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17/11/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual



Tempo comum XXXIII Semana


Evangelho: Lc 19, 1-10

1 Tendo entrado em Jericó, atravessava a cidade. 2 Eis que um homem chamado Zaqueu, que era chefe dos publicanos e rico, 3 procurava conhecer de vista Jesus, mas não podia por causa da multidão, porque era pequeno de estatura. 4 Correndo adiante, subiu a um sicómoro para O ver, porque havia de passar por ali. 5 Quando chegou Jesus àquele lugar, levantou os olhos e disse-lhe: «Zaqueu, desce depressa, porque convém que Eu fique hoje em tua casa». 6 Ele desceu a toda a pressa, e recebeu-O alegremente. 7 Vendo isto, todos murmuravam, dizendo: «Foi hospedar-Se em casa de um homem pecador». 8 Entretanto, Zaqueu, de pé diante do Senhor, disse-Lhe: «Eis, Senhor, que dou aos pobres metade dos meus bens e, naquilo em que tiver defraudado alguém, restituir-lhe-ei o quádruplo». 9 Jesus disse-lhe: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque este também é filho de Abraão. 10 Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o que estava perdido».

Comentário:

No mesmo mês de Novembro a Liturgia oferece-nos outra vez este trecho do Evangelho de São Lucas. Não o faz pela beleza do escrito – que indubitavelmente tem – mas para que se grave bem em nós a bondade que o Senhor usa para com aqueles que O procuram e não desistem de o fazer sejam quais forem os obstáculos que possam querer impedi-lo.

O que pode começar por simples curiosidade transformar-se-á numa mudança radical da própria vida e, sobretudo, do comportamento pessoal.

O Senhor, cuja generosidade não conhece limites, retribui sempre com extrema largueza o pouco ou muito que queiramos oferecer-lhe.

(ama, comentário sobre Lc 19, 1-10, 2013.11.19)



Leitura espiritual



A PACIÊNCIA
…/9

‘Mais de uma vez – acrescenta a filha – tenho esclarecido em público que eu não seria o que hoje sou, se não tivesse recebido a educação que meus pais me deram, se não tivesse tido o seu exemplo em face de tantas contrariedades e situações difíceis – entre elas a morte de dois filhos – por que Deus permitiu que passassem’ [i]

Essa perspectiva de tantos anos de entrega constante e amorosa dos pais iluminou aos olhos dessa mulher as suas próprias raízes.
Entendeu-se melhor a si mesma, projectando as suas lembranças sobre o fundo luminoso da dedicação paciente, contínua, calada, carinhosa de seus pais cristãos.

OS FRUTOS DOURADOS DA PACIÊNCIA

Ao captar mais lucidamente a riqueza do exemplo dos pais, Maria Antónia pôde compreender também uma dimensão preciosa da virtude da paciência, de que agora nos vamos ocupar: a da fidelidade persistente, que é feita de amor generoso e constante; uma paciência que não se cansa do sacrifício, que não tem pressa em cobrar resultados, que não desanima quando os esforços parecem baldados e os frutos ainda não se vêm.
Esta era a paciência que brilhava, com seu halo doce e envolvente, na recordação dos pais.

Todos nós temos experiência de quanto custa persistir nos esforços ou atitudes que exigem sacrifícios continuados e não trazem compensações imediatas.
Não é fácil lutar, manter-se firme no empenho, e ver que tudo demora a realizar-se, a concluir-se, a chegar.

A nossa paciência é testada sempre que temos de aguardar, esperar, voltar, tentar uma e outra vez: desde a interminável espera num consultório dentário até o desgosto do casal de namorados que precisa adiar de novo a data do casamento, porque não têm condições de financiar o apartamento.
Com razão diz Hildebrand que “a impaciência se relaciona sempre com o tempo. [ii]
Mas todo aquele que quiser conseguir alguma coisa de real valor na vida, não terá outro remédio senão armar-se de paciência e esperar. Demora-se, necessariamente, a ser um profissional experiente; demora-se a amadurecer por dentro até corrigir pelo menos alguns dos defeitos pessoais; demora-se a suavizar arestas no casamento e, aos poucos, ir-se ajustando à base de mútuos perdões e sorridentes renúncias; demora-se a criar um bom ambiente familiar; demora a vida inteira a autêntica formação dos filhos.

‘Aprendi a esperar – dizia Mons. Escrivá –; não é pouca ciência’.
Mas é importante termos muito presente que esse “esperar” não significa “aguardar” passivamente.
Consiste, como estamos vendo, em persistir fiel e confiadamente no cumprimento da nossa missão, do nosso dever – do dever religioso, moral, familiar, profissional... –, durante todo o tempo que for preciso, com aquela convicção que animava Santa Teresa: “A paciência tudo alcança”.

A essa paciente espera se refere o Apóstolo São Tiago, quando nos põe diante dos olhos a imagem do lavrador: Tende, pois, paciência, meus irmãos [...]. Vede o lavrador: ele aguarda o precioso fruto da terra e tem paciência até receber a chuva do outono e a da primavera. Tende também vós paciência e fortalecei os vossos corações [iii].

Não é verdade que estas palavras nos lembram muitas coisas pessoais?
Os frutos dourados da vida só se conseguem com uma luta constante, unida a uma paciência fiel.
Mas quanto custa seguir o conselho do Apóstolo!
Muitas vezes já fomos como aquela criança a quem a mãe tinha oferecido uma planta que, com o tempo, iria dar flores.
“Mas, quando os botões surgiram, não sabíamos esperar que abrissem. Colaborávamos no seu desabrochar triturando-as, separando talvez as pétalas, para que a floração fosse mais rápida. Nódoas escuras apareciam então, e as flores estiolavam, murchavam...” [iv]
Quantas coisas, na vida, não estiolam por cansaços impacientes que nos levam a desistir!
Na vida familiar, os exemplos são gritantes.
Talvez hoje seja mais necessário do que nunca recordar aos casais que a felicidade que procuram, sem saber bem como achá-la, nunca a conseguirão como fruto do egoísmo defendido de qualquer incómodo, mas como fruto do amor fielmente paciente, do amor cristão.
E da mesma coisa deveriam lembrar-se todos os que começaram alguma vez, movidos por um alegre impulso da graça, a esforçar-se decididamente por viver o ideal e as virtudes cristãs.
A maior ameaça contra esse bom propósito, mais do que nas fraquezas e nas reincidências no erro, encontra-se no cansaço, na sensação de que “não adianta continuar”, ou de que “custa demais conseguir”, ou seja, na falta de paciência para ir avançando aos poucos, à força de começar e recomeçar.

Nós gostamos de que as coisas nos sejam dadas logo. Deus sabe que as almas e as coisas precisam ter as suas estações.
Temos que aprender, por isso, a ser bons semeadores, que esperam a colheita sem pressas inquietas e perseveram sem desânimos exaustos.

Semear é duro.
É enterrar o grão e nada ver. Isso exige fé e desprendimento.
Eu dou a semente do meu esforço, do meu empenho, do meu sacrifício, da minha oração, e espero, vigilante, até que dê o seu fruto, enquanto continuo, solícito, a zelar pelo campo: rego, limpo, podo, adubo, protejo...
Só com essa paciência activa é que um dia virá o fruto: o fruto da fé, amadurecida a partir da persistência na oração, nos sacramentos, na formação; o fruto dos valores cristãos finalmente arraigados nos filhos; o fruto das virtudes pessoais que desabrocham e se firmam; os frutos do apostolado.

Todos nós já exclamamos mais de uma vez: ‘Que paciência!’, ao admirarmos obras humanas magníficas, que só se explicam por uma longa aplicação, por um trabalho meticuloso, prolongado e imensamente paciente.
É assim que louvamos, por exemplo, os bordados delicadíssimos e artísticos de uma enorme toalha de mesa feita à mão.
É assim também que admiramos o trabalho da vida inteira de um pesquisador, que foi coligindo, exaustivamente, um incrível acervo de dados sobre uma matéria até então ainda não estudada.
– ´Que paciência!’, dizemos.
Pois bem, uma paciência igual, pelo menos, e um esmero e uma tenacidade análogos, são os que Deus nos pede para cultivarmos em nós e à nossa volta a vida e as virtudes cristãs.

A paciência produz a virtude comprovada, diz São Paulo [v].
E São Tiago repisa o mesmo ensinamento ao escrever:
É preciso que a paciência efectue a sua obra, a fim de serdes perfeitos e íntegros, sem fraqueza alguma [vi].
Pela vossa paciência possuireis as vossas almas, havia já dito Jesus [vii].

É muito sugestivo o facto de que, nesses três textos, como em tantos outros da Bíblia, a mesma palavra que significa paciência inclua também o sentido de perseverança, de persistência fiel.

(cont.)

FRANCISCO FAUS, [viii] A PACIÊNCIA, 2ª edição, QUADRANTE, São Paulo 1998

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] maria antónia virgili, Jornal El Norte de Castilla, Valladolid, 16.05.1992.
[ii] dietrich von hildebrand, A nossa transformação em Cristo, Aster, Lisboa, 1960, pág. 204.

[iii] Ti 5, 7-8
[iv] Romano Guardini, O Deus vivo, Aster, Lisboa, s/d, pág. 71.
[v] Rom 5, 4
[vi] Ti 1, 4
[vii] Lc 21, 19
[viii] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canónico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na colecção Temas Cristãos, entre outros, os títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.

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