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04/06/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Tempo comum IX Semana


Evangelho: Mc 12 28-34

28 Então aproximou-se um dos escribas, que os tinha ouvido discutir. Vendo que Jesus lhes tinha respondido bem, perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?». 29 Jesus respondeu-lhe: «O primeiro de todos os mandamentos é este: “Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30 Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças”. 31 O segundo é este: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. Não há outro mandamento maior do que estes». 32 Então o escriba disse-Lhe: «Mestre, disseste bem e com verdade que Deus é um só, e que não há outro fora d'Ele; 33 e que amá-l'O com todo o coração, com todo o entendimento, com toda a alma, e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais que todos os holocaustos e sacrifícios». 34 Vendo Jesus que tinha respondido sabiamente, disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». Desde então ninguém mais ousava interrogá-l'O.

Comentário:

Jesus Cristo faz como que uma síntese dos Mandamentos da Lei de Deus.
Os Dez podem reduzir-se a estes dois?
Não é bem assim!
Cada Mandamento é específico e a sua observância é obrigatória.
O que acontece é que observando aqueles dois primeiros é possível – com verdade e são critério - praticar melhor outros.
Porquê? Porque os outros são mandamentos da Lei Natural a observar por qualquer pessoa humana; por exemplo ninguém deve roubar ou prejudicar intencionalmente o seu semelhante, um ateu pode muito bem observá-los.
Mas a um baptizado acresce a responsabilidade e agrava a sua não observância.

(ama, comentário sobre Mc 12, 28-34, 2015.03.13)


Leitura espiritual



a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS




iv o processo da conversão

…/2

        Ascética é uma palavra de origem grega que significa «preparação para algo».
Comporta, logicamente, privações, exercícios, etc., com vista a obter um fim.

        Na ascese põe-se o ênfase nos esforço que o homem realiza para lutar contra o que pode opor-se ao seu processo de conversão de viver mais plenamente como filho de Deus em Cristo Jesus e viver em Cristo no seu sacerdócio, como mais adiante veremos.
Ou seja, a conversão leva o cristão a identificar-se com Cristo, com o seu Viver e com a sua Missão.

        Para encontrar melhor este caminho e tendo em conta que a conversão tem como finalidade que Cristo viva no crente e o crente viva em Cristo, fazemos um precisão – antes de entrar com mais detalhe na matéria da conversão – para sublinhar a importância de uma prática de ajuda nessa «luta ascética» que teve grande relevância a longo do séculos e que se mantém vigente nos momentos actuais: a direcção espiritual.

        O que é e em que consiste esta prática?
No seu encontro com os discípulos de Emaús, Nosso Senhor Jesus Cristo explica-o claramente.

        Os discípulos eram homens crentes que ainda que tendo ouvido rumores acerca da Ressurreição se retiram do grupo dos Apóstolos talvez sem esperança que Cristo cumpra verdadeiramente as suas promessas.

        O Senhor sai ao seu encontro.
Não interrompe bruscamente o seu processo de abandono. Nem sequer os recrimina.
Simplesmente põe-se a seu lado e caminha com eles.
Interessa-se pela sua situação, a sua tristeza e ante o protesto dos dois homens e a sua estranheza que não estivesse informado do que recentemente acontecera em Jerusalém, começa a explicar-lhes as Escrituras recriminando-os ao mesmo tempo pela sua dureza de coração para as entender.

        Depois de algum tempo e aproximando-se já o anoitecer, faz menção de prosseguir viajem enquanto eles se preparam para descansar um pouco.
Aceita o convite de ficar com eles e na conversa durante a ceia, abre-lhes definitivamente os olhos para compreender a realidade da Ressurreição e desaparece da sua vista.

        Esta forma de actuar de Cristo é o exemplo mais claro de uma verdadeira direcção espiritual, ou ajuda espiritual, como queira chamar-se.
Não lhes impõe nada nem os deslumbra com a manifestação da Verdade.
Respeita as suas dívidas, as suas tribulações e não os liberta do seu pesar, da sua pena sem mais nem menos.
Unicamente se põe a seu lado, fala-lhes e esforça-se para que eles, pessoalmente e a partir do seu interior, consigam desvelar o sentido das Escrituras que manifestam a realidade de Cristo.
Procura com as suas palavras provocar que o espírito dos discípulos e inflame no amor a Deus que um dia os moveu a seguir pessoalmente Nosso Senhor Jesus Cristo.
Esse amor tornará possível o seu arrependimento.

        Cristo sabe que, salvo em casos muito excepcionais, de nada vale uma conversação fruto de um deslumbramento fulgurante e irresistível e que o importante e decisivo é que q luz chegue – e penetre – suavemente no espírito e se inculque com raízes profundas na inteligência e no coração dos homens.

        O Senhor depois espera o convite para ficar para que seja a liberdade dos discípulos que clame uma nova luz.
Uma vez consciente que a preparação do espírito dos dois homens alcançou o grau adequado para gozar da luz e considerada a colaboração no seu actuar que eles manifestam ao convidá-lo a partilhar a ceia, revela-lhes o mistério da sua Ressurreição: nesse momento os seus olhos são capazes de ver Cristo.
A oração de petição «fica connosco» preparou o seu espírito para receber a luz da Redenção.

Essa é a função da ajuda espiritual – a direcção espiritual – que qualquer cristão pode receber de outro cristão qualquer, seja ou não sacerdote, como se vive em não poucas instituições da Igreja e como João Paulo II sublinhou com estas palavras:
«a ‘direcção espiritual’, ou ‘diálogo espiritual’, como por vezes se lhe chama, também se pode levar a cabo fora do sacramento da Penitência e também pelos que não estão ordenados» [1].

        Esta ajuda consiste essencialmente em mover a sua livre vontade a manter-se firme na procura do Senhor e a não permitir que nenhum obstáculo impeça a sua mente de iluminar-se com a luz recebida de Deus.

        Convém acrescentar um esclarecimento: essa ajuda produz-se no seio da família de Deus que é e Igreja, quer dizer, no âmbito da comunhão dos santos que se dá entre todos os que acreditam em Cristo.

        Este é um aspecto que talvez não sublinhamos bastante e caímos na tentação de considerar toda a ajuda espiritual como um assunto entre quem a dá e quem a recebe.
Essa não é a verdadeira perspectiva.
Todo o director espiritual, por chamar-lhe assim, deve saber-se transmissor da verdade de Cristo na Igreja.
De contrário o seu trabalho será inútil ou nefasto.
Santo Agostinho recorda-o com palavras muito claras:

        «Quem quiser viver, tem onde viver, tem do que viver.
Que se aproxime, que acredite, que se deixe incorporar para ser vivificado.
Não rejeite a companhia dos membros» [2].
Os discípulos de Emaús compreenderam muito bem e, apenas terem reconhecido Cristo Ressuscitado, foram diligentes a comunicar a notícia a Pedro e aos Apóstolos: à Igreja.

        Concluído este breve preâmbulo, entramos no exame da conversão que todo o cristão está chamado a realizar em si mesmo, com perseverança, ao longo de toda a sua vida.


v o que é verdadeiramente uma conversão?


        Lembrámos que o Senhor fala sempre de dois momentos no caminho do espírito: arrependei-vos e acreditai no Evangelho.

        Agora temos de acrescentar a queixa de Deus ante os que «o honram com as palavras e o seu coração está longe dele» [3].

        Nestas breves citações esconde-se todo o significado de uma conversão: converte-se quem, arrependido dos seus pecados, crê no Evangelho e, pela fé, dirige o seu coração em busca do Senhor, como o cervo procura a fonte das águas.

        Lembremos que a conversão de que agora nos ocupa se realiza nos que já receberam a primeira e definitiva conversão pelo Baptismo.
«O Baptismo é o lugar principal da primeira e fundamental conversão.
Pela fé na Boa Nova e pelo Baptismo renuncia-se ao mal e alcança-se a salvação, quer dizer a remissão de todos os pecados e o dom da vida nova» [4].

        Esse «dom da vida nova», a nova condição de filhos de Deus em Cristo Jesus que o cristão recebe no Baptismo, origina no seu espírito uma tendência espiritual para que essa «vida nova» se desenvolva e cresça: essa é a perene conversão cristã.

        O Catecismo também nos recorda com palavras muito explícitas:
«A chamada de Cristo à conversão continua a ressoar na vida dos cristãos.
Esta segunda conversão é uma tarefa ininterrupta para toda a Igreja que ‘recebe os pecadores no seu próprio seio’ e que sendo santa e  ao mesmo tempo necessitada de constante purificação, procura sem cessar a penitência a e a renovação’.
Este esforço de conversão não é só obra humana.
É o movimento do ‘coração contrito’ atraído e movido pela graça a responder ao amor misericordioso de Deus que nos amou primeiro» [5].

        Em seguida parece oportuno assinalar «o que a conversa não é», para que não caíamos em engano.
A conversa não é «alcançar um ideal», não é tampouco chegar a viver as virtudes em certo grau de intensidade, e muito menos é libertar-nos completamente do pecado.

        A conversa de que estamos tratando é o germinar da Graça de ser «filhos de Deus em Cristo», nas nossas almas.
Um germinar fruto da acção do Espírito Santo na alma que permite ao homem abrir-se à acção da Graça, convencer-se do pecado e reconstruir no seu coração a verdade e o amor [6].

        Como este «germinar» nunca se conclui o converter-se do cristão comporta a cadeia ininterrupta de conversões ao longo da vida.
Em suma, o pôr em prática essa segunda conversão de que nos fala o Catecismo.
Segunda conversão que estará sempre viva na mediada em que «procuremos Cristo».

        «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho» [7].




(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[1] João Paulo II, Audiência, 12-IV-1984
[2] San Agustin, Tratado sobre el Evangelio de San Juan, 26, 13
[3] Cfr. Is 29, 13
[4] Catecismo, n. 1427
[5] Catecismo, n. 1428
[6] Cfr. Juan Pablo II, Dominum et vivificantem, n. 45
[7] Mc 1, 15

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