Páginas

24/06/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual




Tempo comum XII Semana

Nascimento de São João Baptista

Evangelho: Lc 1, 57-66, 80

57 Completou-se para Isabel o tempo de dar à luz e deu à luz um filho. 58 Os seus vizinhos e parentes ouviram falar da graça que o Senhor lhe tinha feito e congratulavam-se com ela. 59 Aconteceu que, ao oitavo dia, foram circuncidar o menino e chamavam-lhe Zacarias, do nome do pai. 60 Interveio, porém, sua mãe e disse: «Não; mas será chamado João». 61 Disseram-lhe: «Ninguém há na tua família que tenha este nome». 62 E perguntavam por acenos ao pai como queria que se chamasse. 63 Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu assim: «O seu nome é João». Todos ficaram admirados.64 E logo se abriu a sua boca, soltou-se a língua e falava bendizendo a Deus. 65 O temor se apoderou de todos os seus vizinhos, e divulgaram-se todas estas maravilhas por todas as montanhas da Judeia. 66 Todos os que as ouviram as ponderavam no seu coração, dizendo: «Quem virá a ser este menino?». Porque a mão do Senhor estava com ele.
80 Ora o menino crescia e se fortificava no espírito. E habitou nos desertos até ao dia da sua manifestação a Israel.

Comentário:

Porque é que o seu nome é João?

Zacarias não revela que foi o Anjo que assim lho indicou e nem precisa, pois todos podem ver o milagre de ter recuperado a fala logo que o escreveu na tabuinha.

Assim é quando se faz a vontade de Deus, recupera-se o que se tinha perdido com a resistência ou indiferença aos Seus mandatos e, a alma, não poderá deixar de entoar com júbilo louvor e glória a Deus Nosso Senhor.

(ama, comentário sobre Lc 1, 57-66, 2009.11.19)


Leitura espiritual



Virtudes

5. As virtudes humanas

«As virtudes humanas são atitudes firmes, disposições estáveis, perfeições habituais da inteligência e da vontade, que regulam os nossos actos, ordenam as nossas paixões e guiam o nosso procedimento segundo a razão e a fé. Conferem facilidade, domínio e alegria para se levar uma vida moralmente boa. O Homem virtuoso é aquele que livremente pratica o bem» [1].

Estas adquirem-se mediante as forças humanas e são os frutos e germes de actos moralmente bons» [2], [3].

Entre as virtudes humanas há quatro chamadas cardeais, porque todas as outras se agrupam à volta delas.

São a prudência, a justiça, a fortaleza e a temperança [4].

- «A prudência é a virtude que dispõe a razão prática para discernir, em qualquer circunstância, o nosso verdadeiro bem e para escolher os justos meios de o atingir» [5].

É a «norma recta da acção» [6].

- «A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido» [7], [8].

- «A fortaleza é a virtude moral que, no meio das dificuldades, assegura a firmeza e a constância na prossecução do bem.
Torna firme a decisão de resistir às tentações e de superar os obstáculos na vida moral.

A virtude da fortaleza dá capacidade para vencer o medo, mesmo da morte, e enfrentar a provação e as perseguições.
Dispõe a ir até à renúncia e ao sacrifício da própria vida, na defesa duma causa justa» [9], [10].

- «A temperança a virtude moral que modera a atracção dos prazeres e proporciona o equilíbrio no uso dos bens criados.
Assegura o domínio da vontade sobre os instintos e mantém os desejos nos limites da honestidade» […]
A pessoa temperante orienta para o bem os apetites sensíveis, guarda uma sã discrição e não se deixa arrastar pelas paixões do coração. A temperança é muitas vezes louvada no Antigo Testamento:

«Não te deixes levar pelas tuas más inclinações e refreia os teus apetites» [11].
No Novo Testamento, é chamada “moderação”, ou “sobriedade”» [12].

A respeito das virtudes morais, afirma-se que in medio virtus.

Isto significa que a virtude moral consiste no meio entre um defeito e um excesso [13].

In medio virtus não é uma chamada à mediocridade.

A virtude não é o termo médio entre dois ou mais vícios, mas a rectidão da vontade que, como num cume, se opõe a todos os abismos que são os vícios [14].

6. As virtudes e a graça. As virtudes cristãs

As feridas deixadas pelo pecado original na natureza humana dificultam a aquisição e o exercício das virtudes humanas [15], [16].
Para adquiri-las e praticá-las, o cristão conta com a graça de Deus que sara a natureza humana.

 Além disso, a graça, ao elevar a natureza humana a participar da natureza divina, eleva essas virtudes ao plano sobrenatural [17], levando a pessoa humana a actuar segundo a recta razão iluminada pela fé: numa palavra, a imitar Cristo.

Deste modo, as virtudes humanas tornam-se virtudes cristãs [18].

7. Os dons e os frutos do Espírito

«A vida moral dos cristãos é sustentada pelos dons do Espírito Santo. Estes são disposições permanentes que tornam o homem dócil aos impulsos do Espírito Santo» [19] [20].

Os sete dons do Espírito Santo são [21]:

1º - Sabedoria: para compreender e julgar com acerto acerca dos desígnios divinos.

2º - Entendimento: para penetrar na verdade sobre Deus.

3º - Conselho: para julgar e secundar nas acções singulares os desígnios divinos.

4º - Fortaleza: para acometer as dificuldades na vida cristã.

5º - Ciência: para conhecer a ordenação das coisas criadas por Deus.

6º - Piedade: para nos comportarmos como filhos de Deus e como irmãos dos nossos irmãos os homens, sendo outros Cristos.

7º - Temor de Deus: para repudiar tudo o que possa ofender a Deus, como um filho repudia, por amor, o que possa ofender o seu pai.

«Os frutos do Espírito Santo são perfeições que o Espírito Santo forma em nós, como primícias da glória eterna» [22].

São actos que a acção do Espírito Santo produz habitualmente na alma.

        A tradição da Igreja enumera doze:

«Caridade, Gozo, Paz, Paciência, Longanimidade, Bondade, Benignidade, Mansidão, Fidelidade, Modéstia, Continência, Castidade» [23].

8. Influência das paixões na vida moral

Pela união substancial da alma e do corpo, a nossa vida espiritual – o conhecimento intelectual e o livre querer da vontade – encontra-se sob o influxo (para o bem ou para o mal) da sensibilidade.

Este influxo manifesta-se nas paixões que são «emoções ou movimentos da sensibilidade, que inclinam a agir, ou a não agir, em vista do que se sentiu ou imaginou como bom ou como mau» [24].

As paixões são movimentos do apetite sensível (irascível e concupiscível).

Podem chamar-se também, em sentido amplo, “sentimentos” ou “emoções” [25].

Por exemplo, são paixões o amor, a ira, o temor, etc.

«A mais fundamental é o amor, provocado pela atracção do bem.

O amor causa o desejo do bem ausente e a esperança de o alcançar.
Este movimento tem o seu termo no prazer e na alegria do bem possuído.

A apreensão pelo mal causa o ódio, a aversão e o receio do mal futuro; este movimento termina na tristeza pelo mal presente ou na cólera que a ele se opõe» [26].

As paixões influem muito na vida moral

«Em si mesmas, as paixões não são nem boas nem más» [27].

«São moralmente boas quando contribuem para uma acção boa, e más, no caso contrário» [28], [29].

Pertence à perfeição humana que as paixões estejam reguladas pela razão e dominadas pela vontade [30].

Depois do pecado original, as paixões não se encontram submetidas ao império da razão, e com frequência inclinam a levar a cabo o que não é bom [31].
Para as encaminhar habitualmente para o bem necessita-se da ajuda da graça, que sara as feridas do pecado, e da luta ascética.

A vontade, se é boa, utiliza as paixões ordinariamente para o bem [32].

Pelo contrário, a má vontade que segue o egoísmo, sucumbe às paixões desordenadas ou usa-as para o mal [33].

francisco díaz 2012/09/20

Bibliografia básica:

Catecismo da Igreja Católica, 1762-1770, 1803-1832 e 1987-2005.

Leituras recomendadas:

São Josemaria, Homilia «Virtudes humanas», em Amigos de Deus, 73-92.

(Revisão gráfica e da versão portuguesa por ama.)






[1] Catecismo, 1804
[2] Catecismo, 1804
[3] O cristão desenvolve as virtudes com a ajuda da graça de Deus que, ao sarar a natureza humana, dá força para as praticar e ordena-as a um fim mais elevado.
[4] cf. Catecismo, 1805
[5] Catecismo, 1806
[6] Conduz a julgar rectamente sobre o modo de agir: sem retrair da acção (cf. s. tomás de aquino, Summa Theologiae, II-II, q. 47, a. 2).
«Não se confunde, nem com a timidez ou o medo, nem com a duplicidade ou dissimulação. É chamada “auriga virtutum – condutor das virtudes,” porque guia as outras virtudes, indicando-lhes a regra e a medida.
É a prudência que guia imediatamente o juízo da consciência.
O homem prudente decide e ordena a sua conduta segundo este juízo.
Graças a esta virtude, aplicamos sem erro os princípios morais aos casos particulares e ultrapassamos as dúvidas sobre o bem a fazer e o mal a evitar» (Catecismo, 1806).
[7] Catecismo 1807
[8] O homem não pode dar a Deus o que Lhe deve ou o justo em sentido estrito.
Por isso, a justiça para com Deus chama-se mais propriamente “virtude da religião”, «dado que a Deus Lhe basta que cumpramos à medida das nossas possibilidades» (s. tomás de aquino, Summa Theologica, II-II, q. 57, a. 1, ad 3).
[9] Catecismo, 1808
[10] «No mundo tereis tribulação. Mas confiai: Eu venci o mundo» (Jo 16, 33).
[11] Sir 18, 30
[12] Catecismo, 1809
[13] Por exemplo, a laboriosidade consiste em trabalhar tudo o que se deve, que é um meio entre um menos e um mais.
Opõe-se à laboriosidade trabalhar menos do devido, perder o tempo, etc.
E também se opõe trabalhar sem medida, sem respeitar outras coisas que também se devem fazer (deveres de piedade, de caridade, etc.).
[14] O princípio in medio virtus é válido somente para as virtudes morais, as quais têm por objecto os meios para alcançar o fim, e nesses meios há sempre uma medida.
Pelo contrário, não é válido no caso das virtudes teologais, porque estas virtudes (fé, esperança e caridade) têm directamente a Deus por objecto.
Por isso, não é possível um excesso: “crer demasiado”, “esperar demasiado” em Deus” ou “amá-Lo em excesso”.
[15] cf. Catecismo, 1811
[16] A natureza humana está ferida pelo pecado.
Por isso, tem inclinações que não são naturais como consequência do pecado.
Do mesmo modo que não é natural coxear, devido à consequência de alguma doença, como não seria natural mesmo que toda a gente coxeasse, nem sequer são naturais as feridas que deixou o pecado original e os pecados pessoais na alma: a tendência para a soberba, a preguiça, a sensualidade, etc.
Com a ajuda da graça e com esforço pessoal, estas feridas podem-se ir curando, de modo que o homem seja e se comporte como corresponde à sua natureza e condição de filho de Deus.
Esta saúde consegue-se por meio das virtudes.
De modo semelhante, a doença agrava-se com os vícios.
[17] cf. Catecismo, 1810
[18] Assim, há uma prudência que é virtude humana, bem como uma prudência que é sobrenatural, infundida por Deus na alma, juntamente com a graça.
Para que uma virtude sobrenatural possa produzir fruto – actos bons – precisa da correspondente virtude humana.
Por exemplo e no caso das outras virtudes cardeais: a virtude sobrenatural da justiça, exige a virtude humana da justiça; e o mesmo acontece com a fortaleza e a temperança.
Dito doutra maneira, a perfeição cristã – a santidade – exige e compreende a perfeição humana.
[19] Catecismo, 1830
[20] Para compreender melhor a função dos Dons do Espírito Santo na vida moral, pode-se acrescentar a seguinte explicação clássica: assim como a natureza humana tem algumas potências (inteligência e vontade) que permitem realizar as operações de entender e querer, assim a natureza elevada pela graça tem potências que lhe permitem realizar actos sobrenaturais. Estas potências são as virtudes teologais (fé, esperança e caridade).
São como os remos de um barco, que permitem avançar em direcção ao fim sobrenatural.
No entanto, este fim supera-nos de tal modo, que não bastam as virtudes teologais para o alcançar.
Deus concede, juntamente com a graça, os dons do Espírito Santo, que são novas perfeições da alma que permitem que seja movida pelo mesmo Espírito Santo.
São como a vela de um barco, que lhe permite avançar com o sopro do vento.
Os dons aperfeiçoam-nos em ordem a tornarmo-nos mais dóceis à acção do Espírito Santo, que se converte assim em motor da nossa actuação.
[21] cf. Catecismo, 1831
[22] Catecismo, 1832
[23] Gl 5, 22-23
[24] Catecismo 1763
[25] É preciso ter em conta que também se fala de “sentimentos” ou “emoções” supersensíveis ou espirituais que não são propriamente “paixões” porque não estão sujeitos aos movimentos do apetite sensível.
[26] Catecismo, 1765
[27] Catecismo, 1767
[28] Catecismo 1768
[29] Por exemplo, há uma ira boa, que se indigna perante o mal, e também há uma ira má descontrolada ou que move ao mal (como acontece na vingança); há temor bom e há temor mau, que paralisa para fazer o bem; etc.
[30] Cf. s. tomás de aquino, Summa Theologica, I-II, q. 24, aa. 1 e 3.
[31] Em certas ocasiões podem dominar de tal modo a pessoa, que a responsabilidade moral se reduz ao mínimo.
[32] «A perfeição moral consiste em que o homem não seja movido para o bem só pela vontade, mas também pelo seu apetite sensível, segundo esta palavra do Salmo: “O meu coração e a minha carne exultam no Deus vivo” (Sl 84, 3)» (Catecismo, 1770).
«As paixões são más se o amor for mau, boas se for bom» (santo agostinho, De Civitate Dei, 14, 7)
[33] cf. Catecismo, 1768

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.