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20/02/2015

Tratado do verbo encarnado 127

Questão 19: Da unidade de operação em Cristo

Art. 4 – Se Cristo podia merecer para os outros.

O quarto procede-se assim. — Parece que Cristo não podia merecer para os outros.

1 — Pois, diz a Escritura: A alma que pecar essa morrerá. Logo, e pela mesma razão, a alma que merecer será remunerada. Logo, não é possível tivesse Cristo merecido pelos outros.

2. Demais. — Todos nós participamos da plenitude da graça de Cristo, diz o Evangelho. Ora, os outros homens, tendo a graça de Cristo, não podem merecer pelos outros, segundo a Escritura: Se Noé, Daniel e Jó se acharem na cidade não livrarão nem a seus filhos nem a suas filhas, mas eles livrarão as suas almas pela sua própria justiça. Logo, também Cristo não podia merecer nada por nós.

3. Demais. — A recompensa que merecemos é-nos devida por justiça e não por graça, como o diz o Apóstolo. Se, pois, Cristo mereceu a nossa salvação, segue-se que a nossa salvação não provém da graça de Deus, mas da sua justiça e que procede injustamente com os que não salva, pois que o mérito de Cristo estende-se a todos.

Mas, em contrário, o Apóstolo: Assim como pelo pecado de um só incorreram todos os homens na condenação, assim também pela justiça de um só recebem todos os homens a justificação da vida. Ora, o demérito de Adão redundou em condenação dos outros. Logo, com maior razão, o mérito de Cristo deriva para os demais.

Como dissemos, Cristo teve a graça, não só como um homem particular, mas como cabeça de toda a Igreja, a que todos estão unidos como os membros à cabeça, com o que se constitui misticamente uma pessoa. Donde vem, que o mérito de Cristo se estende aos demais, como seus membros, assim como num homem a acção da cabeça de algum modo pertencente a todos os membros, pois, não sente só para si, mas por todos eles.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O pecado de uma pessoa particular não é nocivo senão a si mesma, mas o pecado de Adão, constituído por Deus princípio de toda a natureza, transmitiu-se aos outros pela propagação da carne. E semelhantemente, o mérito de Cristo, constituído por Deus, cabeça de todos os homens, quanto à graça, estende-se a todos os seus membros.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Os outros recebem da plenitude de Cristo, não certamente a fonte da graça, mas alguma graça particular. Donde, não é necessário que os outros homens possam merecer para os demais, como Cristo.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Assim como o pecado de Adão não se transmite aos outros senão pela geração carnal, assim também não se transmite aos outros o mérito de Cristo senão pela regeneração espiritual, operada pelo baptismo, pelo qual nos incorporamos em Cristo, segundo o Apóstolo: Todos os que fostes baptizados em Cristo revestiste-vos de Cristo. E isto mesmo é uma graça, o ser concedido ao homem regenerar-se em Cristo. E assim, a salvação do homem provém da graça.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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