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09/05/2015

Evangelho, comentário L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Semana V da Páscoa

Evangelho: Jo 15 18-21

18 «Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, Me aborreceu a Mim. 19 Se fosseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes Eu vos escolhi do meio do mundo, por isso o mundo vos aborrece. 20 Lembrai-vos da palavra que Eu vos disse: Não é o servo maior do que o senhor. Se eles Me perseguiram a Mim, também vos hão-de perseguir a vós; se guardaram a Minha palavra, também hão-de guardar a vossa. 21 Mas tudo isto vos farão por causa do Meu nome, porque não conhecem Aquele que Me enviou.

Comentário:

A “herança” que Jesus Cristo deixa aos Seus discípulos parece – e de facto é – bastante pesada.

Mas o discípulo não é maior que o Mestre e, por isso quando tenta, com todas as suas forças, imitá-lo tem de esperar ser tratado como Ele o foi e, também, vir a ganhar o que Ele prometeu a quem o seguisse sem condições: a vitória final, a conquista definitiva do Reino de Deus, a Salvação Eterna.

(ama, comentário sobre Jo 15, 18-21, 2014.05.24)


Leitura espiritual


a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE



XI. OS DONS DO ESPÍRITO SANTO

…/25
O cristão sob a acção do Dom de Temor de Deus, toma como próprias todas as ofensas que nós os homens fazemos a Deus e oferece-se por elas em reparação redentora.
Movido pela acção do Dom, desperta na sua alma o anseio de amar a Deus pelos que O não amam, como uma Mãe que deseja amar a Deus pelos seus filhos que se afastam dele.
E, no amor, encontra a fortaleza necessária para se abandonar na Cruz com Cristo, sem sequer considerar a união definitiva com Cristo na Ressurreição que já se iniciou na sua própria alma.

Sem fazer expressa referência ao Dom de Temor de Deus, São Paulo deixa bem manifesto a acção do Espírito Santo no sentido que vimos assinalando, entre outros, nestes dois textos:

«Levamos sempre nos nossos corpos por todos os lugares o morrer de Jesus, a fim de que também a vida de Jesus se manifeste no nosso corpo.»[i]

«Porque se nos fizemos uma mesma coisa com Ele por uma morte semelhante à Sua, também o seremos por uma ressurreição semelhante.»[ii]

Em resumo, podemos dizer que o Dom de Temor de Deus não se reduz a um certo medo a Deus nem a um temor de O ofender.
Tampouco esgota o seu significado num certo aninhar-se ante a majestade de Deus nem se identifica com a pena de não corresponder às Suas graças nem de não O amar como gostaríamos de o fazer.

Sendo o Dom de Temor, como já recordámos, « o princípio da sabedoria» e sendo a sabedoria a união da nossa mente com a inteligência divina, o «Temor de Deus» requer como primeiro fundamento o adentrar-se no insondável mistério do coração de Deus, bem conscientes que « nem o olho viu nem o ouvido ouviu nem veio à mente do homem o que Deus preparou para os que O amam.»[iii]

        Uma vez imerso no coração de Deus, descobre-se que amar com Deus e em Deus é sempre amar em «Temor de Deus».
        Deus ama com «temor» de não poder dar-nos todo o amor que deseja dar-nos.
Esse «temor» engendra a «pena» da falta de gozo das criaturas ao não receber o amor de Deus.
Partilhar com Deus essa «pena» é viver o «temor de Deus» na perspectiva e na dimensão que uma criatura pode em verdade fazê-lo.

Definitivamente, o «temor de Deus» é «viver» com Deus o «peso» do seu Amor aos homens.

Concluímos este capítulo, assinalando que o facto de relacionar cada Dom com uma das três virtudes teologais, a Fé, a Esperança, a Caridade, verdadeiros mananciais que alimentam a vida cristã, não é obstáculo para dizer, sem medo de enganar-nos, que cada um dos Dons e os sete no seu conjunto, participam activamente no actuar de cada uma das virtudes e na totalidade das acções do crente.

Como já assinalámos, recordamos uma vez mais que as virtudes e os Dons são como canais pelos quais transcorre a acção da Graça santificante vivendo em nós e sempre sob o influxo imediato do Espírito Santo, quem, com fé, convence o mundo – o homem - «no referente ao pecado» ao permitir-lhe conhecer o amor de Deus e reconhecer o seu próprio pecado; com a Esperança, convence o mundo – o homem - «no referente ao juízo, porque o príncipe deste mundo (o pecado) «já está condenado», e abre-se ao homem a perspectiva da vida eterna; com a Caridade, convence o mundo «no referente à justiça», a tornar possível que descubra o perdão de Deus e o Seu Coração infinitamente misericordioso.

A contrassenha, a chave do universo é o amor: «Deus é amor».

O amor de Deus está latente em todos e cada um dos lugares do mundo.

O homem chegará a descobrir as leis que regulam as forças do Universo, conseguirão penetrar nos mistérios da criação no macro e no micro universo.

Jamais poderá amar como Deus ama.

Bento XVI escreve:
«A fé, que leva a tomar consciência do amor de Deus revelado no coração de Jesus trespassado na cruz, suscita por sua vez o amor:
O amor é uma luz – no fundo a única – que ilumina constantemente um mundo obscuro e nos dá a força para viver e actuar.
O amor é possível e nós podemos pô-lo em prática porque fomos criados à imagem de Deus.
Viver o amor e assim levar a cruz de Deus ao mundo: a isto queria convidar com esta Encíclica».[iv]


XII perspectiva da Redenção


        Impõe-se agora uma pequena paragem nas nossas considerações.

        Estudámos a Criação, a primeira relação de Deus Pai com o homem: a Criação; relação que nem se apagou nem ficou absorvida pelo pecado nem pela Redenção.

Assinalámos depois a realidade da Redenção, fruto da Encarnação, segunda relação de Deus Filho com o homem.
E a nova vida do homem, que se converte em «cristão» ao receber a Redenção, por obra da Graça nele.

O desenvolvimento da Redenção comporta a terceira relação de Deus Espírito Santo com o homem.

Por acção dos Dons do Espírito Santo, desenvolvendo as virtudes da Fé, da Esperança e da Caridade, tem lugar a santificação: o crescimento da Graça nas potências do ser humano que vai tornado possível ao ser humano chegar a dizer com São Paulo:

«Vivo, mas já não sou eu quem vive, mas Cristo que vive em mim.»[v]

Antes de continuar na tentativa de descobrir e na medida possível compreender os sinais certos da conversão do cristão em santo – que encontraremos no viver dos Mandamentos com o espírito das Bem-Aventuranças e no crescimentos do Frutos do Espírito Santo na alma do cristão – parece oportuno reflectir brevemente sobre o conteúdo da Redenção, ainda que com o perigo de voltar a coisas já ditas.
Fazemo-lo na esperança de que essas afirmações adquiram uma nova luz ao ser apresentadas numa nova perspectiva.

Sim, desde o começo da pregação apostólica, foi muito importante que cada convertido a Cristo descobrisse a grandeza e a beleza de ser cristão, nestes tempos, essa conveniência tornou-se peremptória e assim será até ao fim da história do homem.

Dividimos este resumo em duas partes:

a)   A Redenção que Cristo nos oferece (redenção objectiva).
b)   A Redenção aceite pelo homem (redenção subjectiva).

A)       a redenção que cristo nos oferece

A Redenção de Cristo é a vitória definitiva sobre o pecado sobre a morte, fruto da Encarnação do Filho de Deus e da plena disponibilidade da liberdade do Filho de Deus em serviço do homens que culmina no mistério pascal com a Paixão, Morte gloriosa Ressurreição.
É um facto que se cumpre uma vez no tempo, se integra na história do homem e continua vivo em Cristo ressuscitado.

Como acontece com a Ressurreição, a Redenção é um acontecimento histórico, humano e divino, que teve lugar mais expressamente no Calvário e durante toda a vida na terra de Jesus Cristo e que é, ao mesmo tempo, vivido na sua plenitude divina-humana no seio da Trindade Beatíssima, ao ser Jesus Cristo «perfeito Deus e perfeito homem».

A Redenção ocorrida num preciso instante do transcorrer do tempo na história d humanidade, é, ao mesmo tempo e desde a sua origem, uma realidade permanente.
Sai fora do ciclo vida-morte que preside e rege o viver humano.
E assim podemos dizer que a «Redenção de Cristo não é um acontecimento cumprido uma vez e que já pertence à história, mas uma realidade permanente.
É força e vida, eterna regeneração e reconciliação».

Cristo ressuscitado, todavia, passa apenas quarenta dias na terra antes de ascender definitivamente ao Céu em corpo e alma.
A Ascensão de Cristo significa o seu afastamento dos avatares da terra, da sorte do homem na sua história?
Leva consigo que a obra redentora iniciada com a Encarnação do Filho de Deus já está concluída?

A resposta a estas perguntas é Não.

Se o Filho de Deus ao encarnar-se, no seio da Virgem Maria, se diz que, de um certo modo, quis ao mesmo tempo unir-se a cada um de nós e continuar vivendo em cada ser humano até ao fim dos tempos, de forma semelhante podemos dizer que Cristo, realizada a redenção do mundo e a Criação libertada do pecado, deseja redimir cada homem, libertar cada um dos seus irmãos os homens da escravidão do pecado e da morte, abrindo-lhe as portas da vida eterna.


(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)




[i] 2 Cor 4, 10
[ii] Rom 6, 5
[iii] 1 Cor 2, 9
[iv] Bento XVI, Deus caritas est, n. 39
[v] Ga 2, 20

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