma que o mistério de Deus, anunciado por Cristo, se realiza na Igreja. Deus Pai pôs debaixo dos pés de Cristo todas as coisas, e constituiu-O cabeça de toda a Igreja, que é o Seu corpo e o complemento d'Aquele que cumpre tudo em todos . O mistério de Deus é, uma vez chegada a plenitude dos tempos, restaurar em Cristo todas as coisas, assim as que há no céu, como as que há na terra.

Um mistério insondável, de pura gratuitidade de amor: porque Ele mesmo nos escolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados diante d'Ele. O amor de Deus não tem limites: o próprio São Paulo anuncia que o Nosso Salvador quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.

Este, e não outro, é o fim da Igreja: a salvação das almas, uma a uma. Para isso o Pai enviou o Filho, e Eu envio-vos também a vós. Daí o mandato de dar a conhecer a doutrina e de baptizar, para que, pela graça, a Santíssima Trindade habite na alma: foi-Me dado todo o poder no Céu e na terra. Ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei; e eis que Eu estou convosco todos os dias até à consumação dos séculos.

São as palavras simples e sublimes do final do Evangelho de S. Mateus: aí se assinala a obrigação de pregar as verdades de fé, a urgência da vida sacramental, a promessa da contínua assistência de Cristo à Sua Igreja. Não se é fiel a Nosso Senhor se se passa por cima destas realidades sobrenaturais: a instrução na fé e na moral cristãs, a prática dos sacramentos. Com este mandato Cristo funda a Sua Igreja. Tudo o resto é secundário.

24             
Na Igreja está a nossa salvação

Não podemos esquecer que a Igreja é muito mais do que um caminho de salvação: é o único caminho. Ora isto não foi inventado pelos homens, mas foi Cristo quem assim dispôs: o que crer e for baptizado, será salvo; o que, porém, não crer, será condenado. Por isso se afirma que a Igreja é necessária, com necessidade de meio, para nos salvarmos. Já no século II Orígenes escrevia: se alguém quer salvar-se, venha a esta casa, para que possa consegui-lo... Que ninguém se engane a si mesmo: fora desta casa, isto é, fora da Igreja, ninguém se salva. E S. Cipriano: se alguém tivesse escapado (do dilúvio) fora da arca de Noé, então poderíamos admitir que quem abandona a Igreja pode escapar da condenação.

Extra Ecclesiam, nulla salus. É o aviso contínuo dos Padres: fora da Igreja católica pode encontrar-se tudo - admite Santo Agostinho - menos a salvação. Pode ter-se honra, pode haver Sacramentos, pode cantar-se o "aleluia", pode responder-se "amen", pode defender-se o Evangelho, pode ter-se fé no Pai, no Filho e no Espírito Santo e, inclusivamente, até pregá-la. Mas nunca, se não for na Igreja católica, pode encontrar-se a salvação.

No entanto, como se lamentava Pio XII há pouco mais de vinte anos, alguns reduzem a uma fórmula vã a necessidade de pertencer à Igreja verdadeira para alcançar a salvação eterna. Este dogma de fé integra a base da actividade corredentora da Igreja, é o fundamento da grave responsabilidade apostólica dos cristãos. Entre os mandatos expressos de Cristo determina-se categoricamente o de nos incorporarmos no Seu Corpo Místico pelo Baptismo. E o nosso Salvador não só promulgou o mandamento de que todos entrassem na Igreja, mas estabeleceu também que a Igreja fosse meio de salvação, sem a qual ninguém pode chegar ao reino da glória celestial.

É de fé que quem não pertence à Igreja não se salva; e que quem se não baptiza não ingressa na Igreja. A justificação, depois da promulgação do Evangelho, não pode verificar-se sem o lavacro da regeneração ou o seu desejo, estabelece o Concilio de Trento.

25             
É esta uma contínua exigência da Igreja que se - por um lado - introduz na nossa alma o aguilhão do zelo apostólico, por outro, manifesta também claramente a misericórdia infinita de Deus para com as criaturas.

S. Tomás explica assim: o Sacramento do baptismo pode faltar de dois modos. Em primeiro lugar, quando não se recebeu nem de facto, nem de desejo. É o caso de quem não se baptizou nem quer baptizar-se. Esta atitude, nos que têm uso da razão, implica desprezo pelo Sacramento. E, em consequência, aqueles a quem falta desta forma o baptismo, não podem entrar no reino dos céus: já que não se incorporam a Cristo nem sacramentalmente nem espiritualmente e unicamente d'Ele é que procede a salvação. Em segundo lugar, pode também faltar o Sacramento do baptismo a uma pessoa, mas não o seu desejo, como no caso daquele que, embora se deseje baptizar, é surpreendido pela morte antes de receber o Sacramento. A quem isto suceder, pode salvar-se sem o baptismo actual e só com o desejo do Sacramento. Este desejo procede da fé que age pela caridade, através da qual Deus, que não ligou o seu poder aos Sacramentos visíveis, santifica interiormente o homem.

Apesar de ser completamente gratuita e de não se dever a ninguém por título algum - e menos ainda depois do pecado-, Deus Nosso Senhor não recusa a ninguém a felicidade eterna e sobrenatural: a Sua generosidade é infinita. É coisa notória que aqueles que sofrem de ignorância invencível acerca da nossa santíssima religião, quando guardam cuidadosamente a lei natural e os seus preceitos, esculpidos por Deus nos corações de todos, e estão dispostos a obedecer a Deus e levam uma vida honesta e recta, podem alcançar a eterna, por intermédio da acção operante da luz divina e da graça. Só Deus sabe o que se passa no coração de cada homem, e Ele não trata as almas em massa, mas uma a uma. Não corresponde a ninguém nesta terra julgar sobre a salvação ou condenação eternas num caso concreto.

26             
Mas não esqueçamos que a consciência pode deformar-se de modo culpável, endurecer-se no pecado e resistir à acção salvadora de Deus. Daí, a necessidade de pregar a doutrina de Cristo, as verdades de fé e as normas morais; e daí também a necessidade dos Sacramentos, todos instituídos por Jesus Cristo como causas instrumentais da Sua graça e remédio para as misérias consequentes ao nosso estado de natureza caída. Daí se deduz também que convém recorrer frequentemente à Penitência e à Comunhão Eucarística.

Fica, portanto, bem concretizada a tremenda responsabilidade de todos na Igreja e especialmente dos pastores com estes conselhos de S. Paulo: Conjuro-te diante de Deus e de Jesus Cristo que há-de julgar os vivos e os mortos, pela Sua vinda e pelo Seu reino: prega a palavra de Deus, insiste a tempo e fora de tempo, repreende, suplica, admoesta com toda a paciência e doutrina. Porque virá tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas multiplicarão para si mestres conforme os seus desejos, levados pelo prurido de ouvir doutrinas acomodadas às suas paixões. E afastarão os ouvidos da verdade e os aplicarão às fábulas.

27             
Tempo de provação

Eu não saberia dizer quantas vezes se cumpriram estas palavras proféticas do Apóstolo. Mas só um cego deixaria de ver como actualmente se estão a verificar quase à letra. Rejeita-se a doutrina dos mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, tergiversa-se sobre o conteúdo das bem-aventuranças dando-lhe um significado político-social: e quem se esforça por ser humilde, manso e limpo de coração, é tratado como um ignorante ou um atávico defensor de coisas passadas. Não se suporta o jugo da castidade e inventam-se mil maneiras de ludibriar os preceitos divinos de Cristo.

Há um sintoma que os engloba todos: a tentativa de desviar os fins sobrenaturais da Igreja. Por justiça, alguns já não entendem a vida de santidade, mas uma luta política determinada, mais ou menos tingida de marxismo, que é inconciliável com a fé cristã. Por libertação, não admitem a batalha pessoal para fugir do pecado, mas uma tarefa humana, que pode ser nobre e justa em si mesma, mas que carece de sentido para o cristão quando implica a desvirtuação da única coisa necessária, a salvação eterna das almas, uma a uma.

28             
Com uma cegueira originada pelo afastamento de Deus - este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está longe de Mim-, fabrica-se uma imagem da Igreja que não tem a menor relação com a que Cristo fundou. Até o Santo Sacramento do Altar - a renovação do Sacrifício do Calvário - é profanado, ou reduzido a um mero símbolo daquilo a que chamam a comunhão dos homens entre si. Que seria das almas, se Nosso Senhor não se tivesse entregado por nós até à última gota do Seu precioso Sangue! Como é possível que se despreze esse milagre perpétuo da presença real de Cristo no Sacrário? Ficou para que vivamos intimamente com Ele, para que O adoremos, para que nos decidamos a seguir as suas pegadas, como penhor da glória futura.

Estes tempos são tempos de provação e temos de pedir a Nosso Senhor, com um clamor que não cesse, que os abrevie, que olhe com misericórdia para a Sua Igreja e conceda novamente luz sobrenatural às almas dos pastores e às de todos os fiéis. Não há motivo algum que leve a Igreja a empenhar-se em agradar aos homens, porque nunca os homens - nem sós, nem em comunidade - darão a salvação eterna: quem salva é Deus.

29             
Amor filial à Igreja

É indispensável repetir hoje, em voz bem alta, aquelas palavras de S. Pedro perante as pessoas importantes de Jerusalém: este Jesus é aquela pedra que vós rejeitastes ao edificar e que veio para ser a pedra principal do ângulo; fora d'Ele, não se pode procurar a salvação em mais ninguém, porque não foi dado aos homens outro nome sob o céu, pelo qual possamos salvar-nos.

Assim falava o primeiro Papa, a rocha sobre a qual Cristo edificou a Sua Igreja, levado pela sua filial devoção a Nosso Senhor e pela sua solicitude para com o pequeno rebanho que lhe tinha sido confiado. Com Pedro e com os outros Apóstolos, os primeiros cristãos aprenderam a amar profundamente a Igreja.

Viram já, em contrapartida, com que pouca piedade se fala agora, todos os dias, da nossa Santa Madre Igreja? Como é consolador ler, nos Padres antigos, aqueles elogios abrasados de amor à Igreja de Cristo! Amemos o Senhor, Nosso Deus; amemos a Sua Igreja, escreve Santo Agostinho. A Ele como um pai; a Ela como uma mãe. Que ninguém diga: "sim, ainda vou aos ídolos, consulto os possessos e os bruxos, mas não deixo a Igreja de Deus, porque sou católico". Estais unidos à Mãe, mas ofendeis o Pai. Outro diz, pouco mais ou menos assim: "Deus não o permita; não consulto os bruxos, nem interrogo os possessos, não pratico adivinhações sacrílegas, não vou adorar os demónios, não sirvo os deuses de pedra, mas sou do partido de Donato". De que serve não ofender o Pai se Ele vingará a Mãe a quem ofendeis? E S. Cipriano escrevia brevemente: não pode ter Deus como Pai, quem não tiver a Igreja como Mãe.

Nestes momentos, muitos negam-se a ouvir a verdadeira doutrina sobre a Santa Madre Igreja. Alguns desejam reinventar a instituição, com a ideia louca de implantar no Corpo Místico de Cristo uma democracia ao estilo daquela que se concebe na sociedade civil, ou melhor dito, ao estilo da que se pretende promover: todos iguais em tudo. E não se convencem de que a Igreja está constituída, por instituição divina, pelo Papa, com os bispos, os presbíteros, os diáconos e os leigos. Foi assim que Jesus a quis.

30             
A Igreja é, por vontade divina, uma instituição hierárquica. Sociedade hierarquicamente organizada, assim lhe chama o Concílio Vaticano II, na qual os ministros têm um poder sagrado. A hierarquia não só é compatível com a liberdade, mas está também ao serviço da liberdade dos filhos de Deus.

O termo democracia não tem sentido na Igreja que - insisto - é hierárquica por vontade divina. No entanto, hierarquia significa governo santo e ordem sagrada, e de modo algum arbitrariedade humana ou despotismo infra-humano. Nosso Senhor dispôs que existisse na Igreja uma ordem hierárquica, que não há-de transformar-se em tirania, porque a própria autoridade, bem como a obediência, é um serviço.

Na Igreja há igualdade: uma vez baptizados, somos todos iguais, porque somos filhos do mesmo Deus, Nosso Pai. Como cristãos, não há qualquer diferença entre o Papa e a última pessoa a incorporar-se na Igreja. Mas esta igualdade radical não implica a possibilidade de mudar a constituição da Igreja, naquilo que foi estabelecido por Cristo. Por expressa vontade divina temos uma diversidade de funções, que comporta também uma capacidade diversa, um carácter indelével conferido pelo Sacramento da Ordem para os ministros sagrados. No vértice dessa ordenação está o sucessor de Pedro e, com ele, e sob ele, todos os bispos: com a sua tríplice missão de santificar, de governar e de ensinar.

31             
Permitam-me que insista repetidamente: as verdades de fé e de moral não se determinam por maioria de votos, porque compõem o depósito - depositum fidei - entregue por Cristo a todos os fiéis e confiado, na sua exposição e ensino autorizado, ao Magistério da Igreja.

Seria um erro pensar que, pelo facto de os homens já terem talvez adquirido mais consciência dos laços de solidariedade que mutuamente os unem, se deva modificar a constituição da Igreja, para a pôr de acordo com os tempos. Os tempos não são dos homens, quer sejam ou não eclesiásticos; os tempos são de Deus, que é o Senhor da história. E a Igreja só poderá proporcionar a salvação às almas, se permanecer fiel a Cristo na sua constituição, nos seus dogmas, na sua moral.

Rejeitemos, portanto, o pensamento de que a Igreja - esquecendo-se do sermão da montanha - procura a felicidade humana na terra, pois sabemos que a sua única tarefa consiste em levar as almas à glória eterna do paraíso; rejeitemos qualquer solução naturalista, que não valorize o papel primordial da graça divina; rejeitemos as opiniões materialistas, que procuram tirar importância aos valores espirituais na vida do homem; rejeitemos de igual modo as teorias secularizantes, que pretendem identificar os fins da Igreja de Deus com os dos estados terrenos: confundindo a essência, as instituições, a actividade, com características similares às da sociedade temporal.

32             
O abismo da sabedoria de Deus

Recordem as considerações de São Paulo que acabamos de ler na Epístola: Ó profundidade das riquezas da sabedoria e da ciência de Deus; quão incompreensíveis são os Seus juízos, e inesgotáveis os Seus caminhos! Porque, quem conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem foi o Seu conselheiro? Ou quem Lhe deu alguma coisa primeiro, para que tenha de receber em troca? Todas as coisas são d'Ele e todas são por Ele, e todas existem n'Ele; a Ele seja dada glória por todos os séculos dos séculos. Amen. À luz da palavra de Deus, como se tornam tacanhos os desígnios humanos ao procurarem alterar o que Nosso Senhor estabeleceu!

Não devo, porém, ocultar-vos que agora se observa, por todo o lado, uma estranha capacidade do homem: nada conseguindo contra Deus, enfurece-se contra os outros sendo tremendo instrumento do mal, ocasião e indutor de pecado, semeador dum tipo de confusão que conduz a que se cometam acções intrinsecamente más, apresentando-as como boas.

Sempre houve ignorância: mas, hoje em dia, a ignorância mais brutal em matérias de fé e de moral disfarça-se, por vezes, com nomes pomposos aparentemente teológicos. Por isso, o mandato de Cristo aos Apóstolos - acabamos de ouvi-lo no Evangelho - alcança uma premente actualidade: ide, pois, ensinai todas as gentes. Não podemos desinteressar-nos, não podemos cruzar os braços, não podemos fechar-nos sobre nós mesmos. Acorramos a travar, por Deus, uma grande batalha de paz, de serenidade, de doutrina.

(cont)





Bento VXI – Pensamentos espirituais 33


Círculo


Quanto mais conheces Jesus, mais te sentes atraído pelo seu mistério; quanto mais O encontras, mais te sentes impelido a pro-curá-1'O.




Discurso aos seminaristas (19.Ago.05)

(in “Bento XVI, Pensamentos Espirituais”, Lucerna 2006)


Tratado do verbo encarnado 89

Art. 4 — Se a alma de Cristo tinha a omnipotência quanto à execução da própria vontade.

O quarto discute-se assim. — Parece que a alma de Cristo não tinha a omnipotência quanto à execução da própria vontade.

1. — Pois, diz o Evangelho que Jesus, tendo entrado numa casa, quis que ninguém o soubesse mas não pôde ocultar-se. Logo, não podia em tudo executar o propósito da sua vontade.

2. Demais. — Uma ordem é manifestação da vontade, como se disse na Primeira Parte. Ora, o Senhor mandou fazer algumas coisas, cujo contrário veio a acontecer. Assim refere o Evangelho, que aos cegos depois de terem recuperado a vista, Jesus os ameaçou dizendo: Vede lá que ninguém o saiba. Mas eles, saindo dali, divulgaram por toda aquela terra o seu nome. Logo, não podia em tudo executar o propósito da sua vontade.

3. Demais. — Não pedimos a outrem o que podemos fazer por nós mesmos. Ora, o Senhor pediu ao Pai, na sua oração, o que queria que fosse feito como se lê no Evangelho: Saiu ao monte a orar e passou toda a noite em oração a Deus. Logo, não podia executar em tudo o propósito da sua vontade.

Mas, em contrário, diz Agostinho: É impossível não se cumprir a vontade do Salvador, nem pode querer o que sabe não se dever fazer.

A alma de Cristo querer alguma coisa de dois modos pode. — Primeiro, como devendo realizá-la ela própria. E então, devemos dizer que pôde tudo quanto quis. Pois, não lhe conviria à sapiência quisesse fazer por si o que não estava ao alcance do seu poder. — De outro modo, podia querer uma coisa como devendo ser feita pela virtude divina como a ressurreição do seu próprio corpo e outras obras milagrosas semelhantes. As quais não podia por virtude própria, mas sim enquanto instrumento da divindade, como se disse.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Diz Agostinho, devemos afirmar que Cristo quis o que foi feito. Pois, é mister advertirmos que tais coisas se realizavam nos confins da gentilidade, aos quais ainda não era tempo de pregar. Embora fosse inveja não aceitar os que espontaneamente se apresentavam a receber a fé. Por isso não quis ser anunciado pelos seus discípulos, mas, sim ser procurado pelos gentios. E assim se fez. — Ou podemos dizer que essa vontade de Cristo não se referia ao que por ela se devia fazer, mas ao que devia ser feito por outros e que não dependia da sua vontade humana. Por isso na Epístola do Papa Ágato, recebida pelo Sexto Sínodo, se lê: Pois então ele, criador e Redentor de tudo, não podia viver escondido na terra? Não, se o entendemos em relação à sua vontade humana, que se dignou assumir temporalmente.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Como diz Gregório, mandando as suas virtudes calarem-se o Senhor deu-se como exemplo aos servos que o seguiam, para também eles terem o desejo de ocultar as suas, embora manifestassem contra a vontade deles os outros, para aproveitarem do seu exemplo. Assim, pois, a sua ordem manifestava-lhe a vontade de fugir à glória humana, segundo o Evangelho: Eu não busco a minha glória. Mas, absolutamente falando, queria, sobretudo pela vontade divina, que se publicasse o milagre feito, para utilidade dos outros.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo orava tanto para a realização do que devia ser feito por vontade divina, como para a do que havia de fazer pela sua vontade humana. Pois, a virtude e a operação da alma de Cristo dependiam de Deus, que é quem obra em nós o querer e o fazer, como diz o Apóstolo.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


Pequena agenda do cristão


TeRÇa-Feira

(Coisas muito simples, curtas, objectivas)






Propósito:
Aplicação no trabalho.

Senhor, ajuda-me a fazer o que devo, quando devo, empenhando-me em fazê-lo bem feito para to poder oferecer.

Lembrar-me:
Os que estão sem trabalho.

Senhor, lembra-te de tantos e tantas que procuram trabalho e não o encontram, provê às suas necessidades, dá-lhes esperança e confiança.

Pequeno exame:
Cumpri o propósito que me propus ontem?