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01/12/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual



Tempo de Advento


Evangelho: Lc 10, 21-24

21 Naquela mesma hora Jesus exultou de alegria no Espírito Santo, e disse: «Graças Te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos simples. Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 22 Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém sabe quem é o Filho, senão o Pai, nem quem é o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho quiser revelar». 23 Depois, tendo-Se voltado para os discípulos, disse: «Felizes os olhos que vêem o que vós vedes. 24 Porque Eu vos afirmo que muitos profetas e reis desejaram ver o que vós vedes e não o viram, ouvir o que vós ouvis e não o ouviram».

Comentário:

Jesus Cristo confirma o que nós sabemos pela Fé: Ele é o Dono e Senhor de todas as coisas.
Um Senhor assim, que Se empenha na salvação e redenção definitivas dos Seus servos que somos todos os homens, merece e tem absoluto direito à nossa confiança, esperança e cumprirmos estrito dever de fazermos, em tudo, a Sua Vontade.
Esta Vontade é o penhor da nossa salvação, e fazê-la é a garantia de que a conseguiremos.
(AMA, comentário sobre Lc 10, 21-24, 2014.12.03)


Leitura espiritual


Resumos da Fé cristã

TEMA 35

O sexto mandamento do Decálogo

Deus é amor, e o seu amor é fecundo. Deus quis que a pessoa humana participasse desta fecundidade, associando a geração a um acto específico de amor entre o homem e a mulher.

1. Criou-os homem e mulher

A ordem de Deus ao homem e à mulher para «crescer e multiplicar-se», há-de ler-se na perspectiva da criação «à imagem e semelhança» da Trindade [i].
Isto faz com que a geração humana, no contexto mais vasto da sexualidade, não seja algo «puramente biológico», mas diga «respeito à pessoa humana como tal, no que ela tem de mais íntimo» [ii]; logo, é essencialmente diferente da própria vida animal.

«Deus é amor» [iii] e o seu amor é fecundo.
Nesta fecundidade, quis Deus que a pessoa humana participasse, associando à geração de cada nova pessoa um acto específico de amor entre um homem e uma mulher [iv].
Por isso, «o sexo não é uma realidade vergonhosa; é uma dádiva divina que se orienta limpidamente para a vida, para o amor, para a fecundidade» [v].

Sendo o homem um indivíduo composto de corpo e alma, o acto amoroso generativo exige a participação de todas as dimensões da pessoa: a corporeidade, os afectos, o espírito [vi].

O pecado original quebrou a harmonia do homem consigo mesmo e com os outros.
Esta fractura teve particular repercussão na capacidade da pessoa viver racionalmente a sexualidade.
Por um lado, obscurecendo na inteligência o nexo inseparável que existe entre as dimensões afectivas e generativas da união conjugal; por outro lado, dificultando o domínio que a vontade exerce sobre os dinamismos afectivos e corporais da sexualidade.

A necessidade de purificação e maturidade que a sexualidade exige nestas condições não significa de modo algum a sua rejeição, ou uma consideração negativa deste dom que o homem e a mulher receberam de Deus.
Significa, isso sim, a necessidade de que «o amor – o eros – possa amadurecer até à sua verdadeira grandeza» [vii].
Nesta tarefa joga um papel fundamental a virtude da castidade.

2. A vocação para a castidade

O Catecismo da Doutrina Católica fala de vocação para a castidade, porque esta virtude é condição e parte essencial da vocação para o amor, para o dom de si, ao qual Deus chama cada pessoa.
A castidade torna possível o amor na corporeidade e através dela [viii].
De algum modo, pode-se dizer que a castidade é a virtude que possibilita e conduz a pessoa humana na arte de viver bem, na benevolência e na paz interior com os outros homens e mulheres e consigo mesmo; visto que a sexualidade humana atravessa todas as potências, do mais físico e material ao mais espiritual, colorindo as diversas faculdades no masculino e feminino.

A virtude da castidade não é simplesmente um remédio contra a desordem que o pecado origina na esfera sexual, mas uma afirmação gozosa, porque permite amar a Deus e, através d’Ele, os outros homens, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças  [ix], [x].

«A virtude da castidade gira na órbita da virtude cardeal da temperança» [xi] e «significa a integração conseguida da sexualidade na pessoa, e daí a unidade interior do homem no seu ser corporal e espiritual» [xii].

É muito importante na formação das pessoas, sobretudo dos jovens, falar da castidade, explicando a profunda e estreita relação entre a capacidade de amar, a sexualidade e a procriação.
Se não for assim, pode parecer que se trata duma virtude negativa, já que boa parte da luta por viver a castidade caracteriza-se pela tentativa de dominar as paixões, que nalgumas circunstâncias se orientam para bens particulares que não são ordenáveis racionalmente em função do bem da pessoa considerada como um todo [xiii].

No estado actual, o homem não pode viver a lei moral, e por conseguinte a castidade, sem a ajuda da graça.
Isto não significa a impossibilidade da virtude humana ser incapaz de conseguir um certo controlo das paixões nesta área, mas sim a constatação da magnitude da ferida produzida pelo pecado, a qual exige o auxílio divino para a perfeita reintegração da pessoa [xiv].

3. A educação da castidade

A castidade exige o domínio da concupiscência, que é parte integrante do domínio de si. Este domínio é uma tarefa que dura a vida inteira e supõe esforço reiterado que pode ser especialmente intenso nalgumas épocas. A castidade deve crescer sempre, com a graça de Deus e a luta ascética [xv], [xvi].

«A caridade é a forma de todas as virtudes. Sob a sua influência, a castidade aparece como uma escola de doação da pessoa. O domínio de si ordena-se para o dom de si» [xvii].

A educação da castidade é muito mais do que alguns denominam “educação sexual”, que se ocupa fundamentalmente de proporcionar informação sobre os aspectos fisiológicos da reprodução humana e os métodos contraceptivos.
A verdadeira educação da castidade não se limita a informar sobre aspectos biológicos, mas ajuda a reflectir sobre os valores pessoais e morais que entram em jogo em tudo o que se relaciona com o nascimento da vida humana e a maturidade pessoal. Por outro lado, fomenta grandes ideais de amor a Deus e aos outros através do exercício das virtudes da generosidade, do dom de si, do pudor que protege a intimidade, etc., os quais ajudam a pessoa a superar o egoísmo e a tentação de se fechar sobre si mesma.

Neste empenho, os pais têm grande responsabilidade, visto que são os primeiros e principais mestres na formação da castidade dos seus filhos [xviii].

Meios importantes na luta por viver esta virtude:

a) A oração: pedir a Deus a virtude da santa pureza [xix] e a frequência dos sacramentos são os remédios para a nossa debilidade;

b) Trabalho intenso, evitar o ócio;

c) Moderação na comida e na bebida;

d) Cuidado dos pormenores de pudor e modéstia no vestuário, etc.;

e) Rejeitar as leituras de livros, revistas e jornais inconvenientes; e evitar os espectáculos imorais;

f) Muita sinceridade na direcção espiritual;

g) Esquecer-se de si próprio;

h) Ter uma grande devoção a Maria Santíssima, Mater pulchrae dilectionis (Mãe do Amor formoso).

(cont)




[i] cf. Gn 1
[ii] Catecismo , 2361
[iii] 1Jo 4, 8
[iv] Cada um dos dois sexos é, com igual dignidade, embora de modo diferente, imagem do poder e da ternura de Deus. A união do homem e da mulher no matrimónio é um modo de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador: “O homem deixará o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e os dois serão uma só carne” (Gn 2, 24). Desta união procedem todas as gerações humanas (cf. Gn 4, 1-2.25-26; 5, 1)» (Catecismo, 2335).
[v] S. Josemaria, Cristo que Passa, 24.
[vi] Se o homem aspira a ser somente espírito e quer rejeitar a carne como uma herança apenas animalesca, então espírito e corpo perdem a sua dignidade. E se ele, por outro lado, renega o espírito e consequentemente considera a matéria, o corpo, como realidade exclusiva, perde igualmente a sua grandeza» (Bento XVI, Enc. Deus Caritas Est , 25-XII-2005, 5).
[vii] Certamente «o eros quer elevar-nos “em êxtase” para o Divino, conduzir-nos para além de nós próprios, mas por isso mesmo requer um caminho de ascese, renúncias, purificações e saneamentos» (Ibidem)
[viii] Deus é amor e vive em si mesmo um mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-a à sua imagem e conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da mulher a vocação, e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da comunhão» (João Paulo II, Ex. Ap. Familiaris Consortio, 22-XI-1981, 11).
[ix] cf. Mc 12, 30
[x] A castidade é a afirmação gozosa de quem sabe viver o dom de si, livre de toda a escravidão egoísta» (Conselho Pontifício para a Família, Sexualidade humana: verdade e significado, 8-XII-1995, 17). «A pureza é consequência do amor com que entregámos ao Senhor a alma e o corpo, as potências e os sentidos. Não é uma negação; é uma alegre afirmação». (S. Josemaria, Cristo que Passa, 5).
[xi] Catecismo, 2341
[xii] Catecismo, 2337
[xiii] «A castidade implica uma aprendizagem do domínio de si, que é uma pedagogia da liberdade humana. A alternativa é clara: ou o homem comanda as suas paixões e alcança a paz, ou se deixa dominar por elas e torna-se infeliz (cf. Sir 1, 22.). “A dignidade do homem exige que ele proceda segundo uma opção consciente e livre, isto é, movido e determinado por uma convicção pessoal e não sob a pressão de um cego impulso interior ou da mera coacção externa. O homem atinge esta dignidade quando, libertando-se de toda a escravidão das paixões, prossegue o seu fim na livre escolha do bem e se procura de modo eficaz e com diligente iniciativa os meios adequados” (Gaudium et Spes, 17)» (Catecismo, 2339).
[xiv] «A castidade é uma virtude moral. Mas é também um dom de Deus, uma graça, um fruto do trabalho espiritual (cf. Gl 5, 22). O Espírito Santo concede a graça de imitar a pureza de Cristo (cf. 1 Jo 3,3) àquele que regenerou pela água do Baptismo» (Catecismo, 2345).
[xv] cf. Catecismo, 2342
[xvi] A maturidade da pessoa humana inclui o domínio de si, que supõe o pudor, a temperança, o respeito e abertura aos outros (cf. Congregação para a Educação Católica, Orientações educativas sobre o amor humano, 1-XI-1983, 35).
[xvii] Catecismo, 2346
[xviii] Este aspecto da educação tem hoje maior importância do que no passado, já que são muitos os modelos negativos que a sociedade actual apresenta (cf. Conselho Pontifício para a Família, Sexualidade humana: verdade e significado, 8-XII-1995, 47). «Diante de uma cultura que «banaliza» em grande parte a sexualidade humana, porque a interpreta e a vive de maneira limitada e empobrecida coligando-a unicamente ao corpo e ao prazer egoístico, o serviço educativo dos pais deve dirigir-se com firmeza para uma cultura sexual que seja verdadeira e plenamente pessoal» (João Paulo II, Ex. Ap. Familiaris Consortio, 37).
[xix] «Deus concede a santa pureza aos que Lha pedem com humildade» (S. Josemaria, Caminho, 118).

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