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15/06/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)




Tempo comum XI Semana


Evangelho: Mt 5, 38-42

38 «Ouvistes que foi dito: “Olho por olho e dente por dente”. 39 Eu, porém, digo-vos que não resistais ao homem mau; mas, se alguém te ferir na tua face direita, apresenta-lhe também a outra; 40 e ao que quer chamar-te a juízo para te tirar a túnica, cede-lhe também a capa. 41 Se alguém te forçar a dar mil passos, vai com ele mais dois mil. 42 Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem deseja que lhe emprestes.

Comentário:

São Mateus dá-nos conta do que, talvez, seja um dos conselhos/preceitos do Senhor!

Não se trata de permanecer impassível como se o mal de que somos alvo não nos atingisse mas o contrário: retribuir-mos esse mal com o bem, sem submissão ou por medo mas com a  consciência certa que o bem vence sempre o mal e quanto mais nos custe mais mérito alcançamos.

(ama, comentário sobre MT 5, 38-42, 2014.06.16)



Leitura espiritual




a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS




xii epílogo

…/2
       
        E a primeira conversão que se coloca na consciência de ser criatura origina-se na Fé em Deus Pai, na Esperança em Deus Filho e é engendrada na Caridade em Deus Espírito Santo.
O homem aceita a Criação e reconhece o seu pecado.
O coração clama por chegar a ser como Deus deseja ainda que sem saber exactamente o que vai ser do homem movido pelo amor de Deus.

        E assim sucessivamente qualquer nova conversão é uma descoberta dos horizontes da Fé, da Esperança, da Caridade e um abrir-se à perspectiva de viver em Cristo, com Cristo, por Cristo.

        Este caminho de conversões – insistimos – nunca termina pelo simples facto de que nunca chegamos a ser plenamente cristãos ainda que não deixemos de estar enxertados em Cristo, de ser templos do Espírito Santo e more em nós a Santíssima Trindade.
Deus não nos tira nada do nosso ser nem nos exige deixarmos de ser nós próprios.
Sendo plenamente nós mesmos, jamais chegamos a ser, ontológica e vitalmente, o mesmo Cristo.
Cristo vive em e connosco e quer que vivamos nele e com Ele e nunca se substitui a nós mesmos.

        O homem é consciente das dificuldades com que se encontra e das limitações que descobre em si próprio para que, ainda que mantendo viva fé na divindade de Jesus Cristo e na sua Ressurreição, desenvolver a capacidade que tem para se dirigir a Deus.
E também é consciente de que ainda que no meio das trevas originadas pelo pecado na sua mente, se encontra na disposição e com capacidade para amar.

        O homem que se relaciona com Deus abre-se a horizontes nunca suspeitados, inclusive quando considera que essas relações são mais rotineiras que vividas, mais fruto do costume que de um verdadeiro e renovado acto de amor.

Para onde nos dirigem esses horizontes?
Ou, melhor dito, em que consistem esses horizontes, qual é a sua verdadeira riqueza e mistério?
Se vivemos em Cristo, Deus acolhe-nos paternalmente como filhos.
Penetrar na mente de Deus, nos caminhos de Deus sobre o mundo, sobre a criação é, certamente, difícil e nem por isso temos de deixar de lado o esforço que comporta, conscientes, além disso, de que para esse fim fomos criados por Deus.

        O homem tem sempre duas opções abertas diante de si:
        - viver com Cristo;
        - viver sozinho consigo próprio.

        Não é possível que o homem se realize no âmbito puramente social e cultural das construções humanas.
O homem pode descobrir como o mundo está feito e as leis que regem a criação, o mundo que o rodeia.
Sá o Criador, Deus, pode dar-lhe a conhecer «porque» existe e «para que» existe.
«Não temos aqui cidade permanente mas andamos procurando a do futuro» [1].

        O homem só descobre a realidade do seu mistério quando aceita com serenidade saber-se incapaz para certas coisas, para certos voos da inteligência, do coração, quando se alegra com descobrir que o seu ser é limitado e que as suas capacidades estão encerradas no seu ser.
Ao pôr-se em contacto directamente com Deus, sabe-se «filho de Deus» com capacidade de viver «em família com Deus».

        O homem que, consciente de viver com Cristo e em Cristo, transforma a sua vida em Redenção, em glorificação, desenvolve as sementes que Deus pôs na sua alma com a graça: a Fé, a Esperança, a Caridade, terá o gozo e dará a Deus o gozo de ser homem, de ser cristão, de ser santo.

        A devoção pessoal de cada cristão com a Mãe de Deus é um estremeção no seu coração.
Ela chama à realidade do nosso ser com o ser Mãe de Deus e convida-nos a abrir o nosso espírito, o núcleo mais íntimo da nossa pessoa, para acolher o Espírito Santo como Ela fez: «Faça-se em mim segundo a tua palavra» [2].

        Essa é a disposição da alma cristã para deixar Deus fazer nela a sua obra.


***

Maria é mãe da Igreja.
E é lógico concluir estas páginas com uma brevíssima referência explícita a que a vida pessoal cristã de cada crente se desenvolve na harmoniosa unidade de toda a Igreja.
Tema que, logicamente, requer um estudo próprio e detalhado que aqui fica apenas assinalado.

        Já nos Actos dos Apóstolos consta que os primeiros cristãos eram «um coração e uma alma» [3]; e podemos acrescentar que essa «unidade» se dá no coração do Senhor sendo todos «filhos de Deus em Cristo» e se realiza no âmbito da Igreja, família de Deus.

        O Concílio Vaticano II recorda estes planos de Deus quando afirma:
«E estabeleceu os que creem em Cristo na santa Igreja que já foi prefigurada desde a origem do mundo, admiravelmente preparada na história do povo de Israel, na Antiga Aliança» [4].

        Na Igreja o homem nasce a Cristo e em Cristo desenvolve-se e cresce.
E ao mesmo tempo participa com todos os cristãos e com todos os homens na vida de Cristo.
Vive a comunhão dos santos e alimenta-se sempre dessa comunhão.
Na Eucaristia, «o corpo social da Igreja reunido em volta dos seus pastores visíveis para «o alimento do Senhor» converte-se realmente no Corpo místico de Cristo.
E Cristo fá-lo «próprio».
É então quando a Igreja se torna verdadeiramente ‘corpo de Cristo’» [5].

        É na Igreja onde se realiza essa unidade no corpo de Cristo:

«Aos seus irmãos congregados de todos os povos, constitui-os misticamente o seu corpo, comunicando-lhes o seu espírito.
Nesse corpo a vida de Cristo comunica-se aos crentes os quais estão unidos a Cristo paciente e glorioso pelos sacramentos de um modo antigo mas real» [6].

FIM


ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[1] Heb 13, 14
[2] Lc 1, 38
[3] Act 4, 32
[4] Lumen gentium, n. 2
[5] henri de lubac, Meditazione sulla Chiesa, Jaca Book 1979, cap. IV
[6] Lumen gentium, n. 7

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