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13/06/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)




Tempo comum X Semana

Santo António de Lisboa

Evangelho: Mt 5, 13-19

13 «Vós sois o sal da terra. Porém, se o sal perder a sua força, com que será ele salgado? Para nada mais serve senão para ser lançado fora e ser calcado pelos homens. 14 Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-se uma cidade situada sobre um monte; 15 nem se acende uma candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas no candelabro, a fim de que dê luz a todos os que estão em casa. 16 Assim brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus. 17 «Não julgueis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim para os abolir, mas sim para cumprir. 18 Porque em verdade vos digo: antes passarão o céu e a terra, que passe uma só letra ou um só traço da Lei, sem que tudo seja cumprido. 19 Aquele, pois, que violar um destes mandamentos mesmo dos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será considerado o mais pequeno no Reino dos Céus. Mas o que os guardar e ensinar, esse será considerado grande no Reino dos Céus.

Comentário:

O sal da terra! Que missão! Que encargo!

Que posso eu, pobre de mim, com as minhas misérias e fraquezas temperar neste grande banquete da vida humana?

Por mim, sozinho, absolutamente nada mas, contigo, Senhor, serei um condimento raro e de enorme eficácia.

Que assim seja não para minha satisfação mas para o bem das almas e a Tua glória.

(ama, comentário sobre Mt 5, 13-19, 2014.06.13)



Leitura espiritual





a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS



xi a devoção à santíssima virgem


        Ao chegar a este momento do nosso trabalho, temos de deter a nossa atenção no papel que por disposição divina corresponde à Virgem Santíssima em toda a vida pessoal cristã do homem, do santo.

        Sendo Ela a «obra de Deus» por excelência, a criatura mais unida entitativa, vital e afectivamente a Deus Pai, Filho e Espírito Santo, vamos reflectir, ainda que seja brevemente, sobre o seu ser e sobre a sua vida para descobrir um exemplo vivo que Deus nela nos dá para toda a vida pessoal cristã e, sobretudo, para termos em conta que a devoção que lhe manifestemos como mãe de Deus, Filha de Deus, Esposa de Deus, pode ter na nossa própria conversão cristã, na nossa realidade existencial em ser filhos de Deus em Cristo Jesus.

        Não sem um significado especial para todos os crentes, Deus quis que a Santíssima Virgem estivesse presente na própria origem da obra da Encarnação fizesse valer a sua palavra no começo da vida pública de Jesus Cristo, se mantivesse firme ao pé da Cruz, sustivesse os Apóstolos unidos na espera da Ressurreição e da vinda do Espírito Santo.

        A citação é longa. Recolho-a porque centra a perspectiva destas páginas finais:

«Cremos que ninguém como Maria saberá introduzir-nos na dimensão divina e humana deste mistério (da Redenção).
Ninguém como Maria foi introduzido nele pelo próprio Deus.
Nisto consiste o carácter excepcional  da graça da maternidade divina.
Não só na história do género humano a dignidade desta Maternidade é única e irrepetível mas também única pela sua profundidade e pelo seu raio de acção é a participação de Maria, imagem da própria Maternidade, no desígnio divino da salvação do homem através do mistério da redenção.

        (…)

        O eterno amor do Pai, manifestado na história da humanidade mediante o Filho que o Pai deu «para que quem acredite nele não morra mas que tenha a vida eterna» [1], este amor aproxima-se de cada um de nós por meio desta Mãe e adquire de tal modo sinais mais compreensíveis e acessíveis a cada homem.
Por conseguinte, Maria deve encontrar-se em todas as vias da vida quotidiana da Igreja.
Mediante a sua presença materna a Igreja assegura-se de que vive verdadeiramente a vida do seu Mestre e Senhor, que vive o mistério da Redenção em toda a sua profundidade e plenitude vivificante» [2].

        Estas considerações de João Paulo II são na realidade o desenvolvimento de umas palavras do Concílio Vaticano II que expressam o sentir unânime da Igreja em torno à missão de Maria:

«A Santíssima Virgem (…) coberta com a sombra do Espírito Santo… deu à luz o Filho a quem Deus constituiu primogénito entre muitos irmãos [3].
Isto é, os fiéis em cuja geração e educação coopera com amor materno» [4].

        A missão de Maria com cada cristão resume-se nestas palavras:
«Geração e educação com amor materno», reflexo da missão que Deus Pai lhe encomendou com Deus Filho.

        Como participa Santa Maria na «geração» de um filho de Deus em Jesus Cristo?
        »Com o seu amor materno cuida dos irmãos do seu Filho que todavia peregrinam e se encontram em perigos e ansiedade até que sejam conduzidos à pátria Bem-Aventurada» [5].

        «A Santíssima Virgem predestinada desde toda a eternidade como Mãe de Deus juntamente com a encarnação do Verbo, por deposição da divina Providência, foi na terra Mãe excelsa do Divino Redentor (…).
Concebendo Cristo, engendrando-o.
Alimentando-o, apresentando-o ao Pai no Templo, padecendo com o seu Filho quando morria na Cruz, cooperou de forma inteiramente ímpar na obra do Salvador com a obediência, a fé, a esperança e a ardente caridade com o fim de restaurar a vida sobrenatural nas almas. Por isso é nossa Mãe em ordem da graça» [6].

        Toda a vida da Santíssima Virgem transmite os planos de Deus sobre as suas criaturas.
Feita Mãe e imaculada ajuda à «geração» de Cristo em cada cristão.

Como?

        O cuidado maternal da Santíssima Virgem não se fica somente num plano afectivo de intercessão e de preocupação pela sorte da vida pessoal cristã de cada filho de Deus.

        Na cena da visita da Santíssima Virgem a sua prima santa Isabel podemos descobrir um sentido mais vital e entitativo da missão maternal de Maria: à chegada de Maria grávida de Deus Filho, Deus Pai quis que o Espírito Santo encha a alma de Isabel e de João Maria «comunica» a Graça.
Deus envia Maria para «comunicar» a Graça e na Graça, alimentar a Fé, a Esperança e a Caridade dos que a recebem.

        O Espírito Santo anseia que todos o homem seja verdadeiramente filho de Deus e quer valer-se da Santíssima Virgem para que a Graça que ele deposita na alma tome forma, vá fazendo o possível para que o cristão descubra Cristo que a vida de Cristo cresça em cada cristão.
O Espírito Santo está como que à espera da palavra de Maria para começar e desenvolver a sua acção na alma do crente, de forma semelhante a como esperou a palavra da Virgem, para que a Palavra se engendrasse nela.

        São Bernardo fala do «aqueduto» e certamente é assim.
Todavia a imagem não esgota a participação da Santíssima Virgem na acção do Espírito Santo.
Maria não se limita a transportar a Graça.
Maria prepara a alma do cristão para descobrir o Espírito Santo  dentro dele, como Isabel e João o descobriram.

        Podemos dizer simplesmente que Maria, como Mãe de Cristo, nos manifesta o Espírito Santo que se vale da sua presença para que Cristo nasça em nós e nos configuremos com o Senhor: Deus Filho gerou-se nela por acção do Espírito Santo, acção que o Espírito Santo começou no amor de Maria a Deus Pai, na disposição de Maria à vontade de Deus Pai.

        De forma semelhante, o amor a Maria, a Mãe de Deus, prepara a alma do cristão para que o Espírito Santo já recebido no Baptismo e nos demais sacramentos, faça germinar a semente da Graça e se origine em cada cristão o despertar de Cristo e o viver de cada cristão com Cristo, em Cristo, por Cristo.

        Poderíamos chamar a esta acção de Maria a «força criadora» do amor materno.
Toda a nossa vida cristã se fundamenta na Graça, «certa participação na natureza divina».
Encontramo-nos «enxertados em Cristo».
Maria «sendo Mãe de Deus» com o seu amor fez crescer Cristo nas suas entranhas, ao mesmo tempo que o engendrava no seu coração.
O cristão ao viver a devoção a Maria recebe esse amor materno de Maria e «o calor» desse amor materno vivifica no seu espírito o «enxerto em Cristo».

        «Com o seu amor materno cuida dos irmãos do seu Filho que todavia peregrinam e se encontra em perigos e ansiedade até que sejam conduzidos à pátria Bem-Aventurada» [7].

Esta é a «maternidade espiritual» que a Virgem vive em cada crente.


***


        Se a Virgem é «geradora» sendo Mãe, a Mãe de Deus é «educadora» sendo Virgem Imaculada.
Como?

        «E é igualmente virgem (refere-se à Igreja) que guarda pura e integramente a fé prometida ao Esposo e à imitação da Mãe do seu Senhor, por virtude do Espírito Santo, conserva virginalmente uma fé íntegra, uma esperança sólida e uma caridade sincera» [8].

        Santa Maria, na plenitude da sua virgindade imaculada manifesta-nos uma vida de Fé, de Esperança, de Caridade.

«Como ser «virgem casta» se não for pela integridade da fé, da esperança?» exclama Santo Agostinho [9].

«Bem-aventurada tu que acreditaste» exulta Santa Isabel.
A Santíssima Virgem é, ao pé da Cruz, a imagem da Esperança na Palavra de Deus.
A sua resposta na Anunciação é a manifestação aberta da caridade, do amor a Deus ao devolver a Deus toda a confiança que o homem rejeitou no Paraíso.

        «Faça-se em mim segundo a Tua palavra» [10], é a expressão mais pela de Fé, de Esperança, de Caridade de uma criatura ao seu Criador.

        Ressaltando a fé eucarística da Virgem, João Paulo II assinala:

«A Maria foi-lhe pedido para acreditar que quem concebeu ‘por obra do Espírito Santo’ era o ‘Filho de Deus’.
Em continuidade com a fé da Virgem, no Mistério eucarístico pede-se-nos para acreditar que o mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, torna-se presente com todo o seu humano-divino nas espécies do pão e do vinho» [11].



(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[1] Jo 3, 16
[2] Juan Pablo II, Redemptor hominis, nn. 96, 98
[3] Cfr. Rom 8, 29
[4] Lumen gentium, n. 63
[5] Lumen gentium, n. 62
[6] Lumen gentium, n. 61
[7] Lumen gentium, n. 61
[8] Lumen gentium, n. 61
[9] Sermão, 188, 3, 4
[10] Lc 1, 38
[11] João Paulo II, Redemptoris mater, n. 37

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