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14/05/2015

Evangelho, comentário .L Espiritual (A beleza de ser cristão)


Semana VI da Páscoa


São Matias – Apóstolo

Evangelho: Jo 15 9-17

9 Como o Pai Me amou, assim Eu vos amei. Permanecei no Meu amor. 10 Se observardes os Meus preceitos, permanecereis no Meu amor, como Eu observei os preceitos de Meu Pai e permaneço no Seu amor. 11 Disse-vos estas coisas, para que a Minha alegria esteja em vós e para que a vossa alegria seja completa. 12 «O Meu preceito é este: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amei. 13 Não há maior amor do que dar a própria vida pelos seus amigos. 14 Vós sois Meus amigos se fizerdes o que vos mando. 15 Não mais vos chamarei servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamo-vos amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de Meu Pai. 16 Não fostes vós que Me escolhestes, mas fui Eu que vos escolhi, e vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a Meu Pai em Meu nome, Ele vo-lo conceda. 17 Isto vos mando: Amai-vos uns aos outros.

Comentário:

Podemos considerar duas passagens importantes contidas neste trecho do Evangelho de São João.

A primeira será muito consoladora já que o Senhor afirma que foi Ele Quem nos escolheu.
Assim de nos assaltar a dúvida dos merecimentos que possamos ter ou não para nos considerarmos como fazendo parte do Seu rebanho com todas as implicações que tal significa, o sabermos que Ele nos escolheu sabendo das nossas imperfeições e misérias é porque nos quer verdadeiramente tal como somos.

A segunda teremos uma vez mais a importância do amor a Deus - que é a plenitude do Amor - e o amor ao próximo, espelho e reflexo do Criador.

(ama, comentário sobre Jo  15, 9-17 2014,05.14)


Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE


XIII os mandamentos da lei de deus

…/4

o amor a deus na vida social

                Todavia o ser humano não é chamado a viver plenamente no âmbito da família.
Deus criou o homem em família e estabeleceu uma série de vínculos entre os homens que os levam a viver em comunidade, em relação vital.
Nenhum ser humano é uma ilha.
Tampouco uma família.
Nenhum ser humano nem nenhuma família nem sequer um grupo de famílias é completamente independente e autónomo em referência aos outros seres humanos.
        E essa vida social que permite o desenvolvimento do homem em todas as facetas do seu ser é a que normal e fecundo a que estão chamados a proteger o sétimo e o oitavo mandamentos: Não roubar, não mentir.
Não só a proteger mas também a tornar possível que se viva em amor e confiança mútuas de forma a garantir um desenvolvimento normal e fecundo em serviço de todos.
        Com efeito o não roubar os bens alheios, sejam eles quais forem: materiais, intelectuais, espirituais, familiares, sociais etc., assegura que cada ser humano possa cooperar na convivência familiar, social e política com o que lhe é próprio, além de empregar esses bens para a sua perfeição humana, natural e sobrenatural, para a glória de Deus.

Só Deus pode retirar os talentos que Ele próprio concedeu ao ser humano ainda que por vezes o homem se aproprie indevidamente dessa capacidade e, de certo modo, se roube a si próprio e roube a sociedade algo que lhe era devido.

        Tal acontece quando o homem se fecha no egoísmo, deixa de considerar o mandamento como um caminho para viver no amor face a Deus e aos homens, em serviço e para glória de Deus e em serviço dos homens e refere qualquer riqueza de qualquer tipo que tenha à sua disposição única e exclusivamente a si próprio, para a sua própria satisfação e prazer, quebrando assim a ordem estabelecida por Deus.

        O oitavo Mandamento, não mentir, é dirigido a que permaneça sempre a confiança entre os homens, a que essa confiança que torna possível a boa ordem do viver social, não se perca nem diminua.
A Desconfiança em Deus originou o primeiro pecado de Adão, e a desconfiança nos «filhos de Deus» destroça os vínculos indispensáveis que tornam possível aos homens conviver entre eles e com Deus.
        O mentir pressupõe sempre a persistência do pecado do paraíso e por isso se diz com propriedade que o diabo é é «o pai da mentira».

Vencido o pecado e vivendo já na ordem da redenção, o cristão é chamado a ser testemunho vivo da verdade do homem e da verdade de Deus.
Como os outros Mandamentos o seu enunciado negativo absoluto pressupõe uma clara afirmação positiva.
Um convite a que a linguagem esteja ao serviço dos planos amorosos de Deus sobre o mundo.

        Daí que a maior mentira que um discípulo de Cristo poe expressar, mais que nas suas palavras está por vezes na sua vida quando os seus actos não reflectem a Fé, a Esperança e a Caridade que a Graça deveria fazer crescer no seu espírito.
Assim no lo recorda São João:
«Se dizemos que estamos em comunhão com Ele e caminhamos nas trevas, mentimos e não actuamos conforme a verdade»[1].

os mandamentos contra os inimigos da caridade

Talvez pareça mais difícil de compreender a relação directa com a fé, com a esperança e com a caridade que os últimos preceitos do decálogo possam guardar.
E todavia, esses mandamentos, o nono e o décimo – não desejarás a mulher do teu próximo, não cobiçarás os bens alheios – previnem o homem contra os grandes inimigos da caridade e da esperança e por conseguinte, também da fé.

        È comum sublinhar tudo quanto no nono Mandamento tem uma relação mais directa com o que foi estabelecido no sexto, a propósito da pureza da carne e do espírito para manter e engrandecer a pureza de espírito com respeito à caridade, à sexualidade e à verdade.
Este aspecto do Mandamento reflecte-o o Catecismo com estas palavras:
«Os corações limpos designam o que a sua inteligência e a sua vontade ajustaram às exigências da santidade de Deus principalmente nos três domínios: a caridade, a castidade ou rectidão sexual, o amor à verdade à ortodoxia na fé»[2].

        Depois destas afirmações, também podemos concentrar a nossa atenção uma particularidade deste Mandamento que talvez fique mais a descoberto se se lê a versão que o Êxodo recolhe e que diz assim:
«Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu burro nem nada que seja do teu próximo»[3].

        Não parece muito ousado pensar que Deus está fazendo o homem considerar que não deve permitir que a inveja deite raízes na sua alma.
A cobiça e o desejo dos bens alheios supõem criticar Deus ter sido injusto ao criar-nos por ter feito uma má distribuição dos dons e fechar o coração do homem a viver o agradecimento pelo recebido.
Não aceitar, em suma, a ordem da criação constituída.

        O acusar Deus de injustiça e a falta de agradecimento que o acompanha são acções que originam directamente a inveja e são, portanto, contrárias à caridade e impedem que o amor faça crescer no homem a fé em Deus.
A inveja impede o homem de conseguir alcançar a «purificação do coração».

        Algo semelhante, ainda que de outro género, acontece com o estabelecido no décimo Mandamento.
O enunciado do preceito é bem claro e sem lugar a dúvidas:
«Não cobiçarás os bens alheios».
E a indicação dirige-se directamente contra a avareza.
«O décimo Mandamento proíbe a avareza e o desejo de uma apropriação imoderada dos bens terrenos»[4].

        Quando o homem centra os eus principais interesses nso bens terenos é lógico que descuide a perspectiva da vida eterna.
E , então, é natural que as raízes da esperança cristã murchem.
O verdadeiro sentido da criação e da vida, que não acaba aqui na terra, mas está completamente aberta à vida eterna, perde os seus contornos e os seus horizontes e o homem, em suma, abandona a vida da graça e com ela os planos de Deus sobre ele.
O avarento pensa só na terra, o seu olhar nunca alcança a vida eterna.

        A Fé, a Esperança e a Caridade crescem no homem quando a sua vida transcorre pelos caminhos assinalados nos Mandamentos do Decálogo.
Ao mesmo tempo, estes preceitos tornam possível que o homem se mantenha nessa manifestação de verdadeiro amor a Deus e à ordem estabelecida por Deus no mundo.

Ao viver os preceitos divinos que os Mandamentos encerram como caminhos da sua vida cristã, o homem descobre o amor com que Deus o ama e saboreia a verdade das palavras de Cristo:

        «Se me amais guardareis os meus mandamentos»[5].

       
(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)





[1] 1 Jo 1, 6
[2] Catecismo, n. 2518
[3] Êx 20, 27
[4] Catecismo, n. 2536
[5] Jo 14, 15

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