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14/03/2015

O que há de humano no tempo pós-humano que se está a forjar? 2

Perspectiva
Sabemos que este investimento industrial permitirá atingir um objetivo imediato, o de substituir o ser humano no trabalho. Os robôs não comem, não dormem, não se queixam, não apresentam problemas, não adoecem e a sua gigantesca inteligência artificial será capaz de resolver, em segundos de programação, problemas de produção, estratégias de consumo, questões que atormentam tantos, em termos de eficácia e de produtividade. Que empresário, destes gigantes económicos (e dos menos gigantes), não quererá este tipo de “trabalhador” com que há tanto tempo sonha, sem o conseguir alcançar pois tem de recorrer aos pobres, defeituosos e inquietos e perecíveis seres humanos?
Por outro lado, estes projetos empresariais inserem-se em e aceleram o movimento cultural internacional que visa criar o “trans-humanismo” ou o tempo “pós-humano”, como o qualificam outros autores, em que os humanos incorporarão artefactos técnicos, num processo de enriquecimento artificial, o que fará evoluir muito aceleradamente a capacidade humana de resistir às doenças e à morte. A sequenciação do ADN de sobredotados ou a triagem seletiva de embriões humanos, já em curso, conduzem-nos a um mundo em que todos seremos manipulados e onde os mais frágeis serão muito mais facilmente não só descartados mas destruídos. Todos os seres humanos, desde que fora deste horizonte do enriquecimento artificial do seu corpo, serão considerados demasiado pobres, demasiado incapazes e ainda mais incompetentes.

Creio que, se tivemos e temos consciência de que é preciso lutar contra o que é anti-humano na economia de mercado e na sociedade, é preciso hoje colocarmos na agenda uma posição clara contra esta outra deriva, o pós-humano, pois ambos são e serão sempre inumanos.

(cont)

joaquim azevedo, Universidade Católica Portuguesa, Secretariado Diocesano da Pastoral da Cultura (Porto)

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