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03/05/2015

Evangelho, comentário, L. espiritual (A beleza de ser cristão)


Semana V da Páscoa


São Filipe e São Tiago – Apóstolos

Evangelho: Jo 15 1-8

1 «Eu sou a videira verdadeira, e Meu Pai é o agricultor. 2 Todo o ramo que não dá fruto em Mim, Ele o cortará; e todo o que der fruto, podá-lo-á, para que dê mais fruto. 3 Vós já estais limpos em virtude da palavra que vos anunciei. 4 Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode por si mesmo dar fruto se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. 5 Eu sou a videira, vós os ramos. Aquele que permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. 6 Se alguém não permanecer em Mim, será lançado fora como o ramo, e secará; depois recolhê-lo-ão, lançá-lo-ão no fogo e arderá. 7 Se permanecerdes em Mim, e as Minhas palavras permanecerem em vós, pedireis tudo o que quiserdes e ser-vos-á concedido. 8 Nisto é glorificado Meu Pai: Em que vós deis muito fruto e sejais Meus discípulos.

Comentário:

A Palavra de Deus limpa?
Por si mesma... talvez não… mas acatada e posta em prática sim; o que é absolutamente lógico já que as disposições necessárias para ouvir a Palavra incluem,  necessariamente, a pureza de intenção  e disponibilidade concreta para fazer o que se ouve.

(ama, comentário sobre Jo 15, 1-8, 2014.05.21)


Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE



X – A santificação

…/19

        Algo semelhante acontece na vida cristã.
Com a Graça santificante, ficamos enxertados em Cristo, e «a participação da natureza divina”, que é a vida da Graça em nós, é para cada cristão um quase segunda natureza; e nada nem ninguém o privará jamais dessa condição.
        Há, então, no homem uma natureza humana e uma quase segunda natureza divina que originam actuações em «paralelo”?
        Não.
        O ser homem «enxertado” em Cristo quer dizer que a natureza humana se vivifica sobrenaturalmente pela participação na natureza divina; e que a natureza divina participada se humaniza, no seu actuar conjunto coma natureza humana, na unidade de cada pessoa.
        Todo o actuar sobrenatural, cristão, do homem transcorre pelos mesmos canais através dos quais se desenvolve a sua vida humana natural e se apoia nas mesmas qualidades nas quais se centra o desenvolvimento natural do homem.
        A vida pessoal cristã no homem, a vida que se origina na «participação na natureza divina” da nossa própria pessoa, assenta no núcleo do «eu” humano, no centro constitutivo da pessoa.
E manifesta-se e desenvolve-se nas mesmas três faculdades em que se expressa a vida-natural humana: a inteligência, a memória, a vontade.
Ao receber a acção da Graça, essas faculdades abrem-se à luz de Deus e a todos os planos de Deus sobre a criação e sobre o homem.
        Para que todo este processo comece a ter lugar, o homem há-de «enxertar” com todas as potências da sua pessoa na graça da Redenção.
A Redenção, como já vimos em páginas anteriores ao falar dos motivos pelos quais Cristo encarnou, tem três frutos, três efeitos, fundamentais, nos quais podemos explicar todos os outros: a revelação do amor de Deus ao homem; a libertação do homem do pecado; e o viver com Cristo; e tudo, ao fazer-nos «partícipes da natureza divina”.
        O primeiro efeito incide de forma muito particular na inteligência, ao iluminá-la com a luz da Fé e abri-la aos mistérios de Deus.
        O segundo converte a memória histórica do homem ao comunicar-lhe os planos de Deus sobre ele, e a enche de luz com a Esperança da vida eterna.
        O terceiro fruto rasga os horizontes da vontade humana, inundando-os do amor de Cristo, até ser também «semelhança” seguindo-o no viver o novo conteúdo e significado do mandamento de «amar o próximo como a ti mesmo”, ao convertê-lo em «amai-vos uns aos outros, com o Eu vos amei”.
        Podemos assim dizer que a aceitação pelo homem da Redenção se leva a cabo na Fé, na Esperança, na Caridade.
É uma tríplice resposta que abarca e compromete, ao mesmo tempo que dá sentido a todo o ser do homem, na sua plenitude.
        Em São Paulo encontramos uma clara afirmação do que acabámos de expor: Ao dirigir-se aos de Colossos, dá graças a Deus «por quanto ouvimos falar da vossa fé em Cristo Jesus e do Amor e do amor que tendes por todos os santos.
Firmes na esperança que vos está reservada nos céus”.[i]
        Saúda os de Tessalónica dizendo-lhes: «Temos presente ante o nosso Deus e Pai a obra da vossa fé, os trabalhos da vossa caridade e a paciência no sofrimento que vos dá a vossa esperança em Jesus Cristo Nosso Senhor”.[ii]
        Ao de Éfeso escreve: «Por isso também eu, que ouvi da vossa fé no Senhor Jesus e da caridade que tendes com todos os santos, não cesso de dar graças por vós, e de vos recordar nas minhas orações, a fim de que o Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos outorgue o espírito de sabedoria e vos revele o pleno conhecimento dele.
        Além disso, que iluminados os olhos do vosso coração, possais conhecer a esperança a que vos chamou”.[iii]
        E, em linha com São Paulo, vários autores recordam a mesma realidade:
        São Tomás expressa-o com clareza, entre outros lugares, neste texto: «Com o fim de oferecer-te, meu querido filho Reginaldo, um compêndio da doutrina cristã que possas ter sempre à vista, proponho-me tratar na presente obra três coisas: primeiro, da fé; segundo, da esperança; terceiro, da caridade.
        Esta é a ordem que nos ensinaram os Apóstolos, também, a mais conforme com a recta razão.
        Com efeito, não pode haver amor puro e recto, se não se determina o fim legítimo da esperança, nem pode haver esperança se falta o conhecimento da verdade.
        É necessário, por conseguinte: primeiro, a fé, pela qual se conhece a verdade; segundo, a esperança, que dirige os nossos desejos ao seu legítimo fim; e terceiro, a caridade, que ordena totalmente os afectos” [iv].
        João Paulo II sublinhou esta característica central da vida critã, entre outras ocasiões, quando manifestou a finalidade do Jubileu do ano 2000, por ele próprio proclamado: «O Jubileu deverá confirmar nos cristãos de hoje a no Deus revelado em Cristo, sustentar a esperança prolongada na espera da vida eterna, vivificar a caridade comprometida activamente em serviço aos irmãos” [v].
        Afirmações que estão em perfeita consonância com o já declarado oportunamente no Concílio de Trento, e que vem a ser uma concreção do vivido pelos cristãos desde a primeira hora: «Na justificação, o homem, por se encontrar incorporado em Cristo, recebe, juntamente com a remissão dos pecados, a fé, a esperança e a caridade”.[vi]
        São Josemaria Escrivá recorda ao cristão que foi «chamado a uma vida de fé, de esperança e de caridade” [vii].

VIDA DE FÉ

        O viver a nossa Redenção começa com a Fé, «virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou, e que a Santa Igreja nos propõe, porque Ele é a própria verdade”.[viii]
        A Fé ilumina a inteligência abrindo-a à luz da verdade revelada, e tornando-a capaz de vislumbrar os mistérios da vida de Deus.   Com a graça recebida no Baptismo como dom gratuito de Deus, a nossa inteligência começa a vislumbrar os raios de luz da Verdade, de Deus.
        Através do actos de Fé, nos quias manifestamos o desejo de nos deixarmos inundar mais e mais por essa luz de Deus, a virtude da Fé converte-se num hábito do nosso pensar que amplia paulatinamente os limites da nossa razão – sem confundir os planos – e nos ajuda a penetrar a realidade de Deus que Cristo nos oferece na sua própria vida, Revelação do Pai, da vida intratinitrária de Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
        A aceitação dos mistérios da Encarnação do Filho de Deus, da vida divina em nós, da Trindade Beatíssima da vinda do Espírito Santo, da ressurreição dos mortos á o primeiro passo para que a acção redentora da Graça, a participação na natureza divina, comece a germinar no nosso espírito, e a realidade da «nova criatura em Cristo” inicie a sua configuração no nosso ser, no seu «eu pessoal” de cada cristão.
        A Escritura di-lo brevemente e com clareza: «O justo vive da Fé”.[ix] A Fé recebida na inteligência não limita a sua acção à mente do homem; há-de converter-se em vida.
        A Fé afecta a integridade da pessoa; não se reduz a uma mera informação acerca de uma verdade ou de um conhecimento mais amplo e profundo de uma verdade da qual já tínhamos um certa notícia.
        A indicação de Cristo aos discípulos não deixa lugar a dúvidas:
        «Se guardardes fielmente os meus ensinamentos, pertencereis aos meus verdadeiros discípulos. E conhecereis a verdade e a verdade vos tornará livres”.[x]
        De nada serve que a nossa mente seja iluminada com as verdades eternas, se o nosso viver não se converte em reflexo da luz recebida. «Tu crês que Deus é uno?, interroga-se o apóstolo São Tiago, e acrescenta: «Fazes bem. Também os demónios crêm, e estremecem”.[xi]
        A Verdade de Deus, Cristo, torna possível e é o fundamento de qualquer outra verdade e, sem a qual, o campo da inteligência humana se reduz à comprovação experimental, talvez científica dos factos, sem jamais penetrar nem no quê nem no porquê das pessoas e dos universos, de tudo quanto acontece, de tudo quanto existe.
        A Verdade de Cristo recebida na Fé, e aceite no acto de Fé, leva o homem a reconhecer-se em toda a sua identidade como criatura. A sabedoria germina na posição do espírito que se reconhece «criado à imagem e semelhança de Deus, seu filho e chamado a participar, de alguma forma, na natureza divina”.
        Este desenvolvimento do germinar da Fé vai, de certo modo, paralelo à descoberta da grandeza de Deus, da Verdade de Cristo, «em quem se encontram encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência”.[xii]
        Desta forma, pela fé, Cristo habitará nos nossos corações e seremos capazes de compreender «com todos os santos qual é a largura e o comprimento, a altura e profundidade do mistério de Cristo”.[xiii]
        A este crescer na Fé corresponde, no coração do crente, uma relação pessoal com Deus e, portanto, o desejo de adorar.
        Adorar não é nenhum acto de vassalagem nem de humilhação da criatura, mas a plena realização da sabedoria.

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)





[i] Col 1, 4-5
[ii] 1 Ts 1, 3
[iii] Ef 1, 15-18
[iv] são tomás de aquino, Compendio de Teologia, n. 2.
[v] são joão paulo ii, Tertio millenium adveniente, n. 31.
[vi] Dz. 800
[vii] são josemaria escrivá, Es Cristo que passa, n. 11.
[viii] Catecismo, n. 1814
[ix] Rm 5, 1
[x] Jo 8, 31-32
[xi] Tg 2, 19
[xii] Col 2, 3
[xiii] Ef 3, 18

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