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24/04/2015

Evangelho, comentário L. Espiritual (A beleza de ser cristão)



Semana III da Páscoa

Evangelho: Jo 6 52-59

52 Disputavam, então, entre si os judeus: «Como pode Este dar-nos a comer a Sua carne?». 53 Jesus disse-lhes: «Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o Seu sangue não tereis a vida em vós. 54 Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue tem a vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia. 55 Porque a Minha carne é verdadeiramente comida e o Meu sangue verdadeiramente bebida. 56 Quem come a Minha carne e bebe o Meu sangue permanece em Mim e Eu nele. 57 Assim como Me enviou o Pai que vive e Eu vivo pelo Pai, assim quem Me comer a Mim, esse mesmo também viverá por Mim. 58 Este é o pão que desceu do céu. Não é como o pão que comeram os vossos pais, e morreram. Quem come deste pão viverá eternamente». 59 Jesus disse estas coisas ensinando em Cafarnaum, na sinagoga.

Comentário:

Fica bem claro que todos entenderam muito bem o discurso de Jesus sobre o Seu Corpo e o Seu Sangue que não se tratava de uma “imagem” mas de uma realidade. Claro que, não entendiam como tal seria possível e, aqui, incluem-se também os próximos de Jesus.

Só mais tarde, depois da instituição da Eucaristia na Última Ceia e, sobretudo, com as luzes do Espírito Santo, se tornará claro o que então parecia duvidoso.
A Comunhão Eucarística é um acto solene e de extraordinário valor. Que o tenham presente quantos se aproximam a comungar!

È muito claro: Participar indevidamente num acto salvador pode ser causa de morte!

(ama, comentário sobre Jo 6, 52-59 2013.04.19)

Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE

O QUE É SER CRISTÃO?

I.            Relações que Deus estabelece com o homem.

…/

        Um esclarecimento prévio. Já assinalámos que Deus estabeleceu com o homem o primeiro vínculo-relação com Ele: a criação.

Na sua liberdade, o homem interrompeu a obra de Deus; e, em seguida, Deus oferecerá os seus planos ao homem, para que, em liberdade e amor, o aceite ou o rejeite.
Este é, também, o caso da Redenção que Cristo nos ganhou e que nos oferece na esperança de que a acolhamos com liberdade.
Vejamos já os motivos da vinda do Senhor, que o Catecismo colhe nos nn. 456-460, ainda que sigamos outra ordem que a que ali se expõe.
        Em resumo, e para o propósito que nos move, podemos enunciar os quatro motivos da Encarnação de Cristo desta forma:

1)                  O Verbo encarnou-se para nos salvar reconciliando-nos com Deus: «Deus amou-nos e enviou-nos o seu Filho como propiciação dos nossos pecados”.[i] «O Pai enviou o seu Filho para ser salvador do mundo”.[ii] «Ele manifestou-se para tirar os pecados”“.[iii]

A vinda de Jesus Cristo relaciona-se directamente com o primeiro plano da criação instaurado por Deus e obstaculizado pelo pecado do homem.
O Filho de Deus fazendo-se homem introduz-se na própria criação para a devolver ao Criador e, ao mesmo tempo, recriar a criatura e indicar-lhe de novo o caminho para o Pai, caminho que tinha perdido ao pecar e deixar o Paraíso.

Para que o homem possa descobrir-se de novo como uma criatura de Deus, necessita de se libertar desse véu que o impede de ver os seus dias, as suas circunstâncias, as suas relações com a perspectiva com contemple Deus; necessita, numa palavra, deixar o pecado e arrepender-se.

O único caminho para o abandono do pecado é a conversão do coração humano e o seu voltar de novo para Deus. «Arrependei-vos, porque o Reino de Deus está próximo”.[iv]

Arrependendo-se, o homem está em condições de descobrir o coração misericordioso de Deus, que se goza em perdoar, porque torna possível que a sua Fé, a sua Esperança, a sua Caridade enraízem profundamente em Deus”.

O acto de arrependimento ajuda o homem a recompor-se no núcleo mais central de si próprio; não se trata, simplesmente, de uma ligeira reconstrução psicológica, de carácter ou algo do mesmo estilo.
Não.
O arrependimento permite ao ser humano a capacidade de ver as coisas com a clareza divina; e é o fundamento de toda a esperança: ao mesmo tempo que uma renovação íntegra da caridade, da vontade.

Cristo vem trazer o perdão de Deus sobre toda a humanidade. Um perdão que estabelece as premissas para que o homem supere o «medo” a Deus, que só o diabo pode instalar com tanta firmeza no coração humano, e seja, portanto, «capaz” de se arrepender.

Na sua vida, Jesus Cristo leva plenamente à prática esta missão de perdoar, adiantando as consequências do perdão que nos vai conseguir na Cruz.
Perdoa a adúltera e a samaritana, perdoa o centurião e Zaqueu; perdoa aos gerasenos e os que o crucificam; perdoa a falta de fé dos Apóstolos e as dúvidas de Tomé; perdoa as negações de Pedro e os pecados da Madalena; perdoa ao paralítico, ao endemoninhado e inclusivamente oferece o seu perdão a Judas.
E tudo, sem se preocupar com o escândalo suscitado entre os fariseus nem as consequências que vão cair sobre a sua pessoa, pela destruição da ordem estabelecida que o seu actuar supõe.

E mais, esse escândalo é uma confirmação indirecta, se se quiser, de que os que ouviam Cristo estavam conscientes que o perdão tinha chegado e que o perdão abria as portas da eternidade, fechadas até então, do amor de Deus aos homens.

Este amor de Deus leva-o a reparar não só com juros, mas de forma superabundante, e mais para além das faltas recebidas.
Deus quer que desapareça para sempre o abismo que separa as suas criaturas dele, tornando-se uma delas.

Perdoado o pecado e acolhendo o coração arrependido do homem, Cristo afasta o obstáculo que separa o homem de Deus, lhe devolve a confiança em Deus e tornam possível que esteja em condições de receber a «segunda criação” que Deus quer levar a cabo nele.

Daí a importância que tem consigo ver a realidade existencial de Cristo como verdadeiro Filho de Deus feito homem.

Com efeito, como poderia ter-nos reconciliado com Deus Pai, se a sua realidade de ser Filho de Deus não passará a ser a de um homem que consegue de forma inefável «tomar de alguma forma consciência da profundidade do amor de Deus que o queira como um filho”? Esse «tomar consciência”, que os que pretendem «reduzir existencialmente a vida de Cristo” afirmam, não chega a constituir uma pessoa que possa dizer com plena verdade que «O Pai e eu somos uma mesma coisa”.[v]

Daí, o segundo motivo da Encarnação de Cristo:

2)                  O Verbo encarnou-se para tornar-nos partícipes da natureza divina: «fez-nos mercê dos preciosos” e maiores bens prometidos, para que – por estes - cheguemos a ser partícipes da natureza divina”.[vi] “Porque tal é a razão pela qual o Verbo se fez homem e o Filho de Deus, Filho do homem: para que o homem, ao entrar em comunhão com o Verbo e ao receber assim a filiação divina, se convertesse em filho de Deus” [vii]. «Porque o Filho de Deus se fez homem para nos fazer Deus” [viii].

Este segundo motivo da Encarnação é o que mais profundamente expressa os planos de Deus com os homens, esses mistérios insondáveis do coração de Deus que São Paulo anseia descobrir.

À Trindade Santíssima, Pai, Filho e Espírito, não lhe pareceu suficiente perdoar a ofensa do homem e apagá-la da sua presença. Cristo, Filho de Deus feito homem, consubstancial ao Pai, que diz de si próprio: «O Pai e eu somos uma só coisa” [ix] e (Tudo quanto tem o Pai é meu”,[x] faz-nos partícipes da natureza divina – enxerta-nos em Deus – e leva-o a cabo através dos Sacramentos que Ele mesmo institui.

Fazendo-nos partícipes da sua natureza e vivendo connosco pessoalmente na Eucaristia, podemos dizer com João Paulo II: «Em Cristo e por Cristo, Deus revelou-se plenamente a ela; e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo, Deus revelou-se plenamente à humanidade e aproximou-se definitivamente dela; e, ao mesmo tempo, em Cristo e por Cristo, o homem conseguiu plena consciência da sua dignidade, da sua elevação, do valor transcendental da própria humanidade, do sentido da sua existência”.[xi]

São Josemaria Escrivá expressa assim o mistério da nova criatura em Cristo: «Deus Pai, chegada a plenitude dos tempos, enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que restabelecesse a paz; para que, redimindo o homem do pecado, adoptionem filiorum reciperemus,[xii] fossemos constituídos filhos de Deus, libertados do jugo do pecado, tornados capazes de participar na intimidade divina da Trindade. E assim se tornou possível a este homem novo, a este novo enxerto dos filhos de Deus,[xiii] libertar a criação inteira da desordem, restaurando todas as coisas em Cristo,[xiv] que os reconciliou com Deus”[xv].[xvi]

Na Encarnação da Segunda Pessoa da Trindade, Deus deixa reduzida a nada a tentação de Satanás ao homem. «Sereis como deuses” é o oferecimento do diabo a Adão e a Eva.
Deus vai mais além e, o Filho de Deus ao fazer-se homem, convida-nos a participar da sua própria vida divina, a entrar nele, na Trindade.

Como poderia ter-nos feito partícipes da natureza divina, se não fosse verdade, sem reduções de nenhum tipo, as suas afirmações que: «O Pai e eu somos uma só coisa” [xvii] e de que «(Tudo quanto tem o Pai é meu”?[xviii]

Fazendo-nos partícipes, em Cristo e por Cristo, da sua própria «natureza divina”, Deus enxerta no nosso ser um princípio de vida divina no nosso actuar, no nosso ser e no nosso actuar que só pode ser «conhecido pela fé” e, ao mesmo tempo, «nos incita a uma fé cada vez maior”.[xix]

Como pode o homem viver e desenvolver essa «participação na natureza divina”?

Essas duas questões encontram uma resposta adequada nos outros dois motivos da Encarnação do Filho de Deus:

3)                  O Verbo encarnou para ser nosso modelo de santidade: (Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por mim”.[xx] «Aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração”.[xxi] E o Pai, no monte da Transfiguração, ordena: «Escutai-o”.[xxii] Ele é, com efeito, o modelo das bem-aventuranças e a norma da nova lei: «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”.[xxiii]
(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[i] 1 Jo 4, 101
[ii] 1 Jo 4, 14
[iii] 1 Jo 3, 5
[iv] Mt 4, 17
[v] Jo 10, 30
[vi] 2 P 1, 4
[vii] san ireneo, Adversus haereses, 3, 19.
[viii] san atanasio, De incarnatione, 54, 3.
[ix] Jo 10, 30
[x] Jo 16, 14
[xi] juan pablo ii, Redemptor hominis, n. 11.
[xii] Ga 4, 5
[xiii] cfr. Rm 6, 4-5
[xiv] cfr. Ef 1, 5-10
[xv] cfr. Col 1, 20
[xvi] são josemaria escrivá, Es Cristo que passa, n. 63.
[xvii] Jo 10, 30
[xviii] Jo 16, 414
[xix] cfr. Catecismo, n. 2005
[xx] Jo 14, 6
[xxi] Mt 11, 29
[xxii] Mc 9, 7
[xxiii] Jo 15, 12

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