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26/05/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Tempo comum VIII Semana

São Filipe de Néri

Evangelho: Mc 10 28-31

28 Pedro começou a dizer-lhe: «Eis que deixámos tudo e Te seguimos». 29 Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Ninguém há que tenha deixado a casa, os irmãos, as irmãs, o pai, a mãe, os filhos, ou as terras, por causa de Mim e do Evangelho, 30 que não receba o cêntuplo, mesmo nesta vida, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos, e terras, juntamente com as perseguições, e no tempo futuro a vida eterna. 31 Porém, muitos dos primeiros serão os últimos, e os últimos serão os primeiros».

Comentário:

O que neste trecho de São Marcos se fala é de prioridades na vida de cada um. Ter bem definido o que é de realmente importante e o que sendo-o aparentemente, é de facto acessório.

O que verdadeiramente deve interessar a cada ser humano é atingir o objectivo para o qual foi criado: a visão eterna da Face de Deus.

E não há outro caminho: seguir Jesus e fazê-lo com as condições que Ele próprio declara como necessárias e indispensáveis.

(ama, comentário sobre Mc 10, 28-31, 2014.03.04)


Leitura espiritual



a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS

II A ORAÇÃO




características gerais da oração

…/2
       
2 - No contexto da resposta está implícita a consciência do homem da sua dependência de Deus.
Sendo criatura o homem sabe-se dependente de Deus, humana e sobrenaturalmente.
É uma dependência plenamente assumida e aceite e mais… agradecida.
A aceitação dessa dependência manifesta as raízes profundas da Esperança.

        «O Espírito Santo ensina-nos a celebrar a Liturgia esperando o regresso de Cristo, educa-nos para orar na esperança.
Inversamente, a oração da Igreja e a oração pessoal alimentam em nós a esperança.
Muito particularmente os salmos (…) ensinam-nos a fixar a nossa esperança em Deus» [1].

Nessa dependência de Deus e no viver a esperança o homem descobre a realidade da redenção e abre o seu espírito para receber a Graça.

        Nesta perspectiva o homem ora como criatura e como cristão filho de Deus em Cristo.

3 - A oração a aceitação do diálogo com Deus é impossível sem a caridade.
Ninguém confia nem se confia nem espera em alguém a quem não ama.
A oração é em si mesma um profundo acto de Caridade.

        Um acto de Caridade no qual reconhecemos Deus como Pai e o viver essa dependência converte a oração numa resposta filial à chamada paterna que Deus nos dirige sempre.

        «A esperança não falha porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado» [2].

5 - A oração formada na vida litúrgica retira tudo do amor com que somos amados em Cristo e que nos permite responder amando como Ele nos amou.
O amor é a fonte da oração: quem bebe dela alcança o cume da oração» [3].

        Engendrada na Fé, aberta à Esperança e vivida na Caridade a oração do cristão é possível e a sua necessidade cresce na medida em que tomamos consciência actual da «participação da natureza divina» pela qual fomos enxertados em Cristo.

        Além disso, elevar o coração a Deus, filial, humilde e confiadamente, o simples facto de orar é também o caminho para descobrir com mais e mais profundidade a realidade de nos sabermos e sermos filhos de Deus.
Também porque ao orar pomos em prática o mandamento novo que Jesus Cristo nos deu de amar-nos uns aos outros como Ele nos amou.

        «’Se conhecesses o dom de Deus’ [4].
A maravilha da oração revela-se precisamente ali, junto do poço onde vamos buscar a nossa água: ali Cristo vai ao encontro de todo o ser humano, é o primeiro a procurar-nos e o que nos pede de beber: Jesus tem sede, a sua petição chega das profundidades de Deus que nos procura.
Saibamo-lo ou não, a oração é o encontro da sede de Deus e da sede do homem.
Deus tem sede que o homem tenha sede dele [5].[6]

        A sede de Deus e a sede do homem encontram-se numa conversação indefinível que resiste a qualquer tentativa de estruturação de forma definitiva e de uma vez por todas, não obstante as classificações e divisões que se podem fazer e que veremos brevemente mais adiante.
Uma conversação que pode versar sobre qualquer assunto humano e divino: o homem anseia conhecer Deus e Deus goza-se recebendo do homem a confidência sobre tudo o que o preocupa e interessa.

        Para alimentar esta sede e descobrir mais profundamente a sede de Deus, a leitura da Sagrada Escritura – palavra de Deus na história dos homens - é e sempre foi um alimento necessário para o espírito do cristão.

        Como de exemplo da variedade e amplitude dos modos de que a oração se pode revestir recolhemos estes parágrafos:

        «Escreveste-me: ‘orar é falar com Deus’. Mas de quê? – De quê?     Dele, de ti, alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias… fraquezas!: e acções de graças e petições: e Amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-lo e conhecer-te: relacionar-se [7] com Ele!» [8].

        São João Paulo II recorda: «A oração pode definir-se de muitas maneiras. Mas o mais frequente é chamá-la um colóquio, uma conversa, um entreter-se com Deus. Ao conversar com alguém não falamos somente mas também escutamos. Portanto a oração é também um escutar. Consiste em pôr-se a escutar a voz interior da graça. A escutar a chamada» [9].

        E São Josemaria Escrivá escreve: «Quando se quer de verdade desafogar o coração, se somos francos e simples, procuraremos o conselho de pessoas que nos amam, que nos entendem (…). Comecemos a conduzir-nos com Deus assim seguros de que Ele nos escuta e nos responde, e atendê-lo-emos e abriremos a nossa consciência a uma conversação humilde para Lhe referir confiadamente tudo quanto palpita na nossa cabeça e no nosso coração: alegrias, tristezas, esperanças, dissabores, êxitos, fracassos e até os mais pequenos detalhes do nosso dia. Porque comprovaremos que tudo o que é nosso interessa ao nosso Pai Celestial» [10].

        A oração vivida assim torna possível que o cristão descubra Cristo, Deus, no seu coração, em tudo o que o rodeia, em qualquer acontecimento que suceda à sua volta ou na história do mundo a chegará a viver «contemplando» Deus como fruto de se saber e se descobrir «filho de Deus».

        «A nossa condição de filhos de Deus levar-nos-á a ter espírito contemplativo no meio de todas as actividades humanas – luz, sal e levedura, pela oração, pela mortificação, pela cultura religiosa e profissional – tornando realidade este programa: quanto mais dentro do mundo estejamos tanto mais temos de ser de Deus» [11].


o pai nosso

        Ao ser solicitado pelos Apóstolos para que os ensinasse a orar, Jesus Cristo, depois de lhes recomendar que não falassem muito, porque «o vosso Pai sabe o que necessitais antes de lho pedirdes», disse-lhes:
«Vós, pois, orai assim: Pai Nosso que estás nos céus, santificado seja o teu Nome, venha o teu Reino; faça-se a tua Vontade assim na terra como no céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje e perdoai-nos as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores e não nos deixeis cair em tentação mas livrai-nos do mal» [12].

        Nunca sublinharemos bastante a importância do Pai-nosso sendo um ensinamento tão directo do Filho de Deus feito homem.

        São Tomás escreve:
«A oração dominical é a mais perfeita das orações (…). Nela não só pedimos tudo quanto podemos desejar com rectidão, como além disso, segundo a ordem que convém desejar. De modo que esta oração não só nos ensina a pedir como também forma toda a nossa afectividade» [13].

        Séculos antes Santo Agostinho tinha escrito:
Todas as outras palavras que digamos e as que o fervor precedente formula até adquirir clara consciência já que logo as considera para crescer, não dizem outra coisa mas sim o que se contém na oração dominical se  a rezamos bem e apropriadamente».
«Percorrei todas as orações que há nas Escrituras e não creio que possais encontrar algo que não esteja incluído na oração dominical» [14].

        Toda a oração que o homem dirige a Deus vem a ser, na realidade, como um Pai-nosso e ao mesmo tempo, o Pai-nosso encerra tudo quanto o homem pode pedir, considerar, adorar na oração a Deus.

        No Pai-nosso contêm-se os dois grandes sentidos da oração: primeiro, a chamada que Deus nos dirige e segundo, a procura de Deus que o homem prossegue em resposta à chamada.

        No Pai-nosso, na realidade, o homem pede a Deus que toda a nova vida que Cristo nos dá com a Graça se enxerte nele e assim comece a ser uma verdadeira «nova criatura».

        O Catecismo recorda:
«O Sermão da Montanha é doutrina de vida, a Oração dominical é oração mas em ambas o Espírito do Senhor dá nova forma aos nossos desejos, esses movimentos interiores que animam a nossa vida.
Jesus ensina-nos esta vida nova por meio das suas palavras e ensina-nos a pedi-la por meio da oração. Da rectidão da nossa oração dependerá a da nossa vida nele» [15].


(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[1] Catecismo, n. 2657
[2] Ro 5, 5
[3] Catecismo, n. 2658
[4] Jo 4, 10
[5] Santo Agostinho, quaest. 64, 4
[6] Catecismo, n. 2560
[7] Nota do autor do Blogue: Parece-me ser a tradução mais adequada do castelhano: tratarle.
[8] São Josemaria Escrivá, Caminho, 91
[9] São João Paulo II, audiencia, 8-XI-2005
[10] São Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 245
[11] São Josemaria Escrivá, Forja, 740
[12] Mt 6, 9-13
[13] São Tomás de Aquino, Suma de Teologia, 2-2. 83. 9
[14] Santo Agostinho, Carta 130, a Proba, 12, 22
[15] Catecismo, n. 2764

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