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13/02/2015

Tratado do verbo encarnado 120

Questão 18: Da unidade de Cristo quanto a vontade

Art. 3 — Se Cristo tinha duas vontades racionais.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Cristo tinha duas vontades racionais.

1. — Pois, como diz Damasceno, há duas vontades no homem a natural, chamada e a racional, chamada. Ora, Cristo na sua natureza humana tinha tudo o concernente à perfeição da natureza humana. Ora, ambas as vontades referidas existiam em Cristo.

2. Demais. — A potência apetitiva diversifica-se no homem conforme as diversidades da potência apreensiva, e portanto, da diferença entre o sentido e o intelecto deriva para o homem a diferença entre o sensitivo e o intelectivo. Ora, semelhantemente, quanto à apreensão no homem, há diferença entre a razão e o intelecto, que ambos existiram em Cristo. Logo, houve nele dupla vontade — uma intelectual e outra, racional.

3. Demais. — Alguns atribuem a Cristo uma vontade de piedade que só pode pertencer à parte racional. Logo, em Cristo há várias vontades racionais.

Mas, em contrário, em toda ordem há um primeiro motor. Ora, a vontade é primeiro motor na ordem dos actos humanos. Logo, cada homem não tem senão uma vontade propriamente dita, e é a racional. Ora, Cristo é homem. Logo, em Cristo só há a vontade humana.

Como se disse, a vontade é umas vezes, tomada pela potência e outras, pelo acto. Se, pois, a vontade é tomada pelo acto, então, devemos atribuir a Cristo duas vontades racionais, isto é, duas espécies de actos de vontade. Pois, a vontade, como se disse, na Segunda Parte, tanto tem por objecto o fim, como os meios para o conseguir, e num outro sentido, é levada para ambos.

Pois, ela quer o fim simples e absolutamente falando, como o bem essencial, e os meios ela quere-os com uma certa dependência, enquanto tiram a sua bondade do fim a que se ordenam. Donde, o acto da vontade tem uma natureza quando é levada a querer o que é em si mesmo digno de ser querido, como a saúde, e a essa Damasceno chama, isto é, simples vontade, ao que os Mestres lhe dão o nome de vontade como natureza. É porém de outra natureza, quando é levada a querer um objeto como meio para conseguir um fim, como quando tomamos um remédio, a cuja vontade Damasceno chama, isto é, vontade conciliativa, e os Mestres dão-lhe o nome de vontade como razão. Mas, essa diversidade de actos não constitui diversidade de potências, pois uns e outros fundam-se num objecto da própria natureza, que é o bem. Donde, devemos dizer, que se falamos da potência da vontade, há em Cristo uma só vontade humana essencialmente dita e não participativamente. Mas se nos referimos à vontade como acto, então distinguimos em Cristo uma vontade como natureza, chamada e uma vontade como razão, chamada.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Essas duas vontades não constituem potências diferentes, mas só se diferenciam pelos seus actos, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Mesmo o intelecto e a razão não constituem potências diferentes, como dissemos na Primeira Parte.

RESPOSTA À TERCEIRA. — A vontade de piedade não difere da vontade considerada como natureza, pois, ela evita o mal alheio, absolutamente considerado.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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