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14/11/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual




Tempo comum XXXII Semana


Evangelho: Lc 18, 1-8

1 Disse-lhes também uma parábola, para mostrar que importa orar sempre e não cessar de o fazer: 2 «Havia em certa cidade um juiz que não temia a Deus nem respeitava os homens. 3 Havia também na mesma cidade uma viúva, que ia ter com ele, dizendo: Faz-me justiça contra o meu adversário. 4 Ele, durante muito tempo, não a quis atender. Mas, depois disse consigo: Ainda que eu não tema a Deus nem respeite os homens, 5 todavia, visto que esta viúva me importuna, far-lhe-ei justiça, para que não venha continuamente importunar-me». 6 Então o Senhor acrescentou: «Ouvi o que diz este juiz iníquo. 7 E Deus não fará justiça aos Seus escolhidos, que a Ele clamam dia e noite, e tardará em socorrê-los? 8 Digo-vos que depressa lhes fará justiça. Mas, quando vier o Filho do Homem, julgais vós que encontrará fé sobre a terra?».

Comentário:

Muitos autores espirituais têm versado este tema da oração perseverante e fazem-no, na convicção íntima e na certeza absoluta que o Senhor não Se engana nem pode enganar-nos.

Ele próprio insistiu nesta necessidade de orar sem descanso e, mais, garantindo que Deus, que gosta de ser instado, não deixará nunca de atender ao que pedimos.

Parece, contudo, que há alguma tendência, absolutamente natural, para considerar que essa perseverança se aplica, sobretudo, à petição quando, na verdade, temos muito mais a agradecer do que pedir.

Talvez que, para “resolver” o assunto, devamos pedir perseverantemente ao Senhor que nos ajude a ser agradecidos e, Ele, com a nossa atitude, não deixará de nos dar o que necessitamos.

(ama comentário sobre Lc 18, 1-8, 2013.10.20)



Leitura espiritual



A PACIÊNCIA
…/6

Como vemos, nem essa boa mãe, nem as outras pessoas acima evocadas como exemplo, conseguiam viver a paciência à base de truques de “pensamento positivo”, mas de esforços de fé e de amor cristão. De maneira que, sem terem a mínima noção disso, todas elas estavam dando a razão a São Tomás de Aquino que, com o seu habitual laconismo, sintetizou assim a questão:
Manifestum est quod patientia a caritate causatur – “é evidente que a paciência é causada pelo amor”, ou, por outras palavras que traduzem com igual precisão as do santo: “Só o amor é causa da paciência” [i]

HISTÓRIAS DE AMOR PACIENTE

O AMOR QUE SABE SOFRER

Víamos no começo que a paciência é a arte de sofrer.
Depois das considerações que acabamos de fazer, pode-se modificar um pouco esse enunciado e dizer que a paciência é o amor que sabe sofrer.

Uma das coisas mais comoventes e edificantes do mundo é ter conhecido uma pessoa que, durante longo tempo, soube sofrer com amor.
Nenhuma teoria, nenhuma ciência, nenhum livro nos pode ensinar melhor do que ela o que é a beleza e a grandeza da paciência.
É bem certo que poucas realidades mostram tão bem a presença de Deus e a marca da sua graça num ser humano como o faz – quase que por transparência – o bom sofredor, o sofredor amoroso, sereno e esquecido de si mesmo.

Não é por acaso que São Paulo, quando começa a enumerar as qualidades do amor cristão, como quem apresenta as facetas de uma pedra preciosa, menciona em primeiro lugar que a caridade é paciente, e remata os elogios dizendo que a caridade tudo sofre [ii].
A vida dos santos, ou simplesmente a vida dos homens e mulheres bons, que optaram por transformar a sua existência numa amorosa tarefa de edificar, confirma o que Deus nos diz por meio de São Paulo.

Por isso, como o exemplo é o melhor livro e o testemunho vivido a mais pedagógica das escolas, vamos adentrar neste novo capítulo em quatro histórias de amor paciente ou, para sermos mais precisos, vamos relatar numas poucas pinceladas alguns episódios significativos de quatro vidas que souberam encarnar o amor paciente.

Dos dois primeiros casos, quem escreve estas páginas foi, em parte, testemunha presencial.

Os outros dois, conhece-os pela tocante narração de um médico.

UM MESTRE DE BOM HUMOR

Durante dois anos, tive o privilégio – seria mais exato dizer a graça – de conviver em Roma com o Fundador do Opus Dei, o Bem-aventurado Josemaría Escrivá.

Muito alegre e desportivamente, uns cento e vinte alunos do Colégio Romano da Santa Cruz acomodávamo-nos como podíamos nos escassos e surrealistas espaços de um prédio ainda em construção. Mas, para nós, o sol raiava todos os dias, mesmo quando a Cidade Eterna se cobria de nuvens, porque saboreávamos a experiência de estar convivendo com um santo.

Todos os biógrafos de Mons. Escrivá, hoje já numerosos, coincidem em afirmar que uma das características da sua personalidade era a alegria, patenteada num constante bom humor. Um desses biógrafos dá justamente o título de Mestre de bom humor à obra de recordações pessoais que lhe dedica. [iii]

Os que convivemos durante algum tempo com ele somos testemunhas de que esse título é exacto.

Quase diariamente, os alunos do Colégio Romano da Santa Cruz, anexo então à sede central do Opus Dei em Roma, tínhamos a feliz oportunidade de estar e de conversar uns bons momentos com Mons. Escrivá.
Eu, que chegara a Roma em Outubro de 1953 e só sairia de lá no fim do ano lectivo de 1955, guardo a viva lembrança do Fundador do Opus Dei como um sacerdote inflamado em amor de Deus, amor que fundia maravilhosamente com um enorme carinho humano, sempre sorridente, sempre otimista, sempre vibrante, sempre bem- disposto.

Todos os que o conhecíamos de perto víamos nele a extraordinária harmonia das diversas virtudes cristãs – mesmo das aparentemente contraditórias, como a mais terna compreensão e a firmeza mais exigente –, a erguer-se como picos elevados na cordilheira compacta da sua vida santa.
Pois bem, um desses cumes elevados era, sem dúvida alguma, a paciência.
Esta virtude manifestava-se, no dia-a-dia, de diversas formas; uma das mais patentes era a equanimidade que se percebia a todas as horas e em todas as circunstâncias.
Equanimidade, ou seja, igualdade de ânimo, boa disposição permanente, que atraía com força irradiante e estimulava a imitá-lo.

Não é que tudo fosse um mar calmo à sua volta, nem que ele – homem de temperamento vivo, sensível e ardente – fosse impassível. Mesmo sem conhecermos muitos detalhes, todos nós tínhamos noção das dificuldades grandes que o Padre – assim o chamávamos – tivera e tinha que enfrentar para levar a Obra de Deus para a frente. Sabíamos em parte, ou imaginávamos saber, o calibre das provações e sofrimentos por que Deus permitiu que passasse, forjando-lhe assim a têmpera do santo: incompreensões dolorosas, incríveis calúnias, perseguições, carência absoluta de meios materiais...
Contradições brutais, que acabaram por deixar a sua farpa na saúde do Padre.

Desde os anos quarenta, de facto, padecia de uma séria diabete mellitus.
Mas, se alguém nos perguntasse:
– ‘Como vai a saúde do Padre?’, teríamos respondido, com a maior naturalidade: – ‘Ora, graças a Deus, vai muito bem’.

E, com efeito, era assim mesmo que víamos o Fundador: muito bem.
Todos os dias nos deixava a imagem de um homem cheio de Deus e plectórico de humanidade, transbordante de alegria e de dinamismo.

TUDO CABE NUM SORRISO POR AMOR A DEUS

Por isso, a todos nos surpreendeu, como um choque inesperado, a notícia de que tivemos conhecimento na primavera de 1954.
O Padre, no dia 27 de Abril, estivera a ponto de morrer. Uma crise de saúde muito forte só não o levara por um triz.

Perguntávamo-nos, no primeiro momento, que tipo de achaque podia tê-lo acometido.
Nem nos passava pela mente a ideia de que poderia ter sido – como de facto foi – uma crise devida à própria diabetes.
Para nós, “diabetes” era uma palavra ouvida alguma vez, mas já arquivada no esquecimento.
Nada notávamos, o Padre de nada se queixava nem com a palavra nem com a expressão do rosto e, por isso, nada nos preocupava.
Não sabíamos que, na verdade, durante todos aqueles meses felizes, vividos junto de um Padre que irradiava dinamismo e felicidade, Mons. Escrivá estivera atravessando uma das piores fases da sua doença.

Assim descreve Vázquez de Prada o que na realidade se estava passando naquele período:
“Trabalhava e mexia-se como se estivesse bem de saúde: sem o cansaço que o medo produz, livre da psicose de febre que amiúde excita os enfermos ou os deprime. Para o caso de que chegasse em qualquer momento a sua hora, tinha tomado precauções. Fez colocar uma campainha junto da cabeceira da sua cama, para pedir os sacramentos. Deitava-se com a mente posta em Deus:
Senhor – dizia –, não sei se me levantarei amanhã; dou-te graças pela vida que me deres e estou contente de morrer em teus braços. Espero na tua misericórdia.

“Custava-lhe sorrir; mas os seus filhos recordam-no sempre com o sorriso nos lábios. A doença deparava-lhe surpresas variadas: um dia, não se tinha em pé; outro, sobrevinha-lhe uma infecção furibunda; na semana seguinte, falhava-lhe o olho direito...

“Tomava com alegria e paciência as peças que lhe pregavam as suas indisposições [...]. Nas viagens, não tinha outro remédio senão carregar com o seu pequeno arsenal de botica. Assim andaram as coisas, até que o Dr. Faelli resolveu tentar uma variante no tipo de medicação, prescrevendo-lhe insulina retardada. O P. Álvaro, que conhecia perfeitamente o tratamento, as quantidades e o seu efeito, acertou a nova dose.
Tudo andou bem por dois ou três dias, embora seja possível que o enfermo se tivesse sensibilizado com a mudança”[iv]

(cont.)

FRANCISCO FAUS, [v] A PACIÊNCIA, 2ª edição, QUADRANTE, São Paulo 1998

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Suma Teológica, II-II, q. 136, a. 3, c.].
[ii] cf. 1 Cor 13, 4.7
[iii] José Luis Soria, Maestro de buen humor, Rialp, Madrid, 1994.
[iv] andrés vázquez de prada, O Fundador do Opus Dei, Quadrante, São Paulo, 1989, págs. 325-326.

[v] Francisco Faus é licenciado em Direito pela Universidade de Barcelona e Doutor em Direito Canônico pela Universidade de São Tomás de Aquino de Roma. Ordenado sacerdote em 1955, reside em São Paulo, onde exerce uma intensa atividade de atenção espiritual entre estudantes universitários e profissionais. Autor de diversas obras literárias, algumas delas premiadas, já publicou na coleção Temas Cristãos, entre outros, os títulos O valor das dificuldades, O homem bom, Lágrimas de Cristo, lágrimas dos homens, Maria, a mãe de Jesus, A voz da consciência e A paz na família.

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