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20/06/2015

Tratado da vida de Cristo 12

Questão 29: Dos esponsórios da Mãe de Deus

Art. 2 — Se entre Maria e José houve verdadeiro matrimónio.

 O segundo discute-se assim. — Parece que entre Maria e José não houve verdadeiro matrimónio.


1. — Pois, diz Jerónimo, que José foi guarda de Maria, antes que seu marido. Ora, se entre eles tivesse havido verdadeiro matrimónio, José teria sido verdadeiramente seu marido. Logo, parece que não houve verdadeiro matrimónio entre Maria e José.

2. Demais. — segundo o Evangelho – Jacó gerou a José, esposo de Maria – diz Jerónimo: Quando ouvires o nome de esposo, não vás logo pensar que se trate de núpcias; mas lembra-te que as Escrituras costumam chamar aos noivos, esposos e as noivas, esposas. Ora, o verdadeiro matrimónio não são os esponsais, mas as núpcias. Logo, não houve verdadeiro matrimónio entre a Santa Virgem e José.

3. Demais. — O Evangelho diz: José seu esposo, como era justo, não queria infamá-la, isto é, levá-la para sua casa para com ela coabitar habitualmente; mas resolveu deixá-la secretamente, isto é, transferir o tempo das núpcias, como expõe Remígio. Logo, parece que, antes de celebradas as núpcias, ainda não havia verdadeiro casamento; sobretudo porque, depois de contraído o matrimónio, a ninguém é lícito abandonar a mulher.

Mas, em contrário, diz Agostinho: Não devemos crer que, segundo o Evangelista, José tivesse recusado receber Maria em casamento, a pretexto que ela teria, como virgem, dado à luz Cristo, sem o seu concurso. Mas esse exemplo prova claramente aos fiéis casados, que podem ser verdadeiros esposos e merecer tal nome, ao mesmo tempo que guardam a promessa de recíproca continência, sem ter comércio conjugal.

Chama-se verdadeiro matrimónio ou casamento o que realiza a sua perfeição. Ora, a perfeição de uma coisa pode ser dupla: primária e secundária. A perfeição primária de uma coisa consiste na sua forma, donde tira a sua espécie. A perfeição secundária consiste na sua operação, pela qual de certo modo atinge o seu fim. Ora, a forma do matrimónio consiste numa certa e indivisível conjunção das almas, pela qual cada cônjuge está obrigado a conservar uma fé íntegra para com o outro. Quanto ao fim do matrimónio, é a geração e a educação da prole; e esse é atingido, primeiramente, pelo concúbito conjugal; e, secundariamente, pela cooperação do homem e da mulher, que mutuamente se ajudam, para a manutenção dos filhos.

Assim, pois, devemos dizer, quanto à primeira perfeição, que houve matrimónio absolutamente verdadeiro entre a Virgem Mãe de Deus e José. Pois, ambos consentiram na convivência conjugal; mas não expressamente, na cópula carnal, senão sob a condição, se isso aprouvesse a Deus, por isso, o Anjo chama a Maria esposa de José, quando lhe disse a este: Não temas receber a Maria, tua mulher. Expondo o que, diz Agostinho: Chama-lhe esposa, pela fé primeira dos desposórios, aquela que jamais conhecera nem nunca haveria de conhecer pelo concúbito. — Quanto porém à segunda perfeição, pelo acto do matrimónio, se a referirmos ao concúbito carnal, gerador dos filhos, então não se consumou o matrimónio entre José e Maria. Donde o dizer de Ambrósio: Não te perturbes com o chamar frequentemente a Escritura a Maria de esposa; pois, a celebração do casamento não implica em perda da virgindade, sendo apenas a testificação das núpcias. - Contudo, o matrimónio em questão foi também perfeito quanto à educação da prole. Por isso diz Agostinho: Os pais de Cristo tiveram o bem completo das núpcias – a prole, a fé e o sacramento. Pela prole, significamos o próprio Senhor Jesus; pela fé, a ausência de todo adultério; pelo sacramento, a não existência do divórcio. Só não houve o concúbito nupcial.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Jerónimo, no lugar citado, se refere ao marido, quanto ao acto da consumação do matrimónio.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Jerónimo chama às núpcias concúbito nupcial.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Como diz Crisóstomo, a Santa Virgem quando desposou a José já habitava a sua casa. Pois, se a concepção de uma mulher, na casa de seu marido, é considerada regular, é suspeita a da que concebeu fora de casa. Por isso, não teria sido suficientemente acautelada a reputação da Santa Virgem só pelo facto de ter casado, sem que estivesse habitando no domicílio conjugal. Donde, a expressão — não queria levá-la para casa — entende-se melhor como significando que não queria difamá-la em público, do que como significativa do acto de levá-la para a casa. Por isso o Evangelista acrescenta, que resolveu deixá-la secretamente. Embora porém estivesse habitando a casa de José, pela fé primeira dos desposórios, antes ainda de celebradas solenemente as núpcias; por causa do que, também ainda não tinha tido comércio carnal. Por isso, como ensina Crisóstomo, o Evangelista não disse – Antes de ter sido levada para a casa do esposo — pois já lhe habitava a casa. Porque era costume entre os antigos que a noiva habitasse a casa do noivo. Donde o ter também dito o Anjo: Não temas receber a Maria tua mulher, isto é, não temas celebrar núpcias solenes com ela. - Embora outros digam, que ainda não habitava a casa de José, mas era somente noiva. Mas, a anterior explicação concorda melhor com o Evangelho.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.



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