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25/08/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual

Tempo comum XXI Semana


Evangelho: Mt 23, 23-26

23 «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã e do endro e do cominho, e descuidais as coisas mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fidelidade! São estas coisas que era preciso praticar, sem omitir as outras. 24 Condutores cegos, que filtrais um mosquito e engolis um camelo! 25 «Ai de vós, escribas e fariseus hipócritas, que limpais o que está por fora do copo e do prato, e por dentro estais cheios de rapina e de imundície! 26 Fariseu cego, purifica primeiro o que está dentro do copo e do prato, para que também o que está fora fique limpo.

Comentário:

Jesus Cristo não deixa de denunciar a duplicidade e a hipocrisia como defeitos a ter muito em conta sobretudo quando se trata de seguir os conselhos ou orientações de outrem.
A escolha da direcção espiritual, sobretudo, tem de obedecer a um cuidado e critério rigorosos. Há absoluta necessidade de nos informarmos a respeito da pessoa, da credibilidade que oferece e das garantias de possuir sã doutrina.
De facto, não devemos esquecer que há 'lobos com pele de cordeiro', e a prudência e a contenção são inimigas da ingenuidade ou da precipitação

(AMA, Comentário sobre Mt 23, 23-26, 2012.08.28)


Leitura espiritual




CRISTO QUE PASSA


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A fé, o amor e a esperança de José

A justiça não consiste na mera submissão a uma regra; a rectidão deve nascer de dentro, deve ser profunda, vital, porque o justo vive da fé.
Viver da fé: estas palavras que foram, mais tarde, tema frequente de meditação para o apóstolo S. Paulo, vêem-se realizadas superabundantemente em S. José.
O seu cumprimento da vontade de Deus não é rotineiro nem formalista, mas espontâneo e profundo.
A lei que todo o judeu praticante vivia não foi para ele um simples código nem uma fria recompilação de preceitos, mas expressão da vontade de Deus vivo.
Por isso, soube reconhecer a voz do Senhor quando esta se lhe manifestou inesperada e surpreendente.

A história do Santo Patriarca foi uma vida simples, mas não uma vida fácil.
Depois de momentos angustiosos, sabe que o Filho de Maria foi concebido por obra do Espírito Santo.
E esse Menino, Filho de Deus, descendente de David segundo a carne, nasce numa gruta.
Os anjos celebram o seu nascimento e personalidades de terras longínquas vêm adorá-Lo, mas o rei da Judeia deseja a sua morte e é necessário fugir.
O Filho de Deus é um menino aparentemente indefeso que terá de viver no Egipto.

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S. Mateus, ao narrar estas cenas no seu Evangelho, põe constantemente em destaque a fidelidade de José, que cumpre sem vacilações os mandatos de Deus, embora por vezes o sentido desses mandatos lhe possa parecer obscuro ou se lhe oculte a sua conexão com o resto dos planos divinos.

Em muitas ocasiões os Padres da Igreja e os autores espirituais fazem ressaltar a firmeza da fé de José.
Referindo-se às palavras do Anjo que lhe ordena que fuja de Herodes e se refugie no Egipto, Crisóstomo comenta: Ao ouvir isto, S. José não se escandalizou nem disse: isto parece um enigma.
Ainda há pouco Tu me davas a conhecer que Ele salvaria o seu povo e agora não é sequer capaz de salvar-se a si próprio e somos nós que temos necessidade de fugir, de empreender uma viagem e fazer uma grande deslocação; isto é contrário à tua promessa.
José não discorre deste modo, porque é um varão fiel.
Também não pergunta pela data de regresso, apesar do Anjo a ter deixado indeterminada, posto que lhe tinha dito: fica lá - no Egipto - até que eu te avise.
Nem por isso levanta dificuldades, mas obedece e crê e suporta todas as provas alegremente.

A fé de José não vacila, a sua obediência é sempre estrita e rápida. Para compreender melhor esta lição que aqui nos dá o Santo Patriarca, é bom que consideremos que a sua fé é activa e que a sua obediência não se parece com a obediência de quem se deixa arrastar pelos acontecimentos.
Porque a fé cristã é o que há de mais oposto ao conformismo ou à falta de actividade e de energia interiores.

José abandonou-se sem reservas nas mãos de Deus, mas nunca deixou de reflectir sobre os acontecimentos, e assim recebeu do Senhor a inteligência das obras de Deus, que é a verdadeira sabedoria.

Deste modo, aprendeu a pouco e pouco que os planos sobrenaturais têm uma coerência divina, que às vezes está em contradição com os planos humanos.

Nas diversas circunstâncias da sua vida, o Patriarca não renuncia a pensar, nem se alheia da sua responsabilidade.
Pelo contrário: põe toda a sua experiência humana ao serviço da fé. Quando volta do Egipto, ouvindo que Arquelau reinava na Judeia em vez de seu pai Herodes, temeu ir para lá.
Aprendeu a mover-se dentro dos planos divinos e, como confirmação de que Deus quer o que ele pressentia, recebe a indicação de se retirar para a Galileia.

Assim foi a fé de S. José: plena, confiante, íntegra, manifestando-se numa entrega real à vontade de Deus, numa obediência inteligente. E, com a Fé, a Caridade, o Amor.
A sua fé funde-se com o amor: com o amor de Deus, que estava a cumprir as promessas feitas a Abraão, a Jacob, a Moisés; com o carinho de esposo para com Maria e com o carinho de pai para com Jesus. Fé e amor da esperança da grande missão que Deus, servindo-se também dele - um carpinteiro da Galileia - estava a começar no mundo: a redenção dos homens.

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Fé, amor, esperança: estes são os eixos em torno dos quais gira a vida de S. José e toda a vida cristã.

A entrega de S. José aparece-nos tecida pelo entrecruzamento de um Amor fiel, de uma Fé amorosa e de uma Esperança confiante.
A sua festa é, por isso, uma boa altura para renovarmos a entrega à vocação de cristãos, concedida pelo Senhor a cada um de nós.

Quando se deseja sinceramente viver da Fé, do Amor e da Esperança, a renovação da entrega não consiste em retomar uma coisa que tinha entrado em desuso.
Quando há Fé, Amor e Esperança, renovar-se - apesar dos nossos erros pessoais, das quedas, das debilidades - é manter-se nas mãos de Deus: confirmar um caminho de fidelidade.
Renovar a entrega é renovar, repito, a fidelidade àquilo que o Senhor quer de nós: amar com obras.

0 amor tem necessariamente as suas manifestações características. Às vezes fala-se do amor como se fosse uma procura de satisfação pessoal ou um mero recurso para completarmos egoisticamente a nossa personalidade.
E não é assim; amor verdadeiro é sair de si mesmo, entregar-se.
O amor traz consigo a alegria, mas é uma alegria que tem as suas raízes em forma de cruz.
Enquanto estivermos na terra e não tivermos chegado à plenitude da vida futura, não pode haver amor verdadeiro sem a experiência do sacrifício, da dor.
Uma dor de que se gosta, amável, fonte de íntimo gozo, mas dor real, porque significa vencer o nosso egoísmo e tomar o amor como regra de todas e cada uma das nossas acções.

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As obras do Amor são sempre grandes, ainda que se trate, aparentemente, de coisas pequenas.
Deus aproximou-se dos homens, pobres criaturas, e disse-nos que nos ama: Deliciae mea esse cum filiis hominum, a minha delícia é estar entre os filhos dos homens.
O Senhor mostra-nos que tudo tem importância: as acções que, com olhos humanos, consideramos grandes; aquelas outras que, pelo contrário, qualificamos de pouca categoria...
Nada se perde.
Nenhum homem é desprezado por Deus.
Todos, seguindo cada um a sua vocação - no seu lar, na sua profissão ou no seu ofício, no cumprimento das obrigações que correspondem ao seu estado, nos seus deveres de cidadão, no exercício dos seus direitos - todos estão chamados a participar no Reino dos Céus.

É isto o que nos ensina a vida de José, simples, normal e vulgar, feita de anos de trabalho sempre igual, de dias humanamente monótonos, que se sucedem uns aos outros.
Muitas vezes o tenho pensado ao meditar sobre a figura de S. José, e esta é uma das razões que faz com que sinta por ele uma devoção especial.

Quando no seu discurso de encerramento da primeira sessão do Concílio Vaticano II, no passado dia 8 de Dezembro, o Santo Padre João XXIII anunciou que no cânon da Missa se mencionaria o nome de S. José, uma altíssima personalidade eclesiástica telefonou-me imediatamente para me dizer: Rallegramenti! Felicidades!
Ao ouvir a notícia pensei logo em si, na alegria que lhe tinha dado. E assim era, porque na assembleia conciliar, que representa a Igreja inteira reunida no Espírito Santo, se proclamava o valor divino da vida de S. José, o valor de uma vida simples de trabalho face a Deus e em total cumprimento da vontade divina.

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Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho

Descrevendo o espírito da associação a que dediquei a minha vida, o Opus Dei, tenho dito que se apoia, como em seu gonzo, no trabalho ordinário, no trabalho profissional exercido no meio do mundo.
A vocação divina dá-nos uma missão, convida-nos a participar na tarefa única da Igreja, para sermos assim testemunho de Cristo perante os nossos iguais, os homens, e para levarmos todas as coisas a Deus.

A vocação acende uma luz que nos faz reconhecer o sentido da nossa existência.
É convencermo-nos, com o resplendor da fé, do porquê da nossa realidade terrena.
Toda a nossa vida, a presente, a passada e a que há-de vir, cobra um novo relevo, uma profundidade de que antes não suspeitávamos. Todos os factos e acontecimentos passam a ocupar o seu posto: entendemos aonde nos quer levar o Senhor e sentimo-nos entusiasmados e envolvidos por esse encargo que se nos confia.

Deus tira-nos das trevas da nossa ignorância, do nosso caminho incerto entre os acontecimentos da história e chama-nos com voz forte, como um dia o fez com Pedro e André: Venite post me, et faciam vos fieri piscatores hominum. - Segui-me e eu vos farei pescadores de homens - qualquer que seja o lugar que ocupemos no mundo.

Quem vive da fé pode encontrar a dificuldade e a luta, a dor e até a amargura, mas nunca o desânimo nem a angústia, porque sabe que a sua vida serve, sabe para que veio a esta terra.
Ego sum lux mundi - exclamou Cristo - qui sequitur me non ambulate in tenebris, sed habebit lumen vitae.
Eu sou a luz do mundo; aquele que me segue não caminha às escuras, mas possuirá a luz da vida.

Para merecer essa luz de Deus é preciso amar, ter a humildade de reconhecer a necessidade de sermos salvos e dizer com Pedro: Senhor a quem iremos? Tu tens palavras de vida eterna. E nós acreditamos e sabemos, que Tu és Cristo, Filho de Deus.
Se realmente procedermos assim, se deixarmos entrar no nosso coração o chamamento de Deus, também poderemos repetir com verdade que não caminhamos nas trevas, pois, por cima das nossas misérias e dos nossos defeitos pessoais, brilha a luz de Deus, como o Sol brilha por cima da tempestade.

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A fé e a vocação de cristãos afectam toda a nossa existência e não só uma parte dela.
As relações com Deus são necessariamente relações de entrega e assumem um sentido de totalidade.
A atitude de um homem de fé é olhar para a vida, em todas as suas dimensões, com uma perspectiva nova: a que nos é dada por Deus.

Vós, que hoje celebrais comigo esta festa de S. José, sois todos homens dedicados ao trabalho em diversas profissões humanas, formais diversos lares, pertenceis a diferentes nações, raças e línguas. Adquiristes formação em centros de ensino, em oficinas ou escritórios, tendes exercido durante anos a vossa profissão, estabelecestes relações profissionais e pessoais com os vossos companheiros, participastes na solução dos problemas colectivos das vossas empresas e da sociedade.

Pois bem: recordo-vos, mais uma vez, que nada disso é alheio aos planos divinos.
A vossa vocação humana é uma parte, e parte importante, da vossa vocação divina.

Esta é a razão pela qual vos haveis de santificar, contribuindo ao mesmo tempo para a santificação dos outros, vossos iguais, precisamente santificando o vosso trabalho e o vosso ambiente: a profissão ou ofício que enche os vossos dias, que dá fisionomia peculiar à vossa personalidade humana, que é a vossa maneira de estar no mundo: o vosso lar, a vossa família; e a nação em que nascestes e que amais.

(cont)



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