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06/01/2015

Tratado do verbo encarnado 82

Questão 12: Da ciência adquirida da alma de Cristo

Em seguida devemos tratar da ciência adquirida ou experimental da alma de Cristo.

E nesta questão discutem-se quatro artigos:

Art. 1 — Se mediante essa ciência Cristo sabia tudo.
Art. 2 — Se Cristo progredia nessa ciência.
Art. 3 — Se Cristo aprendia dos homens.
Art. 4 — Se Cristo recebeu alguma ciência dos anjos.

Art. 1 — Se mediante essa ciência Cristo sabia tudo.

O primeiro discute-se assim. — Parece que mediante essa ciência Cristo não sabia tudo.

1. — Pois, tal ciência se adquire por experiência. Ora, Cristo não tinha experiência de tudo. Logo, não sabia tudo mediante essa ciência.

2. Demais. — O homem adquire a ciência pelos sentidos. Ora, nem todos os sensíveis estavam ao alcance dos sentidos do corpo de Cristo. Logo, por essa ciência não sabia tudo.

3. Demais. — A extensão da ciência depende dos objectos cognoscíveis. Se, pois, por essa ciência, Cristo soubesse tudo, ele teria uma ciência adquirida igual à ciência infusa e à dos bem-aventurados, o que é inadmissível. Logo, por essa ciência Cristo não sabia tudo.

Mas, em contrário, não havia na alma de Cristo nada de imperfeito. Ora, essa sua ciência teria sido imperfeita se, mediante ela, não soubesse tudo, pois, é imperfeito o a que pode fazer-se uma adição. Logo, por essa ciência Cristo sabia tudo.

Atribuímos à alma de Cristo a ciência adquirida, como dissemos, por conveniência com o intelecto agente, para que não fosse inútil a sua actividade, a esse intelecto que actualiza os inteligíveis, assim como atribuímos a ciência inata ou infusa à alma de Cristo, para complemento do intelecto possível. Ora, assim como o intelecto possível pode tornar-se todas as causas, assim o intelecto agente pode fazer todas as causas, segundo o diz Aristóteles. Logo, assim como pela ciência infusa a alma de Cristo sabia tudo aquilo em relação ao que o intelecto possível é de certo modo potencial, assim, pela ciência adquirida, sabia tudo o que pode ser sabido pela acção do intelecto agente.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — A ciência das coisas pode ser adquirida não só pela experiência delas mas ainda pela de algumas outras. Pois, em virtude do lume do intelecto agente, o homem pode chegar a inteligir os efeitos pelas causas e as causas pelos efeitos, e os semelhantes pelos semelhantes, e os contrários pelos contrários. Donde, embora a alma de Cristo não tivesse a experiência de tudo, entretanto, pelo que conhecia por experiência, chegava ao conhecimento de tudo o mais.

RESPOSTA À SEGUNDA. — Embora todos os sensíveis não estivessem ao alcance dos sentidos corpóreos de Cristo, estavam porém ao alcance dos seus sentidos determinados sensíveis, pelos quais mediante excelentíssima virtude da sua razão, podia chegar a outros conhecimentos, do modo referido. Assim, vendo os corpos celestes, podia compreender-lhes as virtudes e os efeitos que exercem sobre os seres terrestres, que não lhe estivessem ao alcance dos sentidos. E pela mesma razão, mediante algumas outras coisas, podia chegar a conhecimento mais extenso.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Para referida ciência, a alma de Cristo não conhecia todas as coisas, absolutamente falando, mas todas as que são cognoscíveis ao homem pelo lume do intelecto agente. E assim, mediante essa ciência não tinha conhecimento das substâncias separadas, nem também dos acontecimentos particulares passados e futuros. Os quais, porém, conhecia pela ciência infusa, como dissemos.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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