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17/05/2015

Evabelho, comentário, L. Espiritual



Semana VII da Páscoa

Evangelho: Mc 16 15-20

15 E disse-lhes: «Ide por todo o mundo, e pregai o Evangelho a toda a criatura. 16 Quem crer e for baptizado, será salvo; mas quem não crer, será condenado. 17 Eis os milagres que acompanharão os que crerem: Expulsarão os demónios em Meu nome, falarão novas línguas, 18 pegarão em serpentes e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará mal; imporão as mãos sobre os doentes, e serão curados». 19 O Senhor, depois de assim lhes ter falado, elevou-Se ao céu e foi sentar-Se à direita do Pai. 20 Eles, tendo partido, pregaram por toda a parte, cooperando com eles o Senhor e confirmando a palavra com os milagres que a acompanhavam.

Comentário:

Em muitas das chamadas “igrejas” que proliferam um pouco por toda a parte, uma das práticas correntes para atrair e fidelizar prosélitos é precisamente o recurso a esses “milagres” que o Senhor promete aos que O seguem e levam a Sua Palavra aos outros.
Como se sabe, tais “milagres” não passam de mistificações mais ou menos grosseiras porque ninguém tem esse poder senão aqueles a quem o Senhor o concede.
Os milagres são feitos por Jesus Cristo que se serve dos homens por Si escolhidos como instrumentos para os realizar.
Não é possível, pois, operar milagres sejam quais forem, em proveito próprio e, muito menos, se O Senhor está ausente ou é abusivamente evocado seja por quem for.

(ama, comentário sobre Mc 16, 15-18, 2013.04.25)


Leitura espiritual



a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE



xiv -o espírito das bem-aventuranças

…/3

       
o sentido de cada bem-aventurança

        Quem são bem-aventurados ao chorar?
Formulamos assim a pergunta porque parece óbvio que nem todo o pranto entra na Bem-Aventurança.
Com efeito participam desta promessa os que padecem tristeza e choram pelo pecado próprio e pelo dos outros que, ao viver com Cristo, «fazer-se pecado» nunca lhes é totalmente alheio.
Os que se doem pelo afastamento de Deus pelos pecadores e por todo o mal contra Deus que se vive na terra, contra os homens e contra si próprios que têm de suportar nas suas vidas sem poder impedir que aconteça nem estar em condições de remediar as suas consequências.

        Cristo deu-nos um exemplo claro desta Bem-Aventurança com o seu choro sobre Jerusalém: «ao aproximar-se e ver a cidade chorou sobre ela dizendo: ‘Se também tu conhecesses neste dia a mensagem de paz!’. Mas agora está oculto aos teus olhos» [1].

        No pranto ante o mal podemos vislumbrar a acção da Esperança.
O pranto destes bem-aventurados anuncia a aurora da Ressurreição.

        Quem são os Mansos?
Talvez que esta Bem-Aventurança seja uma das que com mais frequência se interpreta com sentido restrictivo e limitado, quase como um simples não irar-se ante o mal.
Se o próprio Senhor nos aconselha que aprendamos dele que é «manso e humilde de coração», necessariamente está a indicar-nos o alcance e a profundidade espiritual da mansidão que não pode, portanto, a manter a calma e a resignação em momentos difíceis.

        A mansidão é a disposição com que Jesus Cristo leva a cabo a redenção do mundo carregando no seu coração com todo o pecado dos homens e assim viver derrota do pecado, o triunfo sobre a morte em comunhão com todos os redimidos.
Cristo é manso no seu nascimento, é manso na sua vida pública, vive a mansidão no abandono da cruz e manifesta definitivo sentido sobrenatural da mansidão na sua paciência e compreensão com os discípulos de Emaús, com Pedro, com Madalena.

        São mansos, por conseguinte, os que suportam com serenidade o mal que os rodeia e não desistem de fazer o bem, os que desejam vencer o mal com a abundância do bem [2], os que cedem ante a maldade, ante a injustiça sem por isso deixar de defender a Verdade e os seus direitos se fosse o caso.
Os mansos nunca devolvem o mal com o mal, afastam do seu coração qualquer sentimento de vingança e rezam pela conversão dos pecadores, dos inimigos, dos que os perseguem, dos que os maltratam.

        Cristo apresenta-se-nos como manso, entre outras passagens do Evangelho, ao aceitar ser tentado pelo demónio [3]; ao recordar a Tiago e a João que a vingança e o castigo não são o caminho para convencer ninguém [4], ao curar a orelha que Pedro no Jardim das Oliveiras cortou com a espada [5].

        Nesta Bem-Aventurança comprovamos a virtude da Caridade e da Esperança que tornam possível que o homem não desista de fazer o bem convencido que o mal, o pecado, não é nunca a última palavra.
Caridade e Esperança que tornam possível  o martírio, acto por excelência da mansidão.

        Quem são os que têm fome e sede de Justiça?
Os que ama a Deus – bem imutável e eterno – sobre todas as coisas e desejam que eles e todos os homens deem glória a Deus em todas as sua acções.
Os que se alegram com a conversão dos pecadores, os que gozam quando o nome de Deus é louvado, querido e venerado porque sabem que essa é a verdadeira justiça e que a criatura adquire a sua verdadeira dignidade em dar «glória a Deus».

        Cristo expressou a sua «fome e sede de justiça», entre outros momentos, ao recordar aos Apóstolos que «vim trazer fogo (o fogo prefigura o Espírito Santo) à terra e quero que ateie» [6].
Ao actuar movido «pelo zelo da casa do Pai» e expulsar do templo os mercadores [7].
Ao prometer-nos que: «oque pedirdes em meu nome Eu o farei para que o Pai seja glorificado no Filho» [8].

        Esta Bem-Aventurança manifesta claramente a acção da Caridade na alma do cristão, Caridade que leva a amar a Deus sobre todas as coisas e a alegrar-se em que Cristo seja reconhecido como Filho de Deus feito homem e ver que os homens caminham na verdade: «Alegrar-me-ei muito ao encontrar entre os teus filhosn os que vivem segundo a verdade» [9].

        A quais se pode chamar misericordiosos?
Aos que têm o seu coração na miséria moral, física e espiritual do outros, os compassivos, os que compreendem as debilidades e fraquezas do próximo e o ajudam a superá-las.
São misericordiosos os que amam verdadeiramente os seus irmãos com o coração e no coração de Cristo e não descriminam ninguém, não julgam ninguém, não deixam de rezar por ninguém e oferecem a sua vida por todos sem esperar nada em troca.

        Cristo, ao perdoar a mulher adúltera, dá-nos um vivo exemplo do seu coração misericordioso.
Uma vez que a mulher admite o seu pecado Cristo não a condena: deixa-a ir-se embora e incita-a para que não volte a pecar [10].

        Cristo oferece-nos o supremo acto de misericórdia ao pedir ao Pai pelos que o crucificam, por cada um de n´s: «Pai perdoai-lhes porque não sabem o que fazem» [11].

        Esta Bem-Aventurança assinala um dos mais altos graus da Caridade - juntamente com o martírio – que o homem pode alcançar na terra.
O misericordioso realiza em Cristo esse mistério do amor de Deus que São Paulo revela nos últimos versículos do seu canto à Caridade: «A Caridade (…) tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta» [12].

        Quem são os limpos de coração?
Os que convencidos da afirmação de São Paulo: «Deus faz concorrer todas as coisas para o bem dos que o amam» [13], vêm a acção de Deus Pai em todos os acontecimentos da sua vida.
Nunca pensam mal das actuações dos outros sem por isso desejar descobrir a injustiça e o mal real e objectivo que podem levar a cabo e procuram salvar a intenção de todas as pessoas até que se reconheça claramente a sua acção.

        Estão de tal forma unidos ao querer e ao olhar de Deus que o seu coração limpo é como um espelho que reflecte a luz do olhar de Deus sobre o mundo.
Sofrem pelas ofensas que à sua volta, em toda a terra, se fazem a Deus e anseiam amar a Deus pelos que não O amam.
E fazem-nos de tal forma que nada os apoquenta.
São Marcos refere-se aos limpos de coração ao concluir o seu Evangelho: «Aos que acreditarem acompanhá-los-ão estes sinais: em meu nome expulsarão os demónios, falarão novas línguas, pegarão serpentes com as mãos e se beberem veneno não lhes fará mal, porão as mãos sobre os doentes e curá-los-ão» [14].

        Cristo sublinha a importância desta Bem-Aventurança quando nos recomenda: «procurai, pois, primeiro o reino e a sua justiça, e todas estas coisas (refere-se ao comer, ao beber, ao vestir, ou seja, à necessidades normais do viver) dar-se-vos-ão por acréscimo» [15].

        HNesta Bem-Aventurança a acção da Fé e da Caridade apoiam-se e engrandecem-se mutuamente.
A Fé limpa a inteligência, a Caridade purifica o coração.
E o coração e a inteligência tornam possível que o crente, em alma e corpo, nas suas actuações e nas suas palavras, seja um resplendor da luz do Céu.

        Quais merecem ser considerados pacíficos?
Os que ordenam todos os movimentos da sua alma segundo o querer de Deus, se esforçam em viver segundo a Vontade conhecida de Deus e submetem o seu coração à Verdade recebida de Deus.
Os que não põem outra resistência à acção do Espírito Santo neles que a sua fragilidade humana e, então, o Espírito Santo cura a fragilidade.

        Pacíficos no seu interior e «construtores de paz» em todas as relações com os homens.
Os pacíficos sendo semeadores de paz são um testemunho vivo da paz que Cristo dá, fruto da reconciliação obtida na Cruz.
«Deus houve por bem fazer residir em Cristo toda a Plenitude e reconciliara por ele e para ele todas as coisas opacificando mediante o sangue da sua Cruz o que existe na terra e nos céus» [16].

        Cristo antes da sua morte dirigiu-se assim aos Apóstolos: «A paz vos deixo a minha paz vos dou não como o mundo a dá, eu vo-la dou» [17], e ao apresentar-se perante eles depois da Ressurreição ofereceu-lhe de novo a paz: «A paz esteja convosco» [18].



(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)







[1] Lc 19, 41
[2] Cfr Rm 12, 21
[3] Cfr. Mt 4, 1-11
[4] Cfr Lc 9, 52-56
[5] Cfr. Jo 18, 10-11
[6] Lc 12, 49
[7] Cfr. Jo 2, 17
[8] Jo 14, 13
[9] 2 Jo 4
[10] Cfr. Jo 8, 3-11
[11] Lc 23, 34
[12] 1 Cor 13, 6
[13] Rm 8, 28
[14] Lc 16, 17-18
[15] Mt 6, 33
[16] Col 1, 20
[17] Jo 14, 27
[18] Lc 24, 36

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