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18/05/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual



Semana VII da Páscoa

Evangelho: Jo 16 29-33

29 Os Seus discípulos disseram-Lhe: «Eis que agora falas claramente e não usas nenhuma parábola. 30 Agora conhecemos que sabes tudo e que não é necessário que alguém Te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus». 31 Jesus respondeu-lhes: «Credes agora?». 32 «Eis que vem a hora, e já chegou, em que sereis espalhados cada um para seu lado e em que Me deixareis só; mas Eu não estou só, porque o Pai está comigo. 33 Disse-vos estas coisas para que tenhais paz em Mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende confiança, Eu venci o mundo».

Comentário:

Qual dos presentes terá dito estas palavras?
Alguém entre os que ouviam  Jesus, compreendeu finalmente o Seu discurso.
Porquê só alguns e não todos?


O mistério da graça assenta  fundamentalmente nesta verdade: ela é dispensada por Deus como a quem e quando quer. Pode, com segurança, afirmar-se que o único possível mérito humano residirá na honestidade do desejo em possui-la e na veemência e perseverança com que a pede.

O seu desejo por compreender estará alicerçado na vontade de, compreendendo, poder amar mais e, assim, estar mais capaz de cumprir a Vontade de a Deus.


(ama, comentário sobre Jo16, 29-33 2014.06.01)


Leitura espiritual



a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE



xiv -o espírito das bem-aventuranças

…/4

       
o sentido de cada bem-aventurança

        Nesta Bem-Aventurança ([1]) ressalta conjuntamente a harmonia da acção da Fé, da Esperança e da Caridade porque a paz é fruto da fé na Ressurreição e a esperança na vida eterna que a Ressurreição anuncia.
E da caridade que vence todo o pecado e reconcilia o céu e a terra no coração de Cristo com Deus Pai.

        A oitava Bem-Aventurança «os que padecem perseguição por sede de justiça porque deles é o reino dos céus» é considerada como a consumação e perfeição das outras sete e decerto modo pode unir-se-lhe sem forçar o seu significado a promessa dirigida aos que são caluniados e injuriados além de perseguidos.

        Nela manifesta-se o sofrer, o morrer e o ressuscitar de Cristo para nos libertar do pecado e ao redimir-nos devolver a Deus «toda a honra e toda a glória» e assim cumprir «toda a justiça» como Ele mesmo recordou a João Baptista: «Mas Jesus respondeu-lhe: deixa-me por agora pois convém que cumpramos toda a justiça» ([2]).

        Os que sofrem perseguição pela justiça e unem os seus sofrimentos ao padecer e ressurreição de Cristo ed os que inclusive chegam ao martírio na confissão da sua Fé são verdadeiramente bem-aventurados.

        Nem sempre se apresentam ao cristão oportunidades de dar testemunho da sua Fé em Cristo Jesus e do seu amor a Deus com o oferecimento da própria vida.
       
        Em troca são muito frequentes as situações nas quais afirmar a Fé pública e notoriamente significa actuar contra as tendências algo generalizadas no vier comum dos homens numas e noutras sociedades.

        Estas pessoas também estão contempladas no âmbito desta Bem-Aventurança.
Ainda que a sua actuação seja com naturalidade e simplicidade o seu cariz cristão chocará com o ambiente e poderá causar não poucos prejuízos ao próprio e à sua família.

        Nos Actos dos Apóstolos encontramos um claro exemplo destes bem-aventurados.
O Sinédrio põe no cárcere alguns apóstolos e discípulos, açoitam-nos e depois de libertarem mandam-lhes que não falem mais de Jesus Cristo: «Eles foram-se embora da presença do Sinédrio contentes porque tinham sido dignos de padecer ultrajes pelo nome de Jesus e no Templo e nas casas não cessavam diariamente ensinar e anunciar Cristo Jesus» ([3]).


***

        Em conformidade com o que vimos até agora poemos sublinhar que cada uma das Bem-Aventuranças é fruto da acção conjunta da Fé, da Esperança e da Caridade que estão sempre presentes no actuar de um crente entrelaçadas harmoniosamente com predomínio de uma ou de outra segundo os casos.

        E ao mesmo tempo «o bom aroma de Cristo» escondido em cada Bem-Aventurança impregna toda a actuação do cristão e confere-lhe um esplendor que torna presente nele o próprio Cristo.
O pacífico dá a conhecer Jesus Cristo «manso e humilde de coração) que jamais «quebra a cana rachada».
O pobre de espírito no seu clamor a Deus Pai sustém na esperança a quem chora e ensina-lhe os caminhos divinos da consolação.
A acção do Espírito Santo na alma do «limpo de coração» torna possível que em todas as suas obras apareça o bater do coração de Cristo que quer «quen todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da Verdade».

        De forma paralela e apreciando em todo o seu valor a riqueza de horizontes a tradição que vincula um Dom do Espírito Santo a uma Bem-Aventurança, pensamos que se pode afirmar que todos os dons fecundam conjuntamente todo o actuar do cristão e fazem-no iluminando, desde o mais íntimo do homem, e segundo o objecto e as circunstâncias do acto e a intenção de quem actua, a inteligência da Fé, a memória da Esperança, a vontade amorosa da Caridade e assim se cumpre a união com Cristo que tem lugar quando «se vive a Verdade na Caridade» ([4]).

xv os frutos do espírito santo

        Já recordámos que ao convite que Cristo nos faz para nos convertermos o homem corresponde com a abertura do seu espírito para chegar a ser «nova criatura no Senhor».

        O cristão é um homem que sem deixar nunca de ser homem, de ser plenamente humano, se converte em filhos de Deus e vive já de um modo também divino a sua natural vida humana.

        «Eu vos asseguro: se não vos converterdes e fazer-vos crianças não entrareis no Reino dos Céus» [5].
O cristão faz no seu espírito eco destas palavras do Senhor seguindo a sugestão do Apóstolo: «Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo Jesus» [6].

        A nova vida do cristão estar «vivo para Deus em Cristo Jesus» manifesta-se como já vimos em capítulos anteriores na conduta externa com uma série de actos que reflectem a fé, a esperança e a caridade e que são inspirados e levados a cabo no espírito das Bem-Aventuranças.
E nessa conversão sem limites do homem também se expressa que nunca se conclui totalmente para ser cristão em todos os actos do seu viver.

        O natural e o sobrenatural no homem ao ser pessoa e filho de Deus, não são realidades separadas que originam actuações em paralelo dentro do homem.
Unidas no eu, que podemos chamar o acto de ser de cada ser humano, até conseguir que o homem natural criado para a vida sobrenatural, enxertado em Cristo, desenvolva no seu viver natural a semente e a seiva do seu viver sobrenatural, do seu viver cristão como «filho de Deus em Cristo Jesus».

        Neste processo a natureza humana do homem vai-se transformando sem nunca deixar de ser o que é até que Cristo real e verdadeiramente viva nele.
E o cristã descobre-se verdadeiramente « filho de Deus» e mebro do seu «povo sacerdotal» [7].

        Então tem lugar a manifestação do cristão que paulatinamente, natural e sobrenaturalmente se despoja do homem velho e se reveste do homem novo.
Ou melhor se reveste do homem novo ao mesmo tempo que se despoja do homem velho.
São Paulo é explícito: «Eu vos digo, pois, e vos conjuro no Senhor a que já não vivais como vivem os gentios (…), fostes ensinados conforme a verdade de Jesus, no que respeita à vossa vida interior, a despojar-vos do homem velho que se corrompe seguindo a sedução das concupiscências, a renovar o espírito da vossa mente e a revestir-vos do homem novo, criado segundo Deus na justiça e santidade da verdade» [8].

        No homem, na pessoa humana, todo o actuar segue o seu ser e procede do seu ser e, ao mesmo tempo, ao actuar para fora e para dentro de si próprio o ser do homem, a pessoa, vai-se modificando, mudando, convertendo-se moral e práticamente, sem por isso perder a sua única identidade metafísica que também adquire novas dimensões.

        O final deste processo de interacção acontence quando cumprida a conversão do homem que lhe permite afirmar como São Paulo: «Cristo vive em mim».

        Quando se pode afirmar que a vida de um homem manifesta o seu ser cristão, o seu ser filho de Deus em Cristo?

        Numa frase simples e breve podemos dizer: quando os seus actos reflectem que a acção dos Dons do Espírito Santo no seu espírito está fazendo surgir nele os seus frutos; frutos do enxerto na natureza humana da Graça sobrenatural.

        «Os frutos do Espírito Santo são perfeições que o Espírito Santo forma em nós como primícias da glória eterna» [9].

        Os Frutos do Espírito Santo na nossa alma são a manifestação mais clara de que o Reino de Deus já está em nós e que a Graça na qual fomos enxertados em Cristo, na sua acção de nos salvar, nos transforma.
Não só nos transforma para nos salvar para a vida eterna mas também os frutos da salvação reflectem-se na nossa conversão já nesta vida.

        Com efeito.
É interessante verificar que São Paulo faz a enunciação destes frutos depois de falar da liberdade «para a qual Cristo nos libertou» [10]; liberdade na qual Deus leva a cabo a «nova criação» e liberdade na qual o homem aceita de Deus o ser nova criatura.

        Ao afirmar que «contra estes frutos não há lei» o Apóstolo faz-nos compreender que os Frutos são a manifestação do enraizamento na alma do cristão dessa nova vida em Cristo.
Vida contra a qual já nenhuma lei tem força por«que a caridade perfeita expulsa o temor» [11], e ao mesmo tempo essa vida abre sempre o espírito à Graça que Deus derrama nos nossos corações porque ‘« a lei do espírito que dá a vida em Cristo Jesus o libertou da lei do pecado e da morte» [12].


(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[1] Bem-aventurados os pacíficos
[2] Mt 3, 15
[3] Act 5, 40-43
[4] Ef 4, 15
[5] Mt 18, 3
[6] Ro 6, 11
[7] 1 P 2, 4-9
[8] Ef 4, 17-34
[9] Catecismo, n. 1832
[10] Ga 5, 1
[11] 1 Jo 4, 18
[12] Ro 8, 2

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