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29/12/2015

Tratado da vida de Cristo 63

Questão 39: Do baptizado de Cristo

Em seguida devemos tratar do baptizado de Cristo. E nesta questão discutem-se oito artigos:


Art. 1 — Se devia Cristo ser baptizado.
Art. 2 — Se Cristo devia receber o baptismo de João.
Art. 3 — Se Cristo foi baptizado no tempo conveniente.
Art. 4 — Se Cristo devia ter sido baptizado no Jordão.
Art. 5 — Se no baptismo de Cristo os céus deviam abrir-se.
Art. 6 — Se é exacto dizer-se que o Espírito Santo desceu sobre Cristo baptizado em forma de pomba.
Art. 7 — Se a pomba, sob a forma da qual apareceu o Espírito Santo, era uma pomba verdadeira.
Art. 8 — Se convenientemente se fez ouvir, depois de Cristo baptizado, a palavra do Pai, proclamando o seu Filho.

Art. 1 — Se Cristo devia ser baptizado.

O primeiro discute-se assim. — Parece que Cristo não devia ser baptizado.


1. — Pois, o baptismo é uma ablução. Ora, desta não precisava Cristo, isento de qualquer impureza. Logo, parece que Cristo não devia ser baptizado.

2. Demais. — Cristo recebeu a circuncisão para cumprir a lei. Ora, o baptismo não era exigido pela lei. Logo, não devia ser baptizado.

3. Demais. — Em qualquer género de movimento o primeiro motor é imóvel; assim o céu, a causa primeira da alteração, não é susceptível de ser alterado. Ora, Cristo foi o primeiro que baptizou, segundo o Evangelho: Aquele sobre quem tu vires descer o Espírito Santo e repousar sobre ele, esse é o que baptiza. Logo, não convinha que ele próprio fosse baptizado. Mas, em contrário, o Evangelho diz, que Jesus veio da Galileia ao Jordão ter com João para ser baptizado por ele.

Cristo devia ser baptizado. - Primeiro, porque, como diz Ambrósio, o Senhor foi baptizado, não por querer purificar-se; mas para purificar as águas que, purificadas assim pelo corpo de Cristo, isento de pecado, pudessem servir para o baptismo e a fim de deixar para o futuro as águas santificadas para os que devessem ser baptizados, como ensina Crisóstomo. Segundo, porque, como diz Crisóstomo, embora Cristo não fosse pecador, contudo assumiu uma natureza pecadora e a semelhança da carne do pecado. Donde, embora não precisasse ele próprio de baptismo, contudo a natureza carnal dos outros precisava deste. E como diz Gregório Nazíanzeno, Cristo foi baptizado, para imergir na água todo o velho Adão. - Terceiro, Cristo quis ser baptizado, porque como diz Agostinho, quis fazer o que ordenou a todos fazerem. Tal o que significam as suas próprias palavras: Assim nos convém cumprir toda a justiça. Pois, como diz Ambrósio, a justiça exige que comecemos por fazer o que queremos que os outros façam e exortemos os outros a nos imitarem pelo nosso exemplo.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Cristo não foi baptizado para abluir-se, mas para abluir, como dissemos.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Cristo não só devia cumprir os preceitos da lei antiga: mas ainda dar início aos da nova. Por isso, não somente quis circuncidar-se, mas também baptizar-se.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Cristo foi o primeiro que conferiu o baptismo espiritual. E assim, não foi baptizado senão só em água.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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