Páginas

10/05/2015

Evangelho, comentário .L Espiritual (A beleza de ser cristão)



Semana VI da Páscoa

Evangelho: Jo 17 11-19

11 Já não estou no mundo, mas eles estão no mundo, e Eu vou para Ti. Pai Santo, guarda em Teu nome aqueles que Me deste para que sejam um, assim como Nós. 12 Quando Eu estava com eles, os guardava em Teu nome. Conservei os que Me deste; nenhum deles se perdeu, excepto o filho da perdição, cumprindo-se a Escritura. 13 Mas agora vou para Ti e digo estas coisas, estando ainda no mundo, para que eles tenham em si mesmos a plenitude da Minha alegria. 14 Dei-lhes a Tua palavra, e o mundo odiou-os, porque não são do mundo, como também Eu não sou do mundo. 15 Não peço que os tires do mundo, mas que os guardes do mal. 16 Eles não são do mundo, como Eu também não sou do mundo. 17 Santifica-os na verdade. A Tua palavra é a verdade. 18 Assim como Tu Me enviaste ao mundo, também Eu os enviei ao mundo. 19 Por eles Eu santifico-Me a Mim mesmo, para que também sejam santificados na verdade.

Comentário:

Na história da salvação humana avulta o mistério de Judas Escariotes «o filho da perdição» como Jesus o identifica.

Como se explica a sua escolha, entre tantos, como um dos Doze?

O Senhor, que conhece o coração dos homens e os seus mais recônditos pensamentos e inclinações, não podia ter escolhido outro que não viesse a revelar-se um traidor mesquinho?
Mesquinho não por ter vendido o Mestre por quantia tão escassa - a traição não tem preço - mas por ter enganado até ao último momento, e com um beijo, Aquele que o tinha como amigo.

Cristo podia ter escolhido outro.
Mas, note-se que Judas não foi o único a traí-lo, Pedro também jurou não conhecer o Mestre!

Assim se vêm duas coisas: a primeira que Jesus não faz acepção de pessoas; a segunda que a todos dá iguais oportunidades de perseverar na fidelidade ou no arrependimento.

Talvez por isso, nos escolheu a nós, fracos e pusilânimes, para Seus seguidores e para levar-mos a outros as Suas Palavras de Vida Eterna.

(ama, comentário sobre Jo 17, 11-19, 2012.05.23)

Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE


XII perspectiva da Redenção


A)       a redenção que cristo nos oferece

…/2

O cristão, e já o esclarecemos ao falar da Graça, não vive da recordação de uma gesta gloriosa levada a cabo por Jesus de Nazareth, vive a própria vida de Cristo na terra e num tempo que a Ele corresponde converter em eternidade, usando os anos, os dias que se lhe concederam.
Vivendo a vida de Cristo por e na acção da Graça, o cristão encarna a «redenção objectiva» obtida por Jesus Cristo e, por estes meios, a «redenção objectiva» é chamada a alcançar a plenitude da sua eficácia em cada ser humano até ao fim dos tempos

Vivendo no seu espírito, melhor, na plenitude do seu ser pessoal, a Ressurreição de Cristo, o homem converte o passado em presente e enxerta-se na eternidade.

O Catecismo expressa assim este mistério:

«Quando chegou a sua hora viveu o único acontecimento da história que não passa: Jesus morre, é sepultado, ressuscita de entre os mortos e senta-se à direita do Pai de uma vez por todas.
É um acontecimento real acontecido na nossa história mas absolutamente singular: todos os outros acontecimentos sucedem uma vez e logo passam e são absorvidos pelo passado.
O mistério pascal de Cristo, pelo contrário, não pode permanecer somente no passado pois a sua morte destruiu a morte e tudo o que Cristo é e tudo o que fez e padeceu pelos homens participa da eternidade divina e assim domina todos os tempos e neles se mantem permanentemente presente.
O acontecimento da Cruz e da Ressurreição permanece e atrai tudo à Vida»[i]

A vertente divina da obra redentora de Cristo – dar a Deus toda a glória e tornar possível que a criação possa de novo voltar a  adorar o Criador – tem um lado humano correspondente.

«Deus, que te criou sem ti, não te salvará sem ti», recorda-nos Santo Agostinho.
Esta necessária colaboração do homem não se refere, todavia, à simples disponibilidade para ser redimido ou à simples decisão de liberdade humana de acolher a redenção oferecida por Cristo.
Estes passos são necessários mas não suficientes.
Requer-se que o homem viva a própria vida de Cristo, a vida de Deus que Cristo nos traz e nos oferece na sua Encarnação.

B)          a redenção aceite pelo homem

O homem não pode apropriar-se da Redenção e torna-la sua pela sua própria vontade ou por uma simples decisão do seu espírito.
Por outro lado Deus não impõe a Redenção ao homem de forma semelhante a como lhe impõe a vida.
Não podemos dizer que o homem está «obrigado a viver a aceitar a Redenção.
E ao mesmo tempo o homem foi criado e realiza-se plenamente ao aceitar viver a Redenção.

A Redenção não é um prémio que Deus entrega nas mãos dos homens, nem sequer é essa veste branca que autoriza a entrar sem sobressaltos no banquete nupcial.
Já vimos que a Redenção não se limita a libertar-nos externamente do pecado nem a pôr à nossa disposição um caminho, um exemplo, como um ideário de virtudes e de boas acções que tornem a nosaa pessoa mais grata a Deus: Cristo faz-nos partícipes da natureza divina, ao redimir-nos oferece-nos viver a vida de Deus.
E ao fazê-lo coloca a sua esperança em que a aceitemos e vivamos por Ele, com Ele e nele.

A Redenção que Cristo nos oferece não é portanto uma simples libertação do pecado e da morte.
É viver com Ele a sua Cruz redentora e a sua Ressurreição gloriosa para que a nossa vida na Sua e com a Sua seja redenção – co-redenção – ao mesmo tempo que nos convertemos em testemunhas da Sua Ressurreição.
É a vida de Cristo em nós o que nos faz ser gratos a Deus.

Cristo quis ser um com cada um de nós [ii] e assim converter-nos em «novas criaturas». Fazer-nos portadores dele, viver a nossa aventura humana e divina connosco e, ao mesmo tempo, manifestar-se ao mundo em cada um de nós já convertidos em «filhos de Deus em Cristo Jesus».

Como pode o homem viver a vida de Deus?

Cristo dá-nos a sua vida e uma vez recebida em nós o Espírito Santo fá-la frutificar se não pomos o obstáculo do pecado.
Cristo transmite-nos a vida divina nos Sacramentos e assim torna possível que a Sua presença pessoal na Graça comunique a cada a cada cristão a sua Redenção.
A Igreja é o garante de que esses sacramentos – o tesouro da vida de Cristo, o próprio Cristo feito vida e alimento para a nossa vida cristã – cheguem íntegros e possam ser participados por todos  os que creem em Cristo e acreditaram no Filho de Deus feito homem até ao final dos tempos.

O homem aceita pessoalmente mediante um acto de fé a Redenção que Cristo lhe oferece.
Esse acto de Fé  livre – ainda que o conteúdo desse acto de Fé naõ seja de todo claro e determinado, se o fosse não seria realmente um acto de fé – o homem vincula-se com o mistério de Deus que vislumbra em Cristo e no qual anseia viver.

O acto de fé do homem une-se ao desejo de Deus de contar de novo com a criatura feita à sua imagem e semelhança e se manifesta aberto aos planos redentores e santificadores do Senhor.
Na Fé o homem recupera toda a confiança no Criador, confiança perdida no pecado no paraíso.
E amando com a Caridade a Quem sem conhecer plenamente vislumbra na Fé aceita a nova vida que Deus lhe oferece.
Nessa aceitação Deus faz-se familiar do homem e o homem descobre em Deus o sentido de todas as suas obras: o mundo adquire um significado e todas as palavras de Deus transmitem ao homem a plenitude do sentido da sua vida.

Este breve resumo pretende ser uma visão que corresponda à estrutura constituída da vida cristã do homem, da sua história salvífica: criação, redenção, santificação.
Criação do homem, encarnação de Deus, acto redentor de Cristo (morte e ressurreição), manifestação do Espírito Santo.

A Graça enxerta-se na alma e faz germinar nas nossas faculdades humanas as virtudes teologais infusas: a Fé na inteligência, abrindo-a definitivamente à Verdade plena nesse raio de luz pelo qual se conhece a Deus, a Esperança na memória, no viver temporal histórico do homem abrindo o horizonte da perspectiva humana para a vida eterna; e a Caridade na vontade que permite ao homem amar em toda a criação a obra de Deus como Deus a ama.

Deus põe um raio do amor com o qual Ele se ama e o homem pode amar a Deus de forma semelhante a como Deus se ama a Si próprio.
A Graça engendra na vida cristã que se manifesta na Fé, na Esperança e na Caridade e que se desenvolve ao ritmo dos Dez Mandamentos vividos segundo o espírito das Bem-Aventuranças que consideraremos a seguir.

Adianto somente que na perspectiva da vida cristã que estamos seguindo temos de ver estes Mandamentos principalmente não como um conjunto de regras e de leis mas como oq verdadeiramente são: um canal pelo qual transcorre sereno e tranquilo o viver cristão no meio de conversões, de lutas e de alegrias, de quedas e de ressurreições.

A vinda de Deus à alma anunciada por Cristo: «viremos a ele e faremos nele morada» [iii] é a introdução do ser humano na vida da eternidade de Deus para a qual foi criado, da eternidade no tempo, como Cristo viveu, e ao mesmo tempo, é o cumprimento da espera no tempo para voltar a tomar posse do que desde a origem lhe pertence.

A Redenção enxerta-se na história pessoal de cada homem de tal forma que todo o interior desse enxerto perde sentido e significado.
São Paulo não cessa de o recordar em quase todas as suas cartas:

«Porque nem a circuncisão nem a incircuncisão são algo mas a nova criação» [iv]
«Porquanto se alguém está em Cristo é nova criação. O velho passou. Olhai, tudo fica renovado. E tudo é obra de Deus o qual nos reconciliou consigo por meio de Cristo e nos confiou o ministério da reconciliação»[v]
«Ao passo que com os impulsos do Espírito Santo vos renovais na vossa mente e vos revestis do homem novo, o que é segundo Deus, criado em justiça, em verdade e em santidade»[vi]
«Não mintais uns aos outros. Despojai-vos do homem velho com as suas obras. Revesti-vos do homem novo que se vai renovando até alcançar um conhecimento perfeito segundo a imagem do seu Criador, porque não há grego e judeu, circuncisão ou incircuncisão, bárbaro, escita, escravo, liberto mas sim Cristo que é tudo e em todos».[vii]

       
(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)





[i] Catecismo n. 1085
[ii] Cfr. Gaudium et spes, 22
[iii] Jo 14, 23
[iv] Ga 6, 15
[v] 2 Co 5, 17-18
[vi] Ef 4, 23-24
[vii] Col 3, 10-11

Sem comentários:

Enviar um comentário

Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.