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23/03/2015

Evangelho, Com. Leitura esp. (Evangelli Gaudium)

Tempo de Quaresma V Semana

Evangelho: Jo 8 1-11

1 Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2 Ao romper da manhã, voltou para o templo e todo o povo foi ter com Ele, e Ele, sentado, os ensinava. 3 Então os escribas e os fariseus trouxeram-Lhe uma mulher apanhada em adultério; puseram-na no meio, 4 e disseram-Lhe: «Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante delito de adultério. 5 Ora Moisés, na Lei, mandou-nos apedrejar tais mulheres. E Tu que dizes?». 6 Diziam isto para Lhe armarem uma cilada, a fim de O poderem acusar. Porém, Jesus, inclinando-Se, pôs-Se a escrever com o dedo na terra. 7 Continuando, porém, eles a interrogá-l'O, levantou-Se e disse-lhes: «Aquele de vós que estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra». 8 Depois, tornando a inclinar-Se, escrevia na terra. 9 Mas eles, ouvindo isto, foram-se retirando, um após outro, começando pelos mais velhos; e ficou só Jesus com a mulher diante d'Ele. 10 Então, levantando-Se, disse-lhe: «Mulher, onde estão os que te acusavam? Ninguém te condenou?». 11 Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Então Jesus disse: «Nem Eu te condeno; vai e doravante não peques mais».


Comentário:

Jesus nunca condena o pecador, condena o pecado.
Quanto ao pecador, espera que, arrependido, peça perdão.
Quanto ao pecado, porque é Santo, não pode mais que abominá-lo.

Eu, pecador, me confesso...são as palavras que o Senhor sempre espera ouvir de nós para, depois de nos perdoar, nos mandar em paz.

(ama, Comentário sobre Jo 8, 1-11, 2010.04.11)

Leitura espiritual

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM
DO SANTO PADRE FRANCISCO
AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL

O todo é superior à parte

234. Entre a globalização e a localização também se gera uma tensão.
É preciso prestar atenção à dimensão global para não cair numa mesquinha quotidianidade.
Ao mesmo tempo convém não perder de vista o que é local, que nos faz caminhar com os pés por terra.
As duas coisas unidas impedem de cair em algum destes dois extremos: o primeiro, que os cidadãos vivam num universalismo abstracto e globalizante, miméticos passageiros do carro de apoio, admirando os fogos-de-artifício do mundo, que é de outros, com a boca aberta e aplausos programados; o outro extremo é que se transformem num museu folclórico de eremitas localistas, condenados a repetir sempre as mesmas coisas, incapazes de se deixar interpelar pelo que é diferente e de apreciar a beleza que Deus espalha fora das suas fronteiras.

 235. O todo é mais do que a parte, sendo também mais do que a simples soma delas.

Portanto, não se deve viver demasiado obcecado por questões limitadas e particulares.
É preciso alargar sempre o olhar para reconhecer um bem maior que trará benefícios a todos nós.
Mas há que o fazer sem se evadir nem se desenraizar.
É necessário mergulhar as raízes na terra fértil e na história do próprio lugar, que é um dom de Deus.
Trabalha-se no pequeno, no que está próximo, mas com uma perspectiva mais ampla.
Da mesma forma, uma pessoa que conserva a sua peculiaridade pessoal e não esconde a sua identidade, quando se integra cordialmente numa comunidade não se aniquila, mas recebe sempre novos estímulos para o seu próprio desenvolvimento.
Não é a esfera global que aniquila, nem a parte isolada que esteriliza.

236. Aqui o modelo não é a esfera, pois não é superior às partes e, nela, cada ponto é equidistante do centro, não havendo diferenças entre um ponto e o outro.

O modelo é o poliedro, que reflecte a confluência de todas as partes que nele mantêm a sua originalidade.
Tanto a acção pastoral como a acção política procuram reunir nesse poliedro o melhor de cada um.
Ali entram os pobres com a sua cultura, os seus projectos e as suas próprias potencialidades. Até mesmo as pessoas que possam ser criticadas pelos seus erros, têm algo a oferecer que não se deve perder. É a união dos povos, que, na ordem universal, conservam a sua própria peculiaridade; é a totalidade das pessoas numa sociedade que procura um bem comum que verdadeiramente incorpore a todos.

237. A nós, cristãos, este princípio fala-nos também da totalidade ou integridade do Evangelho que a Igreja nos transmite e envia a pregar.
A sua riqueza plena incorpora académicos e operários, empresários e artistas, incorpora todos.

A «mística popular» acolhe, a seu modo, o Evangelho inteiro e encarna-o em expressões de oração, de fraternidade, de justiça, de luta e de festa.

A Boa Nova é a alegria dum Pai que não quer que se perca nenhum dos seus pequeninos.
Assim nasce a alegria no Bom Pastor que encontra a ovelha perdida e a reintegra no seu rebanho.

O Evangelho é fermento que leveda toda a massa e cidade que brilha no cimo do monte, iluminando todos os povos.

O Evangelho possui um critério de totalidade que lhe é intrínseco: não cessa de ser Boa Nova enquanto não for anunciado a todos, enquanto não fecundar e curar todas as dimensões do homem, enquanto não unir todos os homens à volta da mesa do Reino.
O todo é superior à parte.

IV. O diálogo social como contribuição para a paz

238. A evangelização implica também um caminho de diálogo.
Neste momento, existem sobretudo três campos de diálogo onde a Igreja deve estar presente, cumprindo um serviço a favor do pleno desenvolvimento do ser humano e procurando o bem comum: o diálogo com os Estados, com a sociedade – que inclui o diálogo com as culturas e as ciências – e com os outros crentes que não fazem parte da Igreja Católica.

Em todos os casos, «a Igreja fala a partir da luz que a fé lhe dá»,[i] oferece a sua experiência de dois mil anos e conserva sempre na memória as vidas e sofrimentos dos seres humanos.
Isto ultrapassa a razão humana, mas também tem um significado que pode enriquecer a quantos não creem e convida a razão a alargar as suas perspectivas.

239. A Igreja proclama o «evangelho da paz»[ii] e está aberta à colaboração com todas as autoridades nacionais e internacionais para cuidar deste bem universal tão grande.

Ao anunciar Jesus Cristo, que é a paz em pessoa[iii], a nova evangelização incentiva todo o baptizado a ser instrumento de pacificação e testemunha credível duma vida reconciliada.[iv]

É hora de saber como projectar, numa cultura que privilegie o diálogo como forma de encontro, a busca de consenso e de acordos mas sem a separar da preocupação por uma sociedade justa, capaz de memória e sem exclusões.
O autor principal, o sujeito histórico deste processo, é a gente e a sua cultura, não uma classe, uma fracção, um grupo, uma elite.
Não precisamos de um projecto de poucos para poucos, ou de uma minoria esclarecida ou testemunhal que se aproprie de um sentimento colectivo.
Trata-se de um acordo para viver juntos, de um pacto social e cultural.

240. O cuidado e a promoção do bem comum da sociedade competem ao Estado.[v]
Este, com base nos princípios de subsidiariedade e solidariedade e com um grande esforço de diálogo político e criação de consensos, desempenha um papel fundamental – que não pode ser delegado – na busca do desenvolvimento integral de todos.
Este papel exige, nas circunstâncias actuais, uma profunda humildade social.

241. No diálogo com o Estado e com a sociedade, a Igreja não tem soluções para todas as questões específicas.
Mas, juntamente com as vá- rias forças sociais, acompanha as propostas que melhor correspondam à dignidade da pessoa humana e ao bem comum.
Ao fazê-lo, propõe sempre com clareza os valores fundamentais da existência humana, para transmitir convicções que possam depois traduzir-se em acções políticas.

(cont)

(Revisão da versão portuguesa por ama)




[i] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana (21 de Dezembro de 2012): AAS 105 (2013), 51.
[ii] Ef 6, 15
[iii] cf. Ef 2, 14
[iv] Cf. Propositio 14.181
[v] Cf. Catecismo da Igreja Católica, 1910; Pont. Conselho «Justiça e Paz», Compêndio de Doutrina Social da Igreja, 168.

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