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25/12/2015

O meu conto de Natal: Como são os olhos de um Pai?

Como são os olhos de um Pai?

Pergunta a um oftalmologista!
Não!
Pergunta a um filho!

Se lembro bem os olhos do meu Pai eram transparentes, quero dizer, lia-se neles como num livro aberto.

Percebia perfeitamente quando estava contente comigo ou, se o que eu fizera ou tinha dito, não eram do seu agrado.

Não usava lentes que aumentassem ou diminuíssem o seu afecto por mim, eram sempre o mesmo… quer dizer… comprazido ou algo decepcionado.

Os olhos do meu Pai eram, por assim dizer, o meu espelho onde podia ver com meridiana clareza “como andava a minha vida”.

Lembro-me que – deveria ter os meus catorze anos - 1954 - que é uma idade importante num rapaz – ter chegado a casa por altura das férias de Natal e de lhe ter oferecido com grande orgulho e satisfação pessoais, a minha “caderneta” com as “notas” do período escolar.

Eram óptimas notas, a média de dezoito valores atribuíra-me o terceiro lugar na minha classe.

Mas quando vi os olhos do meu Pai tive uma surpresa enorme: não mostravam nenhuma satisfação especial, talvez até, houvesse neles algum laivo de decepção.

Fiquei, penso eu com toda a justiça, alterado, e perguntei:

‘Mas… Pai… média de dezoito… o terceiro da aula!!!’

A resposta foi “demolidora”:

‘Bom… está bem! Mas houve pelo menos dois colegas teus que tiveram médias de dezanove e vinte, um terá ficado em segundo lugar e o outro terá sido o primeiro da classe!’

Fiquei sem palavras, sem explicação nenhuma que pudesse aduzir: o que o meu Pai acabara de dizer era absolutamente verdade!

Olhei os seus olhos de novo e então vi neles uma centelha de incentivo, de desafio.

A verdade é que, no período seguinte, pela Páscoa pude entregar-lhe a “caderneta” com média de vinte e classificação de primeiro da classe.

Os seus olhos então, disseram-me claramente:

‘Vês como eu tinha razão e tu podias…’

Os olhos de um Pai vêm muito… muitíssimo mais longe que os olhos de um filho!

ama, Dezembro 2015.

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