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08/03/2015

Nenhum libertador se faz rei 4

Moisés constrói uma arca que não é para ele; por isso é o profeta maior de todos: «Nunca mais voltou a aparecer no povo de Israel um profeta como Moisés, com quem o Senhor tratava pessoalmente»[i].

Na morte de Moisés encontra-se também um paradigma da fé bíblica. Deus não se vê, não pode ser representado.
É uma voz que chega até nós através da voz dos profetas.
No entanto, com o tempo, a fronteira entre a voz que fala ao profeta e a voz do profeta torna-se cada vez mais ténue, mais subtil, quase desaparece; e para o povo acabam por tornar-se uma só voz.
O profeta distingue-se do falso profeta porque certo dia sabe pôr-se de lado, desaparecer, apagar-se, dizendo: "eu não sou Elohim para vós".
Se Moisés foi o maior de todos, então a fé bíblica não é posse.
A fé é saber habitar a "margem" entre a promessa e o fim do deserto, saber manter-se no vau sem deixar-se arrastar pela corrente do rio.
É esta margem que permite que a fé se não torne idolatria, adoração de ídolos, de outras pessoas, de si mesmos.
Na morte de Moisés, por fim, encontramos ainda uma maravilhosa lição sobre a condição humana.
Não existe terra prometida que possa ser alcançada: a vida é caminho, peregrinação, êxodo.
Chegará o momento – quase sempre antes da última volta do carrocel – no qual nos damos conta de que as promessas da vida não se realizaram.
Mesmo quando a vida foi estupenda, mesmo quando vimos Deus "face a face", os silvados a arder, o maná descer do céu, a nuvem poisar sobre a nossa tenda, sentimos que a promessa era outra, a que está além do Jordão.

(cont)

luigino bruniIn "Avvenire", 

(Revisão da verão portuguesa por ama)




[i] Deuteronómio 34,10

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