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15/05/2015

Evangelho, comentário .L Espiritual (A beleza de ser cristão)


Semana VI da Páscoa

Evangelho: Jo 16 20-23

20 Em verdade, em verdade vos digo que haveis de chorar e gemer, e o mundo se há-de alegrar; haveis de estar tristes, mas a vossa tristeza há-de converter-se em alegria. 21 A mulher, quando dá à luz, está em sofrimento, porque chegou a sua hora, mas, depois que deu à luz a criança, já não se lembra da sua aflição, pela alegria que sente de ter nascido um homem para o mundo. 22 Vós, pois, também estais agora tristes, mas hei-de ver-vos de novo e o vosso coração se alegrará, e ninguém vos tirará a vossa alegria. 23 Naquele dia, não Me interrogareis sobre nada. «Em verdade, em verdade vos digo que, se pedirdes a Meu Pai alguma coisa em Meu nome, Ele vo-la dará.

Comentário:

Comento este trecho do Evangelho de São João sob o olhar maternal da Virgem de Fátima cuja imagem contemplo na “Capelinha”.

E… parece-me muito a propósito o texto neste local onde veem de todas as partes do mundo milhares de pessoas que vêm agradecer e pedir.

Quantos vergados ao peso das dificuldades, da dor, do desânimo e ansiedade encontram neste lugar santo a superação do que os aflige, a calma e paz que lhes têm faltado, recuperando a esperança e a confiança.

É verdade… vêm-se muitos olhos marejados de lágrimas e posturas como que esmagadas pela dor mas, basta olhar com “olhos de ver”, não se vêm sinais de tristeza!
Bem ao contrário há como que uma alegria latente nos semblantes e, sobretudo uma paz serena e confiada.

A Senhora a tudo preside, tudo recebe nas suas mãos amorosas para as levar ao Seu Filho Jesus!

Como não confiar?!

(ama, Fátima, comentário sobre Jo 16, 20-23, 2014.05.30)


Leitura espiritual



a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE



xiv o espírito das bem-aventuranças

        É doutrina comum considerar que as Bem-Aventuranças recolhem e expressam toda a novidade que o espírito que Cristo revelou, do espírito da «nova criatura» que há-de ser a do cristão.
Portanto podemos dizer que as Bem-Aventuranças são a manifestação mais plena da verdadeira vida cristã, a consumação dos mandamentos.

        «O Decálogo, o Sermão da Montanha e a catequese apostólica descrevem-nos os caminhos que conduzem ao Reino dos Céus.
Avançamos por eles passo a passo mediante os actos de cada dia sustentados pela graça dos Espírito Santo.
Fecundados pela Palavra de Deus damos lentamente frutos na Igreja para a glória de Deus» ([1]).

        A Graça, uma vez mais recordamos, acrescenta no homem a condição de Filhos de Deus em Cristo Jesus à condição de criatura e da origem a um novo modo de viver que converte o humano em cristão, em divino sem deixar de ser completamente humano; mais, sendo ao mesmo tempo completamente humano.

        Este novo modo do viver cristão manifesta a sua «novidade» relativamente ao viver como criatura do homem religioso que quer dar glória a Deus.
A «novidade» é viver os Mandamentos com o novo espírito que Cristo nos manifestou no mandamento novo», com os espírito das Bem-Aventuranças.

        Existe algum contraste entre os Mandamentos e as Bem-Aventuranças?
As Bem-Aventuranças formam uma nova lei que substitui os Mandamentos ou, pelo menos, os relega para um segundo plano?
Se Cristo diz que quem O ama é aquele que cumpre os Mandamentos porquê ao enunciar as Bem-Aventuranças sublinha especialmente a felicidade que alcançam os que a vivem e não faz menção ao amor que lhe manifestam?

        A «novidade» que assinalámos realmente não supõe nenhum contrate entre Mandamento e Bem-Aventurança antes «plenitude»: os Mandamentos têm a sua realização plena nas Bem-Aventuranças.

        Não é difícil descobrir que os modos de viver anunciados e abençoados com a promessa das Bem-Aventuranças não podem nunca ser o fruto nem da vontade do homem nem da clarividência da inteligência.
O homem é incapaz de vislumbrar a felicidade num comportamento que por vezes se apresenta com facetas que ainda que não contradigam as suas tendências naturais lhe abrem uns horizontes novos totalmente inesperados que por vezes tornam difícil descobrir a felicidade escondida nessas exigências.

        Já os filósofos gregos descobriram a felicidade  no comportamento virtuoso, e o Livro da Sabedoria no Antigo Testamento também reflecte essa perspectiva do actuar humano.
«Mais vale não ter luxos e possuir a virtude porque a memória desta é imortal Deu e os homens estimam-na igualmente» ([2]).
Mas quem poderá ter chegado a pensar na felicidade dos «mansos», dos «misericordiosos»?

        Com efeito, o enunciado das Bem-Aventuranças manifesta-nos o «novo modo de viver cristão» somente possível de se desenvolver com as mesmas disposições que Cristo nos ensinou:
«Aprendei de Mim que sou manso e humilde de coração» ([3]); e «Dou-vos um Mandamento Novo: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» ([4]).
Sem estas disposições fundamentais é impossível que a Graça conclua o seu trabalho de conversão, que o espírito da Bem-Aventuranças deite raízes no espírito do homem.

        Como enraizar na alma essas disposições?
Ainda que este processo de conversão vá ser objecto da Segunda Parte adiantamos agora uma brevíssima reflexão.

        O primeiro passo da conversão para ser nova criatura é uma conversão de fé.
Como Abraão acreditou em Deus e lhe foi imputada a justiça ([5]), assim também o cristão acredita na palavra de Cristo e espera contra toda a esperança a realização da promessa contida em cada uma das Bem-Aventuranças: «o reino dos céus», «serão consolados», «alcançará misericórdia», «serão chamados filhos de Deus».

        Essa conversão de fé, e a esperança que a fé origina e sustém, só é possível de alcançar na contemplação amorosa de Deus, no seu rosto, que é Cristo: «O que me viu a Mim viu o Pai» ([6]).

        «Olharão para O que trespassaram».
Zacarias tinha anunciado esta contemplação de Cristo, João situa-a num primeiro momento, ao pé da cruz ([7]) e numa segunda reflexão passados dois anos e ante Cristo que nos lavou os nossos pecados com o seu sangue afirma que «todo o olho O verá até os que O trespassaram e por Ele farão luto todas as nações» ([8]).

        Contemplar Cristo crucificado, morto e ressuscitado é a caridade que nos leva à conversão na «dor» dos nossos pecados, que nos consolida na esperança porque «nos lavou dos nossos pecados».
E a Caridade faz-nos compreender que Jesus Cristo é o modelo vivo do Bem-aventurado, do homem renascido em Deus para sempre, da «nova criatura» que o Espírito Santo anseia engendrar em cada cristão.

        Quando mencionamos os motivos da Encarnação do Senhor recordamos entre eles o que há-de «ser para nós um modelo e exemplo de vida».
«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» ([9]).
Ele é com efeito o modelo das Bem-Aventuranças e a norma da nova lei: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei ([10]). Este amor tem como consequência a efectiva de si mesmo» ([11]).

        Toda a vida verdadeiramente cristã começa com um encontro com Cristo que é o Caminho, enraíza na alma quando o olhar de Cristo que é o Caminho, que é a Verdade. Descobre os mistérios insondáveis de Deus Pai, Filho, Espírito Santo e essa vida cristã cresce e desenvolve-se com o amor de Cristo e a Cristo que é Vida, quando conseguimos atingir que Ele deu a Sua vida por nós na esperança de que assim nos convençamos do seu Amor e de que nos transmitiu a Sua vida nos Sacramentos.

        Podemos dizer que só contemplando o viver de Cristo e só na perspectiva do amor de Cristo, e com as mesmas disposições de humildade e de mansidão que Ele viveu como acabamos de recordar, é possível compreender os espírito das Bem-Aventuranças e considerar a vida oculta nas Bem-Aventuranças com a plenitude vital e existencial do homem humano-cristão e assim abrir o espírito para o nascimento definitivo de Cristo em nós.

        Para nos facilitar a compreensão do sentido do enunciado de cada bem-aventurança recordemos s apresentação das promessas de Cristo na versão e na ordem recolhida por S. Mateus ([12]).
Sem esquecer que esse capítulo do Evangelho conclui com a frase que indica a vigência para todos os cristãos, para todos os homens, da verdade e da vida de cada uma e de todas as Bem-Aventuranças: «Vós, pois, sede perfeitos, como o vosso Pai celestial é perfeito» ([13]).

        «Bem-aventurados os pobres de espírito porque deles é o reino dos céus.
        Bem-aventurados os que choram porque serão consolados
        Bem-aventurados os manso porque possuirão a terra
        Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados
        Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia
        Bem-aventurados os limpos de coração porque verão a Deus
        Bem-aventurados os pacíficos porque serão chamados filhos de Deus
        Bem-aventurados os que padecem perseguição por causa da justiça porque deles é o reino dos céus».

        São Mateus conclui a enumeração com uma nova Bem-Aventurança que de certo modo podemos considerar como o resumo ou pelo menos com umas palavras que se podem aplicar a todas as Bem-Aventuranças:

        «Bem-aventurados sereis quando vos injuriem, vos perseguirem e mentido digam toda a classe de mal contra vós por minha causa. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande nos céus a vossa recompensa: da mesma forma perseguiram os profetas que os precederam».

        O Senhor anuncia esta nova vida a pessoas que já têm algum conhecimento dele e da sua doutrina ainda que pareça lógico pensar que a familiaridade dos discípulos com as palavras de Cristo era muito ténue e, nalguns casos, quase inexistente.
Todavia, de entre a multidão dos ouvintes alguns já são verdeiros discípulos escutaram-no em diferentes ocasiões e entre eles estarão aqueles que pouco tempo depois elegerá como Apóstolos.

        Sem fazer qualquer distinção entre uns e outros comunica a todos o seu desejo de que sejam os primeiros aquelas palavras em prática

        Como o faz e porquê?


(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[1] Catecismo, n. 1724
[2] Sab 4, 1
[3] Mt 11, 19
[4] Jo 13, 34
[5] Cfr. Rom 4
[6] Jo 14, 9
[7] Jo 19, 17
[8] Ap 1, 7
[9] Jo 14, 6
[10] Jo 15, 12
[11] Catecismo, n. 459
[12] Mt 5, 3-12
[13] Mt 5, 48

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