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09/01/2015

Tratado do verbo encarnado 85

Questão 12: Da ciência adquirida da alma de Cristo

Art. 4 — Se Cristo recebeu alguma ciência dos anjos.

O quarto, discute-se assim. - Parece que Cristo recebeu alguma ciência, dos anjos.

1. — Pois, diz o Evangelho, que apareceu a Cristo um anjo do céu, que o confortava. Ora, confortar supõe palavras de ensino, segundo a Escritura: Eis aqui ensinaste a muitos e deste vigor a mãos cansadas, as tuas palavras firmaram aos que vacilavam. Logo, Cristo foi ensinado pelos anjos.

2. Demais. — Dionísio diz: Pois, eu vejo que o próprio Jesus, substância supersubstancial das substâncias super-celestes, assumindo a nossa natureza sem alterar a sua, obedece com humilde submissão às instruções que Deus, seu Pai, lhe transmite por meio dos anjos. Donde se conclui que o próprio Cristo quis submeter-se à ordem da lei divina, que manda os homens serem ensinados pelos anjos.

3. Demais. — Assim como o corpo humano, por uma ordem natural, está sujeito aos corpos celestes, assim também a inteligência humana às angelicas. Ora, o corpo de Cristo estava sujeito às impressões dos corpos celestes, assim, sofria o calor do verão, o frio do inverno como tudo o mais que o homem padece. Logo, também a sua inteligência recebia as iluminações dos espíritos super-celestes.

Mas, em contrário, diz Dionísio, que os anjos supremos fazem interrogações a Jesus conhecendo dele a sua obra divina e a assunção da nossa carne, por amor de nós, e Jesus os ensina sem, medianeiro. Ora, não pode um mesmo sujeito ensinar e ser ensinado. Logo, Cristo não aprendeu nada dos anjos.

Assim como a alma humana é um meio-termo entre as substâncias espirituais e os seres corpóreos, assim de dois modos lhe é natural aperfeiçoar-se: pela ciência haurida nas coisas sensíveis e pela ciência infusa ou impressa pela iluminação das substâncias espirituais. Ora, de ambos esses modos a alma de Cristo era perfeita. Quanto aos sensíveis, pela ciência experimental, para adquirir a qual não é necessário a iluminação angélica, pois, basta o lume do intelecto agente, quanto à impressão superior, pela ciência infusa, que imediatamente recebia de Deus. Pois, assim como a alma de Cristo estava unida, de um modo superior ao que é comum à criatura, ao Verbo na unidade da pessoa, assim também, de um modo superior ao que é comum aos homens, a sua alma abundava na ciência e na graça recebidas imediatamente do próprio Verbo de Deus, não, pois mediante os anjos, que também, pela influência do Verbo, receberam, quando começaram a existir, a ciência das coisas como diz Agostinho.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — O confortar do anjo, que a Escritura refere, não foi a modo de instrução, mas, para mostrar a propriedade da natureza humana. Donde Beda dizer: Foi para nos mostrar a propriedade das duas naturezas, da humana e da divina, que os anjos vieram confortá-lo e servi-lo, Pois, o Criador não precisava do socorro da sua criatura, mas, Cristo feito homem assim como quis se entristecer por nós, assim, por nossa causa, quis ser consolado. De modo que em nós se confirmasse a fé na sua Encarnação.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Dionísio diz, que Cristo foi submetido à iluminação dos anjos, não que delas precisasse por natureza, mas por ocasião das diversas circunstâncias da sua Encarnação, e da fraqueza de que se revestiu, fazendo-se criança, por amor de nós. Por isso, no mesmo lugar acrescenta que, por meio dos anjos o Pai anunciou a José que foi determinado a partida de Jesus para o Egito, e de novo, que devia reconduzir o menino do Egito para a Judeia.

RESPOSTA À TERCEIRA. — O Filho de Deus assumiu um corpo passível, como diremos depois, mas uma alma com ciência e graça perfeitas. Por isso e convenientemente, o seu corpo foi sujeito à impressão dos corpos celestes, mas a sua alma não o foi à dos espíritos celestes.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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