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29/01/2015

Tratado do verbo encarnado 105

Questão 16: Do conveniente a Cristo no seu ser e no seu dever

Art. 2 — Se é falsa a proposição: o homem é Deus.

O segundo discute-se assim. — Parece falsa a proposição – o homem é Deus.

1. — Pois, o nome de Deus é incomunicável, donde a Escritura repreender os idólatras, porque deram o nome incomunicável de Deus às pedras e ao pau. Logo, pela mesma razão, parece inconveniente predicar o nome de Deus, do homem.

2. Demais. — Todo o predicado do predicado também o é do sujeito. Ora, é verdadeira a proposição — Deus é o Pai, ou Deus é a Trindade. Se, pois, é verdadeira a proposição — O homem é Deus — verdadeira também há-de ser esta outra — O homem é o Pai ou, O homem é a Trindade. As quais são evidentemente falsas. Logo, também a primeira o é.

3. Demais. — A Escritura diz: Não haverá em ti Deus novo. Ora, o homem é de certo modo novo, pois, Cristo nem sempre foi homem. Logo, é falsa a proposição: O homem é Deus.

Mas, em contrário, o Apóstolo: De quem descende Cristo segundo a carne, que é Deus sobre todas as coisas bendito por todos os séculos. Ora, Cristo, segundo a carne, é homem. Logo, é verdadeira a proposição – O homem é Deus.

Suposta a verdade de uma e outra natureza — a divina e a humana — e a união na pessoa e na hipóstase, é verdadeira e própria a proposição — O homem é Deus, como o é esta outra — Deus é homem. Pois, o nome de homem pode ser suposto por qualquer hipóstase da natureza humana, e portanto pode ser suposto pela pessoa do Filho de Deus, que dissemos ser a hipóstase da natureza humana. Ora, é manifesto que da pessoa do Filho de Deus pode verdadeira e propriamente ser predicado o nome de Deus, como demonstramos na Primeira Parte. Donde se conclui que é verdadeira e própria a proposição — O homem é Deus.

DONDE A RESPOSTA À PRIMEIRA OBJECÇÃO. — Os idólatras davam o nome da divindade à pedra e ao pau, considerados na sua própria natureza, por pensarem que havia neles algo da divindade. Nós porém não atribuímos o nome de Deus a Cristo homem, segundo a natureza humana, mas segundo o suposto eterno, que também é pela união, o suposto da natureza humana, como se disse.

RESPOSTA À SEGUNDA. — O nome Pai predica-se do nome Deus quando o nome de Deus é suposto pela pessoa do Pai. E nesse sentido não se predica da pessoa do Filho, porque a pessoa do Filho não é a pessoa do Pai. E por consequência não é necessário o nome de Pai ser predicado do nome homem, do qual é predicado o nome de Deus, quando o nome de homem é suposto pela pessoa do Filho.

RESPOSTA À TERCEIRA. — Embora a natureza humana em Cristo fosse assumida no tempo, contudo o suposto dela não é temporal, mas eterno. E o nome Deus, não se predicando do homem em razão da natureza humana, mas em razão do suposto, não resulta daí que concebamos Deus como temporal. O que resultaria se disséssemos que o homem supõe um suposto criado, o que devem ensinar necessariamente os que introduzem em Cristo dois supostos.

Nota: Revisão da versão portuguesa por ama.


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