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27/04/2015

Evangelho, comentário L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Semana IV da Páscoa

Evangelho: Jo 10 1-10

«Em verdade, em verdade vos digo que quem não entra pela porta no redil das ovelhas, mas sobe por outra parte, é ladrão e salteador. 2 Aquele que entra pela porta é pastor das ovelhas. 3 A este o porteiro abre e as ovelhas ouvem a sua voz, ele as chama pelo seu nome e as tira para fora. 4 Quando as tirou para fora, vai à frente delas e as ovelhas seguem-no, porque conhecem a sua voz. 5 Mas não seguem o estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos». 6 Jesus disse-lhes esta alegoria, mas eles não compreenderam o que lhes dizia. 7 Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo que Eu sou a porta das ovelhas. 8 Todos os que vieram antes de Mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. 9 Eu sou a porta; se alguém entrar por Mim, será salvo, entrará e sairá e encontrará pastagens. 10 O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir. Eu vim para que elas tenham vida e a tenham abundantemente.

Comentário:

O pastor e as ovelhas!

Esta imagem que Jesus repetirá fica bem gravada mas nossas almas ansiosas por encontrar quem as conduza com segurança e as guie pelo caminho que conduz à verdadeira vida.
Pouco teremos de fazer além, naturalmente, de O seguir com simples confiança e tranquila certeza que estamos no bom caminho para a salvação. 


(ama, comentário sobre Jo 10, 1-10, 2014.05.11)

Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE

O QUE É SER CRISTÃO?

I.            Relações que Deus estabelece com o homem.

…/13

A elevação natural da natureza humana que a Graça comporta tem lugar dentro da própria natureza, de forma que o homem se «enraíza” em Deus; se alimenta de Deus, se vivifica em Deus, sem jamais deixar de ser homem.

A «participação na natureza divina” e a própria natureza humana não actuam no homem como duas forças paralelas e separadas, que se encontram no preciso instante de levar a cabo a acção, como se o homem pusesse uma percentagem do necessário para actuar, e o Senhor colmatasse o que pudesse faltar.

Não.

Com o seu próprio princípio de actuar, com a sua natureza, o homem actua livremente.
Também a liberdade, qualidade da natureza humana, se enriquece com a Graça.
O cristão está «enxertado” em Cristo, como São Paulo assinala na carta aos Romanos 11, 17.
E a seiva do enxerto mistura-se, formando uma única seiva, com a do tronco que o sustém.
O símil, logicamente, não alcança na ordem sobrenatural da relação entre Deus e o homem, a mesma plenitude de sentido que consegue na ordem da natureza criada.
A comunicação de vida entre a árvore e o enxerto é fluida, total, sem limites, de forma que o enxerto chega a formar parte da árvore como um ramo originado na mesma árvore.
Entre Deus e o homem, a seiva, a Graça, não chega a converter plenamente o homem em Deus, ainda que originando no homem o «endeusamento” de que falam não poucos autores e sobre o que teremos ocasião de voltar.
Assim vive com Deus, assim se chega a entender o pleno sentido das palavras de Santo Ireneu e Santo Atanásio, que já mencionámos ao falar do segundo sentido da Encarnação de Jesus Cristo: «o Verbo se fez homem… para que o homem se convertesse em filho de Deus”; «o Filho de Deus fez-se homem para fazer-nos Deus”.
O Sentido da acção da Graça é o de levar a natureza humana acima de ela própria, sem, ao mesmo tempo, em nenhum caso deixar de ser ela própria, até uma perfeição, que começa a emergir na terra e que só se verá completamente realizada na vida eterna, e que é a culminação absoluta da transformação da pessoa humana em verdadeiro filho de Deus.
Pode dizer-se que vivemos com Deus na nossa natureza, na nossa pessoa, em intimidade com Deus, participando da natureza, da energia, da força de Deus, sem por um instante deixar de ser humanos e sendo também ao mesmo tempo filhos de Deus, divinos.
E este viver do homem aberto a Deus, para Deus, com Deus, não podemos reduzi-lo a um viver em busca de um modo de actuar, de um modo de levar a cabo um ideal.
Sendo um viver entitativo, um ser e chegar a ser constante, sem nunca se converter numa civilização acabada, o homem vive no núcleo próprio do seu existir o choque – que ao mesmo tempo é união – entre a criatura e o Criador, entre o ser temporal e o eterno.
O diálogo, o encontro do homem com Deus e de Deus com o homem, não é o discutir de duas mentes, de duas inteligências em busca de um conceito no qual assentar um juízo, um raciocínio…; é um encontro vital, pessoal, no qual o eu da criatura nem perde configuração ante o Eu eterno nem se vê absorvido por Ele.
Na Graça, a criatura, o eu terreno e temporal, descobre-se vivendo pendente e sustentado pelo Eu eterno.
Para contemplar o mistério da graça é preciso vê-lo na sua totalidade e ter presente que na Graça o homem descobre a relação directa da sua pessoa com Deus.
A Graça não só lhe concede a «participação na natureza” mas que, pela acção do Espírito Santo e com Cristo Eucaristia, actua «in persona Christi”, «na pessoa de Cristo”.
Não só empresta a voz e a vida a Deus, como, e verdadeiramente, vive pessoalmente em Deus, e em seu nome.
Não só como enviado a uma missão que deve realizar em nome de Cristo, sendo pela graça, e nessa actuação, o próprio Cristo.
Esta união da Graça e da natureza do homem, na pessoa de cada baptizado, torna possível a conversão radical do cristão, de que São Paulo fala, em «outro Cristo, o próprio Cristo”.
Esta realidade da Graça, de Deus vivendo em nós, modifica radicalmente o modo da realização do pleno da salvação de Deus com os homens.
Antes da vinda de Cristo, não existia a possibilidade de que os homens vivessem esta «participação na natureza divina”, que os cristãos recebem nos sacramentos.
A relação de Deus com as suas criaturas os homens mantinha-se desde o exterior de Deus e desde o exterior de cada homem.
E também era uma relação «externa”, a que unia Deus com o povo eleito, não obstante a extraordinária e singular vinculação que quis estabelecer com o povo hebreu, até se chamar a ele próprio: «Deus de Abraão, Deus de Isac, Deus de Jacob”.
As alianças sucessivas de Deus com Noé, com Abraão, com Moisés, com David levam consigo a concessão de uma graça, de uma grande ajuda, que se convencionou chamar graça original.
Esta graça original eleva o homem a uma profunda amizade com Deus, ilumina a sua inteligência para lhe conceder uma visão de Deus que torne possível a fé, a esperança e a caridade.
O homem do Antigo Testamento também recebe o mandamento de «amar o Senhor teu Deus com todo o coração, com toda a alma, com todas as forças”;[i] e sabem que Deus anunciou que chegará um tempo no qual ele actuará com os homens de uma forma particular: «Meterei a minha lei no seu peito, escrevê-la-ei nos seus corações; eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo”.[ii]
Todavia não receberam nem Cristo nem o Espírito Santo.
Santo Agostinho resumiu muito bem com estas palavras a situação dos homens antes de Cristo: «Abraão era melhor que eu; mas a minha condição é melhor que a de Abraão”.
Com a chegada de Cristo, Filho de Deus feito homem, as relações de Deus com os homens sofrem uma mudança radical.
Mais que na intensidade dos laços, a mudança radica na qualidade do vínculo. Deus não quer continuar mantendo uma cooperação externa com os homens e receber deles, como fruto do amor que Ele lhes manifesta, simplesmente gestos de reverência, de acatamento, de amor e nem sequer somente de adoração.
Em Cristo, Deus sela a sua aliança com os homens, dando-se a si mesmo.
Já desapareceram os sinais externos, a circuncisão já perdeu todo o significado, a pertença a uma das doze tribos, etc.
A doação divina que Cristo nos concede nos Sacramentos já não é uma graça geral que se configura principalmente como auxilio externo de Deus às criaturas, mas que nos dá a sua própria vida.
«A graça de Cristo é o dom gratuito que Deus nos faz da sua vida infundida pelo Espírito Santo na nossa alma para a curar do pecado e santificá-la: é a graça santificante ou divinizadora, recebida no Baptismo”.[iii]
Esta graça, que nos constitui «filhos de Deus em Cristo”, recebe o nome de Graça crística; e nela se enraíza a aliança definitiva que Deus Pai, Filho e Espírito Santo estabelece com o homem redimido por Jesus Cristo, coma sua morte e ressurreição.
A união tão pessoal que se origina com a «filiação divina” afecta, logicamente, o homem na sua totalidade.
Ou seja, no seu «ser” o no seu «actuar”.
No seu «ser” - plano ôntico e constitutivo como se lhe queira chamar -, pela nova vida que se nos concede nos sacramentos. O homem actualiza a sua qualidade de filho de Deus em Cristo e recebe a participação na natureza divina que o constitui «nova criatura”.
E no seu «actuar” - plano prático ou ético, se quisermos -, pelos novos horizontes que o seu olhar descobre.
O homem já não se explica a si mesmo nem encontra os seus horizontes no que o seu olhar alcança.
Como a natureza é princípio de actuação, o homem começa a actuar de acordo com a sua condição de «nova criatura”.
Os Mandamentos transformam-se com a luz do «mandamento novo” que Cristo estabelece, e abre-se ao homem a perspectiva de os viver com o novo espírito das Bem-aventuranças.
Como um breve resumo do que foi dito nesta parte, e como introdução ao estudo dos Sacramentos, recolhemos este texto de São Josemaria Escrivá: «O cristão sabe-se enxertado em Cristo pelo Baptismo; habilitado a lutar por Cristo, pela Confirmação; chamado a actuar no mundo pela participação na função, real, profética e sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo pela Eucaristia, sacramento da unidade e do amor: Por isso, como Cristo, há-de viver face a os outros homens, olhando com amor a todos e a cada um dos que o rodeiam e â humanidade inteira” [iv]
(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[i] Dt 6, 4
[ii] Jr 31, 33
[iii] Catecismo n. 1999
[iv] são josemaria escrivá, Es Cristo que passa, n. 106.

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