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15/04/2015

Evangelho, comentário, L. Espiritual (A beleza de ser cristão)


Semana II da Páscoa

Evangelho: Jo 3 16-21

16 «Porque Deus amou de tal modo o mundo, que lhe deu Seu Filho Unigénito, para que todo aquele que crê n'Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. 17 Porque Deus não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. 18 Quem n'Ele acredita, não é condenado, mas quem não acredita, já está condenado, porque não acredita no nome do Filho Unigénito de Deus. 19 A condenação é por isto: A luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más. 20 Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de que não sejam reprovadas as suas obras; 21 mas aquele que procede segundo a verdade, chega-se para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas segundo Deus».

Comentário:

Está bem clara a razão da condenação eterna.

Não é Deus que condena mas sim o próprio homem que se auto-exclui da salvação e, Deus que é absolutamente justo não violenta a liberdade do homem e aceita as suas decisões mesmo que sejam impeditivas da sua felicidade eterna.

(ama, comentário sobre Jo 3, 16-21, 2014.04.30)

Leitura espiritual

a beleza de ser cristão

PRIMEIRA PARTE

O QUE É SER CRISTÃO?

I.            Relações que Deus estabelece com o homem.

O Catecismo da Igreja Católica apresenta assim todo o plano de Deus com o homem, plano que leva consigo as relações que vamos estudar ao longo das páginas deste livro.

«Deus, infinitamente Perfeito e Bem-aventurado em si mesmo, num desígnio de pura bondade criou livremente o homem para que tenha parte na sua vida bem-aventurada.
Por isso, em todo o tempo e em todo o lugar, está perto do homem. Chama-o e ajuda-o a procurá-lo, a conhecê-lo e a amá-lo com todas as suas forças. Convoca todos os homens, que o pecado dispersou, à unidade da sua família, a Igreja Fá-lo mediante o seu Filho, que enviou como Redentor e Salvador ao chegar a plenitude dos tempos. Nele e por Ele, chama os homens a ser, no Espírito Santo, seus filhos de adopção e, portanto, os herdeiros da sua vida bem-aventurada» [i]

Todos os planos de Deus com os homens têm origem e manifestam-se no Amor de Deus.

«Nisto se manifestou o amor que Deus nos tem; em que Deus enviou ao mundo o seu único Filho para que vivamos por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que Ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados»[ii].

«Ele amou-nos primeiro». Esta afirmação de São João indica-nos a ordem das relações entre Deus e os homens. Deus toma sempre a iniciativa.

São Paulo, consciente de que Deus ama o homem total, adianta-se à afirmação do Concilio Vaticano II acerca do homem, «única criatura na terra que Deus amou por si mesma»[iii].
Com efeito, São Paulo entende que esse amor de Deus afecta o homem em todos os planos da sua existência: vida natural, vida humana, vida espiritual-sobrenatural, e assim o confirma aos atenienses, ao recordar-lhes que Deus «não se encontra longe de cada um de nós, pois nele vivemos, nos movemos e existimos»[iv].

Antes de continuar, é preciso que nos convençamos do seguinte. Só podemos vislumbrar alguma verdade, alguma ideia sobre Deus partindo da iniciativa do próprio Deus, que se nos manifesta em toda a criação. «Porque desde a criação do mundo, o invisível de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade são conhecidos mediante as suas obras».[v]

Desde a criação do homem, a partir do hoje e agora da sua existência, é possível chegar a Deus, se Deus já não está de algum modo no próprio «ser» do homem e na sua própria existência.

Por outras palavras, Deus não é «inventável». O homem é capaz de «descobrir» Deus; é absolutamente incapaz de «o inventar», de «o criar».

Von Baltasar exprime esta realidade com estas palavras: «Desde que o homem vive na terra, existe o espírito, e com ele, o saber e a «ciência» e, portanto, a cultura e a técnica: o primeiro machado de pedra, o primeiro fogo e o primeiro sepulcro testemunham-no. Por mais atrás que possa voltar a tradição humana (e, quanto mais atrás, com maior pureza), o homem foi sempre um ser religioso, consciente de estear sob o poder divino, que tem de reconhecer e honrar, e de quem há-de esperar a salvação» [vi].

O facto de que o homem possa pensar em Deus é uma manifestação que Deus está presente na sua capacidade de conhecer, que está nele. Descobre, se assim podemos dizer, que já houve alguma relação de Deus com o homem.
O homem não pode pensar em nenhum «mais além» dele, se antes esse «mais além» não se tornou de alguma forma presente na sua inteligência.
E Deus, não como conceito ou como pressuposto para resolver a incapacidade humana. Sem Deus, o homem nem sequer descobriria em si próprio alguma incapacidade, pela simples razão de que a sua inteligência – no caso de realmente a ter – nunca lhe abriria horizontes mais para além do seu olhar.
Sem Deus, o homem jamais conheceria a angústia nem os seus horizontes se abririam até ao infinito e, muito menos, viveria o gozo, o amor.
Não é estranho tenham afirmado que o simples facto de o homem ser capaz de amar, de dar-se a si próprio, é um claro sinal da existência de Deus.

 Perguntamo-nos agora: Quais são essas relações que Deus quis estabelecer com o homem?

Dando por adquirido o conhecimento dos planos de Deus ao criar o mundo, que estão manifestados na Revelação e na Sagrada Escritura, podemos estabelecer de forma sistemática, e com a esperança que nos sirvam de guia, de referência e até o fio condutor ao longo do desenrolar de toda a exposição, as três realidades básicas que relacionam pessoalmente o homem com Deus, Uno e Trino; e a Deus com o homem; que nos foram reveladas em toda a sua plenitude e em toda a sua realidade, por Jesus Cristo Nosso Senhor.

Estas três relações, a que também poderíamos chamar as «obras de Deus no homem», são:

Relação com Deus Pai: a Criação. Relação com Deus Filho: a Redenção. Relação com Deus Espírito Santo, a Santificação. Ou seja, Deus trino relaciona-se e vincula-se com o homem, como Criador, como Redentor, como Santificador, na unidade de Deus Uno.

Um brevíssimo esquema do que supõe e comporta cada um destes vínculos poderia ser o seguinte, sem esquecer que a criação é obra comum das Santíssima Trindade.

Criação

- Relação de Deus Pai com o homem e, ao mesmo tempo, do homem com Deus Pai.
- Deus criou o mundo por amor.
-E criou o homem, à sua imagem e semelhança, para que o conheça, o ame, o sirva nesta vida e o goze depois eternamente no céu.
-Na criação, Deus fez o homem livre, elevou-o à ordem sobrenatural e deu-lhe a capacidade de ser seu filho.
- A reacção do primeiro homem: o pecado.

Redenção

- Relação de Deus Filho feito homem com o homem; do homem com Deus Filho feito homem.
- Cristo encarna, por amor ao homem, para libertar o homem do pecado; para o tornar partícipe da natureza divina; para lhe manifestar o amor de Deus Pai e para lhe servir de exemplo de vida. « Deus faz-se homem, para que o homem se faça Deus».
- A Graça. Viver em Cristo, por Cristo, com Cristo. Os Sacramentos. Filhos de Deus em Cristo: a filiação divina.

Santificação

- Relação de Deus Espírito Santo com o homem e do homem com Deus Espirito Santo. Deus vive no homem; o homem vive «em». Deus quer viver «com o homem», para que o homem viva «com Deus.
- O Espírito Santo torna possível que o homem possa viver «participando da natureza divina». O Espirito Santo é Deus «com» o homem.
- É a vida da graça – a «nova criatura» em Cristo -, que se manifesta no homem na Fé, na Esperança, na Caridade, configuradas pela acção dos Dons do Espirito Santo.
- Esta vida da graça transita por uns caminhos: os Mandamentos da Lei de Deus, vividos com a novidade de Cristo: o espírito das Bem-aventuranças.
- A vida da graça, vivida na Fé, na Esperança na Caridade, e seguindo os Mandamentos com o espírito das Bem-aventuranças, germina na conversão definitiva do homem – criatura, filho de Deus, santo – que fica expressa na presença dos frutos dons Espirito Santo no actuar humano.

(cont)

ernesto juliá, La belleza de ser cristiano, trad. ama)






[i] Catecismo n. 1.
[ii] 1 Jo 4, 10
[iii] Gaudium et spes, n. 24
[iv] Act 17, 28
[v] Rm 1, 20
[vi] hans urs von balathasar, El problema de Dio en el hombre actual, Guadarrama, Madrid 1960, I, I. p. 63.

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