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24/05/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)


Pentecostess

Evangelho: Jo 17, 11-19.

11 Já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai Santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste para que sejam um, assim como Nós. 12 Quando Eu estava com eles, os guardava em Teu nome. Conservei os que Me deste; nenhum deles se perdeu, excepto o filho da perdição, cumprindo-se a Escritura. 13 Mas agora vou para Ti e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si mesmos a plenitude da Minha alegria. 14 Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo odiou-os, porque não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15 Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16 Eles não são do mundo, como Eu também não sou do mundo. 17 Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a verdade. 18 Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. 19 Por eles Eu santifico-Me a Mim mesmo, para que também sejam santificados na verdade.

Comentário:

O discurso da unidade!

Assim poderíamos chamar a este trecho de São João.

Mas também o discurso da santidade pessoal.

Esta sem dúvida que depende daquela e ambas da Verdade a única Verdade, aquela que Cristo - Ele próprio a Verdade - nos veio trazer com a Redenção operada na Cruz.

(ama, comentário sobre Jo 17, 11-19, 2015.05.10)


Leitura espiritual



a beleza de ser cristão

SEGUNDA PARTE

COMO SER CRISTÃOS

I A VIDA CRISTÃ PESSOAL



o ser «nova criatura»

…/3

       

disposições necessárias para crescer na fé



        Pela Fé sabemos que essa conversão se realizará: «Como o homem terreno, assim são os homens terrenos, como o homem celeste assim serão os homens celestes.
E do mesmo modo que revestimos a imagem do homem terreno revestiremos também a imagem do homem celeste» [1].
E que se levará a cabo paulatinamente num movimento da nossa liberdade que vive na liberdade do amor de Deus, na liberdade dos filhos de Deus.

        «Porque o Senhor é o Espírito e onde está o Espírito do Senhor aí está a liberdade.
Mas todos nós que com o rosto descoberto reflectimos como um espelho a glória do Senhor vamos transformando-nos nessa mesma imagem cada vez mais gloriosos conforme a acção do Senhor que é Espírito» [2].

        A Fé é que abre caminho e permite que o nosso espírito descubra que foram ditas para ele as palavras de São Paulo: «Pois o mesmo Deus que disse: ‘Do seio das trevas brilhe a luz e fez a luz brilhar nos nossos corações para irradiar o conhecimento da glória de Deus que está na face de Cristo» [3].

        O primeiro acto livre do homem em relação a Deus, ed para aceitar essa vida que se lhe oferece, é precisamente o acto de Fé.
Só é válido o acto de Fé feito em pleno exercício da liberdade pessoa.
O homem configura o acto de Fé no meio de uma certa obscuridade da sua inteligência.
A luz da Graça ilumina a inteligência sem a confundir nem a submeter.
Mais, prepara-a para que, em todo o esplendor da Fé, mova a vontade para que esteja em melhores condições de actuar em liberdade.
Na liberdade assim exercida o homem reafirma-se em saber que a sua pessoa, ele, é um «ser para a eternidade de Deus».

        E ao mesmo tempo o actuar do homem iluminado pela Fé requere o concurso e a participação da razão.
No acto de Fé o homem descobre e aprecia que tanto a inteligência como a Fé são «dons de Deus».

        «A pessoa humana participa da luz e da força do Espírito divino.
Pela razão de que é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecidas pelo Criador.
Pela sua vontade é capaz de dirigir-se por si mesmo ao seu bem verdadeiro.
Encontra a sua perfeição na procura do amor da verdade e do bem» [4].

        O homem que de alguma forma se relaciona com Deus abre horizontes nunca suspeitados e ainda quando considera que essa relações são mais rotineiras que vividas, mais fruto do costume que de um verdadeiro e renovado acto de amor.
Para onde nos dirigem esses horizontes?
Ou melhor dizendo em que consistem esses horizontes quel é a sua verdadeira riqueza e mistério?

        Penetrar na mente de Deus, nos caminhos de Deus sobre o mundo, sobre a criação, é certamente difícil mas nem por isso devemos deixar de lado o esforço que implica conscientes para além do mais de que para esse fim fomos criados por Deus.
O homem e só se descobre incapaz para algumas coisas, para alguns voos da inteligência, do coração, quando se põe em contacto directamente com Deus.
Então torna-se-lhe evidente que o seu ser é limitado e que as suas capacidades estão encerradas nos estreitos limites do seu ser.

        Podemos dizer que a Fé é a luz divina na inteligência que mantém o homem aberto à perspectiva do infinito impulsionando a sua inteligência a perguntar-se a razão de tudo quanto existe.
O acto de Fé orienta o inquirir e permite vislumbrar o esplendor da verdade.

        O homem é consciente das dificuldades com que se encontra e das limitações que descobre ainda que mantendo viva a Fé na divindade de Jesus Cristo e na sua Ressurreição, desenvolver a capacidade espiritual que tem para se dirigir a Deus.

        A vida da Graça, e o desenvolvimento da «participação da natureza divina» que o cristão está chamado a viver comporta a actuação livre do homem.
Actuação livre desde o primeiro instante em que decide «viver em Cristo, com Cristo e por Cristo».
Entende-se que um viver livre só possível em união com a Graça e em cooperação livre em Cristo, com Deus, movidos pelo Espírito Santo.

        Já comentámos a acção do Espírito Santo nas almas que se manifesta nos Dons e nos Frutos.
Agora é o momento de sublinhar que a vida de Jesus Cristo sobre a terra, a acção de Deus Pai na Criação e na Providência do mundo só são possíveis de descobrir e saborear espiritualmente sob  aluz do Espírito Santo que torna possível que o crente não se deixe enganar pelas trevas em que o pecado envolve as obras de Deus.

        O homem há-de conseguir vislumbrar Deus, a verdade de Deus, a Jesus Cristo Filho de Deus feito homem sem se deixar dominar pelas trevas originadas na sua mente pelo pecado.
Além disso há-de sobrepor-se ao estado de desalento e desânimo que experimenta ao ser consciente do seu pecado, conseguir que a memória dos seus pecados não o abata nem o desespere e possa dizer com serenidade: «Sem cessar o meu pecado está diante de mim, contra ti e só contra ti pequei, cometi os mal aos teus olhos» [5].
E também necessita de recuperar um certo amor a Deus mas também a consciência de se saber querido e amado por Deus.

        Essa irradiação de luz coloca no cristão a convicção de ser chamado a uma vida de união com Deus, a uma vida já não somente compartilhada com Deus mas vivida em e por Cristo em Deus pelo Espírito Santo; essa vida é o que se chama a santidade da que estamos tratando nestas páginas.

        Deus não impõe esta chamada à santidade a nenhum ser humano, de forma semelhante como lhe impôs o acto de nascer, a vida natural.
A Fé descobre ao homem, esse anseio de Deus e Deus espera do homem uma resposta de aceitação.
«Deus espera-nos nesse instante decisivo, diz-nos Endokimov, espera da nossa fé um acto de afirmação de aceitação consciente do nosso destino (que é a santidade), e roga-nos que o assumamos livremente.
Ninguém pode fazê-lo em nosso lugar nem sequer Deus» [6].

        «Todos os fiéis cristãos, de qualquer condição e estado, fortalecidos com tantos e tão poderosos meios de salvação são chamados pelo Senhor cada um pelo seu caminho, à perfeição daquela santidade com que o próprio Pai é perfeito» [7].

        «Se bem que na Igreja nem todos vão pelo mesmo caminho, todavia todos estão chamados à santidade e alcançaram fé idêntica pela justiça de Deus» [8].

        »Convence-te bem: há muitos homens e mulheres no mundo e nem a um só deles o Mestre deixa de chamar.
Chama-os a uma vida cristã, a uma vida de santidade, a uma vida de eleição, a uma vida eterna» [9].

        Como consegue o homem começar esse caminhar que o levará à sua conversão a manter na sua alma sempre vivo  o desejo de ser «nova criatura» em Cristo, a aceitar que Deus o chame a ele pessoalmente a viver em santidade?

        O primeiro passo que manifesta o enraizamento da Fé no espírito e o homem andar para Deus é a oração.
A oração leva à vida sacramental e os sacramentos impelem o espírito para a oração.
Em suma, a oração é «tratar» a Quem recebemos nos sacramentos.

        Veremos em seguida o que é a oração e como vivê-la.
Agora adiantamos que é uma acção do homem em que confluem a Fé, a Esperança e a Caridade e para que o homem possa orar – vê-lo-emos com detalhe mais adiante – das três claras disposições que já mencionámos e que uma vez mais recordamos hão-de permanecer desperta e activas ao longo de toda a vida verdadeiramente cristã.

        Essas disposições são: de humildade na inteligência, de arrependimento no coração, de docilidade em toda a pessoa, para receber e acolher a Palavra de Deus, para acolher o próprio Jesus Cristo Nosso Senhor.



(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[1] 1 Cor 15, 48-49
[2] 2 Cor 3, 18
[3] 2 Cor 4, 6
[4] Catecismo n. 1704
[5] Sal 50
[6] Paul Eudokinov, Les âges de la vie spirituelle, Desclée de Brouver, Paris 1964, p. 67
[7] Lumen gentium, n. 11
[8] Lumen gentium, n. 32
[9] São Josemaria Escrivá, Forja, n. 13

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