Páginas

08/09/2015

Tratado da vida de Cristo 33

Questão 34: Da perfeição do filho concebido

Em seguida devemos tratar da concepção do filho concebido.

E nesta questão discutem-se quatro artigos:

Art. 1 — Se Cristo foi santificado no primeiro instante da sua concepção.
Art. 2 — Se Cristo, como homem, teve o uso do livre-arbítrio no primeiro instante da sua concepção.
Art. 3 — Se Cristo, no primeiro instante da sua concepção, podia merecer.
Art. 4 — Se Cristo, no primeiro instante da sua concepção, gozou plenamente da visão beatífica.

Art. 1 — Se Cristo foi santificado no primeiro instante da sua concepção.

 O primeiro discute-se assim. — Parece que Cristo não foi santificado no primeiro instante da sua concepção.

1. — Pois, diz o Apóstolo: primeiro não o que é espiritual, senão o que é animal; depois o que é espiritual. Ora, a santificação da graça pertence ao espiritual. Logo, Cristo não recebeu a graça da santificação imediatamente, desde o princípio da sua concepção, mas depois de um certo espaço de tempo.

2. Demais. — Nós santificamo-nos do pecado, conforme aquilo do Apóstolo: E tais haveis sido alguns, isto é, pecadores, mas haveis sido justificados. Ora em Cristo nunca houve pecado. Logo, não devia ser santificado pela graça.

3. Demais. — Assim como todas as coisas foram feitas pelo Verbo de Deus, assim pelo Verbo encarnado todos os homens foram santificados, que são santificados, como diz o Apóstolo: O que santifica e os que são santificados todos veem de um mesmo princípio. Ora, o Verbo de Deus, por quem foram feitas todas as coisas, não foi feito, como diz Agostinho. Logo, Cristo, por quem todos são santificados, não foi santificado.

Mas, em contrário, o Evangelho: O santo, que há-de nascer de ti, será chamado Filho de Deus. E noutro lugar: A quem o Pai santificou e enviou ao mundo.

Como dissemos, a abundância da graça santificante da alma de Cristo derivou da própria união com c Verbo, segundo o Evangelho: Nós vimos a sua glória, como de Filho unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade. Pois, como já demonstramos, no primeiro instante da sua concepção o corpo de Cristo foi animado e assumido pelo Verbo de Deus. Donde e consequentemente, Cristo teve a plenitude da graça que lhe santificou o corpo e a alma no primeiro instante da sua concepção.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. - A ordem expressa pelo Apóstolo respeita aqueles que progridem até chegar ao estado espiritual. Ora, no mistério da Encarnação consideramos, antes, o descenso da divina plenitude à natureza humana, que um progresso da natureza humana, suposta preexistente, até Deus. Por isso, o homem Cristo teve, desde o princípio, o estado espiritual do homem.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Ser santificado é tornar-se uma coisa santa. Ora, uma coisa vem a ser, não somente partindo de um estado contrário, mas também de um termo contrário simplesmente negativo ou privativo; assim, o branco vem do preto e também do não branco. Ora, nós, de pecadores, tornamo-nos santos; e assim, a nossa santificação tem no pecado a sua causa. Ora, Cristo, enquanto homem, foi santificado, pois, nem sempre teve a santidade da graça; mas não se tornou santo, de pecador que antes fosse, porque nunca teve pecado. Santificou-se, portanto, de não santo que era, enquanto homem; não privativamente, como se antes, tendo sido homem, não tivesse sido santo; mas negativamente, isto é, porque enquanto não foi homem não teve a santidade humana. Donde, foi simultaneamente feito homem e homem santo. Por isso disse o Anjo: O santo que há-de nascer de ti. Expondo o que, diz Gregório: Afirma-se que Jesus nascerá santo, para distinguir a sua da nossa santidade; pois, nós, se nos tornamos santos, não nascemos santos, por estarmos sujeitos à condição de uma natureza corruptível. Mas só aquele verdadeiramente nasceu santo, que foi concebido sem o congresso sexual.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O Pai produz a criação das coisas pelo Filho de um modo, e toda a Trindade de outro, a santificação dos homens, pelo homem Cristo. Pois, o Verbo de Deus tem uma operação da mesma virtude que a de Deus Pai; e assim, o Pai não opera pelo Filho, como por um instrumento movido, que move. Mas, a humanidade de Cristo, é como o instrumento da divindade no sentido explicado antes. Donde, a humanidade de Cristo é santificante e santificada.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.