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29/04/2015

Evangelho, comentário L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Semana IV da Páscoa

Santa Catarina de Sena – Doutora de Igreja

Evangelho: Mt 11 25-30

25 Então Jesus, falando novamente, disse: «Eu Te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e aos prudentes, e as revelaste aos pequeninos. 26 Assim é, ó Pai, porque assim foi do Teu agrado. 27 «Todas as coisas Me foram entregues por Meu Pai; e ninguém conhece o Filho senão o Pai; nem ninguém conhece o Pai senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar. 28 O «Vinde a Mim todos os que estais fatigados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. 29 Tomai sobre vós o Meu jugo, e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis descanso para as vossas almas. 30 Porque o Meu jugo é suave, e o Meu fardo leve».

Comentário:

São bem conhecidos os que aceitaram esse Teu suave jugo: são os santos que veneramos, que queremos imitar.

É bem verdade:

a Tua carga é leve porque dás a força necessária para a suportar e o Teu jugo é suave porque não sujeita nem obriga, é antes guia e segurança para o caminho.

(ama, comentário sobre Mt 11, 25-27, 2010.11.02)


Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE

O QUE É SER CRISTÃO?

I.            Relações que Deus estabelece com o homem.

…/15

Já assinalámos que a única vida que Deus nos impõe é a vida humana, o ser criaturas. Vida que, ainda que sendo recebida sem opção da nossa parte para não a aceitar, não deixa de ser um dom divino; origem e fundamento de toda a grandeza humana.
A «vida cristã” a realidade de «ser nova criatura”, é também um dom de Deus; e certamente nos configura como «seus filhos”, não nos deixa indiferentes.
Podemos, todavia, rejeitá-la, se sendo conscientes da oferta que Deus nos faz, não desejamos aceitá-la, como é o caso das pessoas não baptizadas na sua infância e que não aceitam receber o Baptismo tampouco quando já adultos.
E, além do mais, ainda que tendo recebido o Baptismo na infância, está nas nossas mãos fazer com que a «participação na natureza divina” que se nos concede, e a acção da graça em nós que a acompanha, seja eficaz ou inoperante.
Uma vez recebida a Graça, aceite, e aberto o nosso espírito à sua acção, a capacidade de ser «filhos de Deus em Cristo” o corpo e as potências do homem abrem-se à santidade, à união com Deus, como filhos adoptivos, e deitam raízes e desenvolvem-se em cada cristão; na liberdade de cada cristão, qe se manifesta expressamente no desejo de amar a Deus e na decidida rejeição do pecado.
São Paulo exprime-o com estas palavras: «Todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus.
Pois não recebestes um espírito de escravos para recair no temor; antes recebeste um espírito de filhos adoptivos, que nos faz clamar: Abbá, Pai!
O próprio Espírito se une ao nosso espírito para dar testemunho de que somos filhos de Deus. E, seus filhos, também, herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, já que sofremos com Ele, para ser também glorificados com Ele”.[i]

A CONFIRMAÇÃO

O nosso ser criatura tem consigo uma capacidade para desenvolver as potências e as qualidades que cada um de nós tem como seres humanos.
O nosso «eu”, esse núcleo vital de cada ser humano que é a «pessoa”, encarrega-se de pôr em marcha a nossa «riqueza humana”.
Como poderemos desenvolver a «riqueza sobrenatural” que recebemos no Baptismo e chegar a viver como verdadeiros filhos de Deus em Cristo, «participando da natureza divina”?
Este é o principal trabalho do segundo sacramento da iniciação cristã: a Confirmação.
«O efeito do sacramento da Confirmação é a efusão especial do Espírito Santo, como foi concedida num outro tempo aos Apóstolos no dia de Pentecostes”.[ii]
O Senhor ao despedir-se dos Apóstolos, prometeu-lhes a chegada do Espírito Santo e anunciou-lhes a obra que o Paráclito levaria a cabo na alma de cada um deles e no espírito de todos os crentes, através dos séculos.
Manifestar a existência do Espírito Santo e prometer o seu envio aos homens, começando pelos Apóstolos, foi como que o encerrar definitivo da sua Revelação.
O anúncio de Jesus Cristo consta de duas fases: «O Paráclito. O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará e recordará quanto vos disse.[iii]
Pouco depois, O Senhor afirma: «O Espírito da verdade vos guiará até à verdade completa, pois não falará por sua conta, mas sim pelo que oiça e vos ensinará o que há-de vir… Receberá do que é meu e vo-lo comunicará”.[iv]
O Espírito Santo, ao ensinar-nos e dar-nos a Verdade, o próprio Cristo, e ao enxertar-nos nele, permite-nos viver com Cristo e, vivendo com Cristo, com a Pessoa de Cristo, torna possível que cada um de nós esteja em condições de desenvolver as potencialidades sobrenaturais recebidas na «participação da natureza divina”, no Baptismo.
A Confirmação leva a cabo definitivamente a consolidação de cada pessoa na sua nova vida cristã, em Deus, tanto no plano do «ser” com o no do «actuar”.
Esta acção fica expressa nestas palavras: «A Confirmação imprime na alma uma marca espiritual indelével, o «carácter”, que é o sinal que Jesus Cristo marcou o cristão com o selo do seu Espírito revestindo-o com a força do alto para que seja sua testemunha”.[v]
Os efeitos da Confirmação promovem o crescimento da «nova criatura em Cristo”, que cada cristão é.
Esta acção do Sacramento ocorre seguindo um duplo canal: desenvolvendo a graça baptismal, que introduz mais profundamente o cristão na filiação divina; e aperfeiçoando o sacerdócio comum dos fieis – que mais adiante consideramos -, que dá o poder de confessar publicamente a fé de Cristo, e como que em virtude de um cargo.[vi]
A acção do Espírito Santo não se reflecte, portanto, na consciência de ser «nova criatura”, que o cristão vai adquirindo, consciência que o leva a saber-se, e a ser, «filho de Deus”, capaz de clamar «Abbá, Pai”.
Toda esta consolidação da consciência da filiação divina é obra da acção dos dons do Espírito Santo, que actuam no baptizado desde o primeiro instante da sua vida cristã, como veremos oportunamente. 
A acção do Espírito Santo, que, em primeiro lugar, fortalece o interior da pessoa do crente reflecte-se para o exterior, na condição social do homem e nas suas acuações públicas, concedem-lhe uma força especial para difundir e defender a fé mediante a palavra e as obras «como verdadeiras testemunhas de Cristo”, para confessar com valentia o o nome de Cristo e para jamais sentir vergonha da cruz”.[vii]
A Confirmação, portanto, sublinha com clareza a dignidade a que foram chamados os cristãos: a viver com Deus e em Deus, sendo filhos de Deus; e manifestando a grandeza deste viver em Cristo com as suas obras e com as suas acções, porque também estão chamados a ser testemunhas vivas da vida – no céu e na terra – de Cristo morto e ressuscitado.
Testemunhas, portanto, não só da permanência e estada de Cristo no tempo e no agora da vida dos homens, mas também do viver de Cristo na eternidade do Céu.
Viver com Cristo, guiados pelo Espírito Santo e participando da natureza divina, comporta uma plenitude de vida, uma riqueza de espirito, que logicamente se traduz em testemunho da vida de Cristo entre nós, no meio das mais variadas situações do viver.
A vida do cristão confirmado tende a converter-se num testemunho real do viver de Cristo.
Porque esta vida em Cristo é também «vida de Cristo em nós”, e não só é o Espírito Santo que clama dentro de nós «Abbá, Pai”; é também Cristo que nos une ao seu sacerdócio e nos faz viver, a todos os fiéis cristãos, membros da Igreja, o seu próprio sacerdócio de oferecimento, de intercessão, de reparação, de acção de graças a Deus Pai.
Na verdade podemos dizer que a acção Espírito Santo que recebemos na Confirmação nos une firmemente e Cristo, os ajuda a identificarmo-nos com Ele, a fazer com que o próprio Cristo cresça em nós no espírito.
Um crescimento que contem uma certa analogia – guardadas, logicamente todas as distâncias – com o crescimento de Cristo em Maria, na carne de Maria.
Quando considerarmos os dons do Espírito Santo e os seus Frutos no nosso eu, sublinharemos a realidade da conversão do cristão no próprio Cristo, que torna possível desenvolver a capacidade de entender e de actuar para dirigir todo o bem, «ao bem dos que amamos a Deus”.

IX. OS SACRAMENTOS (II)

A EUCARISTIA

O terceiro sacramento da iniciação cristã é a Eucaristia.
«A Sagrada Eucaristia culmina a iniciação cristã.
Os que foram elevados à dignidade do sacerdócio rela pelo Baptismo e mais profundamente configurados com Cristo pela Confirmação, participam, por meio da Eucaristia, com toda a comunidade no próprio sacrifício do Senhor”.[viii]
Que significado pode ter esse «culminar a iniciação cristã”?
 Acaso falta alguma qualidade ao Baptismo na sua missão de converter o cristão em nova criatura, em filho de Deus em Cristo?
 Acaso a Confirmação não comunica o Espírito Santo ao fiel cristão, que vai tornar possível que Cristo nasça nele, entenda o que Cristo lhe ensinou e seja testemunha de Cristo com e na sua vida?
Já assinalámos que os mistério da graça afecta pessoalmente o homem em todos os planos do seu viver: o do «ser” e o do «actuar”.
 O Baptismo realiza a sua missão de introduzir no espírito do baptizado a «participação na natureza divina”: esse é o plano do «ser” em que fica constituído o nosso ser «nova criatura”.
A Confirmação dá ao homem a capacidade de entender, no Espírito Santo, o sentido dessa «nova natureza”, dom de Deus Pai.
O homem compreende assim o sentido da sua vida, da sua existência como «nova criatura”, e já está em condições de levara a cabo o novo viver, que o Baptismo implica; de «actuar” verdadeiramente como cristão.
Na Eucaristia, o cristão vive, além de uma «participação na natureza divina”, enquanto «natureza”, um encontro pessoal com Deus, na Pessoa de Cristo.

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[i] Rm 8, 14-17
[ii] Catecismo n. 1032
[iii] Jo 14, 26
[iv] Jo 16, 13-15
[v] Catecismo n.1304
[vi] cfr. Catecismo, nn. 1304 e 1305
[vii] Catecismo n. 1303
[viii] Catecismo n. 1322

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